Ainda moço, o PT já não tem carne, apenas osso. Ainda assim, encontrou ânimo para celebrar seu aniversário de 38 anos. Recomenda-se aos convidados que evitem a bebida servida na festa.Num partido que vai da mocidade à indignidade, sem um estágio qualquer para chamar de maturidade, a água já não vira vinho, vira direto vinagre.
O convite anuncia uma festa “com Gleisi e Lula”. Nem sinal de Dilma. É como se a legenda tivesse desligado da tomada a “guerreira do povo brasileiro”. Importa agora denunciar o “golpe da eleição sem Lula”. A pregação anti-impeachment também virou vinagre.
Em maio de 2014, ao discursar na convenção em que o PT aclamou Dilma como recandidata ao Planalto, Lula parecia farejar o que estava por vir. Comparou o PT que ele fundara em fevereiro de 1980 com o partido que ocupava a Presidência da República havia 12 anos:
“Nós criamos um partido político foi para ser diferente de tudo o que existia”, declarou o Lula de 2014. “Esse partido não nasceu para fazer tudo o que os outros fazem. Esse partido nasceu para provar que é possível fazer política de forma mais digna, fazer política com ‘P’ maiúsculo.”
A Lava Jato dava seus primeiros passos. Sem suspeitar que a operação alcançaria o seu calcanhar, Lula foi ao ponto:
“Nós precisamos recuperar o orgulho que foi a razão da existência desse partido em momentos muito difíceis, porque a gente às vezes não tinha panfleto para divulgar uma campanha. Hoje, parece que o dinheiro resolve tudo. Os candidatos a deputado não têm mais cabo eleitoral gratuito. É tudo uma máquina de fazer dinheiro, que está fazendo o partido ser um partido convencional.”
Enquanto Lula discursava, o dinheiro sujo da Odebrecht entrava na caixa registradora do comitê Dilma-Temer. De. resto, Lula se absteve de dizer no discurso de 2014 que ele próprio já havia se tornado “uma máquina de fazer dinheiro.” Moído pela força-tarefa de Curitiba, o companheiro Palocci cuidou de apresentar Lula a si mesmo numa carta que enviou ao PT, desfiliando-se da legenda:
“Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto Lula são atribuídos a dona Marisa?”, indagou Palloci na carta que endereçou à direção do PT.
Ex-ministro de Lula e Dilma, Palloci ainda não estava preso em 2014. Mas já havia petistas atrás das grades: “Precisamos começar a nos preocupar, porque o problema não são apenas os companheiros que estão presos”, disse Lula na convenção pró-Dilma. “O problema é que a perseguição é contra o nosso partido. A perseguição é porque eles não admitem […] que a gente consiga provar que é possível fazer nesse país o que eles não fizeram durante tantas décadas.”
Hoje, Lula preocupa-se com sua própria prisão. Se o Supremo Tribunal Federal não o socorrer, o mandado de captura deve ser expedido por Sergio Moro até o final de março, quando o TRF-4 dará por encerrado o julgamento do caso do tríplex do Guarujá na segunda instância.
Na noite passada, durante um compromisso partidário em Belo Horizonte, Lula reiterou que não respeita o veredicto que o condenou a 12 anos e 1 mês de cadeia (veja abaixo). Antes, contentava-se em apertar o botão do “não sabia”. Agora, cercado por uma dúzia de processos, aciona a tecla da “perseguição política” também como autodefesa.
Velho aos 38, o PT deveria evitar na festa desta quinta-feira o tradicional “parabéns pra você”. No seu caso, qualquer “parabéns” soaria como ironia. O pior da velhice petista é o convívio com a amnésia. Dilma cuida dos netos em Porto Alegre, Palocci faz companhia a Vaccari na carceragem de Curitiba, Dirceu arrasta uma tornozeleira eletrônica em Brasília e Lula é um presidiário esperando para acontecer. Mas o PT não se lembra de nada do que fez no verão passado. Aos 38, o PT já tem idade para não saber muita coisa. Ao promover uma festa de aniversário, o PT sinaliza que optou por viver no mundo da Lua.
