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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O PT morreu de Petismo... / Valentina de Botas



Valentina de Botas  

O PT morreu de petismo

Está de parabéns o Brasil que presta por ter deposto um governo tão brutalmente delinquente quanto incompetente

Gostaria de agradecer pela companhia de mais um ano, dizer que torço para que tenhamos fé, coragem e alegria (há de haver muitas e haveremos de as reconhecer) para enfrentar o que virá, que está de parabéns o Brasil que presta por ter deposto um governo tão brutalmente delinquente quanto incompetente. O país não teve medo de aplicar a lei. Basta somente isto: aplicar a lei, um hábito ainda não sedimentado no país que prefere criar leis cada vez mais duras para não aplicar nem as novas nem as já existentes, enquanto no mundo fora do nosso tristonho realismo fantástico é sabido que é a certeza do castigo, mais do que a dureza dele, o que inibe o crime em qualquer circunstância.
O acordo da Brasken com os procuradores americanos informa que Emílio Odebrecht era o presidente da república; depusemos Dilma, mas é preciso também depor o Empreiteiro da República implodindo um sistema aberto a toda sorte de canalhices contra a nação. Se Lula será preso ou não em 2017, eu não sei, o que sei é que é uma canseira essa história de uma denúncia por semana sem concluir a coisa. Isso está pior do que sexo tântrico. Sei também que Emílio Odebrecht era o chefe do jeca. E continuou sendo mesmo quando terminou o governo Lula e este continuou sendo regiamente remunerado pelo dono da Odebrecht com a grana roubada da Petrobras em conluio com o alto escalão do governo. A pilhagem financiou também uma escória internacional de protoditadores e tiranos, além de enriquecer canalhas domésticos. A tudo, o suor dos brasileiros pagava.
Não é de hoje que as empreiteiras determinam as prioridades da nação, um dos tantos exemplos é o fato de as rodovias se sobreporem ao uso de ferrovias, quando estas representam uma opção mais racional num país com a extensão do nosso. A corrupção também não é exatamente uma novidade entre nós, mas o esquema que o PT erigiu sobre tal base primitiva, gerenciou, disseminou e perpetuou para ele próprio se perpetuar no poder na perpetuação do próprio esquema, enclausurando o país no primitivismo sem o qual a ciranda anticivilizatória não vingaria, é de natureza inédita e a isso precisamos estar atentos para não igualarmos ladrões e roubos que se igualam perante a lei, pois, se todos devem pagar por suas delinquências ‒ e todos devem pagar por suas delinquências ‒, o PT traduz uma delinquência que ultrapassa o roubo.
O motor do PT é do crime organizado que emprega até os filhos, as mulheres e demais parentes na estrutura do crime. Quando me desfilei do PT, aos 20 anos de idade, saí desconfiada de que a pátria dos petistas não era o Brasil, mas o petismo. Depois que a súcia assumiu a presidência roubando como nunca para reinar para sempre, na cópula incessante com a escória doméstica e a internacional e asfixiando a democracia brasileira desde a clivagem vigarista de “nós x eles” e a aposta na radicalização do debate que repudiava o convívio dos contrários travestida de defesa dos-mais-pobres-e-resistência-azelite, até a compra de Medidas Provisórias, o aluguel de jornalistas e o financiamento do