Os desafios de proteger multidões contra ataques como o de Berlim
- 21 dezembro 2016
A escolha de um bem visitado mercado de Natal como o de Berlim para alvo de um atentado extremista não surpreendeu as forças de segurança ocidentais, que já sabiam dessa possibilidade e conhecem a tática desse tipo de ataque.
Mesmo assim, os desafios de tentar evitar ou conter atentados desse tipo são enormes, como demonstra o seu histórico.
Já em 2000, um mercado de Natal tinha sido alvo de um ataque à bomba da Al-Qaeda em Estrasburgo, na França - um atentado que as autoridades conseguiram desbaratar a tempo.
Esses mercados são uma antiga tradição em várias partes da Europa e reúnem um grande número de moradores locais e turistas. Um atentado em um local desses deixaria um alto de número de mortos - e o impacto simbólico e emocional de estar ligado a uma temporada de feriados.
Há apenas algumas semanas, um jovem de 12 anos foi preso na Alemanha com um plano para detonar explosivos caseiros em um mercado em sua cidade natal. A bomba, repleta de pregos, não foi detonada.
A metodologia deste tipo ataque com caminhões também não é nova.
Dois anos atrás, uma van foi jogada contra visitantes de um mercado de Natal na cidade francesa de Nantes, deixando 10 pessoas feridas. Uma pessoa morreu.
Os grupos extremistas Estado Islâmico e a Al-Qaeda fizeram chamados públicos a seus militantes para que usassem veículos como armas. O ataque em Nice, em julho, foi o sinal mais claro dos terríveis danos que um caminhão pode causar. Na ocasião, 86 pessoas morreram.
Nesse caso, o motorista parece ter se inspirado nos chamados do Estado Islâmico, mas a extensão do contato direto parece ter sido limitada. Rastrear cada caminhoneiro certamente não é uma solução - o que ficou claro especialmente após o caso de Berlim, onde houve fortes indícios de que o veículo foi sequestrado apenas algumas horas antes de ser usado.
Os desafios na prevenção de tais ataques que usam pouca tecnologia são complexos.
Há uma década, os membros da Al-Qaeda tendiam a planejar ataques mais complexos com explosivos. Isso muitas vezes exigia viagens internacionais e treinamento, além de comunicação, e tais ações levavam muito tempo para se desenvolverem.
Tudo isso oferecia várias oportunidades para que agências de inteligência pudessem interceptar a tempo possíveis planos de ataques.
Protegendo multidões
Se um indivíduo é seguidor do Estado Islâmico, mas não tem contato com eles e age sozinho ou em uma pequena célula, será difícil detectá-lo. No momento em que ele sequestrar um caminhão, haverá poucas chances de encontrá-lo.
A única esperança nesse caso é proteger as áreas de um ataque para reduzir os possíveis danos.
O Reino Unido investiu bastante na proteção de seus lugares mais lotados.
O governo, através do Escritório Nacional de Segurança Contra o Terrorismo, dá instruções a edifícios, pubs, bares e atrações turísticas para que estes saibam como se proteger e dar mais segurança a seus visitantes.
O foco tem sido sobre proteção contra carros-bomba ou os ataques em que um ou vários indivíduos atiram indiscriminadamente contra vítimas que veem pela frente - o tipo de incidente visto primeiro em Mumbai (em 2008, onde vários ataques coordenados resultaram na morte de 164 pessoas) e, mais recentemente, em novembro de 2015 em Paris.
A preocupação com os carros-bomba levou ao investimento em postes, balizadores de ferro (também conhecidos como "fradinhos"), chicanas e outros tipo de obstáculos de rua - às vezes integradas à arquitetura local de forma discreta - que tornariam mais difícil para um veículo atingir um prédio em velocidade.
Há também maior vigilância em eventos públicos e contato entre os organizadores e a polícia.
Os mercados ainda são difíceis de proteger, em parte porque eles tendem a estar localizados em praças e ruas abertas, mas também são temporários. Isso torna menos provável que haja investimentos em segurança pesada e permanente, embora ainda possam ser usadas barreiras temporárias.
'Mais balizadores e soldados não é a resposta'
As forças policiais britânicas dizem que já estavam com esquema de segurança em vigor zelando pela proteção des mercados públicos do Reino Unido, mas que estes serão revistos e ajustados para aumentar a presença policial.
Especialistas antiterrorismo advertem que não basta apostar as fichas apenas em medidas de proteção.
"Mais balizadores e soldados ou policiais nas ruas absolutamente não é a resposta para este tipo de ameaça", disse à BBC Richard Walton, comandante das unidades antiterror na Polícia Metropolitana de Londres de 2011 até o início de 2016.
"Você tem que melhorar sua capacidade de inteligência. Você tem que incentivar as pessoas a se aproximar e, em particular, você tem que incentivar a comunidade muçulmana a confiar nas agências e reportar informações e preocupações que ela tem".
Há muitas dúvidas, porém, se foi feito o suficiente em Berlim, dado que este tipo de ameaça já era conhecido.
O Departamento de Estado norte-americano publicou um aviso no final de novembro dizendo aos cidadãos americanos para terem cautela em "festivais de férias, eventos e mercados ao ar livre".
O aumento da segurança foi posto em prática em alguns mercados de Natal, como o mais famoso da Europa, o de Estrasburgo, com monitoramento dos visitantes e restrições à circulação de veículos.
Mas o problema é que todos os mercados precisariam seguir os mesmo padrões de segurança, pois um extremista pode sempre escolher um alvo mais frágil para um ataque.
Autoridades alemãs têm defendido suas medidas de proteção dizendo que é difícil conseguir implantar obstáculos capazes de deter um caminhão, como foi o caso em Berlim.
"Os mercados de Natal não podem ser transformados em fortalezas", disse um oficial alemão no dia seguinte ao ataque.
"Temos um número ilimitado de alvos frágeis. Há diversas possibilidades de usar um caminhão para atacar e matar pessoas".