Para o PT, o voto é o sucedâneo da guilhotina e da metralhadora das revoluções de antanho
Sabe aquele truque do punguista que bate a carteira do transeunte incauto e, antes que ele reaja, sai correndo e gritando “pega ladrão” pela rua acima? Pois é esse exatamente o golpe com que o Partido dos Trabalhadores (PT) enfrenta a pendenga judicial protagonizada pelo seu primeiro, único e eterno candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aiatolula para seus devotos, Lulinha paz e amor para os que por ele se deixam enganar. Primeiro, eles gritam “golpe!”, como gritaram quando Dilma Tatibitate Rousseff foi derrubada pelas próprias peraltices, anunciando que disputar voto sem ele na cédula não é eleição, é perseguição. Depois saem correndo atrás do prejuízo... dos outros.
A narrativa desse golpe, que eles tratam como se fosse um contragolpe, é a de que seu plano A a Z de poder tem sido acusado, denunciado e condenado e está agora à espera de uma provável, embora ainda eventual, confirmação da condenação em segunda instância. No caso, a Polícia Federal atuaria como se fosse um bate-pau de coronéis da política, que não querem ver o chefão de volta ao poder para desgraçar o Brasil de vez, depois do desastre que produziu a distribuição igualitária do desemprego dos trabalhadores e da quebradeira dos empresários, esta nossa isonomia cruel. O Ministério Público Federal seria um valhacouto de pistoleiros dos donos do poder. E os juízes que condenam, meros paus-mandados de imperialistas e entreguistas. Quem vai com a farinha da lógica volta com o pirão da mistificação: é tudo perseguição.
Talvez seja o caso, então, de lembrar que nem isso é original. Aqui mais uma vez o PT pavloviano que baba quando o padim fala recorre à filosofia pré-socrática do velho Heráclito de Éfeso proclamando o eterno retorno. Não queriam refundar o PT depois do assalto geral aos cofres da República? Pois muito bem, lá vão voltando os petistas às suas origens nos estertores da ditadura. Naquele tempo, os grupos fundidos hesitavam entre a revolução armada e a urna. Optaram pela paz e prosperaram.
Os guerrilheiros desarmados à custa de sangue, tortura e lágrimas voltaram do exílio convencidos de que só venceriam se assumissem o comando de um partido de massas. E o ideal para isso seria empregar o charme dos operários do moderno enclave metalúrgico do ABC. Lula, que desprezava os filhinhos de papai do estudantado e os clérigos progressistas, aceitou o papel que lhe cabia de chefe dos desunidos e então reagrupados. Afinal, sua resistência à volta dos ex-armados era só uma: queria dar ordens, nunca seguir instruções. E deixou isso claro a Cláudio Lembo, presidente do PDS paulista e emissário do general Golbery do Couto e Silva enviado a São Bernardo para convencê-lo a apoiar a anistia.
A conquista da máquina pública não derramou sangue dos militantes, que avançaram com sofreguidão sobre os cofres da viúva e os dilapidaram sem dó. Viraram pregoeiros do melhor e mais seguro negócio do mundo: ganhar bilhões sem arriscar a vida, como os traficantes do morro, demandando apenas os sufrágios dos iludidos. A desprezada e velha democracia burguesa virou um pregão de ocasião: só o voto vale. A eleição é a única fonte legítima do poder. Os outros pressupostos do Estado democrático – igualdade de direitos, equilíbrio e autonomia dos Poderes, impessoalidade das instituições – foram esmagados sob o neopragmatismo dos curandeiros de palanque.
A polícia, o Ministério Público e a Justiça tornaram-se meros (e nada míseros!) coadjuvantes da sociedade da imunidade que virou impunidade. A lei – ora, a lei... – é só pretexto. Agora, por exemplo, a Lei da Ficha Limpa, de iniciativa popular, é um obstáculo que, se condenado na segunda instância, Lula espera ultrapassar sem recorrer mais apenas às chicanas de hábito, mas também à guerrilha dos recursos. Estes abundam, garantem Joaquim Falcão e Luiz Flávio Gomes, respeitáveis especialistas.
Não importa que a alimária claudique, eles almejam mesmo é acicatá-la. Formados no desprezo à democracia dos barões sem terra e dos comerciantes sem títulos dos séculos 12 e 18, os lulistas contemporâneos consideram o voto, que apregoam como condão, apenas um instrumento da chegada ao poder e de sua manutenção – como a guilhotina e a Kalashnikov. José Dirceu, que não foi perdoado por ter delinquido cumprindo pena pelo mensalão, ganhou o direito de sambar de tornozeleira na mansão, conquistada com o suor de seus dedos, por três votos misericordiosos. Dias Toffoli fora seu subordinado. Ricardo Lewandowski criou a personagem Dilma Merendeira. E Gilmar Mendes entrou nessa associação de petistas juramentados como J. Pinto Fernandes, o fecho inesperado do poema Quadrilha, que não se perca pelo título, de Carlos Drummond de Andrade. Celso de Mello e Edson Fachin foram vencidos.
