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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A má pontaria do Governo...

Erros em série

Erros (Foto: Arquivo Google)Depois de seu governo colecionar mais trapalhadas, desta vez nas idas e vindas sobre a necessária reforma no ensino médio, o presidente Michel Temer terminou a semana amargando o indigesto sabor da suspeição. E como na política o aliado de ontem esconde o algoz de amanhã, ele pode ter de responder por suposto pedido de propina para Gabriel Chalita, candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo em 2012, hoje vice na chapa do petista Fernando Haddad, um dos animadores do “Fora Temer”.
Mesmo que não dê em nada, o ministro Teori Zavascki empanou a comemoração dos 76 anos do presidente e encheu de delícias o prato dos opositores a uma semana das eleições municipais.
Na sexta-feira, pouco depois da notícia na internet, redes sociais destacavam a “abertura de processo” contra Temer, com uma saraivada de xingamentos e mentiras, bem ao estilo da turma alimentada pelo PT. 
Zavascki determinou a abertura de petição no âmbito do Supremo, uma espécie de investigação preliminar, sobre os trechos do depoimento em que o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, cita Temer. E encaminhou o caso para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deverá decidir se abre ou não inquérito.
Machado diz que Temer pediu e conseguiu obter R$ 1,5 milhão para financiar a campanha de Chalita. E que a propina teria vindo da Queiroz Galvão, uma das empreiteiras investigadas pela Lava-Jato.
A delação também envolve o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), os ex-presidentes José Sarney (PMDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os senadores Romero Jucá (PMDB) e Aécio Neves (PSDB), a ex-ministra Ideli Salvatti (PT) e outros tantos. Diante de lista tão extensa, Zavascki decidiu fatiá-la em petições distintas.
Ainda que tudo esteja na fase inicial, o sinal verde para investigar Temer é mais um revés para um governo que necessita de vitórias e não tem conseguido produzi-las. Ao contrário. Executa o malabarismo de transformar até o que poderia ser uma boa nova em má notícia.
Ministros que falam demais, que têm encantamento absoluto com o próprio umbigo, que preferem uma manchete de jornal à solução dos problemas para os quais o país os remuneram. Projetos lançados sem negociação prévia, algo que trai a experiência congressual de Temer. Um conjunto de equívocos perdoáveis na interinidade, seriíssimos na condição de titular.
Como de praxe, debitam-se os erros à comunicação. Um diagnóstico apressado, fácil, com o qual os governos tentam esconder suas fragilidades. É sempre assim: se o governante acerta e sua popularidade cresce, o mérito é exclusivamente dele; se tropeça, a culpa é da comunicação ineficiente.
No caso de Temer, que assumiu o país em frangalhos, os problemas econômicos e sociais, políticos e morais foram herdados. Portanto, criar novos é absolutamente dispensável.
Isso vale para o vai-não-vai sobre as reformas da Previdência e trabalhista. E também para a Medida Provisória que muda o ensino médio, que, em vez de ser objeto de indecisão e recuo, poderia ser lançada como uma provocação ao debate. E alterada no Congresso até mesmo por sugestão da base governista.
Governo algum se faz em semanas ou poucos meses. Mas, ao contrário daqueles recém-eleitos que têm pelo menos cem dias de trégua, Temer carrega o passivo incômodo de ser taxado de “golpista”, de não ser popular.
Para sobreviver, terá frear os erros. E acertar em dobro.
Foto: Arquivo Google

"Quanto tempo, dinheiro, energia e criatividade o pessoal da Odebrecht gastou para montar e manter por tantos anos o tal “Departamento de Operações Estruturadas”?

Eficientes na destruição

Brasil do PT criou sistemas ineficientes e corruptos dos principais setores da economia aos mais simples serviços públicos
Carlos Alberto Sardenberg, O Globo
Gafanhotos petistas  (Foto: Arquivo Google)
Quanto tempo, dinheiro, energia e criatividade o pessoal da Odebrecht gastou para montar e manter por tantos anos o tal “Departamento de Operações Estruturadas”? O sistema supervisionava, calculava e executava os pagamentos de comissões — propinas, corrige a LavaJato — referentes a grandes obras no Brasil inteiro e em diversos outros países.
Considere-se ainda que os pagamentos deviam ser dissimulados, o que trazia o trabalho adicional de esconder a circulação do dinheiro e ocultar os nomes dos destinatários. Coloquem na história os funcionários que criavam os codinomes dos beneficiários — Casa de Doido, Proximus, O Santo, Barba Verde, Lampadinha — e a gente tem de reconhecer: os caras eram eficientes.
Nenhuma economia cresce sem companhias eficientes. Elas extraem mais riqueza do capital e do trabalho e, com isso, reduzem o custo de produção, entregando mercadorias e serviços melhores e mais baratos. Pois o “Departamento de Operaões Estruturadas” foi eficiente na geração de uma enorme ineficiência.
Tudo aquilo é parte do custo Brasil — encarece as obras, elimina a competição, afasta empresas de qualidade e simplesmente rouba dinheiro público. Há aqui dois roubos: um direto, o sobrepreço que se coloca nas obras para fazer o caixa que alimenta as propinas; o outro roubo é indireto e mais espalhado.
Está no aumento dos custos de toda a operação econômica. Na última terça, a Fundação Dom Cabral divulgou a versão 2016 do ranking mundial de competitividade, que produz em associação com o Fórum Econômico Mundial. O Brasil apareceu no 81º lugar, pior posição desde que o estudo é feito, atrás dos principais emergentes, bem atrás dos demais países do Brics.
Mais importante ainda: se o Brasil caiu 33 posições nos últimos seis anos, os demais emergentes importantes ganharam posições com reformas e mais atividade econômica. Prova-se assim, mais uma vez, que a crise brasileira é “coisa nossa”, genuína produção nacional. Os governos Lula 2 e Dilma foram tão eficientes na geração do desastre quanto a Odebrecht com suas operações estruturadas.
Uma política econômica que provoca recessão — por três anos seguidos — com inflação em alta, juros elevadíssimos e dívida nas alturas, tudo ao mesmo tempo, com quebradeira geral das maiores estatais — eis uma proeza que parecia impossível. Para completar, a eliminação de qualquer critério de mérito na montagem do governo e suas agências arrasou a eficiência da administração pública e, por tabela, da empresa privada que tinha negócios com esse governo.
Em circunstâncias normais, numa economia de mercado, a empresa privada opera tendo como base as leis e as regulações que devem ser neutras e iguais para todos. A Petrobras precisava ter regras públicas para contratação de obras e serviços. Em vez disso, o que a Lava-Jato nos mostrou? Um labirinto de negociações escondidas, operações dissimuladas, manipulações de lei e regras.
Às vezes, a gente pensa: caramba, não teria sido mais simples fazer a coisa legal? Sabe o aluno que gasta enorme energia e capacidade bolando uma cola eficiente e acaba descobrindo que gastaria menos estudando? A diferença no setor público é que o estudo não dá dinheiro. A cola dá um dinheirão para partidos, seus políticos, amigos e companheiros.
Nenhum país fica rico sem ganhos de produtividade. O Brasil da era PT perdeu produtividade. Mas, pior que isso, criou sistemas ineficientes e corruptos desde os principais setores da economia — construção civil, indústria de óleo e gás — até os mais simples serviços públicos, como a concessão de bolsa-pescador ou auxíliodoença.
Foto: Arquivo Google

