segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

No fundo, no fundo ... todos nós temos Esperança ... // Luiz Felipe Pondé


segunda-feira, dezembro 28, 2015


A Esperança de Pandora -

 LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 28/12

Na Grécia trágica, a esperança é um dos piores males. Como a esperança pode ser um mal? A esperança é o último dos “males” escondidos na caixa de Pandora. Mas quem é Pandora? Pandora é a mulher criada por Zeus para nos castigar. Pandora é uma espécie de Eva grega, com a diferença de que o culpado dela ter sido criada pra nos fazer sofrer é um “homem”: Prometeu.

Sabemos que Prometeu foi aquele que nos deu a “técnica do fogo”, contra a vontade de Zeus. Este, para castigar Prometeu, o teria pregado a uma pedra para ter seu fígado comido por uma ave pela eternidade. Zeus parecia acreditar que com essa “técnica do fogo” nós faríamos bobagens. Mary Shelley, no século 19, chamará seu Doutor Frankenstein de “o Prometeu Moderno”, numa referência clara a desmedida (”hybris”) técnica do homem moderno, representada pelo médico Frankenstein que “cria um homem”, se igualando a Deus.

Na Grécia, portanto, já apareceria esse “medo” de querermos saber os que os deuses sabem. E que sofreríamos com isso. Mary Shelley, a romântica, revela o medo da ciência como ferramenta de desmedida. Esse assunto (medo da ciência) dá o que falar, mas não vou falar dele hoje. Entretanto, não tenho dúvida que podemos arrebentar nossa vida e o mundo com essa marca de sermos seres “sem medida”.

Mas, voltemos a Pandora. Pandora é criada com um traço de personalidade: ela era uma curiosa. Sabendo disso, quando Zeus dá pra ela a caixa e diz para não abri-la, sabe que ela o fará. E quando o fizer, deixará escapar as misérias que atormentarão o mundo. A curiosidade de Pandora também é uma face da desmedida. Mas, pergunto eu: até onde podemos ser curiosos sem nos causar problemas? Ninguém sabe. Muita curiosidade mata, mas é sinal de vida. Pouca curiosidade faz de você uma pessoa mais cuidadosa, mas, talvez, sem vida. Um pouco de sangue nos olhos é necessário para gozar a vida?

A curiosidade de Pandora, assim como a técnica, são faces da mesma desmedida. Esse é nosso destino, segundo a visão trágica. Acho que os gregos tinham razão. Sempre andaremos em círculos, num eterno retorno do mesmo destino sem medida. Não há avanço acumulativo na história, pois o “avanço” pode ser, ele mesmo, a desmedida.

A ideia de um avanço acumulativo da história humana ou progresso em direção a um fim que revelará o sentido último da história e da vida (a “escatologia” em teologia) é fruto do mundo bíblico. Por isso a esperança como traço humano é tão diferente se compararmos Jerusalém com Atenas.

Na terra de Israel, a esperança é, justamente, o que sustenta a vida em tensão para o futuro. Um futuro que dará sentido a tudo que vivemos. Impossível não deduzir dai um sentido para a história e para a vida.

Na terra de Pandora, a esperança é um dos males que nos faz sofrer. Como a esperança pode ser um mal?

Não estou aqui pensando nesse conceito pseudopolítico e picareta conhecido como “utopia” que é, sim, um mal. Mas, como viver sem esperança? Mesmo Viktor Frankel, psiquiatra sobrevivente do Holocausto, dizia que a experiência de sentido (e a esperança é irmã do sentido) era essencial para suportar o espaço por excelência onde os judeus viveram a “utopia nazista”, os campos de extermínio.

No mundo trágico “ter esperança” é uma forma da desmedida. Eis a tragédia numa de suas representações máximas. Se, por um lado, sem esperança somos seres destruídos em nossa espinha dorsal espiritual e psicológica, por outro, “ter esperança” é uma profunda ilusão com relação ao destino humano. A esperança é uma forma de tortura justamente porque não há nenhuma esperança. Como dizia o oráculo de Delfos: somos mortais.

Vemos aqui como não se pode dizer que desmedida e pecado sejam a mesma coisa. A esperança no mundo bíblico nos aproxima de Deus e o pecado nos afasta Dele. No mundo grego, a esperança nos torna ainda mais vítimas de nosso destino sem saída e, assim, se revela como mais uma forma de castigo divino.