Na semana passada, o ex-guerrilheiro, ex-deputado e ex-ministro estreou coluna semanal no site Nocaute, pertencente ao escritor Fernando Moraes, conhecido beija-dólmã do comandante Castro. Na primeira colaboração, Dirceu convocou uma mobilização nacional no próximo dia 24 de janeiro, em defesa dos direitos do ex-presidente Lula, “seja diante do TRF-4, em Porto Alegre, seja nas sedes regionais do Tribunal Regional Federal” (sic). O post, com o perdão pelo anglicismo insubstituível, é a síntese da campanha que atropela o Código Penal e a Lei da Ficha Limpa, apelando para disparos retóricos e balbúrdia nas ruas, à falta de argumentos jurídicos respeitáveis. Nada que surpreenda no PT, cujo passado revolucionário sempre espreitou para ser usado na hora que lhe conviesse. E a hora é esta.
O voto é apenas lorota de acalentar bovino. Estamos com a lei e o voto, que já lhes faltou no ano passado e dificilmente será pródigo no ano que vem. Mas não podemos vivenciar a fábula A Revolução dos Bichos, de Orwell. Pois o papel de ruminantes é o que nos destinaram. Só nos resta recusá-lo.
A revista Veja adiantou sua edição deste final de semana. Ontem, quinta-feira anunciou como matéria de capa "exclusiva" uma reportagem sobre parte da proposta delação do indigitado petista Antonio Palocci, preso pela Operação Lava Jato, denunciando que o PT e seu líder máximo, Lula, receberam dinheiro da Líbia, pelas mãos do então ditador Muamar Kadafi. Entretanto, a grande mídia fez ouvidos moucos quando, em 2011, da tribuna da Câmara, o deputado e atual presidenciável Jair Messias Bolsonaro, denunciou que Lula havia recebido dinheiro da Líbia. Nesta sexta-feira, Bolsonaro postou em sua página no Facebook o vídeo de seu pronunciamento de 2011, com a seguinte legenda: "Em 2011, da Tribuna, falei sobre o dinheiro que Lula recebeu de Kadafi na Líbia. Hoje o assunto aparece em delação de Palocci. Espero, agora, que o registro do PT venha a ser cassado." Em 2011, o deputado Jair Messias Bolsonaro era tratado com desprezo, como sempre foi até hoje, pelos jornalistas que cobrem o Congresso Nacional que, a bem da verdade, não passam de estafetas do próprio PT, do PMDB, do PSDB e demais agremiações esquerdistas e seus sequazes. Ao que tudo indica a reportagem de capa de Veja servirá mais para conceder notoriedade à proposta de delação de Palocci tendo e mira sua homologação pelo Ministério Público, embora a lei puna com a proscrição o partido político que receber dinheiro de fontes estrangeiras. Vamos então fazer o derradeiro teste para ver se as ditas "instituições" estão realmente funcionando...
TRAFICÂNCIAS: Fernando Pimentel recebeu propina para defender interesses de empresas (Crédito: ISTOÉ/Beto Barata)
A reportagem bomba de ISTOÉ, assinada pelo jornalista Ary Filgueira, que transcrevo como segue, é mais um petardo contra não apenas o petismo mineiro, mas o partido inteiro, já avariado desde que a Operação Lava Jato puxou o fio da meada do petrolão. Leiam: O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, está com o olhar voltado para 2018, quando pretende disputar a reeleição. Antes disso, porém, terá de prestar contas à Justiça por seus atos no governo Dilma Rousseff. Pimentel já é réu em três ações da Operação Acrônimo e pode ser alvo de um novo processo. Relatório da Polícia Federal concluído em setembro aponta o petista como chefe de uma organização criminosa. No documento, a PF afirma que ele recebeu propina para defender interesses de empresas no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O cerco a Pimentel se fechou após o indiciamento de oito pessoas ligadas a ele. Entre elas, a própria primeira-dama de Minas, Carolina de Oliveira. A mulher de Pimentel vai responder por corrupção passiva. Além de Carolina, foi indiciado pelo mesmo crime o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, apontado como parceiro do atual governador de Minas nas maracutaias que lesaram o banco. Como Pimentel tem foro privilegiado, a PF pediu autorização ao Superior Tribunal de Justiça para indiciá-lo. Mas o STJ ainda não se pronunciou.
