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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Gesto de profunda humildade e desapego...


14/02/2013 - 03h30

Ives Gandra da Silva Martins: Bento 1

Sucessão PapalTendências / DebatesBento 16, em gesto de profunda humildade e desapego, renunciou ao pontificado, sentindo que suas forças físicas não lhe permitiam mais conduzir a Santa Sé. Desprendido que sempre foi das coisas terrenas, julgou ser melhor para a igreja que um novo pontífice seja escolhido.
Ao contrário do poder humano, que quem o detém luta para nunca perdê-lo, o poder na Igreja Católica é só o de servir, o que impõe a quem esteja no lugar de Pedro a disponibilidade total, porque o poder não é um bônus, mas um ônus, carregado de responsabilidade e dedicação.
Bento 16 talvez tenha sido, em 2.000 anos de história da igreja, o pontífice mais culto e o que mais escreveu. Sua obra é mais variada e mais abrangente que a de todos os demais pontífices. Filósofo, teólogo e humanista, foi profundo e persuasivo em todos os seus escritos.
Não sem razão, ainda cardeal, foi eleito como um dos dois únicos sacerdotes da Academia de Ciências do Vaticano --à época em que o brasileiro Crodowaldo Pavan era um dos 80 membros do sodalício--, que contava também com 29 Prêmios Nobel entre os seus acadêmicos. Suas encíclicas, todas elas, sem exceção, mostram o perfeito conhecimento de todos os problemas da realidade mundial a partir do homem, apresentando sábias soluções e exortando os homens de boa-fé a procurarem os verdadeiros e permanentes valores da humanidade.
Após o papado de um pontífice da exuberância e da fantástica capacidade de comunicação que foi o de João Paulo 2º, o mundo conheceu a reflexão e o aprofundamento na atualidade da mensagem da Igreja Católica graças ao humanismo e à santidade de Bento 16.
Carval/Folhapress
Passou-se da expansão da obra do pontífice anterior à consolidação da modernidade da mensagem católica pregada em todos os espaços. João Paulo 2º lançou um novo estilo de abraçar o mundo inteiro com sua presença e seu carisma. Bento 16 consolidou tal abraço universal, com a clareza de suas lições, reflexões e evangelização, atingindo a todas as classes sociais, como vimos no Brasil, em 2007, e nas diversas Jornadas Mundiais da Juventude, a que milhões de jovens compareceram para ouvi-lo.
Prova dessas meditações é o seu excepcional livro sobre Cristo (em três volumes). Ao descrever Sua vida narrada pelos quatro Evangelhos, descobre e desvenda facetas novas e surpreendentes de Seu magistério, em demonstração de que, apesar de decorridos mais de 2.000 anos desde a fundação da igreja, há sempre muito a descobrir.
É interessante notar que, depois que a Igreja Católica Apostólica Romana perdeu os Estados Pontifícios, quando do pontificado de Pio 9º, foi então que sua força espiritual tornou-se mais intensa e todos os papas que o sucederam, sem exceção, marcaram a história da humanidade com a força das suas encíclicas e de suas lições. Leão 13, por exemplo, com a "Rerum Novarum", promoveu a verdadeira revolução social, sem ódios, nem rancores.
Bento 16 deixa um fantástico legado de escritos serenos, tendo sempre sabido enfrentar, com prudência e sabedoria, os humanos problemas que todas as instituições enfrentam, respondendo, com serenidade, a críticas e ataques e estimulando a santidade da esmagadora maioria dos sacerdotes, em todas as nações.
O gesto de renúncia mostra quão sábia foi a sua eleição pelo Colégio Cardinalício, pois exibe para o mundo o que deve ser o vice-Cristo na Terra: condutor de almas e de homens, com desprendimento e amor, ação e oração. E esse legado, no gesto de profunda humildade, servirá, inclusive, de orientação para os 118 cardeais a quem caberá, sob a inspiração do Espírito Santo, a responsabilidade de escolher o novo pontífice. Sem saber quem será, sei apenas que conduzirá santamente a igreja de Cristo.
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 77, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra
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