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

Humor de Sponholz no blog de Aluizio Amorim

29/09/2016

Sponholz: O tropeço de Lewandowski.


O Brasil é um país bizarro depois do 'tsunami petista'. Existem 13 milhões de 'desaparecidos' !

quinta-feira, setembro 29, 2016


PAIS DE ALUNOS SE REVOLTAM CONTRA A ANARQUIA 'POLITICAMENTE CORRETA' DA 'GUERRA CULTURAL' QUE TOMOU CONTA DO COLÉGIO PEDRO II NO RIO DE JANEIRO

Muitos pais decidiram tirar seus filhos do Colégio Pedro II, depois que a direção da escola colocou em prática os ditames do pensamento politicamente correto mormente no que respeita à ideologia de gênero. Trata-se de uma agenda do neocomunismo do século XXI cujo fim último é a destruição da família por meio da libertinagem e da corrosão dos valores morais e éticos que constituem um dos pilares mais importantes da civilização ocidental. Trata-se de 'guerra cultural'. A primeira fase que está em andamento e visa promover a metaformose dos conceitos. O fim último dessa 'guerra cultural' é a destruição da liberdade individual para deixar o caminho aberto ao totalitarismo. 
Apoiados por movimentos como Endireita Rio e Brava Gente, pais de alunos do colégio federal Pedro II, em São Cristóvão, na zona norte do Rio, marcaram para este sábado, dia 1º, em Copacabana, zona sul, uma manifestação contra a decisão da reitoria de acabar com a distinção de uniformes para alunos e alunas.
Eles querem que o reitor suspenda a liberação do uso de saia por alunos. Na semana passada, paredes da fachada da unidade São Cristóvão foram pichadas. “O problema não é a saia. É a ideologia de gênero que está sendo enfiada goela abaixo dos alunos e dos pais sem que tenha havido discussão sobre isso”, disse Luciana Duarte, de 36 anos, mãe de um aluno de 14 anos e integrante do movimento Mães pelo Escola Sem Partido.
O grupo de pais contrários à portaria se comunica por um aplicativo de celular que reúne 256 pessoas. Uma mãe publicou fotos sobre trabalhos escolares a respeito de movimentos sociais, como o feminista. “Se isso não é propaganda… por favor”, criticou.
A gerente de recursos humanos Aline Freitas, de 41 anos, pensa em tirar da escola o filho, de 8, que entrou este ano na unidade Tijuca, na zona norte. “Para mim está sendo um pesadelo. Meu filho participou de debates sobre o machismo e sobre estupro, quando houve aquele caso do estupro coletivo. Uma criança de 8 anos não é machista. Não quero que fiquem inserindo essas coisas na cabeça dele”, disse ela, que criticou a adoção do nome social por alunos transexuais, sem ordem dos pais. “É uma afronta um adolescente poder mudar o nome na secretaria. É tirar a autoridade do pai e da mãe.”
O fim da distinção de uniformes começou a ser discutido no Pedro II em 2014, quando um aluno foi obrigado a tirar a saia que usava. Estudantes fizeram um “saiato” em defesa do colega. Foram à escola de saia.
DEBATE BUNDALELÊ
“O fim da distinção de gênero na especificação do uniforme não significa que o colégio esteja incentivando estudantes do sexo masculino a virem de saia. É fruto de uma discussão ampla que ocorreu na comunidade escolar ao longo de mais de dois anos e que teve a participação dos estudantes. O Pedro II não está negando as diferenças entre homens e mulheres. Na verdade, a medida visa à inclusão de uma parcela de nossos estudantes que são transgêneros. Não cabe à escola definir a identidade de seus estudantes”, afirmou o chefe de Supervisão e Orientação Pedagógica do Pedro II, Carlos Alexandre Duarte.
Segundo ele, as regras para o uso dos banheiros – uma preocupação dos pais – continuam as mesmas. “A instituição sabe que o uso do banheiro pelos estudantes transgêneros precisa ser pensada. Por outro lado, não se pode supor que um estudante que não seja transgênero irá usar um banheiro feminino só porque está vestindo saia, por exemplo”, disse.
Sobre as críticas aos temas de debates e seminários, Duarte afirmou que o Pedro II estuda temáticas relativas à cultura, aos esportes e à prevenção de drogas. “Por que as temáticas LGBT e feministas deveriam ser proibidas? A única apologia que o Colégio Pedro II faz é ao respeito e à dignidade para todos os seres humanos”.
Poucos foram os estudantes que adotaram o uso de saia. O colégio não informou quantos. Os que o fizeram, vestem a peça de roupa na escola, mas não na rua. O professor Higor Ferreira diz que entre alunos e professores a medida foi recebida de forma tranquila. “Foram poucos os que adotaram a saia, porque há um descompasso muito grande entre o que acontece na escola e o que acontece lá fora”, afirmou. Do site de IstoÉ

Lake Michigan Roll Cloud / Aprecie

Fenômeno interncional

Inimigos e censores de nós mesmos... / Contardo Caligaris

quinta-feira, setembro 29, 2016

Somos os maiores inimigos de nossa possibilidade de pensar - 

CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 29/09

Um ano atrás, decidi seguir os conselhos de meu filho e abri uma conta no Facebook. A conta é no nome da cachorra pointer que foi minha grande companheira nos anos 1970 e funciona assim: ninguém sabe que é minha conta, não tenho amigos, não posto nada e não converso com ninguém.