capital jornalístico de uma revista inteira sempre imparcial na resoluta defesa do petismo, até pensei que a pátria do bando fosse o mais degenerado dos populismos ‒ degenerado em roubalheira, em atraso ideológico, em embotamento do pensamento, em jequice. Mas a pátria dessa escumalha, que só floresce e vinga no primitivismo que deforma instituições e estupidifica indivíduos quando não compra ou aluga a consciência deles, é a tirania, ou seja, era mesmo o petismo: minha intuição juvenil foi certeira.
Claro que o PT não é o único que rouba, o que torna o partido único nem é o montante colossal e inédito, mas o objetivo do roubo e a natureza do assalto: um o esbulho que visa a própria organização do estado de direito. Mas se a súcia destruiu o país, os escombros a soterraram: o PT morreu de petismo, falta o camburão do FBI ou da PF recolher o cadáver. Pesquisas randômicas que apresentam meio mundo como candidato não o ressuscitarão. Institutos de pesquisas eleitorais, que há muito tempo não compreendem o país, darem o jeca como eleito num cenário em que disputa com Sérgio Moro que, sabem até as araucárias do teatro Guaíra naquela região agrícola do país, não é candidato a nada, servem à tese inconstitucional de antecipação das eleições, da tal campanha vintage por diretas-já; mais já do que diretas antes que o jeca tome posse de uma cela em Curitiba. Os obstáculos legais transformam a coisa num debate inútil, diversionista, de muito calor e pouca luz e a permanente campanha eleitoral de Lula é somente uma nova modalidade de tentar obstruir a justiça como foi a nomeação dele como ministro, cometida por Dilma Rousseff.
Muitos se perguntam a diferença entre o governo Temer e o dos petistas e até já há comparação igualando o PIB sob o governo atual e o de Dilma sem a ressalva de que aquele durou 6 anos e este não completou 8 meses desde o impeachment. Acho que há muitas diferenças e algumas semelhanças indesejáveis; o saldo, positivo na minha opinião, é apurado por uma constatação básica: a presidência da república não é mais ocupada por alguém que acua o país, mas que o governa. Ainda que não seja o bastante, isso é fundamental.
Restam a missão duríssima de reconstruir o país e, missão ainda mais difícil, a de aprender. Aprender que é a sociedade que custeia as aposentadorias vitalícias e integrais de senadores e suplentes (geralmente, os financiadores do titular) que a elas fazem jus com apenas 180 dias de trabalho; que é o suor dos brasileiros que paga auxílio-moradia de juízes que trabalham onde moram; que é a nossa grana que sustenta as 43 estatais criadas na gestão petista; e que a nação assim esbulhada desfruta dos piores serviços públicos entre os países emergentes. Aprender que o papel do governante não é o de pai nem mãe, de nos fazer felizes e nem de nos salvar de perigos inventados para camuflar problemas reais, mas o de ser eficiente, não atrapalhar a vida de quem produz, deseja inovar, empreender e crescer.
O ano de 2016 acaba deixando exausto o país que presta numa luta que ainda não acabou e, ainda que nos sintamos com o coração como um espantalho num campo de trigo à espera dos pássaros que tardam, fizemos tudo certo. Será que adiantou? Não sei ainda, mas não tenho dúvida de que já valeu a pena.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Dilma e a entrevista à Al-Jazeera TV /


