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segunda-feira, 15 de julho de 2013
Ranking dos estragos das drogas no Reino Unido / The Economist
http://www.economist.com/blogs/dailychart/2010/11/drugs_cause_most_harm
Drugs that cause most harm
Scoring drugs
A new study suggests alcohol is more harmful than heroin or crack
MOST people would agree that some drugs are worse than others: heroin is probably considered to be more dangerous than marijuana, for instance. Because governments formulate criminal and social policies based upon classifications of harm, a new studypublished by the Lancet on November 1st makes interesting reading. Researchers led by Professor David Nutt, a former chief drugs adviser to the British government, asked drug-harm experts to rank 20 drugs (legal and illegal) on 16 measures of harm to the user and to wider society, such as damage to health, drug dependency, economic costs and crime. Alcohol is the most harmful drug in Britain, scoring 72 out of a possible 100, far more damaging than heroin (55) or crack cocaine (54). It is the most harmful to others by a wide margin, and is ranked fourth behind heroin, crack, and methamphetamine (crystal meth) for harm to the individual. The authors point out that the model's weightings, though based on judgment, were analysed and found to be stable as large changes would be needed to change the overall rankings.
"Drug harms in the UK: a multi-criteria decision analysis", by David Nutt, Leslie King and Lawrence Phillips, on behalf of the Independent Scientific Committee on Drugs. The Lancet.
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A História se repete com outros atores, conteúdos atualizados e efeitos amenizados... /// Paris en colère / Saindo da Matrix
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2013/07/paris_en_colere.html
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PARIS EN COLÈRE
dom, 14 de julho, 201314 de julho de 1789 é uma das celebrações mais importantes pra história da humanidade, porque é um daqueles acontecimentos que moldaram tudo o que veio depois e cujos efeitos sentimos no dia-a-dia, assim com o 11 de setembro (taí o Mark Snowie que não nos deixa esquecer), a 2ª guerra mundial (praticamente TUDO) e a ida do homem à Lua (avanços tecnológicos que foram a base pra tudo o que usamos hoje). Hoje comemoramos a Queda da Bastilha, uma fortaleza-prisão que era símbolo da opressão do poder (a nobreza). Também era um depósito de armas, e uma vez armada a população enfurecida tomou o poder e ensejou a Revolução Francesa.Mas o que seria a "população"? Precisamos pra isso analisar todos os motivos que levaram à Revolução. A sociedade francesa à época estava divida em três classes ou Estados:Primeiro Estado: Clero (Membros da Igreja). Não podemos nunca esquecer que a Igreja Católica foi a mantenedora da nossa civilização ocidental, pro bem ou pro mal. Ela era soberana e estava por trás de todas as decisões da nobreza em toda a Europa. No tabuleiro de xadrez da Vida, o clero seria o Rei: estático, indefeso por si só (só não chegue muito perto!), mas essencial ao funcionamento do jogo (São os 0,5% da pirâmide).Segundo Estado: Nobreza (Reis, nobres, membros da corte, etc). Elite que gozava de isenção de impostos, posse de terras, recebimento de rendas feudais e o fato de somente eles terem acesso aos altos cargos do governo. São o equivalente a nossa classe política brasileira e aos amigos dos políticos. No xadrez seria a Rainha, com ampla mobilidade e alta periculosidade, sujando as mãos só quando necessário (1,5% dos habitantes).Terceiro Estado: O resto (Burgueses, camponeses sem terra, artesãos e todo aquele que não fosse nem Clero nem Nobreza). Oprimido e explorado pelos dois Estados anteriores, o Terceiro Estado eram os peões, que faziam o trabalho sujo de pagar todos os impostos e sustentar todo o jogo nas costas.Acontece que os burgueses - ou