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Coisa feia e aterrorizante para o Brasil...

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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Ensaio sobre a vida esportiva de Usain Bolt / BBC

Usain Bolt: O que treinadores, colegas e rivais acham do homem mais rápido do mundo

  • Há 1 hora
Usain Bolt no estádio olímpico do RioImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionBolt conquistou no Rio seu terceiro ouro olímpico nos 100m neste domingo no Rio
A única vez que Usain Bolt foi lento na vida foi quando o jamaicano chegou ao mundo, dez dias após a data prevista.
Sua mãe, Jennifer, diz que sabia que o filho era especial desde que ele tinha três semanas de vida - uma opinião muito comum entre pais, mas que no caso dela se confirmou. Ela viu seu filho se tornar o homem mais rápido da Terra.
Usain Bolt está tentando uma tripla vitória no Rio. Já conseguiu os 100m, no último domingo. Agora ele também tentará os 200m e o 4x100m, nos Jogos que o atleta, de 29 anos, diz que serão seus últimos.
O "raio" percorreu um longo caminho desde que começou a correr em Trelawney, na Jamaica, e chorava quando perdia uma corrida.
"Ele não gosta de perder", disse o pai, Wellesley, à BBC Sport.
Com sete ouros olímpicos, 11 títulos mundiais e diversos recordes, parece não ter havido muito tempo para lágrimas em sua carreira.
"Ele tinha uns cinco anos quando percebemos que estava disputando com os colegas de turma e sempre ganhava", diz Jennifer. "Ele ficava sempre em primeiro. Percebemos que seria um grande atleta."

A escola de Usain BoltImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionAtleta diz que deve muito à professora de ex-escola

Na escola

Mais tarde, já no ensino médio, Bolt tinha mais interesse em jogar críquete do que treinar na pista de atletismo. Estava "tão apaixonado" pelo esporte que "não queria fazer nenhuma outra coisa".
Mas uma professora de educação física, Lorna Thorpe, o aconselhou a focar no atletismo, já que ele "tinha uma mina de ouro nas pernas".
E o campeão, hoje, agradece muito o conselho da professora.
"Ela é como uma segunda mãe para mim", diz.
"Quando eu estava no ensino médio ela cuidava de mim, garantindo que tudo estava ok, sempre focada. Ela teve um papel muito importante."
Mas a diretora à época, Lorna Jackson, conta que teve que dar conselhos a Bolt em outra área: mulheres.
Ela contou ao jornal britânico Sunday Telegraph que Bolt era muito próximo de uma garota que o ajudava nas redações.
"Mas aí disseram que ele tinha uma namorada em uma escola vizinha. Falei para ela: não escreva mais nada para ele!", brinca.
Ela também ensinou espanhol ao atleta porque sabia que ele "viajaria muito e precisaria de espanhol".
Usain BoltImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionUsain Bolt ganhou o Mundial júnior nos 200m em 2002
Aos 15 anos, Bolt virou "o assunto" no mundo do atletismo ao correr os 200m no Mundial júnior na Jamaica, em 2002, contra homens quatro anos mais velhos.
Ele venceu e virou o medalhista júnior mais novo da história. Também ganhou o prêmio de "estrela em ascensão" da Associação Internacional de Federações de Atletismo.
Faculdades americanas correram para oferecer bolsas de estudos para Bolt - e agentes esportivos lhe ofereceram contratos.
O irlandês Ricky Simms era um jovem agente que havia acabado de assumir uma das grandes empresas esportivas do mundo. Ele conseguiu assinar com o jamaicano.
"Após o ensino médio, atletas jamaicanos constumam ir para a universidade nos Estados Unidos e passam quatro anos lá antes de virarem profissionais", explica Simms. "Mas ele decidiu virar profissional em 2003."
Mas o início da vida profissional de Bolt não foi tão fácil - o adolescente às vezes ficava tão nervoso antes de corridas que chorava.
"Quando conversamos, ele parou de chorar e disse: 'Vou fazer o melhor que puder'", contou a mãe, Jennifer, à rede americana CNN, sobre o campeonato júnior de 2002.
Usain Bolt e Justin GatlinImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionBolt e Gatlin são rivais mas conseguem se divertir juntos