As denúncias da PF contra Pimentel e os demais acusados remetem ao período entre 2011 e 2014, quando ele foi titular do Ministério do Desenvolvimento. De acordo com as investigações, à frente daquela pasta, o atual governador recebia propina para exercer tráfico de influência no ministério e no BNDES. Uma das empresas favorecidas pela atuação criminosa de Pimentel foi o Grupo Casino. Em 2011, o Casino conseguiu barrar a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour graças a atuação de Pimentel e Luciano Coutinho.
Uma forma de prejudicar o negócio entre as duas empresas foi impedir que o BNDES concedesse apoio financeiro ao empresário Abílio Diniz. Para dificultar a liberação do empréstimo, o então presidente do BNDES concordou em inserir de última hora uma cláusula condicionante de ausência de litígio. Ou seja, o Pão de Açúcar não poderia ter qualquer disputa judicial com os franceses do Grupo Casino para se habilitar ao crédito que permitiria a fusão com o Carrefour. Assim, o negócio não foi adiante.
INTERMEDIÁRIA: Dinheiro era repassado por meio de Carolina de Oliveira, mulher de Pimentel (Crédito: ISTOÉ/Luiz Costa)
PARCERIA SUSPEITA
No relatório enviado ao STJ, os investigadores da PF afirmaram que “todos os indícios apontam que Fernando Pimentel, utilizando-se do seu cargo, foi auxiliado por Luciano Coutinho com o escopo de atender à solicitação feita pelo ministro, para viabilizar a inserção da cláusula condicionante no pedido de Abílio Diniz”.
Em contrapartida, o Grupo Casino efetuou pagamento para a empresa do jornalista Mário Rosa, a MR Consultoria. Também indiciado pela PF, Rosa, por sua vez, cedeu 40% (R$ 2,8 milhões) dos valores à mulher de Pimentel, Carolina de Oliveira. O dinheiro foi transferido para a empresa de Carolina, a OLI Comunicação. Mas não há registro de que a empresa da primeira-dama tenha realizado qualquer tipo de serviço para a MR Consultoria.
O relatório da PF também identificou doações de campanha por fora dos lançamento oficiais. Pimentel teria recebido R$ 3,2 milhões de sindicatos e de um escritório de advocacia. Os repasses passaram antes por empresas de fachada. Uma delas era do assessor especial de Pimentel, Otílio Prado, dono da OPR Consultoria Imobiliária. A outra é a MOP Consultoria e Assessoria de Marco Antônio, chefe da Casa Civil e Paulo Moura, secretário de governo, ambos da administração de Pimentel.
A gestão de Luciano Coutinho no BNDES é alvo de outra investigação no Tribunal de Contas da União. Auditoria do TCU identificou que, durante o governo Lula , o BNDES, que é subordinado ao Mdic, causou prejuízos aos cofres públicos na compra de ações do Grupo JBS em 2008, pelas quais pagou 20% acima do preço de mercado. O dano ao erário provocado pela operação malsucedida chegou a R$ 303 milhões.
O negócio teve como origem a compra do frigorífico National Beef Packing e da divisão de carnes bovinas da Smithfield Foods, ambos nos Estados Unidos, pela JBS, de Joesley Batista. Para ajudar na aquisição das empresas, o BNDES investiu R$ 2,6 bilhões ao adquirir ações da JBS. O dinheiro virou capital para a operação com as empresas estrangeiras. Entre 2005 e 2014, o banco repassou mais de R$ 10 bilhões para Joesley.
Outro ponto que chama a atenção na operação financeira envolvendo o banco público é o fato de o negócio com as empresas estrangeiras e a JBS ter sido realizado em tempo recorde de um mês. Os pareceres aprovando a negociação foram classificados como precários pelo TCU.
Com tantos desvios apontados pela Polícia Federal e outros órgãos de controle, dificilmente Fernando Pimentel, Carolina de Oliveira e Luciano Coutinho vão escapar ilesos dos processos que respondem. O que tende a matar pela raiz o projeto político do governador de Minas.
