- 20 novembro 2016
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Os caminhos do desaforo da corrupção
http://infograficos.oglobo.globo.com/brasil/central-de-proprinas.html?mobi=1
A Sociedade está cansada com os políticos de Brasília
http://m.oglobo.globo.com/opiniao/fazer-tudo-de-novo-20529067?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_content=opiniao&utm_campaign=newsdiaria
Uma batata assa em Brasília
http://m.oglobo.globo.com/cultura/uma-batata-assa-em-brasilia-1-20530503?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_content=cultura&utm_campaign=newsdiaria
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Os ipês-amarelos por Rubem Alves
https://docs.google.com/document/d/133j1m-65dJ2BAxJ0mrZpTJ8cFbKpQotFvLNhc9vpPx4
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08 de Setembro de 2010-14:08
Os ipês-amarelos por Rubem Alves
Fonte: http://www.adjorisc.com.br/artigos/os-ipes-amarelos-por-rubem-alves-1.342211/comments-7.402765?print=true
Ipê amarelo / Foto: N/A
Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava uma escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: "E quem é Rubem Alves?". Um menininho respondeu: "O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...". A resposta do menininho me deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são aquilo que elas amam.
Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão...), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme "Moça com Brinco de Pérola"), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.
Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem.
Sou místico. Ao contrário dos místicos religiosos que fecham os olhos para verem Deus, a Virgem e os anjos, eu abro bem os meus olhos para ver as frutas e legumes nas bancas das feiras. Cada fruta é um assombro, um milagre. Uma cebola é um milagre. Tanto assim que Neruda escreveu uma ode em seu louvor: "Rosa de água com escamas de cristal...".
Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.
Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo os textos que escrevo. Os adolescentes que parariam desanimados diante de um livro de 200 páginas sentem-se atraídos por um texto pequeno de apenas três páginas. O que escrevo são como aperitivos. Na literatura, frequentemente, o curto é muito maior que o comprido. Há poemas que contêm todo um universo.
Mas escrevo também com uma intenção gastronômica. Quero que meus textos sejam comidos pelos leitores. Mais do que isso: quero que eles sejam comidos de forma prazerosa. Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como acontece na eucaristia.
Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...
terça-feira, 22 de novembro de 2016
"O poder é um vinho perigoso" / Percival Puggina
DA POBREZA AO ROMANÉE CONTI
por Percival Puggina. Artigo publicado em
Em 5 de outubro de 2002, véspera do primeiro turno da eleição presidencial, Lula, Duda Mendonça, Antônio Palocci e mais dúzia e meia de companheiros cujos nomes não ficaram registrados para a história jantaram na Antica Osteria Dell'Agnolo, em Ipanema. Nas libações do encontro, com mesuras que superavam, de longe, as prestadas ao candidato, Duda ofereceu a Lula uma garrafa do vinho Romanée Conti. A primorosa dádiva, à época, teve seu preço estimado em R$ 6 mil.
A notícia correu o Brasil. Remover uma rolha de Romanée Conti era e continua sendo gesto de suntuosidade. Coisa para milionários de hábitos espalhafatosos, dados a excentricidades. Políticos, em parte alguma do mundo, bebem de certas marcas, ainda que possam pagar por elas pois expressam um nível de consumo desalinhado dos padrões da sociedade com a qual procuram se identificar. O fato se tornou tão notório que o dono do restaurante criou uma espécie de memorial onde, em estojo de madeira, a famosa garrafa ficou entronizada, com a inscrição "Lula lá 05/10", até ser roubada, em 2009, durante incursão noturna de um larápio.
Nunca me pareceu convincente o discurso que procura escriturar, como bem das esquerdas, a sensibilidade face às carências alheias, a austeridade e o senso de justiça. Um mínimo conhecimento de História mostra o elevado padrão de vida que a nomenklatura dos países do Leste Europeu se atribuía, em total discordância com a escassez imposta ao restante da população. Quem vai a Cuba logo ouve falar dos que “tienem la heladera rellena” (geladeira cheia), ou seja, dos que gozam os privilégios de consumo concedidos à alta burocracia partidária, longe das restrições determinadas pela libreta (de racionamento).