Inspiração

O futuro parecia favorecer Justin Gatlin quando o velocista americano, que já tinha sido suspenso por doping, ganhou os 100m aos 22 anos em 2004 e o adolescente Usain Bolt foi eliminado nas classificatórias dos 200m.
Mas eis que, nos Jogos de 2008, em Pequim, Gatlin estava no meio de uma suspensão de quatro anos por doping e Bolt havia se firmado em cena, destruindo o tempo que o americano havia feito em Atenas e ganhando suas três primeiras medalhas de ouro.
Gatlin ficou com o bronze quando Bolt defendeu seu título nos 100m em Londres 2012, e no Mundial do ano passado a rivalidade deles foi renovada quando o jamaicano venceu o americano por 0,01 segundo.
"Ele (Bolt) provou que, quando está por baixo, consegue dar a volta por cima, e quando está em cima, ele está no topo", Gatlin disse à NBC. "É o tipo de pessoa que te faz querer seguir. Ele me deu uma visão de onde preciso estar".
As mães deles se conheceram no Mundial em Pequim e agora são amigas. Apesar da rivalidade nas pistas, os filhos também gostam da companhia um do outro.
"A gente relaxa e se diverte fora das pistas, mas quando pisamos ali, queremos vencer", afirma Gatlin.

A equipe de revezamento da Jamaica, em 2012Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionA equipe de revezamento da Jamaica conta com Bolt para vencer

O mentor

Os colegas jamaicanos de Bolt não são nem de forma alguma lentos. Entre 2005 e 2008, Asafa Powell quebrou o recorde mundial duas vezes. Já o ex-campeão mundial Yohan Blake ganhou a prata tanto nos 100m quanto nos 200m em Londres em 2012 (e ficou em quarto na competição de domingo no Rio).
Embora com Bolt eles tenham mais chances de ganhar o ouro no revezamento 4x100m, eles sabem que o "raio" abocanha todas as medalhas individuais.
Ele foi o primeiro atleta a ganhar ouros tanto nos 100m quanto nos 200m e já tem sete títulos mundiais desde 2009, perdendo apenas os 100m de 2011 quando foi desclassificado por queimar a largada.
Então será que os companheiros de equipe dele se sentem ameaçados ou frustrados por não conseguirem ganhar?
"É bom para o esporte ter ele, já que ele é o número 1 do mundo e recordista", disse Powell, que não vai correr no Rio. "Somos amigos desde antes dos recordes mundiais e das Olimpíadas. Nada mudou, ele só ficou bem mais famoso."
E quando Powell terminou em um decepcionante sétimo lugar no Mundial do ano passado, Bolt mandou uma mensagem de apoio.
"Força, irmão. As pessoas não entendem esse caminho e o sacrifício que fazemos", tuitou.
Enquanto Blake, três anos mais novo que Bolt, entrava em cena, o futuro campeão olímpico já agia como mentor de seu prodígio adolescente.

Glen Mills e Usain BoltImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionGlenn Mills treinou Bolt aos 19 anos em Kingston
Bolt assistia enquanto Blake ganhava uma corrida juvenil na Jamaica em 2008, dizendo ao jovem recém-chegado ao grupo para não se desgastar muito, porque "ele ainda tinha uma grande carreira pela frente".
Blake disse à Newsweek que ficou surpreso por Bolt saber quem ele era. "Eu fiquei muito feliz (com seus conselhos)".

O piadista

Glen Mills foi técnico-chefe da equipe nacional da Jamaica por 22 anos. Ele treinou atletas que conquistaram mais de 100 campeonatos mundias e medalhas olimpícas - número favorecido pelas conquistas de Bolt.
Após a decepção na estreia olímpica em Atenas, Bolt recorreu a Mills e seus mais de 40 anos de experiência.
"Ele é uma atleta abençoado", disse Mills ao Speed Endurance. "Quando comecei a trabalhar com ele, uma das coisas que se destacavam era sua técnica, muito ruim. Ele corria fora do centro de equilíbrio. Isso trazia uma força negativa que afetava outras áreas".
"Começamos a gravar os treinos, para ver em câmera lenta o que ele fazia. Eu desenhava diagramas com as posições que ele deveria atingir", contou.
A determinação de Bolt para melhorar acabou transformando-o em uma estrela global, e ele fez tudo isso com um sorriso no rosto.
"Ele trabalha muito duro", disse Mills ao jornal britânico Evening Standard. "Ele mistura isso com sua personalidade jovial. Mas as pessoas precisam saber que ele leva treinos e corridas muito a sério", afirmou.
E como é competir com Bolt?
"Ficamos pasmos com o que tinha acontecido", disse Darvis Pattons, 8º em Pequim, à Sports Illustrated sobre a noite em que Bolt ganhou seu primeiro ouro olímpico e bateu o recorde mundial no caminho.
"A forma (como foi a corrida). Ele correu 9,6 (segundos). E comemorando."
Marc Burns, de Trinidad e Tobago, acrescentou: "Eu estava me preparando para cruzar a linha de chegada quando ouço esse barulho e vejo Bolt já do outro lado, celebrando."

