segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

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03/12/2012
 às 6:00 \ BrasilCorrupçãoLulaPutinRússia

Os espinhos e as roses para os poderosos chefões


Putin e Medvedev
De vez em quando, eu recebo cobranças de leitores: fale mais do Brasil, fale mal do Brasil, fale dos espinhos, fale das roses. Eu sei que a distância geográfica não é desculpa (afinal, pontifico sobre os cafundós do mundo) e muito menos a distância emocional (moro longe do Brasil, mas como jornalista vivo às custas do país). Tenho, portanto, uma obrigação profissional e até ética.

Michael e Don Vito Corleone
Mas, de certa forma, me sinto blindado e, quando pressionado a falar, só me resta recorrer ao maior filme de gangster da história, O Poderoso Chefão. Nada mais apropriado do que citar gangster se o assunto é Brasil, não? A citação do filme é manjada, dita por Michael Corleone: “Quando eu pensei que estava fora, eles me puxam para dentro”.
Pronto, puxado para dentro, eu já falei mal do Brasil, país mafioso, do crime organizado, dentro e fora do poder político. Prefiro, no entanto, sair pela marginal (opa!) para falar de poder, bandidagem e corrupção. Prefiro trazer outros prontuários para contribuir na discussão.

PR e Rosemary Noronha
A Rússia do presidente Vladimir Putin (VP) sempre funciona para fins educacionais. Ele, VP, que conseguiu o que o PR (o Lula daquela flor de pessoa que é a Rose) não obteve: um terceiro mandato de poder formal, ao trocar de posição no começo do ano com Dmitry Medvedev, agora primeiro-ministro. E na minha marginal, pego carona em um artigo emblemático na edição desta semana da revista The Economist.
Na televisão estatal russa, existem ultimamente espetáculos sobre os podres do país, com uma sequência de revelações e imagens de escândalos de corrupção, envolvendo ministros, ex-ministros, suas roses e malversação de fundos públicos. A campanha de moralidade começou em setembro com a demissão do ministro da Defesa, Anatoly Serdykov, metido em uma fraude de US$100 milhões. Agora, existe a negociata de US$ 200 milhões que ameaça o chefe da Casa Civil do Kremlin, Sergei Ivanov. Os campos da corrupção são fertéis nas estepes russas e os números se multiplicam. Um documentário na televisão estatal conecta a ex-ministra da Agricultura, Yelena Skrynnik, a uma fraude de US$ 1.2 bilhão.
Na era Putin, a corrrupção foi institucionalizada, com o expurgo de alguns magnatas que não aceitaram as regras de Don Corleone e a absorção de famílias para o sistema. Mas mesmo dentro do sistema, há desvios excessivos. Interessa a Putin fazer uma faxina mais rigorosa e intimidar os beneficiados. Cruzadas contra corrupção são populares e abafam um pouco o barulho da oposição. E são lances essenciais quando o apoio popular parece mais precário a Putin, exercendo há pouco mais de seis meses o seu terceiro mandato.
Um sistema corrupto precisa de purificação de tempos em tempos para continuar funcional. O desafio na Rússia (ou em qualquer outra rússia) é se esta cruzada contra corrupção ganha vida própria e foge ao controle do capo di tutti capi, com guerras entre famílias políticas e empresariais. The Economist arremata que, em caso de descontrole, Putin acaba mais fraco e não mais forte, um chefão menos poderoso.
Nunca se sabe e, ao contrário do que disse Don Corleone, alguma oferta pode ser recusada.
***
Colher de chá para Mario Puzo e Francis Ford Coppola. Algum leitor recusa minha oferta?  O Ricardo Platero ousou e me dobro. Estendo a colher de chá a Marlon Brando e Al Pacino.

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