Dilma foi nocauteada pelo jornalismo independente

A entrevista da ex-presidente à Al-Jazeera reprisou aquele Brasil versus Alemanha

Tanto não há que a entrevistada ficou mais encalacrada ainda ao caçar argumentos sem pé nem cabeça. “Meu querido, esta é o tipo da escolha de Sofia, que eu não entro nela. Porque não é isso que acontece. Há uma diferença, e há no mundo inteiro, entre um conselho e uma diretoria executiva. Nem todos os membros da diretoria sabiam que aqueles diretores da Petrobras estavam fazendo… é… tinham mecanismos de corrupção e estavam se enriquecendo de outra… de forma indevida”. Fim do vídeo. Está explicado por que o poste de terninho, desde o primeiro dia no Palácio do Planalto, fugiu de entrevistadores sem medo de cara feia como o diabo foge da cruz ou Lula foge de Sérgio Moro.
Ela passou mais de cinco anos driblando jornalistas de verdade alegando “problemas na agenda” que nunca apareciam quando a entrevista era solicitada por blogueiros estatizados, colunistas sabujos, humoristas a favor e repórteres que se impressionavam até com a leitora voraz que esquecia o título e o autor da obra que jurava ter acabado de ler na véspera. Talvez por imaginar que a Al-Jazeera é uma TV palestina (e portanto amiga), a governante aposentada pelo povo protagonizou o desastre parcialmente exposto na gravação acima.
“Você não nega que existiu um escândalo de três bilhões de dólares na Petrobras, que havia corrupção em massa envolvendo a Petrobras, você, claramente, não nega isso”, parte para o ataque o jornalista. “No”, balbucia a carranca levada às cordas pela frase seguinte: “E você nega que integrantes do PT, incluindo o tesoureiro, seu marqueteiro e seu chefe de gabinete, estiveram envolvidos nisso? Dilma capricha na pose de quem prepara um pito daqueles que aterrorizavam Guido Mantega e ergue a voz: “Enquanto não ‘julgares’, enquanto não julgarem, eu não vou julgar. Não é meu papel aqui julgar ninguém, porque eu não vou dizer e não vou…”
O jornalista fecha o cerco e o duelo vira um Brasil e Alemanha:
—  Mesmo pessoas que foram presas e julgadas, como o tesoureiro do PT? — aperta o artilheiro alemão.
 Eu não vou dizer…
— Você não vai comentar?
— Não, eu não…
— Você não tem vergonha do afundamento do PT?”
— Não é essa a questão!
 Você não nega que existiu um escândalo na Petrobras.
— Não nego.
— Alguns dizem que, dado o cargo que a você ocupou por um longo período e, depois, como presidente…
— Que eu devia saber?
Foi a deixa para a consumação do nocaute impiedoso relatado no primeiro parágrafo. Ainda grogue, a entrevistada não abriu a boca sobre o fiasco incomparável. Permanecem desconhecidos os efeitos da pancadaria sobre o neurônio solitário. Dependendo dos danos, nem Dilma saberá se foi cumplicidade, se foi incompetência ou se foi a soma das duas marcas de nascença.

