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domingo, 19 de janeiro de 2014

A Educação no Brasil é um barco sem capitão e sem rumo... Gustavo Ioschpe

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Ética na escola e na vida


O peso histórico de um evento é determinado pelo que lhe sucede. A prisão dos mensaleiros tem tudo para ser um dos acontecimentos mais importantes da história brasileira em décadas, mas só os nossos próximos passos dirão se será um ponto de inflexão ou um ponto fora da curva. Se o mensalão for o primeiro de muitos casos em que banqueiros, congressistas e ex-ministros vão para a cadeia por seus delitos, as próximas gerações verão este ano como o ponto de virada. Se, pelo contrário, essas prisões forem apenas a exceção que confirma a regra, um caso isolado em que as instituições funcionaram, então os historiadores do futuro verão o mensalão como uma curiosidade. É difícil prever, mas confesso que não vejo muitos motivos para justificar o otimismo a curto prazo. Porque ter uma Justiça ágil e rigorosa contrariaria quatro pilares que me parecem basilares na formação do Brasil.

O primeiro é o corporativismo. Somos o país dos interesses de grupo. Não pensamos nem agimos como indivíduos, mas como categorias. Uma das corporações mais poderosas é a dos advogados. É muito numerosa (871 000 advogados no país, mais procuradores, juizes…), organizada (a OAB é tão influente que tirou do Estado o poder de decidir quem pode ou não exercer a profissão) e poderosa: dos 100 congressistas mais importantes do país segundo o Diap, dezenove são advogados. Nosso sistema penal criou intermináveis apelos, chicanas e exceções. Quanto mais longo é um julgamento e quanto maior é o número de instâncias, maiores são a remuneração de advogados e a necessidade de juízes e promotores. (“É a preservação do direito de plena defesa dos réus!”, dirão nossos causídicos, cumprindo a regra de sempre apresentar a luta pelos benefícios corporativos como uma batalha pelo bem comum.) Precisaríamos que os deputados-juristas mudassem um sistema que beneficia seus pares. É difícil. Ainda mais quando incríveis 38% dos nossos congressistas são réus no STF.
O segundo é o nosso pendor cristão-filossocialista de achar que todo criminoso é vítima de um sistema social injusto, e não um agente capaz de fazer as próprias escolhas. Alguém que merece nossa compaixão, e não punição. A ditadura durou 21 anos. mas seu rescaldo está sendo ainda mais longo: nossos legisladores ficaram com tanta (e justificada) ojeriza às prisões arbitrárias de um regime de exceção que criaram um sistema em que é improvável condenar alguém com bom advogado. (Esse é mais um dos casos em que a teoria da defesa dos despossuídos se transforma em uma prática que garante a sua danação, como em todos os populismos.)
O terceiro é a nossa secular desigualdade de renda. É mais difícil seguir o princípio básico da democracia — a igualdade perante a lei — quando na sociedade há uma clivagem tão aparente entre os que muitas vezes se comportam como se estivessem acima da lei e a grande maioria, abandonada pelo Estado e desprotegida.
O quarto e mais importante de todos: verdade seja dita, não somos um povo que prima pela ética. Basta ver os políticos que elegemos para nos representar e o que eles fazem. Para aqueles que acreditam que, mesmo em um sistema democrático, nossos eleitos são piores do que seus eleitores no quesito ética, convém ver os resultados de uma pesquisa Ibope de 2006 ( todos os dados aqui mencionados estão em twitter.com/gioschpe). Ela mostra que, apesar de a condenação à corrupção ser quase universal. 75% dos entrevistados confessam que, se eleitos para cargos públicos, cometeriam ao menos um delito de uma lista contendo treze possibilidades (coisas como mudar de partido em troca de dinheiro, contratar empresas de familiares sem licitação, pagar despesas pessoais não autorizadas etc.). 69% dos entrevistados também admitem já ter transgredido leis para levar vantagem (dar caixinha ao guarda, sonegar impostos, inflar gastos médicos para o seguro-saúde etc.). Essa falta de ética se irmana à fraqueza do nosso aparato de Justiça para dar origem a um ciclo vicioso em que há mais delinquência porque a confiança na absolvição é grande, e o fato de tantos sermos delinquentes torna improvável a criação de leis mais duras contra os delituosos.