Afora a religião ou a filosofia, talvez a esperança seja mais uma questão de “índole”, como diria nosso antropólogo Roberto da Matta. Alguns são filhos da esperança outros do desespero. Enfim, bom 2016.



domingo, 27 de dezembro de 2015

Súmula de El País em 27/12/2015

Crises gêmeas fazem ‘risco país’ do Brasil passar o da Argentina

ALEJANDRO REBOSSIO Buenos Aires
Índice, espécie de termômetro que mede a desconfiança dos mercados financeiros, reflete problemas econômicos e políticos de Dilma e expectativa positiva com chegada Macri à Casa Rosada
Macri e Dilma na reunião do Mercosul.
Macri e Dilma na reunião do Mercosul. / M. V. (REUTERS)

Economia da América Latina não recuperará o dinamismo em 2016

A. R. Buenos Aires
Barateamento das matérias-primas e desaceleração chinesa têm impacto. Bolívia está entre países que crescerão mais que 4%

Doria: “Se for prefeito, vou vender o Pacaembu, Interlagos e o Anhembi”

O pré-candidato João Doria Jr.
GIL ALESSI São Paulo
Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB, empresário defende o Estado mínimo na cidade e está tomando "banho de povo" para se tornar “João dos bairros”

Pior cheia em 20 anos deixa 160 mil sem casa no Brasil e países vizinhos

ALEJANDRO REBOSSIO Buenos Aires
Nos sul do Brasil, doze municípios decretaram emergência. Chuvas provocadas pelo El Niño fizeram os rios transbordarem na região
Policial pilota o primeiro drone de vigilância usado pela polícia belga.
Policial pilota o primeiro drone de vigilância usado pela polícia belga. / REUTERS

Drone não é um simples brinquedo

JOAN FAUS Washington
EUA criam sistema de registro de aparelhos não tripulados com fins recreativos. Quem não aderir, levará multa de 250 mil dólares

A difícil missão de contar a (real) história do Brasil nas Olimpíadas

MARINA NOVAES São Paulo
Katia Rubio, autora da maior pesquisa já feita sobre brasileiros nos Jogos, quer descobrir o que leva atletas a mentirem sobre passado

“Na derrota, o atleta é ‘amarelão’, ninguém respeita a trajetória”

Pesquisadora não faz rodeios e estima que Brasil não deve ter avanços significativos disputando em casa daqui a seis meses

O Papa é argentino, Deus é brasileiro... Há muito trabalho para os Dois ! Há muito sacrifício para argentinos e brasileiros / E País / Juan Arias



O melhor presente de Natal para o Brasil 

Nos milagres econômicos fáceis demais se esconde, às vezes, o ovo da serpente


Se Deus continua sendo brasileiro, o melhor presente de Natal que poderia dar ao país é fazê-lo voltar a crescer, unido e capaz de abrir uma nova página de sua história, como fez quando derrotou a ditadura que o tinha dividido e ensanguentado.



Iluminação do Cristo Redentor especial para o Natal, no Rio, no dia 23.  AFP

O adjetivo mais usado nestas festas é “feliz”. Nós nos desejamos Feliz Natal enquanto transborda o desejo de um Feliz Ano Novo, menos duro que o que termina.
Enquanto isso, este Natal, que encerra um ano negativo quase em tudo, será ainda amargo para muitos.
“Natal? Que Natal?! Este ano não dá para alegrias”, comenta o dono de um mercado, cada vez mais vazio, em uma pequena cidade no interior do Estado do Rio.



Este Natal será, de fato, amargo para milhões de famílias.
Em vez de palavras de paz, nas redes sociais ainda se continua a escutar os ecos da divisão social. No mundo político, em vez de solidariedade com o país e com os mais afetados, reina o salve-se-quem-puder em meio a intrigas e traições.
Será amargo o Natal para esse trabalhador que perdeu o emprego –a cada trinta segundos alguém é despedido. Para o milhão e meio que já foi demitido neste ano que termina. Com a perda do emprego a autoestima do trabalhador também costuma ficar despedaçada.
Assim será para as famílias que tiveram de sacrificar a alegria do pagamento extra na época do Natal para quitar dívidas atrasadas.


Os brasileiros, que sempre souberam esperar pacientes, desta vez têm pressa de ver a luz no final do túnel. Querem vê-la quanto antes.