domingo, 18 de dezembro de 2016

"Desrespeito como estratégia" // Editoria do Estadão

Editorial do Estadão: 

A estratégia de desmoralizar o Judiciário, imputando-lhe segundas e inconfessáveis intenções, reafirma o cabal menosprezo de Lula pelas instituições

Alvo de múltiplos inquéritos, todos bem comprovados, o ex-presidente Lula se acha perseguido pela Justiça. Indiciado mais uma vez pela Polícia Federal (PF) sob acusação de ter recebido propina de empreiteiros camaradas, o chefão petista considera que tudo o que se levantou até agora contra ele faz parte de um grande complô para impedir que volte, triunfante, à Presidência. A estratégia de desmoralizar o Judiciário, imputando-lhe segundas e inconfessáveis intenções, reafirma o cabal menosprezo de Lula pelas instituições, já devidamente comprovado pela conspurcação do Executivo e do Legislativo no lamaçal do mensalão e do petrolão, obras-primas do mandarinato lulopetista. Como não pode admitir nenhuma falha ética, já que tal confissão tisnaria a imagem de pureza que criou para si, Lula prefere arrastar para o fundo do poço moral todos os que dele cobrarem explicações sobre suas reinações.
Para isso conta com a ajuda de uma dispendiosa banca de causídicos, todos devidamente empenhados em provocar policiais, promotores e juízes, acusando-os sistematicamente de má-fé contra Lula e de cercear-lhe a defesa. Assim, esperam que esses agentes públicos finalmente tomem providências legais para pôr cobro a tanto desrespeito, uma reação que, imaginam, comprovaria sua esdrúxula tese de perseguição política.
É claro que se trata da mais pura chicana, levada a um extremo raramente visto na história do País. Em nota, o time de advogados do ex-presidente diz que tanto o delegado da Polícia Federal Márcio Anselmo, responsável pelo novo indiciamento, como a própria Operação Lava Jato “perderam hoje qualquer pudor ou senso do ridículo”. Um dos advogados de Lula chegou a dizer que Anselmo “é conhecido apoiador de Aécio Neves”, insinuando que o delegado estaria a serviço do senador tucano.
O indiciamento diz respeito a dois casos. O primeiro trata da compra de terreno onde seria erguido o Instituto Lula e que, segundo a acusação, foi usada para disfarçar o recebimento de propina por parte da Odebrecht. O negócio teria sido intermediado pelo ex-ministro Antonio Palocci, visto como operador de propinas pagas pela Odebrecht ao PT, razão pela qual também foi indiciado.
O segundo caso trata do aluguel de um apartamento vizinho ao de Lula em São Bernardo. Também aqui, o imóvel teria sido alugado ao ex-presidente, em um contrato firmado pela ex-primeira-dama Marisa Letícia, como forma de ocultar o fato de que o apartamento na verdade pertence a Lula e foi obtido com dinheiro de propina da Odebrecht. Por esse motivo, Marisa Letícia também está entre os indiciados. Esses indiciamentos se juntam ao do inquérito sobre o triplex do Guarujá, imóvel que também teria servido para ocultar o pagamento de suborno, nesse caso por parte da empreiteira OAS.
Tudo isso precisa ser provado em juízo, e Lula, como qualquer cidadão, terá amplo direito de se defender. Mas o chefão petista não se considera um cidadão comum. Ele pensa habitar uma espécie de Olimpo, reservado aos deuses infalíveis, aos quais a justiça dos homens não se aplica. Só isso é capaz de dar sentido à declaração dos advogados de Lula segundo a qual os indiciamentos da PF saíram “no mesmo dia em que pesquisas revelam que Lula lidera a corrida presidencial” e, portanto, têm o único propósito de inviabilizar a candidatura do demiurgo petista.
Em outra frente dessa bufonaria, os advogados de Lula empenharam-se mais uma vez em tentar tirar o juiz Sérgio Moro do sério e estiveram a um passo de conseguir, fazendo o geralmente frio magistrado perder as estribeiras diante da reiterada insolência da defesa do ex-presidente durante uma oitiva. Isso é tudo o que a tigrada quer, para que possa caracterizar, para os incautos, a “perseguição” que vive a denunciar, aqui e no exterior.
Espera-se que os agentes da lei envolvidos na tarefa de levar Lula a responder por seus atos não se deixem intimidar e não hesitem em usar os instrumentos jurídicos disponíveis para finalmente impor o respeito que lhes é devido como representantes da Justiça.