Como romper esse ciclo? Só vejo dois caminhos. Um é o de uma ditadura benevolente, que mude as leis na marra. Rejeito-o liminarmente. O segundo é formando cidadãos melhores, que elegerão representantes melhores e mais probos, que farão melhores leis.
Essa formação pode vir de uma série de fontes. Desde a família até clubes de escoteiros, instituições religiosas etc. Mas o melhor candidato, disparado, é o sistema educacional. Porque é nele que crianças e jovens passam boa parte do seu tempo, é nele que são socializados, é nele que aprendem sobre atos virtuosos de grandes homens e mulheres (e também sobre os nefastos) e nele estão em um ambiente hierárquico e regrado, onde há figuras de autoridade capazes de punir desvios de conduta.
A escola brasileira é antiética. Em geral, há desprezo pelos alunos e seus esforços. Os professores faltam ao trabalho uma enormidade
Se um marciano chegasse ao nosso país e acompanhasse nossas discussões educacionais, acreditaria que somos o país cujo sistema educacional oferece a melhor formação ética da galáxia. O assunto é infinitamente discutido e priorizado, a ponto de uma pesquisa da Unesco que traça o perfil do professorado brasileiro mostrar que para 72% de nossos mestres a finalidade mais importante da educação deveria ser “formar cidadãos conscientes” — só 9%, por contraste, falam em “proporcionar conhecimentos básicos”. Sabemos que essa missão não está sendo cumprida. Principalmente porque um sistema educacional não tem esse poder — a pregação de um professor não vai reverter os efeitos de uma sociedade permissiva e de um Judiciário ineficazes. Mas também porque a prática de nossas escolas é o oposto de sua pregação.  
Finalmente, quando todo esse processo é avaliado, as fraudes são constantes: não me recordo de uma única prova em toda a minha vida de estudante em que não houvesse cola. Em alguns casos, gritante. A grande maioria dos professores faz que não vê. No máximo dá uma indireta. Que diferença do ambiente nas universidades americanas que cursei, em que a primeira página de cada prova continha uma declaração de aderência ao código de ética da universidade, cuja assinatura era obrigatória para todos os alunos, e que especificava a punição para os coladores: expulsão. Nunca vi sequer um aluno colando. Há suporte empírico para essa observação casual: um estudo de dois acadêmicos portugueses em 21 países mostrou o aluno brasileiro em quinto lugar no ranking da cola em universidades.
Aqui há uma discussão conceitual importante. Muita gente verá esses dados e dirá que a escola é apenas um reflexo da sociedade. Se a sociedade brasileira é desonesta, é normal que a escola também o seja. O problema é que, para avançarmos, precisaremos que as instituições sejam melhores do que a média nacional. Enquanto nossa escola for um retrato do país, o país não mudará. Temos de exigir das escolas um desempenho ético superior. Não é fácil. Todas as forças e incentivos existentes conduzem à inércia. Mas são indispensáveis. A melhora educacional precisa vir antes da melhora social. Foi assim nos países de sucesso. Espero que seja assim aqui também. São os meus votos para 2014.
Fonte: Veja

Autoajuda e auto ajuda... / Claudio de Moura Castro

Tomaram minha carteira! - CLAUDIO DE MOURA CASTRO
O Estado de S.Paulo - 31/12

Umas multinhas aqui, outras acolá. Pior, desleixo em obrigar membros da família a perfilhar suas próprias infrações no meu carro. E lá se vai a carteira por uns tantos meses. Vencido o prazo de abstinência, há que penar 30 horas de reciclagem. Uma experiência edificante e educativa!

