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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Efeito colateral da derrota de Anderson Silva


Se fosse jogador de futebol, Anderson Silva valeria 80% menos

Polêmica em torno da derrota para Cris Weidman e anúncio de possível aposentadoria podem ter abatido a marca “Spider” – e prejudicado os patrocinadores

Bárbara Ladeia - iG Economia 

Josh Hedges/Zuffa LLC/Getty Images
A possibilidade de investir em se associar a uma marca sem longevidade diminui drasticamente as possibilidades de ganho de mídia com o atleta Anderson “Spider” Silva já foi invencível. Detentor do cinturão dos médios, marcou o Ultimate Fighting Championship (UFC) como o cinturão mais longevo da história. O título durou seis anos. Em uma luta cheia de controvérsias e acusações, o Spider perdeu o título para Cris Weidman. Foi nocauteado entre uma brincadeira e outra – sua marca registrada no octógono. Silva chamou Weidman para a briga, pediu para que ele batesse, enfim, debochou do adversário. Na média, a tática funciona, mas não foi o que aconteceu naquele dia. De lá para cá, Silva perdeu as honrarias de um herói do esporte, recebendo duras críticas da opinião pública.
A questão teria sido apenas uma intriga do esporte se, por trás de Anderson Silva, não houvesse gigantes como Nike e Burger King. Imediatamente, as marcas viraram chacota nas redes sociais e o patrocínio – feito para agregar os valores do atleta à marca – tornou-se alvo de ataque.
O discurso de uma possível aposentadoria que sucedeu a derrota deve ser a maior fonte de preocupação para os patrocinadores, na opinião de Fernando Ferreira, sócio-diretor da Pluri Consultoria, especializada em calcular o valor de marca de atletas. “Se Anderson Silva fosse um jogador de futebol, teria perdido 80% do valor de sua marca ao dizer que pensa em aposentadoria. Essa sim é a questão mais dramática para ele do ponto de vista dos negócios”, afirma.
O drama tem explicação. A possibilidade de investir na associação a uma marca sem longevidade diminui drasticamente as possibilidades de ganho de mídia com o atleta. Com isso, os contratos ficam reduzidos – tanto em prazo quanto em valor.
Atleta como produto
De fato, o atleta é uma marca. Exemplo é Neymar Jr., que chegou a valer cerca de R$ 120 milhões, segundo a Pluri Consultoria. Ferreira explica que nos cálculos que costumam fazer para os jogadores de futebol, há duas vertentes que se somam para um indicador real: o valor como atleta e o valor como produto. Juntas, as duas linhas de raciocínio formam o critério básico de análise sobre qual a compensação que as empresas terão a partir do patrocínio.
É na segunda parte que a conduta antidesportiva ou um anúncio de aposentadoria residem. “Esses eventos negativos são sinônimos de freio na negociação dos valores”, afirma. “A capacidade do atleta de gerar contratos de marketing fica bem limitada quando não há uma perspectiva de grandes vitórias no horizonte.”
O sócio-diretor da Pluri Consultoria só lamenta não conseguir medir o valor da marca Anderson “Spider” Silva. A falta de transparência nos contratos e o sigilo de todas as informações que envolvem valores financeiros dentro do UFC limitam uma pesquisa mais aprofundada do tema. “Nos faltam subsídios para chegar a um número confiável”, afirma.
Mesmo em sigilo, é possível ter dimensão a importância de um atleta pelo menos para o evento. Enquanto no Brasil, 2011 teve bilheteria média de US$ 4 bilhões, o polêmico UFC 148 (Silva vs. Sonnen) bateu os US$ 7 bilhões de arrecadação, segundo levantamento da consultoria BDO. Basta o nome de Anderson Silva estar no cartaz, que os números disparam.
O último evento, contra Cris Weidman, somou US$ 5 bilhões em ingressos. O UFC 126, que contou com a chamada revanche do século entre Anderson Silva e Vitor Belfort, teve um tíquete médio de US$ 330 – a média mundial no mesmo ano foi de US$ 176. “Ainda é cedo para dizer que o Anderson Silva perdeu apelo, mas certamente os patrocinadores não contavam com essa conduta”, afirma Pedro Daniel, consultor de esportes da BDO. “Quando há queda ou questionamento do desempenho do atleta, a rejeição tende a ser imediata.”
Contra Vitor Belfort, a bilheteria encostou nos US$ 4 bilhões. Foto: Reprodução
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Sozinho, contra todos
Essa particularidade é ainda mais evidente em esportes individuais, em que a torcida não é por um time e sim por uma personalidade. “O impacto de uma desmoralização sobre um atleta é sempre mais grave que em esportes coletivos”, diz José Cocco, presidente da J.Cocco Sportainment. “Agregar uma marca a uma pessoa é muito mais arriscado para o patrocinador.”
Especialista em marketing esportivo, Cocco explica que os dois critérios básicos para escolha do patrocinado são o sucesso profissional e a biografia da personalidade. Daí o grande sucesso de "vendas" quando o atleta tem uma história comovente para contar – como a infância pobre de Anderson Silva ou o sequestro da irmã de Vitor Belfort.
Brasileiro não desiste nunca
As histórias de superação encantam os brasileiros. A trajetória turbulenta do jogador Ronaldo Nazário cunhou a frase que virou bordão: “Brasileiro não desiste nunca.” Então, em 2002, o passivo de imagem do mau resultado da Copa do Mundo de 1998 virou uma história de superação e sucesso. Mais tarde, a polêmica com travestis provocou um novo agito na carreira do jogador, bem como seu excesso de peso entre outras questões pessoais.
Se Ronaldo gostou ou não desses eventos, ninguém sabe. Mas é fato que a cada obstáculo superado, sua marca pessoal deu um novo salto de popularidade.
Hoje, Ronaldo é o administrador da carreira de Anderson “Spider” Silva. Não por acaso, especialistas no assunto apostam que, se Spider sair vitorioso da revanche, sua popularidade deverá superar os níveis da fase pré-Weidman. “No Brasil, a humildade pega muito bem, assim como as biografias de sucesso”, diz Cocco. “O patrocinador está sempre junto com a mensagem que o atleta transmite.”
Daí o risco. A polêmica luta do UFC 162 entre Silva e Weidman levantou a lebre da desconfiança entre os espectadores – não só porque o invencível Spider sucumbiu ao americano, mas pela forma como o brasileiro perdeu. “A simples derrota não quer dizer muito, mas a humilhação e o debate sobre uma suposta – e não confirmada - trapaça que pesam sobre a marca do atleta”, completa Cocco.

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