"" Lula, há anos, só aparece em eventos em que a plateia é controlada por seguranças do seu partido ou dos “movimentos sociais”. "

J. R. Guzzo: Cara para bater

É a preocupação suprema: faça qualquer coisa, submeta-se a qualquer papel, mas não se arrisque, jamais, a ser vaiado num lugar público

Publicado na edição impressa de VEJA
Está ficando cada vez mais raro na vida pública brasileira, nos dias que correm, encontrar quem esteja disposto a fazer a coisa certa apenas porque é a coisa certa – mesmo quando a moral, os bons costumes e a lógica deixam claro que é a única coisa a ser feita. O que importa acima de tudo, hoje em dia, é fazer a coisa que dá certo; não é necessariamente um pecado, mas é diferente. Nem é tão importante assim, na verdade, fazer o que dá certo. Mais que tudo, o que vale é não fazer nada que possa dar errado. Trata-se da teoria e da prática do “risco zero”. Os grandes princípios, nessa maneira de encarar as responsabilidades públicas, se concentram em umas poucas definições. Por exemplo: não se pode “dar a cara para bater”. Ou: a maior virtude de um político é ser “profissional”; seu pior defeito é ser “ingênuo”. Atos de coragem pessoal, por essa cartilha, são estritamente desaconselhados; quando expõem o autor à “impopularidade”, então, passam a ser vistos como pura e irreparável estupidez. É indispensável, diante de qualquer problema a ser resolvido, dizer que “o povo não pode pagar a conta”. Nunca é o “momento adequado” para tomar uma providência, por mais necessária que seja, se ela significar algum sacrifício. É muito mais perigoso não prometer do que não cumprir. Um político eficaz deve acreditar, talvez como a regra primordial de todas, que dá mais certo tratar a população segundo os seus interesses do que segundo os seus direitos.

Nada mais natural, num país em que os políticos vivem à beira do xadrez, na mira da polícia e na dependência de sentenças judiciais para manter o cargo, que o pavor da vaia tenha assumido tanta importância. É a preocupação suprema: faça qualquer coisa, submeta-se a qualquer papel, mas não se arrisque, jamais, a ser vaiado num lugar público. Só mesmo no Brasil de hoje se entende, para ficar num exemplo recente, que tenha sido levada a sério pelo governo, como parece que foi, a possibilidade de que o presidente da República não comparecesse às cerimônias fúnebres que se seguiram ao desastre aéreo com a equipe da Associação Chapecoense de Futebol. Poucos fatos, nos últimos anos, mexeram tanto com as emoções do público brasileiro quanto essa tragédia. Mas até pouco antes dos funerais a informação oficial era que o presidente Michel Temer não iria – ou iria praticamente escondido, como a ex-presidente Dilma Rousseff na final da Copa do Mundo de Futebol de 2014, no Maracanã. Felizmente, inclusive para si próprio, ele foi. Mas é uma completa aberração que os maiores nomes do mundo político brasileiro (quer dizer: maiores pelo tamanho dos cargos) estivessem tão longe da cerimônia quanto o diabo da cruz. Pior: não poderia mesmo ser diferente. Imagine-se, por exemplo, se seria possível a presença do senador Renan Calheiros e do deputado Rodrigo Maia no palanque das autoridades em Chapecó; se algum assessor, por acaso, lhes tivesse dado a ideia de comparecer, ambos teriam passado mal só de ouvir. Temos, então, o seguinte: o presidente do Senado Federal (cargo hoje em tumulto) e o da Câmara dos Deputados não andam livremente no próprio país. Pode?
E o ex-presidente Lula, que é descrito por tanta gente, a começar por ele mesmo, como o maior líder popular que o Brasil jamais teve em toda a sua história? Esse, então, estava em Cuba, junto com a sucessora. Foi a um outro enterro; não ocorreu a ele, e talvez menos ainda a ela, correr o risco de estar junto do povo brasileiro naquela hora. O ex-presidente, aliás, é um dos pioneiros nesse tipo de sabedoria política – conseguiu não ir a uma única partida da mesma Copa do Mundo de 2014, que colocava entre as maiores realizações do seu governo e da sua vida. Lula, há anos, só aparece em eventos em que a plateia é controlada por seguranças do seu partido ou dos “movimentos sociais”. De novo, é a anomalia: o soberano das massas populares brasileiras não pode sair às ruas neste país. Ele e quantos mais? Quase todos. Na verdade, quantos políticos teriam coragem de ir a uma manifestação de rua como as que têm acontecido de 2015 para cá? Quantos se sentem realmente seguros para ir a um restaurante ou atravessar um saguão de aeroporto? Só o anonimato dá segurança; do jeito que as coisas vão, daqui a pouco nossos representantes começarão a ir para as sessões do Congresso Nacional com aquelas máscaras pretas que a polícia costuma usar em operações secretas. Chegamos a um ponto em que a regra principal para o exercício da vida pública no Brasil é não aparecer em público.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