Uso o Face apenas para selecionar um "feed" de notícias, que são minha primeira leitura rápida de cada dia.

Meu plano era acordar e verificar imediatamente os editoriais e as chamadas dos jornais, sites, blogs que escolhi e, claro, percorrer a opinião de meus colunistas preferidos, nos EUA e na Europa. Alguns links eu abriria, mas sem usurpar excessivamente o tempo dedicado à leitura do jornal, que acontece depois, enquanto tomo meu café.

Tudo ótimo, no melhor dos mundos. Até o dia em que me dei conta do seguinte: sem que esta fosse minha intenção, eu tinha selecionado só a mídia que pensa como eu –ou quase. Meu dia começava excessivamente feliz, com a sensação de que eu vivia (até que enfim) na paz de um consenso universal.


Mesmo nos anos 1960 e 1970, meus anos mais militantes, eu nunca tinha conhecido um tamanho sentimento de unanimidade.

Naquela época, eu lia "L'Unità", o cotidiano do Partido Comunista e, a cada dia, identificava-me com o editorial. Não havia propriamente colunistas: a linguagem usada no jornal inteiro já continha e propunha uma visão do mundo –luta de classes, contradições principais e secundárias, estrutura e superestrutura etc.

Ora, junto com "L'Unità" eu sempre lia mais um jornal –o "Corriere della Sera", se eu estivesse em Milão, o "Journal de Genève", em Genebra, e o "Le Monde", em Paris.

Nesses segundos jornais, que eram de centro (mas eu jurava que eram "de direita"), eu verificava os fatos (em plena Guerra Fria, não dava para acreditar nem mesmo no lado da gente) e assim esbarrava nos colunistas –em geral, social-democratas laicos e independentes, sem posições partidárias ou religiosas definidas.
Em sua grande maioria, eles não escreviam para convencer o leitor: preferiam levantar dúvidas, inclusive neles mesmos. E era isso que eu apreciava neles –embora os chamasse, eventualmente, de "lacaios da burguesia".

Hoje, os colunistas desse tipo ainda existem, embora sejam poucos. Eles estão mais na imprensa tradicional; na internet, duvidar não é uma boa ideia, porque é preciso criar e alimentar os consensos do "feed" do Face.

O "feed" do Face, elogiado por muitos por ser uma espécie de jornal sob medida, transforma-se, para cada um, numa voz única, um jornal partidário, piorado por uma falsa sensação de pluralidade (produzida pelo número de links).
A gente se queixa de que os grandes conglomerados da mídia estariam difundindo uma versão única e parcial de fatos e ideias, mas a realidade é pior: não são os conglomerados, somos nós que, ao confeccionar um jornal de nossas notícias preferidas, criamos nossa própria Coreia do Norte e vivemos nela. Como sempre acontece, somos nossos piores censores, os maiores inimigos de nossa possibilidade de pensar.

De um lado, o leitor do "feed" não se informa para saber o que aconteceu e decidir o que pensar, ele se informa para fazer grupo, para fazer parte de um consenso. Do outro, o comentarista escreve sobretudo para ser integrado nesses consensos e para se tornar seu porta-voz.

O resultado é uma escrita extrema, em que os escritores competem por leitores tanto mais polarizados que eles conseguiram excluir de seu "jornal" as notícias e as ideias com as quais eles poderiam não concordar: leitores à procura de quem pensa como eles.

Claro, não há hoje a obediência partidária dos anos 1970, mas a internet potencializa a vontade de se perder na opinião do grupo e de não pensar por conta própria. Essa vontade é a mesma –se não cresceu. Sumiu, em suma, a paixão do partido, mas não a do consenso.

Entre consensos opostos, obviamente, não há diálogo nem argumentos, só ódio.

Em suma, provavelmente, o resultado último da informação à la carte (que a internet e o "feed" facilitam) será a polarização e o tribalismo.

Eu mesmo me surpreendo: em geral, acho chatérrimos os profetas da apocalipse, que estão com medo de que o mundo se torne líquido ou coisa que valha. Mas, por uma vez, a contemporaneidade me deixa, digamos, pensativo.

A 'nuvem rolo' é internacional!

Roll Cloud Over Lake Michigan https://imgur.com/gallery/DlUrFdw
Clique no link para ver a 'nuvem de rolo' que passeia pelo mundo se exibindo e impressionando as pessoas 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

"Qual seria o cenário para a economia global de um Trump presidente?" / Monica de Bolle

quarta-feira, setembro 28, 2016

Viés nos tempos da cólera - 

MONICA DE BOLLE

ESTADÃO - 28/09
Qual seria o cenário para a economia global de um Trump presidente?

Raiva, descontrole, fúria. Adjetivos que caracterizam o debate político dentro e fora das redes sociais, dentro e fora do Brasil. A exaltação é a marca dos defensores e opositores de Temer, de Dilma, de Trump, de Hillary. A cólera se alastra desidratando o pensamento e expondo o viés que habita dentro de qualquer pessoa.
Viés. Em 2012, a renomada bióloga Jo Handelsman, professora da Universidade de Yale, publicou estudo em que expôs o viés que existe na comunidade científica em relação à contratação de mulheres. O experimento randomizado com 127 cientistas e professores universitários apresentou a cada um dois currículos idênticos: em um deles, o candidato à vaga chamava-se John; no outro, o nome era Jennifer. Os currículos nada tinham de excepcional. Contudo, o fictício John foi não só o candidato que os cientistas se mostraram mais propensos a contratar, mas aquele cujo salário todos julgaram justo ser cerca de 10% mais elevado do que o oferecido a Jennifer. Desde então, o mesmo experimento foi usado em diversos ambientes profissionais para conscientizar as pessoas do viés que carregam dentro de si. Homens e mulheres.