Para os milhões a quem a crise obrigou a raspar as poupanças, porque o salário, carcomido pela inflação, não chega para comer e pagar a conta de luz, o novo luxo deste país.
Será amargo para os jovens pelos quais os pais se sacrificavam para lhes pagar um curso de qualificação – “para que amanhã, filho, possas viver melhor do que nós” – e que tiveram de voltar a trabalhar porque o salário da família já não é suficiente para as despesas. Para os milhões saídos da pobreza e até da miséria, que começaram a sorrir e a poder ter uma televisão e uma máquina de lavar roupa. Quantas mãos de mulheres pobres rachadas no passado de tanto lavar roupa nas casas e que agora têm medo que a máquina milagrosa quebre, porque não teriam como consertá-la e menos ainda como comprar uma nova.
Nos milagres econômicos fáceis demais se esconde, às vezes, o ovo da serpente.
Será amargo para as famílias da classe média que nunca conheceram a pobreza e a fome, e que hoje precisam começar, também elas, a fazer cortes em seu orçamento porque “as cosias já não são como antes”.
Para os que sentiram as garras do dragão de lama que tragou casas, vidas e esperanças na tragédia ambiental de Mariana. Por que os culpados ainda não estão presos?
Será amargo para as mulheres grávidas que vivem sob o pesadelo do maldito mosquito que poderia contaminá-las e para as que desejariam ter um filho e ficam paralisadas pelo medo. Por que as autoridades fecharam os olhos diante da epidemia? Por que demoraram tanto para reagir? Onde está o governo?
Será dura para todos os que farão filas, nesse dia e sempre, na porta de hospitais públicos cada vez com menos recursos, onde os mais pobres morrem no esquecimento. E será também para os estudantes das escolas públicas, dos quais querem fechar escolas e até cortar o sanduíche da merenda, com a desculpa de uma crise forjada pelo binômio da corrupção e incapacidade de administrar um país rico.
Será um Natal amargo para todos os atingidos pelas balas perdidas, símbolo do caos de uma classe política perdida também, mas nos labirintos de seus interesses de poder.Será amargo para a caravana de discriminados pela cor da pele, por sua sexualidade e hoje – e isso é tristemente novo no Brasil – até pela religião ou crença política.
Será amargo para as mulheres vítimas da violência dos maridos, para as estupradas – uma a cada nove minutos – e para aquelas às quais se nega o direito de dispor do fruto de seu ventre, por isso morrem na busca de um aborto clandestino –e que já chegam ao recorde de 50.000 por ano.
Será também amargo para os que não renunciaram a ser cidadãos e desejariam ser também responsáveis pelo destino de seu país, mas não encontram instituições limpas onde empenhar-se.
Para os que sofrem a traição política, o assassinato de utopias e esperanças. Para “a legião de órfãos deixados pelo PT, pessoas decentes, que confiavam nele e foram ludibriadas”, como escreveu com dor Rosiska Darcy em sua coluna de O Globo. Órfãos do PT e de tantos outros partidos, transformados em fábricas de votos em vez de celeiros de ideias e projetos para a nação.
Será amargo também, e sobretudo, para os moradores das periferias das cidades, que observam à margem os bairros da riqueza, onde se forjam as leis que sempre os acabam penalizando. São eles os que mais sofrem o açoite da violência. Os frutos das Olimpíadas chegarão ao coração das favelas?
Será um Natal amargo para as mães daquelas comunidades, pobres e violentas, que têm de presenciar a matança dos filhos antes de florescerem para a vida. Os sonhos que nutriam para eles acabam todos os dias assassinados pelo chumbo das balas. Para uma mãe pobre não há filho bom ou bandido. Há somente filho vivo ou morto. Será um Natal amargo para muitos, mas não desesperado, porque toda noite costuma ser seguida pela luz de uma estrela.
Os brasileiros, que sempre souberam esperar pacientes, desta vez têm pressa de ver a luz no final do túnel. Querem vê-la quanto antes.
Para quando essa luz de renovação chegar poderem festejá-la e desfrutá-la, unidos e alegres, como fizeram quando se despojaram das garras da ditadura para voltar a abraçar a democracia e a liberdade.
Os sinos do Natal, há milhares de anos, nos trazem ecos e nostalgias de paz, e não de guerra.
A todos, e de modo especial aos que festejarão na dor e no desencanto, meu abraço, de FELIZ NATAL.


