sábado, 28 de abril de 2012

Lembrando Paulo Francis.... / blog Augusto Nunes


23/04/2012
 às 16:12 \ Direto ao Ponto

A falta que um Francis faz

Paulo Francis
Paulo Francis: o homem amável e de maneiras gentis dava lugar, na hora de lidar com as palavras, ao crítico implacável e ao homem sem medos (Foto de Marcelo Carnaval)
PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA
O ator principiante não teria ido além da primeira peça caso houvesse recusado a sugestão do agitador teatral Paschoal Carlos Magno: que tal trocar o Franz Paulo Trannin da Matta Heilborn da certidão de nascimento por um nome artístico menos tonitruante? E o sofrível coadjuvante seguiria vivendo papéis secundários se não tivesse criado um personagem fadado ao êxito no mundo real: o jornalista Paulo Francis, em tudo diferente do intérprete ─ um homem amável, de gestos suaves e maneiras gentis.
O gentleman existia entre um texto e outro. Na hora de lidar com palavras, materializava-se a entidade agressiva, de temperamento beligerante, extraordinariamente hábil no ataque frontal, na ironia desmoralizante, no humor ferino, no sarcasmo impiedoso. O estilo claro e contundente na forma e no conteúdo, a abrangência temática, a independência intelectual e a disposição para a correção da rota fizeram desse Paulo Francis o maior polemista do jornalismo brasileiro moderno. Ele continua no topo do ranking, comprova a leitura de Diário da Corte, coletânea de 76 colunas publicadas pela Folha de S. Paulo entre 1975 e 1990.
O país da amnésia endêmica, que esquece a cada 15 anos o que aconteceu nos 15 anteriores, também condena os melhores e mais brilhantes a 15 anos de esquecimento ─ contados a partir da morte física. Francis não escapou dessa temporada no limbo. Em 4 de fevereiro de 1997, quando um enfarte o surpreendeu no apartamento em Nova York, milhares de leitores do colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo e milhões de espectadores do comentarista dos telejornais da Globo e do programa Manhattan Connection haviam transformado o carioca de 66 anos em celebridade nacional. Pois mesmo o mais conhecido jornalista brasileiro teve de esperar até agora pela exumação parcial da obra escrita.
Pior para os jovens, que poderiam tê-lo encontrado mais cedo. As crônicas reunidas no livro resistiram incólumes à passagem do tempo. Muitos textos parecem ter saído ontem da mente brilhante, e continuam de tal forma contemporâneos que poderiam ser publicados na edição de amanhã, sem retoques ou atualizações. A leitura de Diário da Corte mostra com dolorosa nitidez a falta que um Francis faz Leiam maiss

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