O ESQUEMA DE PIMENTEL
O governador Fernando Pimentel é apontado como chefe de uma organização criminosa que usou empresas de fachada para conseguir recursos via caixa dois para a sua campanha ao governo do Estado em 2014. Eis os indiciados pela PF:
Fernando Pimentel Segundo a PF, Fernando Pimentel recebeu R$ 3,2 milhões por meio de empresa de fachada. Um dos pagamentos foi feito pelo Grupo Casino, que contou com o esforço do então ministro para impedir a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour
Carolina de Oliveira Mulher de Pimentel usou sua empresa OLI Comunicação para receber R$ 2 milhões em 2012 do Grupo Casino, mas nunca prestou serviços à empresa francesa
Mr consultoria Um dos repasses feitos à empresa de Carolina foi através da MR Consultoria, empresa de Mário Rosa. O contrato de fachada com a Casino chegou a R$ 8 milhões, segundo a PF
Luciano Coutinho Indiciado por corrupção passiva, o ex-presidente do BNDES inseriu cláusula condicionante de ausência de litígio para dificultar apoio financeiro para a fusão do Pão de Açúcar e Carrefour. (Do site da revista ISTOÉ)
A capa da edição especial de IstoÉ sobre o segundo turno da eleição municipal de Belo Horizonte
A revista semanal IstoÉ, que chegou às bancas neste final de semana, teve uma edição nacional e outra especial para Belo Horizonte, com uma reportagem-bomba revelando que o candidato a prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PHS, não consegue explicar a origem de 2,2 milhões que doou à própria campanha. Segundo IstoÉ, Kalil estaria iludindo o eleitor e se apresentando como um grande gestor, mas suas empresas desprezam os direitos dos trabalhadores e acumulam dívidas milionárias.
Além dos problemas financeiros apontados por IstoÉ, a campanha de Kalil está cercada de muitos mistérios.
É que seu companheiro de chapa, o candidato a vice-prefeito Paulo Lamac é um ex-petista que se bandeou para a Rede de Marina Silva, em razão da implosão do PT em decorrrência das roubalheiras e corrupção reveladas pela Operação Lava Jato, sendo que Lula, o chefão petista, já é réu em três processos.
Por baixo dos panos Alexandre Kalil tem o apoio do PT pelas mãos do governador Fernando Pimentel. O vice na chapa de Kalil, Paulo Lamac, tem como “padrinho” Pimentel, que o lançou na política mineira.
A jogada no PT nessa história é a possibilidade de Lamac, no caso de vitória de Kalil, assumir a Prefeitura. A expectativa petista é que Kalil poderia ser condenado em segunda instância na Justiça Federal em decorrência de processo a que responde por não ter recolhido o INSS dos trabalhadores de suas empresas.
A eleição em Belo Horizonte, segundo o Ibope, estaria muito equilibrada. Houve um inusitado crescimento da campanha de Alexandre Kalil nos últimos dias mas as mais recentes pesquisas sugerem um equilíbrio em nível de virada a favor do tucano João Leite.
Faço a seguir a postagem da primeira parte da reportagem-bomba de IstoÉ que faz estremecer Belo Horizonte, com link ao final para leitura completa. Leiam:
FANTASMAS PETRALHAS EM BH
As mais recentes pesquisas revelam que a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (MG) chega na reta final absolutamente indefinida. Depois de promover uma campanha marcada pela agressividade e pela absoluta falta de compromisso com a verdade, o candidato do PHS, Alexandre Kalil, ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, passou a última semana contabilizando uma enorme perda de votos. De acordo com o Ibope divulgado na quinta-feira 27, ele perdeu dois pontos percentuais das intenções de voto em apenas sete dias. Kalil e o tucano João Leite estão em empate técnico. O primeiro, segundo o Ibope, soma 39% e Leite cresceu para 36%. “É natural que logo depois do primeiro turno houvesse um crescimento da candidatura de Kalil devido ao seu maior tempo de exposição no horário eleitoral nesse segundo turno. Mas, nos últimos dias, o eleitor passou a verificar que o candidato é uma fraude montada por marqueteiros”, analisa o cientista político André Ventura. De fato, na última semana, ficou claro que os fatos desmentem as falas do candidato do PHS. Ele não consegue sequer explicar de onde vêm os recursos destinados à sua campanha e até esconde o fato de receber “clandestinamente” o apoio do PT.