Charge de Amarildo...

Sabe lá…

Noel Psicanalista Freud sabe la o que nao ter e ter que ter pra dar

CIAO 2015 ! /no blog de Josias / charge de Benett



Ano de 2015 abusa da paciência dos brasileiros
9

Josias de Souza
Compartilhe
Excluindo as outras 52.352 coisas deploráveis ocorridas em 2015, denuncio os seguintes crimes cometidos contra a paciência dos brasileiros durante o ano velho:
estrelinha
A reviravolta que despertou no eleitorado o desejo de submeter Dilma a um exame de DNA logo depois da reeleição; a mania do governo de chamar a clientela de contribuinte antes de tentar arrancar-lhe na marra uma nova CPMF; a inflação de 10,8%, acompanhada de recessão e desemprego, sobretudo porque todos sabem que o caos econômico era evitável; a saudade do tempo em que dar uma pedalada era apenas acionar os pedais de uma bicicleta; a Dilma apresentando-se sempre como vítima de alguém; o Eduardo Cunha no papel de abre-alas da oposição; a sofreguidão com que Dilma vai atrás do Renan Calheiros, corteja o Renan Calheiros, entrega a viabilidade do seu governo à conveniência do Renan Calheiros; a Dilma tratando o Eduardo Cunha como cachorro louco sem explicar por que mantinha um afilhado dele na vice-presidência da Caixa e tentava ser seu amigo antes da deflagração do impeachment; o PT chamando de “golpe” um processo de impeachment previsto na Constituição e disciplinado pelo STF; a evolução do presidencialismo de coalizão para a sua forma mais pura, que é a vigarice; o neo-aliado Fernando Collor xingando Rodrigo Janot de “filho da puta” na tribuna do Senado por ter revelado que ele continua sendo Fernando Collor; a Lava Jato comprovando diariamente que a democracia brasileira é um projeto político que saiu pelo ladrão; a evidência de que, não contentes em existir, os corruptos passaram a existir em grande número; a desilusão que se abateu sobre o asfalto depois que os manifestantes se deram conta de que o poder de fazer barulho na rua pode ser poder nenhum; a desfaçatez com que o petismo se vangloria de ter aparelhado a Polícia Federal e prestigiado o Ministério Público, abstendo-se de mencionar que providenciou também a matéria-prima para os escândalos que o cercam; o TSE transformado pelo PT em lavanderia de pixulecos; o Lula repetindo que ‘não sabia’; a Dilma declarando que não confia em delator que faz delação com base numa lei sancionada por Dilma; a comprovação de que a elite empresarial brasileira pilhava a Petrobras ao mesmo tempo em que enchia as colunas sociais, publicava artigos e aconselhava ministros; a rapidez com que o PT suspendeu a filiação do líder preso Delcídio Amaral em contraste com o tratamento de “guerreiro do povo brasileiro” dispensado a personagens como o tesoureiro encarcerado João Vaccari Neto; o talento insuspeitado do Eduardo Cunha como vendedor de carne enlatada para a África; a transformação do Conselho de Ética da Câmara numa sucursal da Casa da Mãe Joana; a desenvoltura com que quatro dezenas de parlamentares enrolados no escândalo da Petrobras trafegam pelos corredores do Congresso como se nada tivesse sido descoberto sobre eles; o silêncio perturbador da banda muda do Congresso Nacional; a Dilma apelidando de reforma ministerial mais uma troca de cúmplices; a perspectiva de indulto da pena imposta no julgamento do mensalão a José Dirceu, que aguarda na cadeia por uma nova condenação no petrolão; a nota oficial em que o PSDB se disse “surpreso” com a condenação de Eduardo Azeredo no processo sobre o mensalão tucano de Minas Gerais; o filho do Lula embolsando R$ 2,5 milhões por “consultoria” copiada da internet; os 62 milhões de metros cúbicos de lama despejados pela Samarco no meio ambiente; a conversão do Aedes aegypti em hospedeiro do vírus zika; o desejo que Dilma desperta nas pessoas de viver no Brasil que ela descreve em seus discursos, seja ele onde for.
– Em tempo: Ilustração via Benett.

Chico Caruso no blog de Ricardo Noblat

HUMOR

A charge de Chico Caruso

Charge (Foto: Chico Caruso)

  • TAGS: