sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Poesia pra quem gosta de Poesia... / no blog de Ricardo Noblat


POEMA DA NOITE

À tarde

Semana Claudio Willer
Á tarde (Foto: Arquivo Google)

olhar com o olhar espantado
o vôo do primeiro pássaro noturno
e saber que em breve
haverá algum tipo de confronto
de alucinação coletiva, uivo geral
saber
que por trás do olho
guardamos uma planície de risadas
dobrada em algum desvão da alma
— a sensação lisérgica de estar aí
e perceber
a fumaça dos últimos acampamentos
a casa na encosta do morro
o albatroz que arrepia sua trajetória
os mosquitos que zumbem e que zumbem e que zumbem
nesta tarde
em que três petroleiros encaram-se
e trocam sinais ao largo
e uma memória nos persegue
de rios, cataratas e pororocas
nesta praia
que é fim e começo
de qualquer coisa já sabida e possuída
e oculta
no oco da última fibra nervosa
Claudio Jorge Willer nasceu em São Paulo no dia 2 de dezembro de 1940. Além de poeta, é ensaísta e tradutor. Ligado à geração beat, é Doutor em Letras na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Publica ensaios em jornais como Jornal do Brasil e Jornal da Tarde e nas revistas Isto É e Cult. Publicou em poesia Anotações para um apocalipse (1963), Dias circulares (1976),  Jardins da Provocação (1981),Estranhas Experiências (2004) e Outros Silêncios (2009).

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