Sendo impossível confiar nas autoescolas, o Detran usa as impressões digitais de professor e aluno ao início e ao fim da aula. Tudo controlado por um formoso computador. Ou seja, descentralizado e controlado. Ao menos para leigos, o sistema é blindado. Há realmente que gastar 30 horas na autoescola. Se o objetivo é punir os pecadores e convencê-los a tomar mais cuidado, o sucesso é incontestável. Parabéns ao Detran. O castigo é de uma chatice infinita, espantosa perda de tempo. Aprendi a lição.

Como a prova é a mesma para obter a carteira de habilitação, fiquei pensando na lógica do sistema. De início, por que obrigar alguém a fazer autoescola, se há uma prova no Detran? Depois de fazer três simulados foi fácil, o exame mescla conhecimentos úteis, decoreba e cretinices, com predomínio das últimas.

No meu último exame de habilitação, nos EUA, havia que estudar um livreto de 20 páginas (metade sobre direção defensiva). O livro brasileiro tem 162 páginas. Pela lógica, deveríamos ser motoristas exemplares, conhecendo todas as regras do trânsito, primeiros socorros, cidadania e direção defensiva. Como nossa taxa de acidentes fatais é espantosa, reduzi-los deveria ser o foco obsessivo do curso. Mas as provas oferecem uma indigestão de banalidades e inutilidades. Por que o Detran não contrata os serviços profissionais de quem sabe formular provas?

O melhor capítulo é o de primeiros socorros, eminentemente útil considerando quantos se estraçalham nos acidentes. Mas a formulação das perguntas é canhestra. Admitamos ser útil saber que o acidentado morre se tiver uma parada cardíaca. Mas por quantos minutos? E por quanto tempo apertar um nariz que jorra sangue? Os médicos se lembrarão desses números?

O capítulo de cidadania é uma total perda de tempo. Sólidas pesquisas demonstram que perorações e sermões têm impacto nulo sobre o comportamento. De que adianta dizer aos motoristas que sejam gentis?

Os vídeos exibidos na autoescola são lastimáveis. Se dirigir é lidar com o movimento, por que não passam de uma sucessão de telas estáticas? Além disso, têm erros técnicos.

Quem formulou a prova ama definições legais. São essenciais para a polícia, mas inúteis para outros mortais. Por exemplo, veículo de carga é caminhão, carroça ou carrinho de mão? Veículo de tração é semirreboque, reboque ou caminhão trator? Qual a definição exata de uma carroça? E de uma "estrada"? E de lote "lindeiro"? Como se chamam as mensagens incorporadas às placas? Charrete transporta carga ou pessoas? Qual documento o guarda não precisa exigir ao autuar um veículo? Qual a habilitação para transporte escolar? E para cargas perigosas? Quantos dias tem a autoridade de trânsito para julgar uma infração? Qual a medida administrativa na apreensão de um veículo? Qual o nome do órgão que cuida da qualidade do ar? Qual órgão tem câmaras temáticas?

Há perguntas para o fabricante do veículo. Por que deveríamos saber qual o equipamento de segurança obrigatório em reboques e semirreboques? Quanto de monóxido de carbono expele um veículo a álcool? Outras são para as autoescolas. Quantos acompanhantes são permitidos durante as aulas de direção?

Pensemos bem, conhecer tais resposta aumenta a segurança?

Abundam perguntas tolas e pegadinhas, como a diferença entre "camioneta" e "caminhoneta". Gestos de sinalizar são chamados de "automatismos" ou "direção segura"? Como se denomina a distância entre um veículo e outro? Como é a placa de uma estância hidromineral? Desenho de boi na placa anuncia exposição agropecuária, matadouro ou rodeio? Quantos lados tem uma placa R-1?

E as ambiguidades? Uma placa com pedestre cruzando significa "passagem sinalizada para pedestres", "travessia de pedestres", "passagem para pedestres"? Qual a diferença entre "mão dupla adiante" e "mão dupla à frente"? Uma pergunta sobre preferências de passagem oferece quatro alternativas razoáveis (portanto, só decorando). O pedestre tem prioridade se for idoso, se o sinal para pedestres estiver verde ou quando está na faixa de segurança?

