Com hiperinflação, Venezuela importa dinheiro do Brasil
Casa da Moeda começou a imprimir bolívares este ano; inflação no país pode chegar a 1.000.000%, segundo o FMI
Lu Aiko Otta, O Estado de S.Paulo
28 Julho 2018 | 17h00
BRASÍLIA - Às turras com o regime do presidente Nicolás Maduro nos foros internacionais, o Brasil ainda mantém relação comercial com a Venezuela. E, neste ano, iniciou a exportação de um produto altamente demandado do lado de lá da fronteira: dinheiro em espécie. Por encomenda, a Casa da Moeda do Brasil está imprimindo os bolívares usados no país vizinho. A demanda é grande, porque o valor das cédulas “derrete” diante da hiperinflação, que pode atingir 1.000.000% neste ano, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A produção de dinheiro começou em 2018, segundo informou a Casa da Moeda. Não é a primeira vez que o Brasil imprime dinheiro para outro país. O País já forneceu cédulas para a Argentina, o Paraguai e o Haiti.
Sem dar conta de acompanhar a evolução dos preços, os venezuelanos precisam de quantidades cada vez maiores de dinheiro vivo. As cédulas de bolívar são atualmente o sétimo principal produto exportado pelo Brasil para o país vizinho, de acordo com dados da balança comercial. De janeiro a junho deste ano, as vendas totalizaram US$ 6,8 milhões. No mesmo período, também foram exportados US$ 4,6 milhões em papel que serve para a impressão de dinheiro.
Em março passado, Maduro anunciou que o sistema monetário seria reformado, com o corte de três zeros das cifras. Assim, mil bolívares passariam a ser um bolívar, mas com o mesmo valor de aquisição. Além de perder zeros, a moeda passará a ter outro nome: bolívar soberano. A reforma ocorreria em junho, mas foi adiada para agosto.
Mas a inflação está numa velocidade tão alta que o corte de três zeros já não será suficiente para colocar os preços venezuelanos num padrão civilizado. Na última quarta-feira, 25, Maduro informou que, em vez de três, a reforma cortará cinco zeros. Ou seja, cem mil bolívares serão convertidos em um bolívar. A entrada em vigor da reforma também teve novo adiamento: do início de agosto para o dia 20 do mesmo mês.
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