Usain Bolt e seus paisImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionBolt comemora com seus pais após vencer os 100m no Mundial no ano passado

O futuro do homem mais rápido do mundo

A família Bolt ainda mora em Trelawney, onde o pai dele ainda trabalha na lojinha local. O filho mais famoso da localidade sempre é bem recebido quando volta.
Seu melhor amigo, Nugent Walker, diz que Bolt "nunca esqueceu de onde ele vem". A fundação do ídolo oferece ônibus e computadores para sua ex-escola e pagou pela reconstrução de um centro de saúde próximo.
"A Jamaica deu muita base para ele", acrescenta. "Os pais dele passaram valores importantes: respeitar as pessoas, cuidar delas. Ele é muito gentil - até gentil demais, alguns diriam."
"Acho que ele não percebe muito que é uma estrela. Certa vez, na França, fomos para um lobby (de hotel) e havia muita gente esperando do lado de fora. Ele perguntou para o porteiro: 'Quem eles estão esperando?'. O porteiro respondeu: 'Você'".
A mãe dele, Jennifer, diz que ele passa bastante tempo com a família quando não está correndo, mas que a aposentadoria pode trazer uma situação diferente.
"Ele vai poder ir e vir o quando quiser", diz Jennifer. "As pessoas sempre querem estar perto dele, não para machucá-lo, mas para estar perto."
Ela diz que ele ainda é aquele mesmo menino que ganhou o campeonato júnior em 2002 - e que ainda escuta seus pais.
Mas Wellesley, que assume o crédito pelos passos de dança do filho, diz que com o sucesso ele virou "mais um entertainer".
A mãe gostaria que ele virasse um embaixador do esporte.
"Ele traz diversão para o esporte", diz. "Sem ele, quem vai assumir esse papel? Vai ficar chato."
E sobre mais um membro na família Bolt? Seus pais dizem que estão confiantes de que serão avós logo, mas Bolt se mantém discreto sobre a identidade da mulher que namora há dois anos.
"É por isso que ele quer se aposentar cedo", diz o pai. "Ele quer fazer uma família."

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Ensaio sobre grandes fortunas... / Percival Puggina


TAXAÇÃO DAS GRANDES FORTUNAS
por Percival Puggina. 
Artigo publicado em 28.05.2015
Escrevo este artigo em defesa de meus interesses próprios.
Não, não me entenda mal. Não tenho fortuna grande, nem média, nem pequena. Minha fortuna é minha família, são meus amigos, meus leitores, minha fé e meus valores imateriais. Mas considero que defendo interesses próprios, como cidadão brasileiro, quando reprovo a taxação das grandes fortunas, como qualquer aumento de impostos, porque essa é uma ideia de jerico. Dela sequer se pode dizer que vem embalada nos ideais do igualitarismo. Não no nosso caso. Não na concepção mau caráter que lhe deu origem.

O ideal do igualitarismo, é bom esclarecer, já produziu desastres em proporções suficientes para que se saiba o que acontece quando deixa de ser ideal e vira prática. No caso brasileiro, porém, a taxação das grandes fortunas não representaria isso. Tampouco significaria um pouco mais do mesmo, ou seja, ampliação da política atual, que confunde donativo com renda e que, por isso, não consegue gerar progresso social. O governo brasileiro não resolve o problema da Educação dos segmentos de baixa renda, não lhes proporciona adequado saneamento básico nem atenção à saúde e não cria condições para que esses recursos humanos se habilitem às atividades produtivas. Todos se tornam, cada vez mais, dependentes do Estado, o que é a segunda pior situação possível.