Há questões erradas: "Qual a força que joga o veículo para dentro da curva?". O atrito dos pneus é a força centrípeta, mas só impede a ação da centrífuga. Que elemento do motor "recebe o impulso direto do sistema de partida"? Todos os elementos móveis são solidários, a pergunta é tola. O uso incorreto dos freios provoca comportamento "inseguro", "arriscado" ou "sobre-esterçante"? Deslindar tais charadas semânticas importa para a segurança do trânsito?

Talvez o conhecimento potencialmente mais útil seja direção defensiva. Infelizmente, o conteúdo é pobre, predominando perguntas que requerem decorar listas de princípios e definições. Pouco se aprende para a vida real. Deveria haver instruções exaustivas do que fazer em caso de derrapagens, obstáculos na pista, entrada em curvas com velocidade excessiva e outras situações críticas para a segurança. Isso, sim, salva vidas. Aliás, por que a "direção corretiva" é considerada "de alto risco"? Diante de uma situação crítica pode ser a que reduz o risco.

Pesquisas americanas mostraram que motociclistas com curso de direção defensiva sofrem só um quarto dos acidentes. Por que o livreto não explica as técnicas de frenagem, com o equilíbrio certo entre o freio traseiro e o dianteiro? O mesmo sobre técnicas para entrada e saída de curvas? Por que é preciso inclinar a moto para reduzir o ângulo da curva? Em quantos metros é possível parar uma moto trafegando a xis quilômetros por hora?

Escolhendo ao acaso uma prova simulada, de 30 perguntas, apenas 4 lidavam com conhecimentos que aumentam a segurança. Por que será que o Detran quer exercitar a memória e a paciência dos motoristas, em vez de tentar reduzir acidentes?

Imagens tipo 'mensalão' ferem a realidade e brincam com a WEB

19/01/2014 07h00 - Atualizado em 19/01/2014 12h26

Veja lula-gigante de 48 m e mais fatos 





que dividiram os 'detetives da web'


'ET' capturado, cachorro vesgo e tartaruga gigante foram 'desmascarados'.
Jovem com 'auto tune natural' virou sensação na web e provocou debate

