Por Roberto Rachewsky, publicado pelo Instituto Liberal
Boni, o todo poderoso da Globo, braço direito de Roberto Marinho nas três décadas que fizeram da emissora o gigante que se tornou, contou para a revista Piauí um pouco da história daqueles tempos obscuros da ditadura e do período entre a derrubada de Jango e o AI-5. Vale a pena ouvir essa história envolvendo Paulo Francis que teve a participação de Roberto Marinho e do próprio Boni. (Melhor que mensagens do além recebidas pela Miriam Leitão)
“Se alguém pensa que o dr. Roberto foi subserviente aos militares ou que tirou algum proveito pessoal com a ditadura, está absolutamente enganado.
Em 1964, O Globo e todos os jornais mais importantes – o Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e a Folha – apoiaram a chamada revolução redentora. Nesse período, o dr. Roberto era tratado por alguns detratores como o general civil da revolução, mas não se incomodava. Ele acreditava piamente que o único regime que servia para o Brasil era a democracia, do ponto de vista político, e a economia de mercado, do ponto de vista econômico. Nunca imaginou uma ditadura de longo prazo e se surpreendeu com o decreto do Ato Institucional nº 5 e com o fechamento do Congresso.
Como empresário, nunca fez qualquer restrição à ideologia de seus funcionários, escolhendo-os pelo talento e pela capacidade. Costumava dizer: “Nos meus comunistas mando eu.” Pela Rede Globo passaram alguns dos mais ilustres subversivos, cultuados e admirados pelo dr. Roberto. Ele tinha especial carinho pela obra e pelos textos do Ferreira Gullar, adorava as espertezas do Dias Gomes para driblar a censura e chegou a emprestar dinheiro para o Mário Lago quando ele se atreveu a pedir uma grana para saldar uma dívida. O dr. Roberto fez um cheque e disse:
– Se os comunistas assumirem o poder, peça para me enforcarem com uma corda de seda… bem fininha.
Ele também tinha uma grande capacidade de entender e esquecer desafetos. Um dos exemplos é o Paulo Francis, que fez duras críticas e baixas ofensas. Um dia, o Armando Nogueira, diretor de jornalismo, e eu fomos consultar o dr. Roberto sobre a possível ida do Paulo Francis para a Globo. Ele estranhou:
– Ué… Ele aceita?
Ao que o Armando respondeu:
– Aceita, dr. Roberto.
– Que bom. Se aceita, quer dizer que ele não pensa mais o que pensava da gente. Pode contratar.”
Paulo Francis esteve do outro lado, como bom comunista que era. Recobrou a consciência e se tornou quase um libertário. Não podemos esquecer que ele foi o primeiro e mais incisivo jornalista a denunciar a corrupção na Petrobrás