seja, todo aquele que mora no burgo (cidade, e não no campo) - ao ir estudando nas escolas (de propriedade do Clero) e se misturando à nobreza (através de favores) foi ascendendo, se não socialmente, mas culturalmente. E com a tomada de consciência política pôde argumentar e exigir diminuição de impostos, pôde questionar as regalias da nobreza e dos "amigos do Rei" e reivindicar melhores condições de vida. Algo que os brasileiros de classe média da cidade (ou seja, os nossos burgueses) só estão exigindo agora.Soma-se a isso uma uma forte onda de frio na região, que acabou com as colheitas e fez grande parte da população migrar para as cidades e lá, nas fábricas, era constantemente explorada e a cada ano tornava-se mais miserável. Isso trouxe escassez de alimentos, que só poderia ser revertida comprando alimentos em outros países. Só que as finanças da França estavam em baixa, devido aos investimentos que a França fazia na (ironia das ironias) Independência dos Estados Unidos!!! Depois que aprendi que os franceses se lascam todos só pra aporrinhar a Inglaterra (tipo Corinthians x Palmeiras) foi que eu percebi a "lógica" disso.Anos antes havia eclodido a "Guerra da Farinha", uma revolta do povo contra o aumento do pão."No dia do mercado assisti à venda do trigo (…). Um grupo de soldados ficara no meio da praça, para impedir qualquer violência. O povo discutia com os padeiros, argumentando que o preço que pediam pelo pão era muito alto em relação ao preço do trigo; das injúrias passou-se à agressão e, neste tumulto, alguns levaram pão e trigo sem pagar nada; isto se deu quando cheguei a Nangia, e também em muitos outros mercados."Não se parece e muito com a dinâmica dos protestos que aconteceram por todo o Brasil? Incrível como a história se repete. Basta ter olhos de ver. Até mesmo um "meme" famoso circulou por aquela época, atribuído a Maria Antonieta, a rainha da França:Isso deixou o pessoal P da vida com a nobreza, e essa dívida foi paga futuramente com sangue real. Mas vamos à sequência dos fatos:Ante a ameaça real de ter de pagar impostos, a Nobreza e o Clero convocaram uma Assembléia que não se reunia há 100 anos, a Assembléia dos Estados Gerais (com deputados dos três Estados/classes). Só que o Rei queria discutir tão-somente a questão financeira da França, deixando de lado as reivindicações do povo. O povo de Paris, acompanhando tudo à distância, revoltava-se a cada notícia, como por exemplo que o Rei não queria que os votos fossem por deputados, e sim por Estados (o que, obviamente, tiraria todo o - já escasso - poder do povo). Quanto mais o Rei endurecia, mais apoio ia conquistando nas outras classes. Surgiram tanto nobres (como o conde d'Antraigues) como clérigos (o bispo Sieyès) defendendo que o Terceiro estado era todo o Estado. O Rei tentou dissolver a Assembléia e trancou a sala onde os deputados se reuníam. Então os deputados do Terceiro Estado invadiram a quadra de tênis Real e juraram só se separar após a votação de uma constituição para a França (já não era "só pelos 20 centavos"). Paris entrou em cólera, em apoio à Assembléia. Cidadãos pegaram em armas, roubos e depredação tomaram as ruas, e isso se espalhou por outras cidades e pelo campo. A nobreza, temendo pela vida, começou a fugir. O Rei mandou fechar a quadra de tênis, e então os deputados do clero (Primeiro Estado) - assim como 47 da nobreza - passaram para o lado do Terceiro Estado e abrigaram a Assembléia na Igreja de Saint Louis, em Versailles. Era o fim político da Monarquia. Mas faltava um sinal inequívoco, simbólico. E esse símbolo veio em menos de 10 dias, com a tomada da Bastilha no dia 14 de julho. Com as armas e a pólvora necessária, o povo tomou o poder de fato. Temendo o caos generalizado (e a perda de seu status), a burguesia tratou de formar lideranças para o movimento, e criou um exército de voluntários armados.Muitas águas rolaram, mas tudo em função do que aconteceu nestes meses que mudaram o mundo. O Clero achou seu lugar dentro do Estado. Os Burgueses de esquerda se tornaram mais tiranos do que o Rei sequer sonharia ser. E a Monarquia ficou em pânico dos seus "subalternos" por toda a Europa, passando a ouvir mais a voz das ruas se quisessem manter a cabeça no lugar.Com isso os franceses cravaram de forma dramática na história toda a extensão da frase "o poder emana do povo, para o povo", e não "o poder emana de quem se diz ser o povo", como nas ditaduras bolivarianas e governos populistas, onde se finge governar para o populacho mas quem se locumpleta com os recursos do país é a elite de sempre. Também não é "o poder emana de quem foi eleito pelo povo", como se um certo número de votos justificasse toda sorte de atitudes reprováveis, e que é o mantra dos nossos governantes e legisladores brasileiros ("fui eleito, então danem-se!"). O mentalidade democrática francesa é hoje o mais bem acabado retrato do poder do povo, e não foi feito sem dores, guerras, erros e acertos. Seria ótimo se pudéssemos implantá-lo em nossas mentes sem passar por tudo o que eles passaram, mas isso é utópico. Então não é justo exigir muito do povo brasileiro, que só vem acordando pra sua própria política AGORA, com os protestos. O gigante acordou, deu uma mexida e voltou a dormir, mas isso é natural. Não vamos criar uma nova mentalidade democrática do dia para noite, nem vamos importar uma pronta através de livros de história. Nossa sociedade terá de forjá-la nas ruas, no confronto de idéias (ou com a polícia), e isso TERÁ de se espelhar no resultado das urnas, ou terá sido tudo em vão. Pregar o voto nulo só interessa àqueles políticos que já têm seu voto de cabresto, voto baseado na ignorância do eleitor e na apatia generalizada de não mudar porque "tá bom assim". Só se assume as engrenagens do poder jogando o jogo do poder! Ou se quebra as engrenagens velhas e se troca por uma nova, que pode até ser uma mudança (temporária) pra pior, como no caso da revolução francesa (e posterior Terror), ou pra melhor, se for executada com racionalidade e idealismo, como nos Estados Unidos.
Liberté, Egalité, Fraternité
Um protesto com espírito público.... // Ruy Castro
ruy castro
15/07/2013 - 03h30
Proibido obrigar
No Brasil, há 73 milhões de unidades consumidoras de energia. Se todas fossem quarto e sala --esqueça os escritórios, lojas e fábricas--, e à média de 30 tomadas em cada, o número de tomadas a adaptar passaria de dois trilhões. Pode-se avaliar a sensação de poder que deve estar embriagando o pai da tomada de três pinos no Brasil?
O mesmo quanto a uma medida mais antiga e já em circulação em muitos Estados: a proibição de saleiros nas mesas dos restaurantes e sua obrigatória substituição por aqueles sachezinhos de sal. A cada 200 refeições servidas por um restaurante, 100 sachês são abertos pelos clientes, salpicados com culpa sobre a batata frita e deixados quase intatos sobre a mesa.
Agora multiplique o número de restaurantes em sua cidade pela média de refeições que eles servem por dia e, sendo generoso, divida o resultado por dois, se achar que em apenas metade delas se abrirá um sachê. O resultado será a monumental quantidade de sachês/lixo produzida por uma única cidade e cujo destino serão os lixões --ou os esgotos, os rios e o mar. E só porque alguém implicou com os saleiros.
No Brasil, por 21 anos, foi quase proibido votar. Hoje é obrigatório. Mas, com esses partidos e políticos, deveria ser proibido obrigar.
Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.
Era de Aquário faz sua parte na História.... // Enchentes na Índia, na China
15/07/2013 - 07h51
Índia contabiliza cerca de 6.000 desaparecidos em inundações como mortos
DA FRANCE PRESSE
Quase 6.000 pessoas desaparecidas após as inundações que afetaram o norte da Índia no mês passado serão consideradas mortas, anunciaram as autoridades nesta segunda-feira.
"No total, 5.748 pessoas continuam desaparecidas e o processo de compensação financeira para as famílias começará na terça-feira, por considerarmos esses desaparecidos faleceram", afirmou Vijay Bahuguna, chefe de Governo de Uttarakhand, o Estado mais afetado.
Enchentes na Índia
Ver em tamanho maior »
Rua alagada em Jalandhar; autoridades indianas subiram para 6.000 o número de mortos nas inundações do último mês no norte do país
As chuvas torrenciais de monção, que neste ano aconteceram antes do período habitual, deixaram milhares de turistas e peregrinos retidos no Estado.
O governo prometeu pagar 500.000 rupias (aproximadamente R$ 19 mil) às famílias de cada vítima fatal das inundações e deslizamentos de terra.
domingo, 14 de julho de 2013
Mapa neurológico da mente de criminosos...
Neurociência
Por dentro da mente dos criminosos
O psiquiatra britânico Adrian Raine estuda quais os fatores neurológicos, ambientais e genéticos por trás do comportamento violento. Em entrevista a VEJA, ele analisa uma série de assuntos delicados, como livre-arbítrio, maioridade penal, sistema prisional e até os protestos no Brasil
Guilherme Rosa
Em entrevista ao site de VEJA, Adrian Raine afirma que, durante décadas, os cientistas só estiveram interessados nos componentes sociais da violência. "Agora estamos descobrindo as peças biológicas do quebra-cabeça"(Divulgação/University of Southern California)
O psiquiatra britânico Adrian Raine dedicou sua vida a entender como surge o comportamento violento. Para isso, o britânico já esteve em cadeias de segurança máxima, onde analisou o cérebro de criminosos perigosos e psicopatas. Também já esteve em maternidades, para estudar quais fatores ambientais podem influenciar na formação de adultos violentos. Hoje, ele é professor de psiquiatria e criminologia na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde realiza estudos em áreas tão variadas quanto neurociência, genética e saúde pública para dar origem a um novo ramo da ciência: a neurocriminologia.
Adrian Raine acaba de lançar o livro The Anatomy of Violence (A Anatomia da Violência, inédito em português), no qual descreve como funciona o cérebro de um indivíduo violento e como uma série de tratamentos pode prevenir esse tipo de comportamento. Em entrevista ao site de VEJA, Raine analisa uma série de assuntos delicados, como livre-arbítrio, maioridade penal, sistema prisional e até os protestos no Brasil. De passagem por Porto Alegre, Raine marchou por três horas ao lado de manifestantes até o momento em que um grupo de vândalos entrou em confronto com a polícia. "Vandalismo, quebrar carros, roubar lojas — isso não é atacar o governo, mas atacar os cidadãos do Brasil. Penso que essas pessoas têm não só uma razão política para sua violência, mas uma razão biológica."
O cientista acredita que um dia será possível prever quem tem maiores chances de cometer um crime apenas por meio de imagens de seu cérebro. Mas adverte que esse cenário exigirá cautela: "Até porque minhas imagens cerebrais se parecem com a de um criminoso que matou 64 pessoas — eu tenho o cérebro de um serial killer".
Como a neurocriminologia pode ajudar a explicar os casos extremos de violência?
A neurocriminologia é uma nova disciplina que estou começando a desenvolver nos Estados Unidos, que envolve a aplicação de técnicas da neurociência para entender as causas do crime. Nós tentamos juntar tudo que aprendemos nos últimos anos — na genética, técnicas de imagem cerebral, neuroquímica, psicofisiologia e neurocognição — para explicar porque algumas pessoas crescem para se tornar criminosos violentos. Queremos entender o cérebro por trás não só dos criminosos comuns, mas também o de psicopatas, criminosos de colarinho branco e homens que batem em suas esposas. Nós estudamos todo o leque de comportamento antissocial e observamos que, não importa a forma, existe uma base biológica para todos eles.
Todas essas formas diferentes de violência têm a mesma base cerebral?
Há diferenças. Por exemplo, minha equipe estudou psicopatas — os criminosos que não têm empatia nem remorso. Já sabíamos que eles têm um baixo funcionamento da amígdala, o centro emocional do cérebro. Nossa pesquisa mostrou ainda mais: que nesses indivíduos a estrutura física dessa área é 18% menor do que no resto da sociedade. Com o centro emocional reduzido e sem funcionar direito, os psicopatas passam a não sentir medo. É por isso que eles quebram as regras da sociedade – pois não têm medo da punição. Quando estudamos homens que batem em suas esposas, no entanto, descobrimos que suas amígdalas são muito ativas, mas o córtex pré-frontal não funciona direito. O córtex pré-frontal é a área que regula as emoções. Nossa conclusão é que a alta atividade da amígdala resulta em reações exageradas a estímulos leves, como receber críticas da esposa — o que os deixa mais agressivos. Esses homens que respondem exageradamente aos estímulos não possuem os recursos cognitivos para controlar essa emoção. São formas diferentes de comportamentos antissociais, com tipos diferentes de predisposições biológicas.
Como se explica que problemas em áreas cerebrais específicas possam levar a comportamentos violentos?
Quando temos de tomar uma decisão moral e pensamos em quebrar a lei (e todos nós já pensamos em fazer algo errado), ficamos ansiosos, com um pouco de medo. Esse é o freio de emergência que nos impede de quebrar as regras da sociedade. Mas esse freio não funciona direito nos psicopatas. Eles sabem o que é certo e errado, mas não têm o sentimento correspondente. E é esse sentimento, e não o conhecimento, que nos faz frear nosso impulso. Isso traz uma questão que me fascina. Como os psicopatas têm o motor emocional quebrado — e eles não têm culpa de possuírem essa disfunção —, será correto culpá-los e castigá-los por seu comportamento? Essa é uma questão que teremos que discutir no futuro.
Todo o comportamento violento pode ser explicado por disfunções no cérebro?
Na verdade, encontrar as causas da violência é muito mais complexo do que isso. Só agora estamos começando a identificar com segurança quais as áreas cerebrais que, se prejudicadas, aumentam as taxas de violência. Mas esse é um quebra-cabeça com muitas peças. A amígdala é uma peça, o córtex pré-frontal é outra peça, e certamente há outras áreas cerebrais envolvidas. Mas também há outros tipos de peças. Não é só a biologia. Os fatores sociais também são importantes. Desemprego, pobreza, preconceito racial, maus tratos paternos e más condições de habitação e educação têm seu papel nisso — e inclusive podem afetar o desenvolvimento cerebral. Acontece que por décadas os pesquisadores têm estudado só essas peças sociais. Agora estamos descobrindo as peças biológicas do quebra-cabeça. O próximo desafio é colocar essas peças juntas.
Como essa técnica pode explicar a violência que irrompe em protestos, por exemplo?
Pense nos manifestantes que vão às ruas no Brasil. Muitos deles são pacíficos. Eu fui a uma manifestação em Porto Alegre (o pesquisador esteve no Brasil no final de junho) e marchei com a população por três horas. Todos estavam tranquilos, muito organizados, não vi nenhum tipo de comportamento antissocial. Mas por volta das 21 horas, gás lacrimogênio foi disparado pela polícia e eu decidi que era hora de ir embora. Depois, fiquei sabendo que uma pequena minoria ficou por ali e praticou atos obviamente antissociais. Vandalismo, quebrar carros, roubar lojas — isso não é atacar o governo, mas atacar os cidadãos do Brasil. Se eu pudesse analisar o cérebro dessas pessoas, provavelmente veria que eles tinham uma baixa função da amígdala, a parte responsável pela consciência, remorso, culpa e medo. Penso que essas pessoas têm não só uma razão política para sua violência, mas uma razão biológica.
