quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

"PT, 38, já tem idade para não saber muita coisa..." / Josias de Souza



PT, 38, já tem idade para não saber muita coisa

Josias de Souza

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Ainda moço, o PT já não tem carne, apenas osso. Ainda assim, encontrou ânimo para celebrar seu aniversário de 38 anos. Recomenda-se aos convidados que evitem a bebida servida na festa. Num partido que vai da mocidade à indignidade, sem um estágio qualquer para chamar de maturidade, a água já não vira vinho, vira direto vinagre.
O convite anuncia uma festa “com Gleisi e Lula”. Nem sinal de Dilma. É como se a legenda tivesse desligado da tomada a “guerreira do povo brasileiro”. Importa agora denunciar o “golpe da eleição sem Lula”. A pregação anti-impeachment também virou vinagre.
Em maio de 2014, ao discursar na convenção em que o PT aclamou Dilma como recandidata ao Planalto, Lula parecia farejar o que estava por vir. Comparou o PT que ele fundara em fevereiro de 1980 com o partido que ocupava a Presidência da República havia 12 anos:
“Nós criamos um partido político foi para ser diferente de tudo o que existia”, declarou o Lula de 2014. “Esse partido não nasceu para fazer tudo o que os outros fazem. Esse partido nasceu para provar que é possível fazer política de forma mais digna, fazer política com ‘P’ maiúsculo.”
A Lava Jato dava seus primeiros passos. Sem suspeitar que a operação alcançaria o seu calcanhar, Lula foi ao ponto:
“Nós precisamos recuperar o orgulho que foi a razão da existência desse partido em momentos muito difíceis, porque a gente às vezes não tinha panfleto para divulgar uma campanha. Hoje, parece que o dinheiro resolve tudo. Os candidatos a deputado não têm mais cabo eleitoral gratuito. É tudo uma máquina de fazer dinheiro, que está fazendo o partido ser um partido convencional.”
Enquanto Lula discursava, o dinheiro sujo da Odebrecht entrava na caixa registradora do comitê Dilma-Temer. De. resto, Lula se absteve de dizer no discurso de 2014 que ele próprio já havia se tornado “uma máquina de fazer dinheiro.” Moído pela força-tarefa de Curitiba, o companheiro Palocci cuidou de apresentar Lula a si mesmo numa carta que enviou ao PT, desfiliando-se da legenda:
“Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto Lula são atribuídos a dona Marisa?”, indagou Palloci na carta que endereçou à direção do PT.
Ex-ministro de Lula e Dilma, Palloci ainda não estava preso em 2014. Mas já havia petistas atrás das grades: “Precisamos começar a nos preocupar, porque o problema não são apenas os companheiros que estão presos”, disse Lula na convenção pró-Dilma. “O problema é que a perseguição é contra o nosso partido. A perseguição é porque eles não admitem […] que a gente consiga provar que é possível fazer nesse país o que eles não fizeram durante tantas décadas.”
Hoje, Lula preocupa-se com sua própria prisão. Se o Supremo Tribunal Federal não o socorrer, o mandado de captura deve ser expedido por Sergio Moro até o final de março, quando o TRF-4 dará por encerrado o julgamento do caso do tríplex do Guarujá na segunda instância.
Na noite passada, durante um compromisso partidário em Belo Horizonte, Lula reiterou que não respeita o veredicto que o condenou a 12 anos e 1 mês de cadeia (veja abaixo). Antes, contentava-se em apertar o botão do “não sabia”. Agora, cercado por uma dúzia de processos, aciona a tecla da “perseguição política” também como autodefesa.
Velho aos 38, o PT deveria evitar na festa desta quinta-feira o tradicional “parabéns pra você”. No seu caso, qualquer “parabéns” soaria como ironia. O pior da velhice petista é o convívio com a amnésia. Dilma cuida dos netos em Porto Alegre, Palocci faz companhia a Vaccari na carceragem de Curitiba, Dirceu arrasta uma tornozeleira eletrônica em Brasília e Lula é um presidiário esperando para acontecer. Mas o PT não se lembra de nada do que fez no verão passado. Aos 38, o PT já tem idade para não saber muita coisa. Ao promover uma festa de aniversário, o PT sinaliza que optou por viver no mundo da Lua.

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