A taxação das grandes fortunas, no Brasil, seria um caso inédito. Foi pensada agora, num momento de crise fiscal pela qual não precisaríamos estar passando não houvesse, a ganância pelo poder, gerado imperdoável prodigalidade do governo no uso do dinheiro que abusivamente nos toma. Em linguagem simples, sem pedaladas retóricas, a taxação dos mais ricos viria para salvar o Estado da escassez de recursos a que ele mesmo se conduziu. Algo assim só pode parecer razoável a dois tipos de pessoas: os amigos leais do Estado perdulário e os fanáticos do igualitarismo.

Há um erro imenso em atribuir a pobreza dos pobres à riqueza dos ricos, ou vice-versa. Essa é uma ideia desorientadora, que prejudica aqueles a quem pretende ajudar. Os pobres não são pobres por causa dos ricos. Eles são pobres por causa do Estado porque não há concentração maior de renda do que a promovida pelo Estado quando fica com quase 40% de tudo que se produz no país! E, apesar dessa monstruosa expropriação, não só rouba e se deixa roubar, mas se omite em relação às políticas e ações que poderiam gerar desenvolvimento social nas populações de baixa renda. O Estado não deveria “cuidar das pessoas”, mas deveria, isto sim, proporcionar condições para as pessoas cuidarem bem de si mesmas.

Precisamos das grandes fortunas. Elas viram poupança, investimento, postos de trabalho, consumo (inclusive sofisticado, claro) e tributos. Pegar esse dinheiro e entregá-lo à gestão do Estado seria uma operação absolutamente contraprodutiva: tira-o de quem o faz produzir para entregá-lo a quem só sabe gastar.

______________
* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

"O Brasil é um lugar chato. Dolorosamente chato de se viver. " // André Forastein / Digestivo Cultural



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http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=430&titulo=A_Cultura_do_Consenso
Segunda-feira, 10/10/2011
A Cultura do Consenso
André Forastieri  
 

Caros amigos, é chato dizer, mas o Brasil é um lugar chato. Dolorosamente chato. Viver aqui é um porre.

O Brasil não tem literatura, não tem teatro, não tem cinema, não tem estilo, não tem ciência. Tinha novelas e música. Hoje, nem isso.

E não adianta jogar toda a culpa no capitalismo avançado, na globalização, ou na pobreza. A Índia, por exemplo, tão miserável e internacionalizada quanto o Brasil, é um país de verdade com uma cultura de verdade ― incluindo indústrias fonográfica e cinematográfica da pesada, uma indústria de software florescente, um número enorme de cientistas importantes etc.

Nem é preciso ser um país continental. Qualquer Nova Zelândia tem seu cinema, qualquer Irlanda tem seu U2, qualquer lugar onde se vá se encontra algum sinal de vida própria.

Aqui não tem nada. Tem a bunda da Carla Perez.

No Brasil não há produção cultural, não há reflexão, não há crítica, não há debate informado. Temos horror pelo conflito, que é o horror pelo mundo moderno, pela iniciativa, pelas idéias. Queremos ser amados e resolver tudo na boa. Vivemos na cultura do consenso.

Quase sempre foi assim, e nunca entendi direito por quê. Herança portuguesa, influência da contra-reforma ― tá, tudo bem, mas não é o suficiente. Pior: fui perguntar para minha mulher, que é jornalista e economista, se ela conhecia algum livro que relacionasse economia e cultura e tentasse dar conta da origem deste lodo todo. Resposta dela: “Não existe”.

É até argumentável que a cultura do consenso comporte aspectos positivos. A tolerância racial, a assimilação rápida de novas tendências, a paciência ― enfim, a adaptabilidade.

Sim, o brasileiro é adaptável ao extremo ― para o bem e para o mal. Estimulado, provocado, informado, o brasileiro consegue lidar com complicações e inovações que dariam nó na cabeça de muito primeiro-mundista.

Este cheirinho de potencial cria a ilusão de que moramos num país, e não num descampado improdutivo. A má notícia é que o espaço da informação, da análise, da provocação ― o que passa por imprensa no Brasil ― raramente vai muito além de press releases porcamente disfarçados. Não informa, não estimula, não debate e influi cada vez menos.