Do G1, em São Paulo
14 comentários
Moonwalk de bicicleta
Um usuário identificado como “Michael Erbsen” publicou um vídeo em seu canal no YouTube que mostra um homem chamado "Gene" enfrentando uma ventania forte enquanto anda de bicicleta, o que resultou em uma imagem curiosa em que o homem parecia andar de bicicleta para trás. A cena, no entanto, gerou debate entre os internautas sobre sua veracidade (leia a matéria).
Homem andando de biciclenta foi arrastado para trás, gerando brincadeiras como 'moonbiking' (Foto: Reprodução/YouTube/Michael Erbsen)Homem andando de biciclenta foi arrastado para trás, gerando brincadeiras como 'moonbiking' (Foto: Reprodução/YouTube/Michael Erbsen)
Lula gigante de 48 m
A imagem de uma lula gigante com mais de 48 metros de comprimento começou a se espalhar pela internet e acabou virando boato entre os internautas. A farsa, no entanto, foi rapidamente descoberta, e usuários mostraram que se tratava de uma montagem a partir de duas fotos diferentes (leia a matéria).
Imagem falsa de lula de 48 m de comprimento se espalhou pela rede e assustou internautas (Foto: Reprodução/Twitter/icarpio)Imagem falsa de lula de 48 m de comprimento se espalhou pela rede e assustou internautas (Foto: Reprodução/Twitter/icarpio)
Perdeu a casa mas salvou PS4
No fim de 2013, um usuário do Reddit postou uma imagem na rede social que mostrava um homem segurando triunfante um Playstation 4, mesmo após “perder a casa” em um tornado. A imagem foi bastante compartilhada pelos usuários, e foi reproduzida mais de 1 milhão de vezes. No entanto, diversas pessoas duvidam da veracidade da foto, sugerindo que o homem apenas segurou a caixa do produto em frente à residência destruída de outra pessoa (leia a matéria).
Homem segura caixa de Playstation 4 após supostamente perder a casa durante tornado nos EUA (Foto: Reprodução/Imgur/hepatitisC)Homem segura caixa de Playstation 4 após supostamente perder a casa durante tornado nos EUA (Foto: Reprodução/Imgur/hepatitisC)
'Maior tartaruga do mundo'
Em novembro de 2013, a foto de uma tartaruga descomunal que circulava há meses na internet gerou muitos boatos na web, depois que sites e blogs afirmarem que a tartaruga gigante havia sido achada na Amazônia, teria 529 anos de idade, quase 18 metros de comprimento e pesaria mais de 36 toneladas. O fato, na verdade, é falso, e a imagem foi retirada do filme japonês "Gamera The Brave", de 2006 (leia a matéria).
Imagem falsa de uma tartaruga descomunal que circula há meses na internet continua gerando boatos sobre sua existência (Foto: Reprodução)Imagem falsa de uma tartaruga descomunal que circula há meses na internet continua gerando boatos sobre sua existência (Foto: Reprodução)
Auto tune 'natural'
Uma série de vídeos caseiros de Emma Robinson, uma jovem cantora americana de 16 anos, causou debate na internet, depois que a garota foi apontada como detentora de uma voz com “auto tune natural”, técnica eletrônica utilizada para corrigir o desempenho vocal e instrumental dos artistas (leia a matéria).
Emma Robinson dividiu internautas após vídeo no qual canta com 'auto tune natural' (Foto: Reprodução/YouTube/Emma Robinson)Emma Robinson dividiu internautas após vídeo no qual canta com 'auto tune natural' (Foto: Reprodução/YouTube/Emma Robinson)
'Et' caputrado
O chinês Li Kai provocou um frenesi nas redes sociais do país ao divulgar que havia capturado um extraterrestre após ela se chocar com fios elétricos usados para afastar animais selvagens. Em seguida, ele contou que pegou o "ET" e o colocou em um freezer em sua casa. No entanto, a história era falsa, e Kai acabou condenado a 5 anos de prisão (leia a matéria).
Li disse ter encontrado um extraterrestre perto do rio Yellow, em Binzhou (Foto: Reprodução/Weibo)Li admitiu que história sobre extraterrestre capturado em Binzhou, na China, era falsa (Foto: Reprodução/Weibo)
Cachorro que fica vesgo
Um vídeo de um labrador de 11 meses, postado no fim de 2012, fez muito sucesso pela rede ao mostrar o dono que consegue fazer com que o cão fique vesgo ao apenas dar um comando, e, quando é atendido, dá um “prêmio” para o animal. Apesar de engraçado, "detetives da web" descobriram que, no entanto, a gravação era fruto de edição de vídeo (leia a matéria).
Labrador de 11 meses fica vesgo quando dono pede... com ajuda de softwares de edição (Foto: Reprodução)Labrador de 11 meses fica vesgo quando dono pede... com ajuda de softwares de edição (Foto: Reprodução)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Atraso de obras da Copa do Mundo assusta Fifa, dirigentes e torcedores do futebol / coluna de Augusto Nunes

16/01/2014
 às 20:08 \ Direto ao Ponto

A Copa que faria meia Argentina morrer de inveja ameaça matar de vergonha e indignação os brasileiros decentes

