terça-feira, 25 de junho de 2013

Perigosa perplexidade, por Luiz Garcia - Ricardo Noblat: O Globo

Perigosa perplexidade, por Luiz Garcia - Ricardo Noblat: O Globo|   Brasília, 25 de junho de 2013
Enviado por Ricardo Noblat - 
25.06.2013
 | 
17h52m
POLÍTICA

Perigosa perplexidade, por Luiz Garcia

Luiz Garcia, O Globo
O Brasil vive obviamente uma crise social e política, como não se via há muito tempo — se me permitem afirmar o óbvio. Seria perigosa ingenuidade limitar as suas origens à questão das passagens de ônibus urbanos. Ela foi o ponto de partida — um modesto estopim, pode-se dizer — para uma explosão urbana como não se via há muito tempo. E que, pelo visto, estava esperando um pretexto para acontecer.
O movimento sobre o passe livre nos ônibus urbanos deixou de ter razão de ser. A tal ponto que os seus líderes desde quinta-feira deixaram as ruas: tiveram o bom senso de não se confundirem com os radicais que tomaram o seu lugar. Não se fala mais em passagens de ônibus. Nem seria possível, desde que as tarifas foram sensatamente reduzidas.
Quanto ao estopim da bomba que explodiu na mesma quinta-feira, não há explicação conhecida. Sociólogos e políticos de todos os partidos dividem-se entre o silêncio e a confissão de perplexidade. Ninguém, no governo e nas cátedras, esperava a onda de violência que caiu sobre 80 cidades.
Em Brasília, os manifestantes tentaram invadir e incendiar o Itamaraty — curiosamente, um órgão do governo que não tem a mais remota responsabilidade com passagens de ônibus. No Rio, uma caminhada pacífica foi tumultuada por radicais que tentaram invadir a sede da prefeitura, entre outros atos de violência gratuita contra prédios públicos.
Os defensores do passe livre não têm nada com isso e fizeram questão de se dissociar da onda de violência. O governo, pelo visto, não tem pistas nem explicações. Os partidos políticos mostram a mesma perplexidade. Cientistas políticos, idem. Sabe-se apenas que os baderneiros são tão numerosos quanto ferozes.
Falta às autoridades — e a todo o mundo — um dado precioso: ninguém sabe se a baderna nacional é organizada ou se ocorre simplesmente por imitação. O que é lamentável: atrapalha bastante o planejamento das autoridades para a repressão de novas manifestações terroristas — que assim devem ser definidas.
Por enquanto sabemos apenas que não há líderes conhecidos na baderna. Pior: também ignoramos onde eles querem chegar.
Só uma coisa é certa: tanto o governo quanto a classe política em geral — com as necessárias exceções de praxe, que não são muitas, lamentavelmente — vivem um momento de perigosa perplexidade.

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