Se o viés inconsciente é algo perturbador, o viés inconsciente nos tempos da cólera é um perigo. Deixando de lado o gosto e o desgosto pelos candidatos à presidência dos EUA, o fato concreto é que Hillary, goste-se ou não dela, tem propostas concretas, conhece os dados, tem substância. Trump, por mais que seja o homem anti-establishment, exibe conduta irascível, desconhece os assuntos de que fala, insiste na ladainha protecionista e destruidora de empregos que abordei na semana passada, e nada apresenta de concreto para a classe média americana. Contudo, expõe com eficácia assustadora todo tipo de viés inconsciente.
Se ele responde com falta de compostura, é porque é “autêntico”. Se ele ataca Clinton pelo escândalo dos e-mails quando era Secretária de Estado, a expõe como mentirosa, enquanto ele próprio, que mente e omite, é visto como aquele que tem a coragem de tirar a máscara dos políticos convencionais. Quando ele revela sua mal escondida misoginia ou seu desprezo por imigrantes, é elogiado por não ser politicamente correto. Quando ele diz que reduzirá impostos “como nem Reagan foi capaz de fazer”, é aplaudido pela audácia, sem que tenha dito como pretende que essa política evite o aumento da dívida que ele próprio chama de “insustentável”. Há pouco tempo, Trump fez alusões a não pagar a dívida dos EUA, deixando claro que não tem a menor noção do impacto que isso teria sobre a economia global.

Qual seria o cenário para a economia global de um Trump presidente? Supondo que suas reduções de impostos não sejam tão fáceis de implementar – haja vista que terão de passar pelo Congresso e pelo crivo de democratas que discordam veementemente de mais cortes de impostos para os ricos – é razoável esperar uma forte reação negativa dos mercados, tanto nos EUA quanto no resto do mundo. Ao referir-se à atual presidente do Fed como “aquela Janet Yellen”, o candidato insinuou não apenas que não respeita a dirigente do Fed, como que estaria disposto a removê-la de suas funções, provocando onda ainda maior de incertezas no mundo.

O peso mexicano é barômetro desse porvir. Quando Trump sobe nas pesquisas, o valor do peso cai. Quando Hillary parece ter conquistado alguma vantagem, o peso sobe. É impossível exagerar o tamanho da incerteza de um governo trumpista. O que aconteceria com o petróleo, por exemplo? Pela retórica beligerante em relação ao Oriente Médio, o petróleo deveria subir pelo risco geopolítico. Pela retórica protecionista ao extremo, o preço da matéria-prima deveria cair ante o impacto negativo sobre as empresas americanas, o comércio mundial, e a economia global de maneira mais geral. A resposta? É difícil dizer para que lado iria o preço do petróleo, o que é, em si, um fator de incerteza e de volatilidade.

Quando li O Amor nos Tempos do Cólera lembro-me da sensação de asfixia, do calor opressivo provocado pelas descrições pulsantes de Gabriel García Marquez. A mesma opressão sinto ao observar a disseminação descontrolada do viés nesses tempos de cólera.

*Economista, pesquisadora do Peterson Institute For Internacional Economics e professora da Sais/Johns Hopkins University

terça-feira, 27 de setembro de 2016

"Vamos ser honestos? A democracia não é o melhor regime político..." / João Pereira Coutinho

terça-feira, setembro 27, 2016


Pessoas ignorantes em política devem ter direito de votar? - 

JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 27/09
Vamos ser honestos? A democracia não é o melhor regime político. Você sabe disso. As maiorias, muitas vezes, elegem governos incompetentes, mentirosos, corruptos. Até autoritários. Devemos conceder o direito de voto a quem não tem inteligência suficiente para escolhas responsáveis?

O cientista político Jason Brennan defende que não. O livro, que provocou polêmica nos Estados Unidos, intitula-se "Against Democracy" ("contra a democracia"). Não é um panfleto populista contra o populismo circunstancial de Donald Trump. É um estudo acadêmico com toneladas de bibliografia científica.

Tese do dr. Brennan: em todas as pesquisas disponíveis, os eleitores americanos são comprovadamente ignorantes sobre os assuntos da República. Desconhecem coisas básicas, como identificar qual dos partidos controla o Congresso. Para usar a terminologia de Brennan, a maioria dos eleitores se divide em "hobbits" e "hooligans".


Os "hobbits" são apáticos, apedeutas, raramente votam –e, quando votam, votam com a cabeça vazia.

Os "hooligans" são o contrário: fanáticos, como os torcedores do futebol, defendendo os seus "clubes" de uma forma irracional, ou seja, tribal. É possível perguntar a um "hooligan" democrata se ele concorda com uma política de Bush e antecipar a resposta. (É contra, claro.)

E depois, quando o pesquisador comunica ao "hooligan" que a referida política, afinal, é de Obama, o "hooligan" muda de opinião; ou afasta-se; ou indigna-se. Como dizia T. S. Eliot sobre Henry James, a cabeça de um "hooligan" é tão dura que nenhuma ideia é capaz de violá-la.

O eleitor ideal, para Brennan, é um "vulcan": alguém que pensa cientificamente sobre os assuntos. Mas os "vulcans" são artigo raro. Em democracia, somos obrigados a suportar as escolhas de "hobbits" e "hooligans".
Felizmente, Jason Brennan tem uma solução: se as pessoas precisam de uma licença para dirigir, o mesmo deveria acontecer para votar. "Epistocracia", eis a proposta. O governo dos conhecedores. Antes de votar, é preciso provar.

Existem vários modelos de epistocracia. Dois exemplos: todos teriam direito a um voto e depois, com a progressão acadêmica, haveria votos extra; ou, em alternativa, só haveria votos para quem tivesse boa nota em exame de política. Faz sentido?

Não, leitor, não faz. Seria possível escrever várias páginas de jornal a desconstruir o livro de Jason Brennan. Por falta de espaço, concentro-me na sua falha básica: Brennan, um cientista político, não compreende a natureza da política.