Nunca me pareceu convincente o discurso que procura escriturar, como bem das esquerdas, a sensibilidade face às carências alheias, a austeridade e o senso de justiça. Um mínimo conhecimento de História mostra o elevado padrão de vida que a nomenklatura dos países do Leste Europeu se atribuía, em total discordância com a escassez imposta ao restante da população. Quem vai a Cuba logo ouve falar dos que “tienem la heladera rellena” (geladeira cheia), ou seja, dos que gozam os privilégios de consumo concedidos à alta burocracia partidária, longe das restrições determinadas pela libreta (de racionamento).
Com isso não quero dizer que não existam, na esquerda, pessoas sinceramente preocupadas com questões sociais e que vivam segundo os valores que proclamam em seu discurso. Mas recuso totalmente a tese de que esses mesmos valores não sejam igualmente assumidos e praticados por pessoas de outras correntes ideológicas, ou mesmo sem ideologia alguma. Por outro lado, o caminho da maior prosperidade jamais passou pelos conceitos socialistas fundamentais - estatismo, luta de classes, negação da propriedade privada, planificação econômica. Por saberem disso, esses radicais que andam por aí fazendo discurso contra a liberdade de mercado e contra as empresas privadas, não lutam para implantar suas ideias com o intuito de trabalhar no chão de alguma fábrica. Nem pensar! O que eles querem é ganhar de presente a poltrona, o tapete e a adega do patrão. Ou, mais régio e mais adequado a tempos bicudos, a diretoria de uma estatal ou fundo de pensão.
Os anos seguintes vieram mostrar o espantoso surto de enriquecimento pessoal que acometeu grande parte da elite governante do país, hoje às voltas com a Justiça e à beira de um ataque de nervos. Os primeiros sintomas de que voraz organização criminosa se aproximava do poder, contudo, foram emitidos já naqueles primeiros momentos em que começou a faltar, aos vitoriosos, a virtude da moderação. Eles enriqueceram e o Brasil quebrou.
O poder é um vinho perigoso. Retirada a rolha pode trazer à tona verdades inconfessáveis.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
"Déficit de verdade" /
Déficit de verdade
Nizan tem razão: Temer deve aproveitar chance de adotar medidas amargas sendo impopular
José Nêumanne
22 Novembro 2016 | 11h11
Em discurso para Conselhão de empresários, Temer referiu-se ao “déficit” de verdade legado pelo governo anterior. Tem razão. É lamentável que não haja uma lei punindo quem minta em campanha política da forma como Dilma fez em 2014. Talvez seja útil lembrar também que o vice dela que assumiu o lugar, quando ela foi deposta, ele também tem um déficit de credibilidade, parte do qual pode ser debitado ao de legitimidade, que nem ele acredita ter, mesmo a tendo ajudado a se eleger duas vezes. Talvez isso provoque um desafio singular, lembrado por um dos membros do Conselhão, Nizan Guanaes, que o aconselhou a aproveitar a impopularidade para adotar medidas impopulares, indispensáveis agora.
'Quando cheguei, descobri o que era ser negra' ... Negros africanos no Brasi / BBC
'Quando cheguei, descobri o que era ser negra': como africanos veem o preconceito no Brasil
Gabi Di Bella e Gui ChristDe São Paulo para a BBC Brasil
Formada em Letras, a africana de Guiné-Bissau Nádia Ferreira, de 37 anos, conta que cresceu sem pensar sobre a questão racial.
"Lá eu era uma menina como qualquer outra. Foi no Brasil que a questão da raça despertou em mim. Descobri isso na pele, mas foi bom porque isso só me fortaleceu."
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, data que evoca a memória do líder negro Zumbi dos Palmares (1655-1695), a BBC Brasil apresenta a visão de imigrantes de países majoritariamente negros sobre identidade racial e preconceito no Brasil.