Os meios de comunicação no Brasil não passam de estações repetidoras do consenso. A ação entre amigos que gerencia este país tem seu reflexo perfeito nos jornais, revistas, rádios e TVs. Como Narciso, a imprensa está apaixonada pelo que vê.

Não é preciso ir muito longe para encontrar as provas da mediocridade da imprensa brasileira.

Abra o jornal de hoje. Ligue a televisão. Por baixo das quatro cores ou dos efeitos gerados por computador, a conversa mole e a desinformação correm soltas. O cinema nacional renasceu, consultas crescentes ao SPC significam aquecimento, Chico César é moderno, publicidade é cultura.

Qualquer sinal de idéias destoantes, de conflito, de vida inteligente é abafado tão rápido quanto possível.

Aliás, não é à toa que os vestibulandos estão preferindo publicidade a jornalismo. As profissões são praticamente as mesmas. Mas paga bem melhor quando exercida em agências, em vez de redações.

O pior é que o tédio que domina a vida brasileira tende a se aprofundar. Nos condenamos a pelo menos doze anos, provavelmente dezesseis, de dominação da vida pública e seus porta-vozes.

Com a conivência da leal oposição do rei, com a nossa conivência e descaso, e com o aplauso puxa-saco da “inteligentsia” e da imprensa, que se misturam e se confundem e cuja falta de critérios e escrúpulos não tem igual.

Entre tanta coisa chata, talvez o mais chato de tudo é que até quem está na contracorrente desta miséria mental se rendeu. A única opção visível para as melhores cabeças da minha geração é fazer bem o que se faz, ganhar o máximo de dinheiro possível e viver no Brasil como viveríamos em San Francisco, Nápoles ou Bangkok.

Lemos mais em inglês do que em português, compramos livros pela Amazon, música pela internet, funghi porcini na importadora da esquina e carros importados com airbag.

Não votamos ou votamos nulo. Rimos da jequice dos poderosos e do nosso lumpesinato cultural. O Brasil é isso mesmo. A imprensa é isso mesmo.

Eu esperava e espero mais de mim e da minha geração.

Podemos continuar empurrando nossa mediocridade com a barriga, engolindo a raiva e a frustração de morar num país de merda como o Brasil. Ou podemos criar vergonha na cara, meter a mão nesta merda e tornar este lugar um pouco mais interessante para se viver.

Como, não sei. Mas parece divertido..;

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado na revistaCaros Amigos, em abril de 1997, e republicado no blog de André Forastieri, em fevereiro de 2009 (atualmente no portal R7). 

São Paulo, 10/10/2011 

 
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* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ensaio sobre a civilização ocidental em período de 50 anos // Aluízio Amorim

BLOG DO ALUIZIO AMORIM

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

A AÇÃO CORROSIVA DA CONTRACULTURA DOS ANOS 60 DO SÉCULO PASSADO: O COMEÇO DO FIM DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL.



Numa noite de agosto de 2001 navegando pelo YouTube encontrei este vídeo com uma apresentação especial de Anita O'Day, célebre cantora de jazz americana. Ela canta duas músicas que são consagrados standards do jazz: Sweet Georgia Brown e Tea for Two em dois arranjos onde ela mostra o completo domínio da voz e dá um passeio nos improvisos dialogando intensamente com o trio de piano, baixo e bateria que a acompanha. Um prato cheio para quem, como eu, é aficcionado por música, especialmente o jazz.

Depois de ver e ouvir o show meu cérebro me avisou que tinha em mãos um precioso material para uma análise sobre o efeito do movimento contracultural que explodiria alguns anos depois e moldaria o mundo no século XXI, portanto quase meio século adiante. O vídeo retrata o Festival de Jazz de Newport, nos Estados Unidos, em julho ou agosto de 1957. Mesmo para quem não aprecia o jazz, recomendo que dê uma olhada no vídeo para ver o comportamento da platéia que reflete o ambiente social dessa época.