Como um bom racionalista, Brennan acredita que os fatos políticos são neutros; consequentemente, as escolhas do eleitor podem ser "científicas".
Acontece que nunca são: a política, ao contrário da matemática ou da geometria, lida com a complexidade e a imperfeição da vida humana.

Um "exame" de política, por exemplo, dependeria sempre das preferências políticas dos examinadores –nas perguntas e na correção das respostas. Brennan até pode defender perguntas "factuais" para respostas "factuais". Mas a simples escolha de certos temas (mais economia) em prejuízo de outros (menos história) já é uma escolha política.

Além disso, acreditar que diplomas acadêmicos conferem a alguém um poder especial em política é desconhecer o papel que os "intelectuais" tiveram nos horrores do século 20.

Ou, para não irmos tão longe, é ignorar o estado de fanatismo ideológico que as universidades, hoje, produzem e promovem.

Por último, não contesto que a maioria desconhece informação política relevante. Mas as pessoas não precisam de um Ph.D. para votarem. Basta que vivam em sociedade. Que sintam na pele o estado dos serviços públicos. O dinheiro que sobra (ou não sobra) no final do mês. A segurança que sentem (ou não sentem) nos seus bairros, nas suas cidades, nos seus países. E etc. etc.

Como lembrava o filósofo Michael Oakeshott, não se combatem ditadores com a balança comercial. Tradução: a política não depende apenas de um conhecimento técnico; é preciso um conhecimento prático, tradicional, vivencial. O conhecimento que só a experiência garante.

A democracia pode não ser o regime ideal para seres humanos ideais. Infelizmente, eu não conheço seres humanos ideais. No dia em que Jason Brennan me mostrar onde eles vivem, eu prometo jogar a democracia no lixo.


"As 149 páginas que o Brasil não leu ..." / Guilherme Fiuza

terça-feira, setembro 27, 2016

As 149 páginas que o Brasil não leu 

GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Este Brasil lindo e trigueiro, malandro e brejeiro, se fixou no PowerPoint. Tudo bem. A Olimpíada acabou, o pessoal precisa se divertir com alguma coisa. Mas, sem querer ofender ninguém, fica a sugestão: Brasil, leia a denúncia do Ministério Público Federal contra Lula. Não, não estamos falando de reportagem, nem de comentário, nem de flash na TV, no rádio ou na internet. Leia a denúncia assinada por 13 procuradores da República. São 149 páginas. Não dói tanto assim. Até diverte.

Ao final, você poderá tirar sua própria conclusão sobre a polêmica do momento: Lula era ou não era o comandante máximo do esquema da Lava-Jato? Perdoe o spoiler: você vai concluir que era. E que PowerPoint não é nada.

De saída, uma ressalva: a referida denúncia, apesar de sua extensão que dá uma preguiça danada neste Brasil brasileiro, é só o começo. As obras completas do filho do Brasil demandarão muito mais páginas – se é que um dia chegarão a ser publicadas na íntegra. De qualquer forma, ao final dessas primeiras 149, você não terá mais dúvidas sobre quem é Luiz Inácio da Silva e sobre quem é o Brasil delinquente que o impeachment barrou.

Os procuradores seguiram um caminho simples: o do dinheiro. A literatura da Lava Jato é tão vasta que a plateia se perde no emaranhado de delações, na aritmética dos laranjas e na geometria das trampolinagens. Aqui, a festa na floresta está organizada basicamente em três eixos: a ligação direta e comprovada de Lula com os diretores corruptos da Petrobras, incluindo a nomeação deles e sua manutenção no cargo para continuarem roubando; a ligação pessoal e comprovada de Lula com expoentes do clube das empreiteiras, organizado para assaltar a Petrobras; e a ligação orgânica e comprovada de Lula com os prepostos petistas e seus esquemas de prospecção de propinas.

José Dirceu, João Vaccari Neto e Silvinho Pereira são algumas dessas estrelas escaladas pelo ex-presidente para montar o duto nacionalista que depenou a Petrobras. Interessante notar que, quando Dirceu cai em desgraça por causa do mensalão, o esquema do petrolão continua a todo vapor – e o próprio Dirceu, mesmo proscrito, continua recebendo o produto do roubo. Claro que um ex-ministro sem cargo, investigado e, posteriormente, preso, só poderia atravessar todo esse calvário recebendo propina se continuasse tendo poder no esquema – e só uma pessoa poderia conferir tanto poder a um político defenestrado: o astro-rei do PowerPoint.

A novela da luta cívica de Lula em defesa de “Paulinho” (Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos mais famosos ladrões do esquema) é comovente. O então presidente da República não mede sacrifícios e atropelos para nomear e manter o gatuno no cargo. Os procuradores não foram genéricos em sua denúncia. Ao contrário, optaram por aproximar o foco de algumas triangulações tão específicas quanto eloquentes. Uma delas, envolvendo também Renato Duque – colocado pela turma de Lula na Diretoria de Serviços da Petrobras para roubar junto com o Paulinho –, ilumina outro protagonista da trama: Léo Pinheiro, executivo da OAS. Montado o elenco, os procuradores apresentam o eletrizante enredo do caso Conpar.

“A expansão de novos e grandiosos projetos de infraestrutura, incluindo a reforma e a construção de refinarias, criou um cenário propício para o desenvolvimento de práticas corruptas”, aponta a denúncia. Ou seja: o governo Lula criou um PAC da corrupção. O ladrão fez a ocasião. E entre as ocasiões mais apetitosas estava uma obra de R$ 1,3 bilhão na Refinaria Getúlio Vargas (Repar), que acabou custando R$ 2,3 bilhões. A OAS integrava o consórcio Conpar, que graças ao prestígio de Léo Pinheiro, amigo do rei, arrematou o contrato em flagrante “desatendimento da recomendação do departamento jurídico da Petrobras sobre a necessidade de avaliação da área financeira para a contratação do consórcio Conpar, em junho de 2007”.

Como 149 páginas não cabem em uma, fica só o aperitivo para este Brasil brejeiro largar o PowerPoint e conhecer, com seus próprios olhos, a denúncia que Sergio Moro acatou. O caso Conpar, como você já imaginou, termina em Guarujá. No mínimo, você aprenderá como ocultar (mal) um tríplex à beira-mar.