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Ferreira, há 15 anos no Brasil, afirma que a sensação de "estar no lugar errado" - e a posterior "tomada de consciência" - surgiu quando cursava a faculdade na USP (Universidade de São Paulo).
"Eu me sentava ao lado de alguém e a pessoa mudava de lugar. Numa sala com 200 alunos, só dois eram negros. Mas foi lá também onde conheci o grupo de consciência negra", diz ela, que criou o coletivo Iada Africa (Mãe África) para discutir questões de raça.
A guineense foi estudar no Brasil por incentivo do pai, que acreditava que haveria menos preconceito no país. "Ele falava que as pessoas aqui já estavam acostumadas com os negros, mas quando conto que há racismo ele não acredita até hoje."
Ela enumera episódios em que diz ter sido alvo de preconceito no país - já foi barrada na porta de um banco mesmo tendo guardado a mochila, por exemplo, e teve que esperar do lado de fora de uma sala onde iria fazer uma entrevista de emprego enquanto outras candidatas, brancas, passavam.
"Não te agridem porque a lei não permite, mas você é olhado de um jeito que diz: aqui não é o seu lugar", afirma.
Para Ferreira, o negro imigrante é alvo de duplo preconceito. "Quando você é negro brasileiro te olham como incapaz. O imigrante africano já é visto como exótico, mas carregamos o peso do estereótipo de que africanos são agressivos ou preguiçosos."
Curiosidade e preconceito
Natural do Burundi, pequeno país do centro-leste africano, o estudante Egide Nishimirimana, de 27 anos, também "despertou" para a existência do preconceito após chegar ao Brasil.
"Antes de chegar eu não me preocupava com preconceito de raça. No Burundi todo mundo é negro, e o que existia lá era o preconceito de etnia, usado politicamente para tomar o poder", conta.
Ele diz acreditar que o negro imigrante ainda sofra menos do que o negro brasileiro no cotidiano. "Normalmente quando começam a conversar com você e veem que é estrangeiro isso gera simpatia pela curiosidade."
Nishimirimana se diz satisfeito com a vida no Brasil, mesmo diante de situações difíceis.
"Percebi aqui é que esse preconceito racial é muito verdadeiro. Não vou generalizar, mas algumas pessoas quando veem um negro acham que é ladrão ou mal educado", afirma ele, que vê o transporte público como cenário cotidiano de preconceito.
"As pessoas trocam de lugar ou colocam a mochila para frente quando me veem."
Conscientização
Há seis meses no Brasil, o músico congolês Ephata Tshiaba, de 31 anos, também diz notar o tratamento diferente ao usar o metrô. "Vejo as pessoas se afastando, ficam me olhando de modo estranho, mas cada um é livre para pensar como quer."
Em geral, Tshiaba diz ser bem tratado por aqui - para ele, o preconceito aparece em outras situações corriqueiras, como abrir uma conta no banco. "Já fui a vários e nenhum aceitou, mesmo já tendo o documento da Polícia Federal e o CPF."
Como os outros colegas africanos, ele diz que sua conscientização sobre a identidade negra se consolidou mesmo no Brasil. "Lá (no Congo) eu não tratava sobre preconceito, mas aqui quero trabalhar na conscientização das pessoas", conta ele.
Em uma mesquita no centro da capital paulista, o senegalês Papa Ba, de 28 anos, diz que estudou sobre o passado escravagista do Brasil ainda na África, mas desconhecia a história de Zumbi - o líder negro que combateu autoridades e fazendeiros nos primeiros tempos de ocupação colonial - e a própria origem do feriado de 20 de novembro.
"Aprendi muita coisa sobre o Brasil antes de vir, e acho o histórico daqui um pouco triste", diz.
No Brasil, país majoritariamente negro (53,6% da população se classificam como pretos e pardos) em que negros ocupam 18% dos cargos de liderança e ganham, em média, apenas 59% do que recebem os brancos, é importante que o imigrante conheça o tema da escravidão na América Latina, diz a guineense Nádia Ferreira.
"Os imigrantes, e principalmente os que estão chegando agora, têm que escutar e aprender sobre essa história."
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