"Para chegar a 2018 e evitar o caos"/ Fernando Gabeira

Fernando Gabeira: Para chegar a 2018 e evitar o caos

É uma ilusão supor que o Brasil não mudou, que será governável com as mesmas práticas do passado

Publicado no Estadão
Começou o fim do mundo com a delação da Odebrecht. Temer, creio, deu uma resposta adequada, pedindo celeridade nas investigações para poder tocar o barco da reconstrução econômica.
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Ele pode não ter sido sincero, porque, segundo a imprensa, no Planalto se falou na anulação do depoimento do diretor da empresa. Mas a celeridade, respeitando simultaneamente direito de defesa e ritmo de uma investigação séria, é a melhor saída para libertar o processo econômico dos sobressaltos políticos. Para almejar essa celeridade, porém, é preciso primeiro responder a uma pergunta: se não existiu até agora, por que passaria a existir de uma hora para outra?
Ela é necessária também para o processo político em 2018. Muitos investigados vão querer se reeleger. Mas nem todos têm êxito em situação pós-escândalo. Lembro-me da CPI dos sanguessugas, deputados que ganhavam propina para emendas de compras de ambulâncias superfaturadas. A maioria foi derrotada nas urnas, em 2006.
Sem julgamento, contudo, o abismo entre sociedade e eleições em 2018 pode se aprofundar ainda mais. As ruas têm se manifestado, mas não se pode esperar delas a solução final do problema. No meu entender, ela está nas mãos do Supremo, que precisa fazer um extraordinário esforço de adaptação às necessidades do momento.
O Supremo parece-me perdido em suas prioridades. As duas últimas intervenções, proibição da vaquejada e descriminalização do aborto, posições com as quais posso concordar, não trilharam o bom caminho.
Existe uma diferença entre uma sentença e uma política para enfrentar os temas. No caso da vaquejada, um processo adequado seria definir o que os americanos chamam de phase out, para que todo o universo econômico que gira em torno da vaquejada se adaptasse. Pelo que vi, seu núcleo central é a criação e o comércio de cavalos de raça. No caso do aborto, o processo político se dá de outra forma. Discussão no Parlamento e referendo popular.
Embora o panorama político seja desolador, quando juízes assumem decisões que deveriam nascer no Parlamento ou nas urnas, eles são obrigados a pensar como categorias políticas. Apesar de ter desaguado no STF, na longa luta política para banir o amianto foi preciso negociar e até formular um projeto de adaptação.
O fim do mundo não é o fim de tudo. Se o Supremo, creio eu, se dedicar integralmente a julgar com rapidez e se reorganizar para a tarefa, pode se queimar menos do que buscando saída para tensões políticas.
As manifestações de rua conseguem fixar alvos. Hoje Cunha, amanhã Renan. Elas não trazem a saída: são contra a corrupção e, em alguns cartazes, pelo fim do cheque em branco dos governos, alusão ao ajuste fiscal.
Mas o nó só pode ser desatado pelas instituições. Agora, por exemplo, o Supremo vai entrar em recesso. Com a situação tão delicada, os responsáveis vão sair de cena. Creio que isso nasce do equívoco de subestimar o alcance da Lava Jato.
Gilmar Mendes, quando esteve no Senado, foi bastante explícito, as operações policiais existem todos os anos. Naquele momento, a Odebrecht fechava o maior acordo de leniência do mundo, pagando cerca de R$ 6, bilhões de multa. E a delação do fim do mundo começava.
Se o Supremo decidir trabalhar a fundo na sua tarefa específica, vai ajudar, indiretamente, a economia e também a política, na tarefa de buscar algum tipo de renovação que a aproxime da sociedade.
É uma difícil travessia. Nela o comandante Temer tem de enfrentar a tempestade e jogar alguns corpos ao mar. E evitar que ele próprio tenha de se jogar na água.
Mas são essas as circunstância e não é possível enfrentá-las suprimindo pedaços da realidade. A maior investigação da História do Brasil chega ao coração do atual governo, que era apenas a costela do governo petista. Agora, ele tem nas mãos a tarefa de conduzir a economia em frangalhos, sob suspeita e com baixa popularidade.
Temer disse que era preciso coragem para governar o Brasil e que ele teria essa coragem. Talvez seja preciso também um pouco de resignação diante do futuro pessoal.
A tarefa de conduzir a reconstrução econômica é decisiva, sobretudo, para os 12 milhões de desempregados. Temer e o mundo político não têm outro caminho exceto continuar trabalhando, enquanto a terra treme sob os seus pés.
Num mundo ideal, nem o Supremo nem os políticos entrariam em férias neste ano de 2016. Talvez todos nós precisemos de umas férias do Supremo e dos próprios políticos.
Mas assim que voltarem, a realidade pedirá respostas mais rápidas e complexas. Se houvesse um projeto de trânsito para 2018, o ritmo de julgamentos seria mais rápido, os vazamentos seriam evitados e o processo de renovação na política seria posto na agenda.
Existem forças poderosas tentando deter ou deturpar a Lava Jato. Elas se aproveitam da confusão, dos impasses. É uma tática que existe nos mínimos detalhes, como a atuação dos advogados de Lula, discursos no Parlamento, notícias inventadas.
Digam o que quiserem das ruas. Não houve violência nas manifestações contra a corrupção. Elas cumprem o seu papel. No fundo, acreditam nas instituições e na possibilidade de que encontrem uma saída.
Algumas instituições entraram em férias. Durante o recesso poderiam pensar no ano que entra. É possível fazer melhor e mais rápido.
É uma ilusão supor que o Brasil não mudou, que será governável com as mesmas práticas do passado. Hoje será menos doloroso avançar do que recuar no projeto de fortalecer a economia e dar à política uma chance de reconciliação com a sociedade. No meio de tanta confusão, na qual estou também envolvido, é assim que vejo o caminho imediato e os dois objetivos principais.
Deve haver centenas de outras visões. Seria salutar discutir como chegar a 2018, e não apenas o clássico quem comprou quem, quem é a bola da vez… A bola da vez é a ameaça de caos.

"O problema é que moral é uma coisa muito elástica neste país."