Dúvidas que o advogado usa e abusa... / Hélio Schwartsman

terça-feira, setembro 27, 2016

Prisões metafísicas - 

HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 27/09


SÃO PAULO - As prisões cautelares determinadas por Sergio Moro são ilegais e injustas, como alegam os defensores dos encarcerados? Aristóteles abre o livro Z da "Metafísica" escrevendo: "Tò òn légetai pollachôs", que pode ser traduzido como "aquilo que é se diz de várias maneiras". A multiplicidade de significados também se aplica às prisões.

Num primeiro sentido, bem ao rés do chão, as ordens são legais, já que foram assinadas por um magistrado que as fundamentou juridicamente, como exige a lei. Quando os defensores afirmam que elas são ilegais, não contestam esse aspecto formal, já que nunca aconselham seus clientes a evadir-se ou resistir à injusta agressão dos policiais, o que estaria em seu direito se as prisões fossem ilegais nesse sentido mais estrito.

O ponto dos advogados, com o qual concordo, é que as justificativas para as prisões nem sempre são sólidas. Pela lei, tanto a prisão preventiva como a temporária deveriam ser excepcionais, só cabendo quando não houver outro modo de dar seguimento às investigações ou quando se provar que a liberdade do acusado traz riscos como fuga, sumiço de provas ou perigo para a ordem pública.

O próprio juiz Sergio Moro se traiu no caso de Guido Mantega, cuja prisão foi decretada e revogada num intervalo de poucas horas. Ou bem ela não era tão imprescindível quanto o magistrado inicialmente pensara, ou então a soltura é que foi precipitada.

Há ainda uma terceira camada de sentido, que diz respeito a como as prisões cautelares são usadas de fato no país. Aqui, infelizmente, o abuso é a regra. Isso significa que os defensores têm razão ao reclamar de que a melhor interpretação da lei não está sendo seguida, mas avançam o sinal quando afirmam que seus clientes são vítimas de um tribunal de exceção. A menos, é claro, que estendamos o "de exceção" ao próprio sistema judiciário brasileiro, mas, neste caso, a grita não poderia ficar limitada aos réus da Lava Jato.

O debate dos presidenciáveis dos EUA


Por que Hillary derrotou Trump no debate? gustavochacra 27 Setembro 2016 | 09h37 Hillary Clinton venceu o debate ontem. Mas, no início, Donald Trump começou melhor. O republicano soube dominar o debate sobre livre comércio. Concorde-se ou não, ele soube defender uma política protecionista (surreal ver um republicano criticar o livre mercado) e falou diretamente para eleitorado blur collar de Michigan, Ohio, Iowa e Pensilvânia, que podem definir a eleição no colégio eleitoral. A democrata estava perdida. Esta vantagem de Trump durou cerca de 15, 20 minutos. Não é pouco, pois parte do eleitorado assiste apenas ao começo do debate. Mas, em seguida, o republicano começou a se perder. Não soube responder porque não mostra a sua declaração de imposto de renda. Hillary basicamente cravou nele a imagem de que provavelmente ele não paga imposto. E ela soube se virar bem na questão dos e-mails. O cenário, ao longo do debate, apenas foi se deteriorando para Trump. Na parte de tensão racial, o republicano não soube explicar porque disse por tantos anos que Obama não tinha nascido nos EUA. Não soube tampouco explicar porque foi processado por não aceitar alugar imóveis para negros no passado. Hillary cravou nele a imagem de racista. E Trump ainda bateu de frente com o mediador. Quando o debate migrou para política externa, Hillary teve o seu melhor momento. Pode-se concordar ou não com as posições dela, mas a democrata domina o assunto. Soube mostrar nuances e argumentou muito bem. Trump, por sua vez, foi imaturo e mentiu mais uma vez ao dizer que não apoiou a Guerra do Iraque – apoiou, e isso nem seria um problema, pois Hillary, assim como muitos políticos democratas e republicanos. No fim, há um consenso, incluindo de defensores de Trump, de que Hillary saiu vencedora do debate. Em pesquisa da CNN, foi 62% a 27%. Isso não significa em hipótese alguma que Hillary já ganhou a eleição. Longe disso. A disputa está acirrada, embora Hillary seja favorita. Talvez, ganhe alguns pontos nas pesquisas no curto prazo. Mas a narrativa muda rapidamente e daqui a pouco teremos outro debate. Romney derrotou Obama no primeiro debate em 2012, assim como Mondale derrotou Reagan em 1984. No fim, Obama e Reagan foram eleitos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Se tudo der errado na Terra pule para a Lua da Lua

https://twitter.com/i/moments/780333611794980864

Mantega cai atirando....


Gente nossa

Mantega acusa Eike Batista de ser um Lula do empresariado

Por: Augusto Nunes  

“Eike falsificou balanços e enganou o mundo inteiro com seus negócios, agora está falseando essa versão de propina”. (Guido Mantega, ministro da Fazenda durante oito dos treze anos de duração da Era da Canalhice, acusando o empresário Eike Batista de ter feito o mesmo que fizeram Lula, Dilma Rousseff e o próprio declarante)

domingo, 25 de setembro de 2016

A Justiça do Brasil tem indícios de fatiamento de avaliação jurídica segundo a classe social de cada brasileiro ...

domingo, setembro 25, 2016


Um país onde a justiça varia não pode ser considerado democrático 

 FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 25/09

Aquela foi uma semana marcada por importantes acontecimentos. Começou com a cassação do mandato de Eduardo Cunha por um escore arrasador, seguiu-se a posse de Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal, depois as acusações contra Lula por procuradores da operação Lava Jato e finalmente a resposta do ex-presidente negando fundamento às acusações.

A maneira como aquelas acusações foram feitas não pegou bem, e pior é que, como este jornal divulgou, elas se apoiam numa delação que foi cancelada.

Quero me ater, no entanto, à significação que tem para o país a presença da ministra Cármen Lúcia na presidência do STF, conforme constatamos nas mais diversas manifestações de apoio e otimismo pelo acontecimento. E, se ele já valeu por si só, cabe ressaltar a significação da cerimônia de posse em si mesma.

Essa cerimônia se caracterizou pela presença de políticos de diversos partidos, além de personalidades como os ex-presidentes José Sarney e Luiz Inácio Lula da Silva, bem como intelectuais, advogados e artistas. Isso indicava, por um lado, o prestígio pessoal da nova presidente do STF, mas também o que significa essa instituição, no momento particularmente crítico da vida política nacional, o que ficou evidente nos discursos proferidos durante a cerimônia, expondo implicitamente essa realidade.

Nesse particular, deve-se ressaltar o discurso da ministra Cármen Lúcia que, não por acaso, fez questão de mostrar que as diversas instituições que expressam o poder do Estado brasileiro, a exemplo do Judiciário, são, de fato, instrumentos da manifestação do verdadeiro poder que emana do povo e em seu nome deve ser exercido. Foi quando ela disse:

"Inicio quebrando um pouco o protocolo ou, pelo menos, interpretando a norma protocolar diferente de como vem sendo interpretada e aplicada: determina se comecem os cumprimentos pela mais elevada autoridade presente. E e justo que assim seja. Principio, pois, meus cumprimentos dirigindo-me ao cidadão brasileiro, princípio e fim do Estado, senhor do poder da sociedade democrática, autoridade suprema sobre nós, servidores públicos, em função do qual se há de labutar cada um dos ocupantes dos cargos estatais".

Por isso mesmo, como diria ela, adiante, irá informar-se de todos os dados relativos aos gastos institucionais e trazê-los ao conhecimento da população, com toda a transparência, para deixar clara a posição que adotaria em face disso. Essa questão envolve o discutido aumento salarial para os ministros do Supremo, que, por sua vez, desencadearia aumentos salariais nos vários setores judiciais, agravando a situação financeira do país.

Outro ponto importante de seu discurso diz respeito à modernização e ao aperfeiçoamento do Judiciário brasileiro, que não atende às necessidades da população, particularmente dos mais pobres que constituem a maioria.

De fato, um país onde a aplicação da Justiça varia de acordo com a classe social a que pertence o cidadão não pode ser considerado efetivamente democrático.

Se o discurso da presidente Cármen Lúcia foi essencialmente institucional, o do ministro Celso de Mello, decano do STF, tocou o cerne do problema que hoje atinge, de maneira alarmante, a vida política nacional.

Para o constrangimento de alguns políticos e autoridades ali presentes, que são investigados pela Operação Lava Jato, ele se referiu aos "marginais da República" que, "por intermédio de organizações criminosas" obtêm "inadmissíveis vantagens e [...] benefícios de ordem pessoal, ou de caráter empresarial, ou, ainda, de natureza político-partidária".

Também o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abordou o tema da corrupção, destacando a atuação do Ministério Público, que tem desempenhado um papel altamente positivo no combate à ação criminosa de políticos, empresários e altos funcionários de empresas estatais.

A posse da ministra Cármen Lúcia, se teve o significado que teve, deveu-se particularmente ao papel que a Justiça passou a desempenhar publicamente na vida nacional. E a razão disso não é outra senão o alastramento da corrupção exercida, como disse o ministro Celso de Mello, pelos "marginais da República".



A crise pode ser fatiada como uma pizza...

domingo, setembro 25, 2016

Fatiamento da crise -

 ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 25/09

Dilma, Lula, PT, Mantega, Lava Jato, Temer, quem vai conseguir se salvar?



Por onde começar? São tantos escândalos, nomes, empresas, erros... Lula vai ser preso? Dilma caiu na rede? O PT tem ou não jeito? Moro e a Lava Jato estão botando os pés pelas mãos? E Temer, a quantas anda? Então, vamos por partes. 

O ex-presidente Lula tornou-se réu pela segunda vez, agora nas mãos do juiz Sérgio Moro e arrastando com ele Marisa Letícia. De quebra, o juiz determinou o exame das peças que a família levou de Brasília para o depósito bancado pela OAS. São de Lula ou do acervo da Presidência?

Dilma Rousseff escorrega por mais de uma via para a Lava Jato. Como informa o repórter Fábio Fabrini, novo relatório do TCU pede o bloqueio de bens, entre outros, dela e de Antonio Palocci pela refinaria de Pasadena, que causou imensos prejuízos à Petrobrás e ao País. E o ministro Guido Mantega, do Conselho de Administração da Petrobrás, é acusado de pedir dinheiro a Eike Batista, que tinha contratos bilionários com a empresa, para pagar dívidas de campanha de Dilma. 

</CW>Mantega diz que “nunca conversou” com Eike, mas a agenda dele diz o contrário: em primeiro de novembro de 2012, ele se encontrou com Dilma e, duas horas depois, recebeu o à época bilionário na Fazenda. Alguém está mentindo, ou o ministro ou a agenda.

O PT? Com presidente, seu grande líder, seus ícones e suas bandeiras alvejados, o partido vê seus troféus desabarem: o governo de Minas, pela operação Acrônimo, e a Prefeitura de São Paulo, pelas urnas. Sem luz no fim do túnel.

Sobre Moro: os excessos na entrevista dos procuradores sobre o “comandante máximo” abriram uma brecha por onde disparam críticas à prisão de Mantega e à sua soltura. E uma pessoa abandonar a mulher em pleno hospital para atender uma ordem de prisão, ainda por cima questionável, tem forte apelo emocional. Tudo isso reforça o marketing da “escalada do arbítrio”, para transformar Moro em “réu” e Lula em “vítima”.

Quanto a Temer: conseguiu atrair o olhar de investidores nos EUA e mostrar que foi assimilado pelo mundo (exceto pelo enclave bolivariano), mas o STF autorizou apuração inicial sobre pedido de doação para o candidato do PMDB em São Paulo em 2012. Temer não pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato, mas a decisão tem efeito sobre a opinião pública, já tão ressabiada.

Conclusão: nunca antes neste país tudo pareceu tão conflagrado. E vai piorar.


