Joel Camargo, os desenganos do primeiro brasileiro a jogar pelo PSG
Assim como Neymar, era negro, tratava bem a bola e brilhou no Santos.
Mas, após levantar bandeira contra o racismo, morreu pobre, doente e esquecido
São Paulo
Por sua elegância ao correr com passadas largas, praticamente flutuando sobre o gramado, e ao subir com os braços bem abertos para cabecear, Joel Camargo ganhou o apelido de Açucareiro. Era um zagueiro de técnica privilegiada, talvez o mais habilidoso de sua geração. Embora implacável ao desarmar os atacantes, tinha doçura nos pés. Integrou por quase dez anos o célebre time do Santos de Pelé, foi campeão do mundo com a seleção brasileira em 1970 e, muito antes de Neymar protagonizar a transferência mais cara de todos os tempos, se tornou o primeiro brasileiro a vestir a camisa do Paris Saint-Germain (PSG). Porém, a chegada à cidade luz não teve nenhuma pompa, assim como toda sua trajetória como jogador.
O destino nunca foi generoso com o talento que transbordava de Joel, sobretudo no ano de 1970, que marcou tanto a maior glória da carreira quanto o início de sua derrocada. Ele começou a temporada em alta. Era o homem de confiança do técnico João Saldanha e titular da zaga da seleção. Mas, por interferência da ditadura militar, Saldanha caiu às vésperas da Copa e deu lugar a Zagallo, que barrou o defensor. O Brasil sagrou-se tricampeão no México. Joel nem sequer entrou em campo. Assistiu a todo Mundial do banco de reservas. Apesar da euforia pelo título, encarou o desprestígio como uma humilhação.