Postagem em destaque

NOTÍCIAS DE BRASÍLIA

Mostrando postagens com marcador Angela Dutra de Menezes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Angela Dutra de Menezes. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

"Com todo respeito" / Uma prótese peniana alvoroça os idosos representantes do povo de Brasília !

No Circo de Cavalinhos, uma prótese peniana

TER, 27 DE AGOSTO DE 2013 / ANGELA DUTRA DE MENEZES

Numa semana de tantos acontecimentos emocionantes – chegada dos médicos cubanos, fuga do senador boliviano, queda de Patriota (nem tanto), armas químicas na Síria, subida do dólar, ameaça de nova guerra no Oriente Médio, inflação, etc. etc. e tal – nada me chamou tanta atenção quanto a novela da prótese peniana de um funcionário aposentado do Senado Federal.
Conto a história com todo respeito. Mas que ela tem lances engraçados, tem. Um antigo policial legislativo – não sei que cargo é este, suponho que seja segurança -, com aposentadoria de 23 mil Reais mensais e 73 anos, teve câncer de próstata. Após a cirurgia, passou a sofrer de disfunção erétil, nome chique de vocês sabem o quê. Afirmam os psiquiatras e psicólogos envolvidos no processo – sim, o ex-funcionário está processando o Senado Federal – que impotência é uma insolúvel tragédia masculina. Ou é resolvida de algum jeito ou os machos morrem – tipo tragédia grega. Mas, não é de hoje, a ciência oferece uma solução para estes sofredores: implante de prótese peniana.
Claro, com o desenvolvimento tecnológico, as próteses estão cada vez mais supimpas. Algumas, por conta da Copa e das Olimpíadas, já estão entrando no mercado falando inglês e francês. Além do mais, educadas em colégio de freiras, jamais dão vexame: sabem exatamente o momento de voltar para a toca.  Mas custam caro. Absurdamente caro. A prótese desejada pelo ex-funcionário custa, só ela, R$ 48.728,00. Sem contar a cirurgia, internação, adaptação – é, estão pensando o quê? Não é fácil não, é preciso aprender a lidar com a bichinha. Com 73 anos e aposentadoria tão boa – um brasileiro médio, para ganhar 23 mil Reais, precisa trabalhar no mínimo oito meses, isso se estiver bem empregado -, o funcionário poderia aceitar a prótese oferecida pelo Seguro Saúde do Senado, que garante o prazer de muita gente boa. Afinal, não é tão ruim assim. Não sei, dizem por aí, deste assunto eu realmente não entendo.
Os advogados que defendem os interesses do Senado juram que o pênis artificial maisantiguinho desempenha perfeitamente as suas funções: lava, passa, arruma, engoma e a única desvantagem é ser manipulado manualmente. Vira para cima, vira para baixo, o sujeito parece sofrer de eterno priapismo, mas tudo bem: desde que não entre num ônibus super lotado e se encoste em alguma senhora ou senhorita.... Afinal, qual situação não tem vantagens e desvantagens?
Mas o nosso amiguinho impotente, não é só teimoso, é vaidoso também. Segundo o seu advogado, o cliente faz questão de mudernidade porque o tal do aparato caríssimo, além de aparentar três volumes diferentes, de acordo com o gosto do freguês, é pré-conectado – gente, que pênis chique, pré-conectado a quê? Será um pênis pensante? – e inflado manualmente. Ou seja, o indigitado cidadão poderia usar roupas moderninhas, fazer sua corridinha em paz, dançar de rostinho colado como se usava no tempo dele (dele, o paciente, não do pênis, claro). Tudo isso com a possibilidade de quando a situação exigir, o feliz ressuscitado - tudo ao mesmo tempo agora - bombear o ar até alcançar o volume desejado, segundo a demanda do momento. Resumindo, um luxo.
Apesar de já ter recebido cinco negativas à sua pretensão (duas do Seguro Saúde do Senado e três da Justiça comum), a vítima não desiste. Pessoalmente, acho que ele está perdendo um tempo precioso enquanto rola este pode-não-pode. Afinal, a expectativa de vida de um homem residente em Brasília é de 76,2 anos. O ex-funcionário está brincando com a sorte. Se tivesse colocado uma prótese simplinha, já teria se divertido muito. Enfim, cada um sabe de si, talvez ele seja masoquista. O fato é que, entre idas e vindas às várias instâncias da Justiça, o caso chegou à Advocacia Geral da União, com lances de dramaticidade. Na exposição aos senhores juízes, o advogado lamenta que, por falta de uso condizente, o verdadeiro pênis do cidadão esteja encolhendo. Sim, senhores, o termo pouco jurídico que ele usou foi este: en-co-lhen-do. Consta do processo: um centímetro já foi para o brejo. Vamos combinar, àqueles que não têm mais nada, um centímetro é uma enormidade. Quem sou eu para discutir com o urologista que assinou tal diagnóstico? Mas, vem cá, também não estaria encolhendo por conta da idade? Afinal, o pretendente à traquitana finíssima já não é nenhum garotão.
Mas continua agindo como se não houvesse amanhã. Apesar de a Advocacia Geral ter lhe acenado com uma esperança: ele pagaria os custos da tão desejada prótese e a necessária cirurgia e o Senado o ressarciria de acordo com um preço estipulado pelo juiz, o cara está inflexível. Quer tudo de graça. Para alcançar seu objetivo, lançou um desafio assustador no fim da semana passada: ou o Senado assume absolutamente todas as despesas de seu novo e multifuncional pênis ou ele entregará à Imprensa o nome de senadores, inclusive ex-presidentes da casa, que dependem de próteses modernosas ou não para ciscar por aí. Todas pagas pelo dinheiro do contribuinte.
Uauuu, o Brasil é um Circo de Cavalinhos, há sempre uma atração no picadeiro. Já estou imaginando os Ministros Barbosa e Lewandowski, no Supremo, discutindo se há ou não chicana neste jogo de empurra-empurra peniano – sem trocadilho, por favor.
A verdade é que sinto pena do danificado em suas nobres funções masculinas. Rouba-se tanto neste país, o que custava lhe dar um acessório de vanguarda? Só quero ver se, realmente, ele colocar a boca no trombone.
É triste, meu povo, mas temos que reconhecer: o que nós vamos nos divertir com esta fofoca...

Angela Dutra de Menezes é escritora e jornalista
Share/Save/Bookmark