quarta-feira, 27 de março de 2013

Da dificuldade de se afirmar alguma coisa...


cláudia collucci

 

27/03/2013 - 08h17

Vilões a mocinhos


Ontem participei de um ótimo debate promovido pelo Ilsi Brasil (International Life Sciences Institute) sobre mídia e nutrição e um dos pontos levantados no evento foi sobre como pesquisadores e jornalistas prestam um desserviço à população quando elegem certos alimentos como vilões.
O ovo, coitado, é sempre lembrado. Anos atrás, virou inimigo número 1 de quem precisava reduzir o colesterol. Talvez por conter em sua gema aproximadamente 213 mg de colesterol, sua recomendação foi limitada durante muito tempo.
Hoje, muitos estudos demonstram uma relação inversa entre o consumo de ovo e aumento de colesterol e ainda enfatizam os benefícios que podem trazer à saúde, entre eles memória, capacidade cognitiva e formação de novos neurônios.
As atuais pesquisas mostram que as doenças cardiovasculares estão mais relacionadas com a história familiar (hereditariedade) e maus hábitos alimentares, como ingerir gorduras saturadas, principalmente as trans, do que com os níveis de colesterol dos ovos.
Outro mito que vem bem a calhar nesta época do ano é o chocolate, muito associado a espinhas. Ele pode engordar, é claro, mas a acne está muito mais associada ao aumento na produção de sebo causado pela elevação de hormônios sexuais, principalmente na adolescência.
Esse aumento pode estar ligado a questões emocionais. Muitas vezes, consome-se uma grande quantidade de chocolate, para tentar amenizar um estado de ansiedade ou de tensão. O chocolate amargo, como muitos já sabem, pode ser até benéfico: é rico em flavonoides, que podem auxiliar no combate ao envelhecimento da célula. Mas coma com moderação, certo?
O café é outro que já levou muita fama de causar gastrite, elevação da pressão arterial e insônia. Segundo especialistas, esses sintomas dependem muito mais do grau de sensibilidade de algumas pessoas à cafeína. Nas mais sensíveis, o consumo do café deve ser evitado.
Enfim, são exemplos que precisam ser lembrados sempre surgir um novo estudo demonizando ou endeusando um alimento. A mídia e os profissionais de saúde, de uma forma geral, precisam ter cautela na divulgação dessas informações.
Muitas vezes, o verdadeiro perigo está na forma (e na quantidade) como se come e não necessariamente no alimento que é consumido.
Avener Prado/Folhapress
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.

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