Do ex-ministro Antonio Palocci: “Eliane Cantanhêde comete grave equívoco a meu respeito em seu artigo Operação Arquivo X. Faço aqui as correções necessárias. O apartamento a que ela se refere no seu texto foi adquirido com recursos provenientes de minha atividade empresarial, está devidamente registrado pela empresa da qual sou titular e foi pago mediante transferência eletrônica bancária emitida pela mesma. Estas informações são públicas e toda documentação a respeito foi disponibilizada aos órgãos de registro e fiscalização e comprováveis por uma simples checagem. É de se estranhar e mesmo de provocar indignação que informações tão acessíveis sejam desprezadas e substituídas por ofensas e prejulgamentos”.

Resposta: Depois das reportagens de Andreza Matais e José Ernesto Credendio, o então ministro Palocci nunca esclareceu publicamente quem eram seus clientes e nem mesmo o tipo de consultoria que a empresa Projeto prestava, assim como não explicou a compra de um apartamento à vista, por R$ 6,6 milhões à época. Ele caiu da Casa Civil e ainda hoje estão em curso dois procedimentos do MPF-DF, questionando “a normalidade das operações comerciais da empresa sob investigação (Projeto), apontando para possível ato de improbidade cometida pelo seu principal sócio (Palocci)”. Conforme já divulgado, o patrimônio do ex-ministro cresceu 20 vezes de 2006 a 2010, ano em que coordenou a campanha de Dilma. 

... A longa agonia do sistema político brasileiro" ... / Fernando Gabeira

domingo, setembro 25, 2016

Psicodramas - 

FERNANDO GABEIRA

O Globo - 25/09
Grão Mogol, Minas — De novo na estrada, e o intenso trabalho ao ar livre é o antídoto para a tristeza de ver não só o momento econômico, mas também a longa agonia do sistema político brasileiro. Não são animadoras as notícias que vêm de esquerda, direita e centro. Em toda parte, os parâmetros políticos são subvertidos. Lula, por exemplo, fez um pronunciamento para anunciar que era candidato. Comparou-se a Jesus Cristo e insultou numa só frase todos os funcionários públicos concursados do Brasil.

Os admiradores fazem vista grossa. Os livros do século passado definem a classe operária como a eleita para transformar a História. Eles querem um presidente operário, ainda que delirando. Lula disse coisas que contrariam o mais elementar senso político. A única saída é colocá-lo à força no modelo marxista e, sobretudo, não levar em conta o que diz. No fundo é adotar a mesma tática que adotei quando disse que Lula tinha habeas língua. Buscar um sentido é perder tempo.

Num outro espaço, escrevi sobre o psicodrama da denúncia, parecido com aquele da condução coercitiva. As críticas se concentraram na coletiva da Lava-Jato e no PowerPoint. A denúncia tem em torno de 150 páginas. Sérgio Moro não ia aceitá-la ou rejeitá-la apenas vendo uma entrevista e o PowerPoint. É obrigado a ler atentamente. E aceitou. A denúncia foi apenas o segundo ato. O terceiro será a sentença, após um trabalho específico de coleta de dados e exame dos argumentos da defesa.

Mas, se o panorama é desolador à esquerda, o que dizer do restante do espectro? Rodrigo Maia, um jovem do DEM, foi aconselhado a não usar casa oficial ou avião da FAB. Maia recusou. Nesse último caso, então, o avião da FAB só para transportá-lo é um disparate econômico e ambiental. Acomodado no assento oficial de um avião vazio, sente-se, possivelmente, projetando mais poder. Mas está em franco conflito com a situação do país, inclusive com nosso compromisso internacional de reduzir emissões.

Um grupo de deputados tentou aprovar às pressas um projeto anistiando o caixa dois. Descobertos, pareciam um grupo de garotos travessos. De quem é o projeto que já estava na mesa do presidente? Ninguém sabia. O projeto não tem autor. Sua inclusão na pauta também é um mistério.
Uma semana depois do maior criador de jabutis, Eduardo Cunha, ser cassado, eles inventam um outro jabuti, desta vez destinado a proteger os investigados na Lava-Jato.

Dizem que Renan estava ciente e Maia também. Renan está em luta aberta contra a Lava-Jato. Pena que a recíproca não seja verdadeira. Apesar de tantos inquéritos, não foi incomodado. O interessante é pensarem que daria certo. Vão se recolher e preparar um novo truque. Possivelmente tão patético quanto esse.

As pessoas que fazem campanha eleitoral hoje contam que estão comendo o pão que o diabo amassou. As ruas estão frias, no limite da hostilidade. A indiferença era prevista. O inquietante é imaginar que vencedores vão emergir desse processo eleitoral tão atípico.

No psicodrama da denúncia contra Lula, ouvi alguns jornalistas dizendo: o Planalto acha que os promotores exageraram. Mas quem no Planalto? Temer, Geddel, Padilha ou Moreira? Quem está com sua espingardinha atrás da janela querendo atirar na Lava-Jato? Houve gente que se expôs, de um lado e de outro, e a discussão sobre os caminhos da Justiça é saudável, embora inexista quando os acusados são pessoas anônimas.

Foram 115 as conduções coercitivas antes de Lula. E centenas de denúncias antes da dele.

De psicodrama em psicodrama, avança o conhecimento do que se passou no Brasil, e aproxima-se o julgamento dos acusados.
Ainda não sabemos tudo porque o governo Temer é opaco, por escolha ou inépcia. É preciso usar a Lei da Transparência para descobrir o que resta.

Os homens no Palácio do Planalto, Temer à frente, estão no governo por um acidente constitucional. São parte de um sistema político em agonia, sócios menores do governo petista.
O Planalto com seus palpites, Renan e os deputados querendo anistiar o caixa dois, Lula defendendo-se da denúncia — todos de alguma forma reagem ao processo da Lava-Jato, que precipitou a ruína do sistema político. Rodrigo Maia sentado na poltrona do avião da FAB: apenas uma das várias maneiras de se apegar ao passado.

Na ausência de um olhar para o futuro, para um sistema reformado, o Brasil dá uma sensação de exilar a própria sociedade que pede mudanças desde 2013.

De costas para a parede, protegendo-se da LavaJato, os políticos de Brasília não almejam do futuro nada mais do que escapar de seu passado.