Em 30 de outubro de 2007, assim que a Fifa anunciou oficialmente a escolha do anfitrião da Copa de 2014, o presidente Lula resolveu animar a festança em Zurique com mais uma discurseira triunfalista. “Vocês verão coisas lindas da natureza e nossa capacidade de construir bons estádios”, vangloriou-se com sete anos de antecedência o camelô de bazófias e gabolices. “Os investimentos em infraestrutura deixarão um legado de melhoria nas condições de vida do nosso povo.Vamos fazer uma Copa para argentino nenhum botar defeito”.
A menos de um semestre do início da competição, muitas arenas padrão Fifa nem foram concluídas e já estão condenadas a agonizar como elefantes brancos no minuto seguinte ao último apito. Os monumentos à modernidade que fariam do País do Futebol um campeão da mobilidade urbana encalharam na garganta de Lula ou dormem na imaginação de Dilma Rousseff. O trem-bala e o terceiro aeroporto de São Paulo, por exemplo, jazem no cemitério das fantasias eleitoreiras que o padrinho criou e a afilhada não para de ampliar. E boa parte do mundaréu de obras prometidas pelos fundadores da potência emergente sucumbiu ao raquitismo congênito.
Nesta quarta-feira, um editorial da Folha reiterou que o “legado da Copa” é só a vigarice mais recente (e uma das mais perdulárias forjadas pelos vendedores de vento. Dos 56 projetos divulgados com pompas e fitas em 2010, sobraram 39. O volume de investimentos baixou de 15,4 bilhões para 7,9 bilhões. Conjugadas, a a falta de dinheiro e incompetência de sobra adiaram para quando Deus quiser novas linhas de metrô, monotrilhos, estradas, avenidas, trens metropolitanos, reparos nas malhas viárias, reformas em aeroportos ou corredores de ônibus, fora o resto. Como preveniu o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o legado da Copa pode acabar resumido à apresentadora Fernanda Lima, .
ão foi por falta de aviso que o fiasco se materializou. Em julho de 2010, por exemplo, um repórter quis saber de Jerôme Valcke como andavam os preparativos para a Copa do Brasil. “Falta tudo”, resumiu o secretário-geral da Fifa. “Tudo”, repetiu, com cara de quem acabou de descobrir que lidara havia três anos com tratantes e ineptos. Surpreendido pelo pontapé na canela, Lula tentou um carrinho por trás. ”Terminou uma Copa do Mundo na África do Sul agora e já começam aqueles a dizer: ‘Cadê os aeroportos brasileiros? Cadê os estádios brasileiros? Cadê os corredores de trem brasileiros? Cadê os metrôs brasileiros?’ Como se nós fôssemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e não soubéssemos definir as nossas prioridades”.
O troco desmoralizante viria em março de 2012, quando Valcke afirmou que os organizadores da Copa mereciam um chute no traseiro: talvez assim começassem a trabalhar direito. O descompromisso do supercartola com as boas maneiras escancarou o descompromisso da turma no poder com a verdade ─ e comprovou que os governos lulopetistas não sabem mesmo “fazer as coisas”  nem “definir as nossas prioridades”. As perguntas desdenhadas pelo palanque ambulante na réplica a Valcke continuavam (e continuam) implorando por respostas. (Como imploram por investigações os incontáveis casos de polícia envolvendo negociatas bilionárias, contratos superfaturados e procissões de propinas).
Inauguradas no Dia da Criação, só escaparam do atraso irresponsável “as coisas lindas da natureza”. Mas o arquivamento dos projetos vinculados a três cartões postais do Rio sugere que não serão vistas tão facilmente as maravilhas evocadas por Lula na Suiça. O Corcovado está onde sempre esteve. Só que a modernização do trenzinho foi adiada para 2015. O tempo de espera na fila do bondinho do Pão de Açúcar não será inferior ao de viagens aéreas intercontinentais. E convém contemplar de longe a baía de Guanabara devastada pela poluição.
É compreensível que Lula, Dilma, Aldo Rebelo, Ricardo Teixeira e outros festeiros de 2007 não tenham dado as caras na cerimônia de entrega do troféu Bola de Ouro, em Zurique, durante a qual a Fifa homenageou o anfitrião do próximo Mundial. A cinco meses do jogo de abertura, a turma do carnaval temporão em Zurique sabe o que é sabido até pela grama do Maracanã: a Copa que faria meia Argentina morrer de inveja pode matar de vergonha e indignação o Brasil que presta.