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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Sobre cães e gatos / A Psiquiatria está em todo lugar // Zoopsiquiatria ...é assunto delicado !

Bichos neuróticos, donos nervosos. A psiquiatria chega aos pets http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/04/bichos-neuroticos-donos-nervosos-psiquiatria-chega-aos-pets.html

Bichos neuróticos, donos nervosos. A psiquiatria chega aos pets

Eles têm quatro patas, não falam e vivem num confortável ócio – mas, pelo jeito, sofrem de dramas emocionais semelhantes aos nossos

JÚLIA KORTE
21/04/2015 08h00

REMÉDIO OU TERAPIA? A veterinária Juliana Gil, de São Paulo. Ela atende cães em sessões individuais (Foto: Camila Fontana)
Ela teve uma infância difícil. Foi abandonada pelos pais pouco depois de completar 1 ano. Esperou outro ano para ser finalmente adotada por um casal. O recomeço foi difícil. “Ela não queria entrar em casa”, diz Rod Tiago, de 44 anos, que a adotou. O casal a encheu de carinhos e cuidados. Ganhou uma irmã mais velha, Cléo, de 12 anos, e todos os mimos imagináveis para mitigar o trauma do abandono – até um acupunturista foi chamado. Não adiantou. Caiu prisioneira da ansiedade e começou a atacar as visitas. Um especialista a diagnosticou com agressividade, irritação e agitação contínua. O tratamento começou há dois meses e contempla o uso contínuo de Neuleptil. O medicamento é indicado para quem sofre de negativismo, indiferença, hostilidade, hiperemotividade e instabilidade afetiva. Aos 4 anos, ela, portanto, já está sendo tratada como desequilibrada emocional. O nome dela é Menina. Mas Menina não é uma criança. É uma vira-lata.
>> A acupuntura e seus benefícios nos pets

Menina é apenas uma paciente entre muitas tratadas pelo novo ramo da medicina veterinária: a zoopsiquiatria. Ela defende, em poucas palavras, que a mente animal tem as mesmas vulnerabilidades da mente humana. Para essa turma, cachorros não têm dono. Têm tutores. E pobre de nós, os tutores. Se o seu cachorro foge de uma vassoura ou de uma mão levantada, batata: ele sofreu abuso e precisa de terapia. Se seu gato lambe um pedaço do corpo até criar feridas, prepare-se: ele pode sofrer de transtorno obsessivo-compulsivo. A opção pela palavra tutor indica de quem é a culpa pelos traumas dos pets: ela é sua.


À primeira vista, parece mais uma etapa na humanização sem fim dos pets. Tratamos bichos domésticos cada vez mais como semelhantes. Ou melhor, como filhos: damos nomes, roupinhas, sapatos, festas de aniversário, dias em spas... Já permitimos que eles passeiem conosco em shoppings e viajem ao nosso lado no avião. Projetamos neles os sentimentos e comportamentos humanos que desejamos enxergar, seja lá por qual razão – ou desrazão. É um exagero, claro. Mas e daí? Não há racionalidade que resista ao olhar pidão do mais desgraçado vira-lata. Ou então o bicho é você. Desalmado.
Podemos projetar o que for nos pets, mas a zoopsiquiatria assegura que eles sofrem de transtornos mentais semelhantes aos nossos. Os especialistas da área garantem que, graças aos avanços em áreas como biologia, genética e neurociência, acumulam-se evidências de que os animais podem sofrer de terror noturnotranstorno de estresse pós-traumático,transtorno obsessivo-compulsivodepressão e outras dores de cabeça que pareciam demasiado humanas. Ainda não se falou em neurose, complexo de Édipo e inveja do pênis, mas parece questão de tempo antes que Freud seja chamado a explicar também os animais. A psicanálise mais tradicional busca a cura pela fala. Talvez latidos e miados, mesmo no divã, sejam um empecilho.

O veterinário Nicholas Dodman, da Sociedade Americana de Comportamento Animal, publicou um estudo em que diz ter encontrado nos cães da raça dobermann um gene associado a uma forma específica de TOC. Os animais cuidam compulsivamente de um objeto (como cobertor de dormir) ou de uma parte do corpo. Quando submeteu os cães a ressonância magnética, Dodman notou níveis anormais de atividade na ínsula direita anterior – a mesma parte do cérebro alterada nos humanos diagnosticados com a doença

Como resolver? Nem Lacão explica. Mas a zoopsiquiatria tem as respostas. Para os especialistas da área, animal doméstico é como um bebê. Como os bichos não falam, só é possível saber quando estão felizes, tristes ou assustados observando seu comportamento. “A psiquiatria veterinária é muito parecida com a psiquiatria infantil. O diagnóstico é baseado no que o tutor diz e na observação do animal”, afirma Stéfanno Mendes Lima, veterinário especialista em zoopsiquiatria. Um exemplo: cães ou gatos que tentam abocanhar moscas inexistentes no ar. Mendes Lima  diz que enxergar insetos que não estão lá pode ser indicador de esquizofrenia, uma forma de alucinação. Mas pode também ser um comportamento normal, uma brincadeira. A frequência e o contexto ajudam a estabelecer a diferença. Antes, porém, de estigmatizar seu bicho como doente mental grave, lembre que os egípcios acreditavam que os gatos efetivamente veem coisas do outro mundo. Se é loucura, ela existe há milhares de anos – e tem sido compartilhada por respeitáveis humanos.

SER OU NÃO SER A cadela Menina  na casa onde mora. Contra a agressividade e agitação, ela toma Neuleptil. A gata  Mel, de 16 anos. Ela  toma ansiolítico (Foto: Raul Spinassé/ EPOCA)
Outro estudo da Universidade de Edimburgo demonstrou que gatos acima dos 11 anos sofrem de problemas geriátricos humanos, incluindo demência e Alzheimer. Se o seu gato começar a esquecer onde fica o pote de ração em que ele se alimenta há dez anos, pode não ser distração. Há também a questão do amor. Segundo um estudo da Universidade Emory, nos Estados Unidos, imagens do cérebro canino mostram que, quando apresentados a cheiros familiares do cotidiano, os animais priorizam o odor dos donos. Ele ativa uma parte do cérebro chamada de núcleo caudado. Em nós, a visão do ser amado provoca sensações prazerosas numa área análoga do cérebro. É lá que reside o amor de homens e animais?
SER OU NÃO SER A cadela Menina  na casa onde mora. Contra a agressividade e agitação, ela toma Neuleptil. A gata  Mel, de 16 anos. Ela  toma ansiolítico (Foto: Raul Spinassé/ EPOCA, Letícia Moreira/ EPOCA)
É claro que abordagens paralelas entre humanos e seus companheiros domésticos têm limites. Como os bichos são incapazes de contar seus sonhos ou discutir seus complicados sentimentos em relação à mãe, o tratamento lacãoniano está fora de questão. Como se faz, então, para tratar da angústia quadrúpede? “É uma abordagem múltipla”, afirma Juliana Gil, veterinária comportamentalista do Hospital Veterinário PetCare, em São Paulo. A abordagem envolve consultaterapia com os donosadestramento e eventuais mudanças no ambiente que cerca o animal. Em cerca de 30% dos casos, usa-se medicação. Em seu consultório, Juliana realiza o atendimento clínico num espaço de 40 metros quadrados, com sala de entrevista (para cães e donos), brinquedos e acessórios de adestramento. “Os cães normalmente sofrem de ansiedade por separação ou são agressivos”, diz Juliana. A consulta custa R$ 320. O atendimento dos gatos é realizado em casa, porque eles se estressam na clínica. “O principal problema dos gatos é urina e fezes fora da caixinha”, afirma Juliana. Quase metade dos gatos que fazem isso tem algum problema físico, em geral nos rins. Os demais têm problema comportamental ou enfrentam o descaso do dono com seus banheiros. Diante de um distúrbio comportamental, Juliana formula terapias a serem repetidas em casa, por donos e animais. Exemplo? Se um cão sofre com ansiedade de separação, ela recomenda criar um “espaço seguro” no qual dono e cão passem alguns minutos por dia, para desenvolver memórias emocionais e olfativas. Com o tempo, espera-se que o animal aprenda que, mesmo na ausência do dono, naquele cantinho estará protegido. Em que essa abordagem difere do velho e bom adestramento? Pelo diagnóstico, que a zoopsiquiatria diz fazer de forma científica, e pelo uso de medicamentos, que os adestradores não dominam.
A administradora de empresas Janaína Regis Lemos Barbosa, de 37 anos, entende o que é conviver com um gato diagnosticado com um problema humano: a ansiedade. A gata e “filha única” Mel, de 16 anos, começou a ficar esquisita quando mudou de apartamento. Na casa nova, a gatinha fazia xixi em toda parte. “O estresse dela refletia em mim”, diz Janaína. O zoopsiquiatra prescreveu alterações na alimentação e um remédio controlado, o ansiolítico para humanos buspirona. “O tratamento foi perfeito”, diz Janaína.
Com o mercado da psiquiatria veterinária aquecido, as empresas farmacêuticas começaram a investir em drogas de modificação comportamental e estilo de vida para animais. Em 2007, a empresa Elanco lançou o Reconcile, uma versão canina do antidepressivo Prozac. Ele tinha gosto de carne e servia para curar desordens compulsivas e ansiedade de separação, mas não vendeu como se esperava e foi tirado de linha. Por enquanto, os pets e seus donos seguem compartilhando as mesmas medicações. E as mesmas neuroses.

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