Mas nesse caso, as pessoas não podem estar agindo por pressão do grupo?
Seguindo um comportamento de manada?
Sim, a situação social é importante nesse tipo de comportamento. Mas repare que, mesmo com esse estímulo do grupo, só algumas pessoas quebram a lei. A maioria decide fugir.
Divulgação/ University of Southern California
Adrian Raine esteve no Brasil para participar do Congresso Mundial de Cérebro, Comportamento e Emoções, realizado em São Paulo, onde conversou com o site de VEJA
Em seus estudos, o senhor descobriu outros fatores que podem influenciar o comportamento violento?
Minha equipe fez diversas pesquisas. Algumas se focam em fatores no começo da vida que afetam o desenvolvimento da criança. Por exemplo, mães que fumam ou bebem durante a gravidez — suas crianças têm de duas a três vezes mais chances de se tornarem adultos violentos. Estudamos crianças que tiveram problemas de parto ou pouca nutrição durante a gravidez, o que pode danificar sua estrutura cerebral. Também pesquisei outra área interessantíssima. Pessoas que possuem uma baixa frequência cardíaca quando estão em repouso têm uma probabilidade maior de agir agressivamente. Essa pesquisa foi replicada com êxito em muitos países. Isso acontece porque, quando alguém vai a um laboratório, para medir sua pulsação, isso causa um pouco de stress. Sua pulsação, normalmente acelera. Pessoas cuja pulsação não responde minimamente a stress não têm medo e, por isso, podem cometem mais crimes ou se envolver em brigas nas ruas.
Existe uma predisposição genética para a violência?
O que nós já sabemos é que cerca de 50% da variação nas taxas de violência pode ser atribuída a fatores genéticos. Toda uma geração de pesquisas, realizada com irmãos gêmeos e filhos adotivos, mostrou que os fatores hereditários são, sim, importantes. A próxima geração de pesquisas é a molecular, que já começa a identificar quais os genes envolvidos. Até agora o mais estudado é o gene da monoamina oxidase A (MAOA), que, quando produz uma baixa quantidade de sua enzima, atrapalha o funcionamento de neurotransmissores. Indivíduos com essa mutação são particularmente suscetíveis ao comportamento antissocial, principalmente quando sofrem abusos na infância. Mas é muito importante destacar que nunca vamos descobrir um gene que seja, sozinho, responsável pela violência. Descobriremos vários, que serão associados a muitos outros fatores sociais. O ambiente também é importante por alterar o modo como os genes funcionam. O DNA é fixo, mas o modo como ele se expressa — e como afeta o cérebro — pode ser alterado pelo ambiente.
O ambiente pode explicar, por exemplo, a diferença entre a taxa de violência no Brasil e no Japão?
Sim. Além de todos os fatores ambientais já citados, há muitos outros que podem fazer um país ser mais violento que outro. Os Estados Unidos, por exemplo, tem um alto índice de índice de assassinatos também por causa da grande disponibilidade de armas. Existe outro fator bem interessante do qual falo em meu livro. Nele, eu estudo 26 países e analiso como o consumo de peixes em cada local se relaciona com o índice de homicídios. No Japão, onde as pessoas consomem uma imensa quantidade, os índices são muito baixos. Em países do leste europeu, com baixo consumo de peixe, as taxas de homicídio são altas. Isso acontece porque o peixe possui ômega 3 — um ácido graxo de cadeia longa, que é vital para a estrutura cerebral e seu bom funcionamento. Ele também regula a expressão dos genes e o funcionamento dos neurotransmissores. Nossas pesquisas mostram que um cérebro disfuncional pode levar a um comportamento disfuncional. E um modo de melhorar o funcionamento cerebral pode ser simplesmente a alimentação com peixe.
O senhor está dizendo que aumentar o consumo de peixe pode diminuir as taxa de homicídio em um país?