Vlady Oliver: Eu já entendi

Até quando essa gente vai querer jogar com os brios dos outros é que são elas

No meio desse turbilhão de vigarices que vamos presenciando, quem acompanha meus impropérios sabe que estou tentando traçar um horizonte comum em tudo o que estou lendo. Parece que a ficha me caiu hoje. O bom jornalismo que ainda nos resta está dividido entre aqueles que ainda acreditam numa saída deste pântano pela via institucional e quem já não acredita que a pinguela vai resistir por mais tempo. Boas informações de um lado e do outro não faltam. Boas intenções também. O problema é que moral é uma coisa muito elástica neste país.
Muitos aceitam, em troca de um pouco de paz para viver, uma certa tensão institucional e alguns prédios de trinta andares espalhados por onde a vista alcança. Como entender um país nessa crise toda e os caras aprovando mais quase um 1 bilhão de reais de verba partidária? É impressionante como o corporativismo, o compadrio, a imbecilidade reinantes por aqui vão tornando míopes estes senhores parlamentares. Premidos a apresentar à sociedade qualquer saída, a saída que encontram é mais uma tungada no erário. De noite. No final do expediente. Perto de um recesso que é o escárnio da recessão. Aí um juiz acorda, do outro lado dos três Poderes, e toca a dar uma carteirada a mais em nossa democracia, mandando tudo de volta para o fim da fila. Que falta de bom senso, não é mesmo?
É o mínimo que eu posso dizer do que estou vendo. Quem ainda acredita nisso que aí está acaba defendendo as teses governistas. Quem não acredita em mais nada vai jogando pedras em nossa única saída, até aqui. E a pinguela vai caindo. Se posso dar um conselho ao ilustre leitor, diria o seguinte: desconfie de todo idiota que quer a renúncia do presidente Temer, mas se recusa a renunciar junto. É tudo o mesmo balaio, meus caros. Melhor seria que todos pedissem o boné e fossem cuidar dos netinhos, não é mesmo? Como isso não vai acontecer, fica o mimo de um “oposicionista” petralha como Humberto Costa, pedindo a saída dos outros e não dele mesmo.
Até quando essa gente vai querer jogar com os brios dos outros é que são elas. Na Alemanha, embolachar o sujeito que tenta lhe bater a carteira é cívico. É democrático. Tivesse o Lulão as duas orelhas do mesmo lado, de tanto levar piaba nas ideia por meter a mão no dinheiro dos outros, esse tipo de consciência não se criava, meus caros. Como é difícil para o brasileiro entender isso. Ele só entende o berro nas fuças. Que pobreza, coitado.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

STF :"São onze ilhas que não formam um arquipélago." / J R Guzzo

J. R. Guzzo: Onze ilhas

O ministro “A” discorda do ministro “B” não porque vê as leis de outra maneira, mas porque os dois são inimigos pessoais, políticos ou ambas as coisas ao mesmo tempo

Por: Augusto Nunes  
Um país pode ter certeza de que está a caminho de grande confusão – ou, talvez, até de que já tenha chegado lá – quando começam a se repetir na vida pública situações nas quais é preciso escolher entre o errado e o errado. É um erro um ministro do Supremo Tribunal Federal tomar uma decisão considerada flagrantemente ilegal pela maioria dos colegas; fica pior ainda quando se trata de uma contribuição consciente à desordem política. É um erro que a direção do Senado Federal se recuse a respeitar a decisão tomada, e que seis ministros da mais alta corte de justiça do Brasil concordem com o ato de desobediência. O que está valendo nessa história, afinal das contas? Quem fala primeiro? Quem fala mais alto? Eis aí, na prática, o preço que os brasileiros estão pagando por uma realidade que se torna cada vez mais alarmante: o STF deixou de funcionar como um tribunal de justiça. Tornou-se, para efeitos práticos, um ajuntamento de onze indivíduos que se separam uns dos outros não por pensarem de modos diferentes sobre a lei, mas por que têm interesses pessoais contraditórios entre si. São onze ilhas que não formam um arquipélago.
Um ministro da suprema corte brasileira, hoje em dia, equivale àquele tipo de evento natural que cai na categoria dos chamados fenômenos irresponsáveis – raio, chuva, terremoto. São coisas que acontecem, simplesmente, sem controle nenhum por parte de quem sofre os seus efeitos; é certo, apenas, que todos pagam, assim como a população paga pelos repentes de um grupo de cidadãos que têm poder de mais e responsabilidade de menos. Ultimamente deram para governar o país, sem ter recebido um único voto, sem a obrigação de prestar contas por nada do que fazem e sem correr, jamais, o mínimo risco de perderem seus cargos. Como os poderes executivo e legislativo foram desmoralizados até o seu último átomo pela corrupção, a incompetência e a vadiagem, o STF cresceu de uma maneira doentia, e completamente desproporcional à sua capacidade de gerir conflitos. Já seria suficientemente ruim se o Supremo, com todas as suas disfunções, agisse dentro de mecanismos racionais, coerentes e previsíveis. Mas não é assim, como se comprova com frequência cada vez maior. As decisões do STF podem ser qualquer coisa. O que é feito num caso não é feito em outro igual – ou tão parecido que não dá para saber a diferença. O que está valendo hoje pode não estar valendo amanhã. O ministro “A” discorda do ministro “B” não porque vê as leis de outra maneira, mas porque os dois são inimigos pessoais, políticos ou ambas as coisas ao mesmo tempo; um acha que o outro simplesmente não tem o direito de estar no cargo. Falam em “principialogia axiomática”, “egrégio sodalício” ou “ofício judicante”, como se esse tipo de dialeto revelasse sabedoria; conseguem, apenas, ser incompreensíveis.
Perde-se, como resultado disso, tanto o senso de decência como o respeito à lei. Será mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, como na Bíblia, do que encontrar alguém a favor de Renan Calheiros entre os brasileiros que de alguma forma se importam com política ou questões da vida pública. É um tipo humano que praticamente só se encontra no Senado Federal e no STF. Um bode expiatório, afinal das contas, muitas vezes vale tanto quanto uma boa explicação – e Renan, com os onze processos que tem no lombo e todo o restante do seu repertório, é uma figura praticamente perfeita para o povo odiar. Mas quem está disposto, do mesmo jeito, a apontar algum herói entre os gatos pingados que votaram contra ele no Supremo? Situações de erro contra erro em geral não contêm inocentes.