Meu cérebro não me enganou. Vi que poderia fazer uma comparação entre o ambiente social de 1957 com o que vivemos agora no início da segunda década do século XXI. Afinal, 50 anos na história não é nada. É muito para os humanos que medem o fluir do tempo com base em sua existência que é efemera. De posse do insight fica fácil, pelo menos para mim, discorrer sobre qualquer assunto. E foi assim que escrevi este texto de forma ligeira, de um só fôlego, como segue:

O Festival de Jazz de Newport é um evento ocorre no auge do verão do hemisfério norte, ao ar livre. O público é grande, porém ordeiro e concentrado no espetáculo. O ambiente, diria, é familiar. Há jovens pais mimando seus bebês no embalo sincopado da música. As pessoas se comportam com elegância e educação; estão bem vestidas, num clima de absoluta paz. Trata-se, portanto, de algo muito diferente o que ocorre neste século XXI em shows ao ar livre.

Esse tipo sociedade que prezava os valores da educação, os bons modos, a elegância e o glamour que permitiu o extraordinário progresso dos Estados Unidos que contaminou positivamente todo o mundo ocidental.Entretanto, já estava nessa época - o final dos anos 50 - o Ocidente já estava à beira do precipício com o aparecimento da contracultura que originou o movimento hippie, o culto às drogas e à anarquia social e política. Reparem que em certo momento a câmera flagra um tipo que destoa da maioria, usando barba e chapéu, tragando a fumaça de um cigarro, com aquele olhar de estúpida maldade... Eles já começavam a aparecer.
Woodstock: marco da contracultura
Uns cinco ou seis anos depois dessa memorável apresentação de Anita O'Day  o mundo já não seria mais o mesmo. O glamour, a educação e o respeito à lei e à ordem já começavam a ser estraçalhados. No lugar do uso do chapéu e luvas mesmo num show ao ar livre, começou-se a ver hippies imundos e drogados em festivais como o emblemático Woodstock, realizado em agosto de 1969 nos Estados Unidos. Comparem os dois ambientes com base no vídeo e nesta foto de Woodstock.

Foi no embalo do movimento também chamado de underground, que surgiram os primeiros fundamentos do pensamento politicamente correto. A partir daí o mundo mudou. E mudou para pior, pois nessa guerra de valores venceram os vagabundos, os vadios, os imundos, os drogados, os falsos pacificistas que se contrapunham à cultura ocidental e, de forma especial, à ética do trabalho. E tem mais: essa gente constituía um bando de anti-higiênicos e, quem sabe, provavelmente foram os vetores do virus da AIDS.

No âmbito político essa gente se perfilava em torno de promessas socialistas, comunistas e assemelhadas. O pacifismo por eles entoado acabou edulcorando regimes ditatoriais odiosos, como o cubano, tanto é que foi naquela época que a foto de Che Guevara começou a estampar as camisetas dos hippies.

O estrago causado por essa guinada anárquica da sociedade ocidental foi tão grande que chegou a destruir inclusive a produção cultural de bom gosto e alto nível, seja na música, nas artes plásticas, na literatura, enfim, em todos os setores artísticos. Sem falar no fato de que o movimento contracultural contaminou seriamente as universidades imprimindo nelas o viés ideológico anarco-esquerdista.

Depois de cerca de meio século da eclosão desse movimento tem-se aí o resultado: a destruição da família e o aumento inaudito da violência que campeia em todas as regiões do planeta. O que poderia parecer moderno e avançado nos anos 60 do século passado, tipificado pelo slogan Make Love, Not War, resultou nesse ambiente que caracteriza o século XXI, onde os cidadãos vivem numa verdadeira roleta russa e só podem contar com a sorte para sobreviver ante o assédio permanente e impune dos bandidos.

A reflexão que faço tomando por base um documentário de um concerto de jazz de 1957 do século passado não se trata de nostalgia, sentimento que reputo como dos mais cretinos, haja vista para o fato de que não tem qualquer sentido.

Estou apanhando uma cena do passado como paradigma para examinar o presente. A constatação resulta inelutável. Verifica-se que houve uma degeneração dos hábitos e costumes, ou seja, um apodrecimento do tecido social, que se vai esgarçando ainda mais pela ação corrosiva do pensamento politicamente correto que considero o maior flagelo deste século.

Não se trata de pregar o retorno ao passado; trata-se de de corrigir o presente no sentido de se preservar os principais valores da civilização ocidental da qual são fundamentos a democracia e a liberdade.