Em parte, sim. O caso do ômega 3 é interessante para pensarmos no desenvolvimento de novos tratamentos. Duas pesquisas já mostraram que dar óleo de peixe para prisioneiros pode reduzir o número de crimes cometidos na cadeia em até 35%. O primeiro desses estudos foi feito na Inglaterra e replicado na Holanda. Minha equipe realiza estudos com crianças, que também mostram que fornecer ômega 3 para pessoas de 8 a 16 anos ajuda a reduzir a agressão e o comportamento antissocial nessa fase da vida. Há uma mensagem por trás disso: biologia não é destino. Nós podemos mudar os fatores de risco que dão origem ao comportamento agressivo.
Então o comportamento violento pode ser prevenido?
Nós sabemos que, se pudermos melhorar o funcionamento do cérebro, podemos melhorar o comportamento. E existem estudos que colocaram isso em prática. Em um deles, enfermeiras visitaram mães durante sua gravidez e nos dois primeiros anos de vida da criança. Elas aconselhavam as mulheres a parar de beber e fumar, ensinavam qual a nutrição adequada, mostravam as necessidades psicológicas dos bebês. Ao comparar o resultado dessas crianças com o de um grupo de controle, que não recebeu as visitas, os pesquisadores descobriram que a delinquência juvenil caiu pela metade. Nós fizemos um estudo com crianças de três anos, no qual fornecemos uma melhor nutrição, mais exercícios físicos — que resultam no desenvolvimento de novas células nervosas — e exercícios cognitivos durante dois anos. Oito anos depois, essas crianças tinham melhores funções cerebrais, elas estavam mais alerta e atentas e seus cérebros pareciam ser pelo menos um ano mais maduros do que o grupo de controle. Não é só isso: seguimos essas crianças até os 23 anos e vimos uma redução de 34% no número de infrações penais. Há uma última técnica que pode ser útil, que é a meditação. Estudos mostram que ela melhora o funcionamento do lóbulo pré-frontal — uma área cerebral que sabemos estar disfuncional em indivíduos violentos. Essa técnica ainda não foi testada em prisioneiros. Isso porque os cientistas relutam em reconhecer que existem bases cerebrais para o comportamento violento. Espero que meu livro abra as portas para esse novo campo de pesquisas.
Então é possível tratar até o cérebro de adultos?
Nós sabemos que nunca é cedo demais para intervir no caso de crianças e nunca é tarde demais para tratar os adultos. Os estudos com ômega 3 mostram isso. O cérebro é um órgão muito plástico.
Do ponto de vista da neurociência, quando o cérebro está maduro e a pessoa pode ser julgada como um adulto? Essa questão é bastante debatida em todo o mundo. O que sabemos é que o cérebro humano não está completamente maduro até os 20 anos. Os adolescentes de 15 e 16 anos são impulsivos, não controlam suas emoções, porque seu córtex pré-frontal não está completamente desenvolvido. Em alguns casos, ele demora até os 30 anos para se desenvolver, e sabemos que disfunções nessa região são encontradas em criminosos. Acho que faz sentido levar em conta o desenvolvimento cerebral para analisar conceitos como a responsabilidade penal, mas não existe uma linha mágica. Há pessoas de 19 anos com cérebros funcionando como o de indivíduos de 16 anos, mas também existem pessoas de 15 com cérebro de 20. No futuro, poderemos usar outras medidas de maioridade neural, que usem imagens cerebrais para analisar se uma pessoa é responsável por seu comportamento. Mas é claro que hoje temos de ser práticos e decidir uma idade de corte. Nesse caso, fixá-la em 18 anos não me parece ruim.