domingo, 4 de dezembro de 2016

"Quer um Congresso com a metade dos vigaristas que hoje se encontram por lá? Comece a exigir hoje mesmo que eles aceitem um automutilamento"

Vlady Oliver: Cálculos renais

Quer um Congresso com a metade dos vigaristas que hoje se encontram por lá? Comece a exigir hoje mesmo que eles aceitem um automutilamento

Por: Augusto Nunes  
Faço aqui uma afirmação polêmica, mas totalmente baseada em cálculos matemáticos.
A mágica chama-se “estratificação da amostragem”. Que diabo é isso? 
É um diabo que permite responder a seguinte pergunta: quantas pessoas você precisa entrevistar numa pesquisa para identificar uma tendência? Metade da população? Um quarto? Pois cálculos estatísticos precisos mostram que, se a amostra for devidamente estratificada, ou seja, se ela representar fielmente o universo pesquisado, ela pode ser infinitamente menor. Isto mostra por que uma pesquisa com duas mil pessoas representa, com grande precisão, uma população de 200 milhões de habitantes, com margem de erro mínima.
O problema é justamente a contaminação da amostragem, o que vem ocorrendo em todas as últimas pesquisas eleitorais superfaturadas que tivemos por aqui. Mas isto gera uma constatação interessante: nosso Congresso, como tudo que o Brasil vem fazendo ultimamente, peca pelo excesso: 600 políticos tiram a individualidade dos procedimentos, em favor de uma coletividade estúpida. Fica difícil descobrir quem trama com quem, numa votação.
Um terço dessa amostra me parece mais do que suficiente para representar o país dignamente. Algo assim como um político para cada milhão de habitantes, o que faria pouco mais de duzentos políticos tramitando na Câmara. Mais do que suficiente e a metade do que existe hoje em nosso lombo. E com uma cláusula de barreira de origem: só chega ao Congresso quem representa um milhão de pessoas. Simples assim. Adeus, corporativismos.
Eu iria ainda mais longe: sufragaria essa representatividade por regiões populacionais e não por Estados. São Paulo teria direito a mais de 40 representantes, enquanto o Espírito Santo, por exemplo, nos contemplaria com 3 ou 4. Ficou furioso? Mas essa é a representatividade matemática do nosso país, meus caros. Durma-se com ela e ponto. Já o caso do “Senador do Desempate” é outro absurdo típico da malemolência brasileira.
Eu explico. Digamos que o Brasil pudesse ser simplificado – para efeito de cálculo – como nos Estados Unidos. Cem milhões de brasileiros seriam “democratas”, cem milhões “republicanos”, os primeiros concentrados nas áreas urbanas e os segundos nas zonas rurais. É razoável supor que dois senadores, um de cada legenda, representariam os interesses de cada uma das unidades federativas. Daria empate. Pois dane-se o empate. Que a coisa se resolva no diálogo, afinal é pra isso que a política tem de existir.
Se, no entanto, tivermos três senadores por unidade, digamos que um Estado tenha 51% de eleitores de uma legenda e 49% de eleitores de outra: Isto elegeria basicamente dois senadores de uma contra apenas um de outra, perfazendo uma representatividade avariada, com 66% para uma agremiação e 33% para outra, o que é fundamentalmente falso. Isto prova que 54 senadores é mais que suficiente para a política fluir, de forma a suscitar o debate entre as legendas.
E aí? Quer um Congresso com a metade dos vigaristas que hoje se encontram por lá? Comece a exigir hoje mesmo que eles defendam um automutilamento, antes que sejam mutilados de verdade por um exército de panelas. Chega de vigarices, meus caros. A “coletividade” que vá para o inferno. Só serve para “esconder malfeitos”. De políticos malfeitos estamos até a tampa.