Videoteca básica
Minority ReportUma força policial capaz de prever quem vai cometer crimes e agir antes que eles aconteçam é o tema do filme Minority Report, de 2002 (baseado num conto homônimo do autor de ficção científica Philip K. Dick, escrito em 1956). A história se passa nos Estados Unidos, em 2045. O sistema parece funcionar perfeitamente — a cidade passa anos sem registrar nenhum homicídio — até que um dos policiais responsáveis por prevenir os crimes (interpretado por Tom Cruise) é apontado o próximo assassino.
Diretor: STEVEN SPIELBERG
Diretor: STEVEN SPIELBERG
O sistema judiciário pode usar imagens cerebrais para julgar alguém ou prever suas chances de cometer crimes?
É possível, mas nós ainda não podemos colocar isso em prática. Pesquisas iniciais, feitas neste ano, mostraram que imagens cerebrais ajudam a prever melhor quais criminosos podem voltar a cometer atos violentos nos próximos três ou quatro anos. Atualmente, a justiça usa fatores demográficos como idade, gênero, emprego e histórico para prever quais indivíduos são mais perigosos. Os juízes têm de fazer isso o tempo todo, quando decidem se condenarão alguém a trabalhos comunitários ou à cadeia. As técnicas de imagem cerebrais estão começando a nos dar mais informações que podem ajudar a saber se determinado indivíduo é um perigo para a sociedade.
O senhor não tem medo que isso leve a algum tipo de abuso, com indivíduos sendo presos por causa de seu perfil cerebral?
Na verdade, sim – como no caso do filme Minority Report. Nele, a polícia impede os crimes antes que aconteçam. Um grande medo que tenho é que no futuro usemos a genética, as imagens cerebrais e outros fatores neurobiológicos para prever a violência e aprisionar as pessoas antes mesmo de elas cometerem qualquer crime. Isso me preocupa. Até porque minhas imagens cerebrais se parecem com a de um criminoso que matou 64 pessoas — eu tenho o cérebro de um serial killer. Além disso, tenho outros fatores biológicos para o crime, como baixa pressão sanguínea, e tive problemas de nutrição e no parto. Se esse cenário acontecer o futuro, eu seria um dos primeiros a ser preso. Acho que devemos tomar muito cuidado nessa área. Existe uma tensão entre proteger as liberdades civis — e não prender ninguém por probabilidade — e a necessidade de proteger a sociedade. Essa é a tensão que teremos de enfrentar no futuro.
O senhor falou sobre a influência do cérebro, da genética e do ambiente no comportamento. Onde fica o livre-arbítrio?
Esse é outro desafio da minha área de pesquisas que costuma deixar muitas pessoas desconfortáveis. Pense em um bebê inocente, cuja mãe fumou e bebeu na gravidez, que teve uma nutrição ruim e problemas no parto, com genes que podem resultar em mau comportamento, com problemas de habitação e de educação durante seu desenvolvimento. Nós sabemos que essa criança tem muito mais chances de se tornar um adulto violento. Uma pergunta que surge a partir disso: será que essa pessoa tem livre-arbítrio? Ela é responsável por seus atos? Em meu livro, eu digo que o livre-arbítrio é reduzido em algumas pessoas, logo no começo de suas vidas, por influências que estão além de seu controle. O livre-arbítrio tem vários tons: a pessoa pode ter total livre-arbítrio, pouco, ou quase nenhum. Acho que devemos levar isso em conta no sistema judicial, na hora de punir as pessoas. Existe um caso real de um indivíduo que teve um tumor em seu córtex pré-frontal que o transformou num pedófilo. Os médicos retiraram o tumor, e seu comportamento voltou ao normal. Será que ele era tão responsável por seus atos quanto alguém que fez a mesma coisa e não tinha o tumor? Essa é a dificuldade e a tensão desse campo de estudos, e elas não serão superadas de modo fácil. Em um nível, é importante reconhecer os fatores de risco que conspiram para diminuir o livre-arbítrio. Mas também temos de levar em conta a igualdade e a justiça, buscando uma lei igual para todos. Não tenho respostas no momento. Esse é um debate aberto.
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