BALANÇA E PODE CAIR
Nos debates do segundo turno, o tucano desafiou Kalil a explicar a origem de R$ 2,2 milhões que ele próprio destinou à sua campanha. Trata-se de uma quantia enorme para o dono de duas empreiteiras que se encontram atoladas em dívidas, até com a Prefeitura de Belo Horizonte, e que colecionam uma série de processos por continuamente desrespeitar os direitos trabalhistas, inclusive tomando recursos dos funcionários e não repassando-os ao FGTS e ao INSS, como denunciaram diversos antigos empregados. Em sua declaração de Imposto de Renda, apresentada à Justiça Eleitoral, Kalil declarou ser dono de um patrimônio avaliado em R$ 2,7 milhões, incluindo sociedade em alguns imóveis, quatro motos Harley Davidson, um Mercedes e um Land Rover. Como poderia, então, alguém que tem um patrimônio de R$ 2,7 milhões doar, em espécie, R$ 2,2 milhões para a campanha? Quando indagado por João Leite, Kalil nada respondeu. Assessores, no entanto, fizeram chegar a jornais e rádios de Belo Horizonte que o candidato do PHS havia vendido um imóvel para obter os recursos declarados no TSE. Na quarta-feira 26, ISTOÉ perguntou a Kalil qual seria a origem dos recursos. No email encaminhado à campanha, a reportagem questiona que imóvel teria sido vendido, qual o valor da venda, o nome do comprador e o cartório em que fora registrada a negociação. Até o fechamento dessa edição, nenhuma resposta havia sido dada. Na quinta-feira, procuradores do TRE de Minas afirmaram à ISTOÉ que, nos próximos dias, independentemente do resultado da eleição, Kalil e o PHS terão que justificar a origem dos R$ 2,2 milhões. “As contas da campanha precisam ser transparentes e o eleitor tem que saber de onde vem o dinheiro gasto pelos candidatos”, disse o procurador. “Ele pode até vencer a eleição, mas se não comprovar a legalidade da campanha corre o risco de não tomar posse”.Continue LENDO AQUI
Os leitores de BÍBLICA ouviram falar de uma nova Bíblia, traduzida apenas por uma pessoa, o prof. Frederico Lourenço, e pediram a minha opinião de caráter técnico sobre esta obra, que trata da palavra de Deus. Faço-o limitando-me apenas ao que se conhece neste momento: a introdução geral ao projeto, o I dos seis volumes prometidos (Os Quatro Evangelhos) e várias entrevistas publicadas.
E faço-o porque o tradutor se referiu ao meu nome no que toca às traduções da Bíblia em Portugal (DN, 18.09.2016,) e fez considerações explícitas sobre a tradução que coordenei para a Difusora Bíblica, em 1998 (O Sol, 01.X.2016). Mas também porque os leitores têm direito a ser esclarecidos, não apenas sobre uma tradução a partir da língua grega, mas sobre a tradução da Bíblia em geral; pois a Bíblia não é um livro qualquer.
Entretanto, apenas me pronuncio acerca de certas confusões destacadas pela linguagem do marketing jornalístico. Dizendo, desde já, que essa linguagem só tem prejudicado a obra e o seu autor, por lhe faltar a informação e a verdade exigidas para falar de um tema como este. Veja-se, por exemplo, o DN, 28.07.2016, onde se diz: «Bíblia dos Setenta, escrita entre os séculos I e VII» — quando a Setenta foi escrita no séc. III a. C.
1. O que é traduzir uma Bíblia?
O conhecido tradutor de obras clássicas gregas decidiu traduzir, sozinho, uma Bíblia. Como se um trabalho destes pudesse ser feito por uma só pessoa. De facto, como ele próprio esclarece, houve traduções feitas por um único tradutor: J. Ferreira Annes d’Almeida, o Padre António Pereira de Figueiredo e, já no séc. XX, o padre Mattos Soares.
Os dois últimos, católicos, traduziram da Vulgata latina usada nessa altura, e não é qualquer pessoa da nossa praça que tem capacidade para contestar essas traduções. Elas têm os seus defeitos, mas também as suas virtudes; mas têm, sobretudo, um defeito fundamental: são obras de um único tradutor. Quanto a João Ferreira d’Almeida, é incorreto afirmar que ele traduziu a Bíblia a partir do hebraico e do grego. Isso, não só não está provado como é altamente duvidoso, sobretudo no que diz respeito ao hebraico.
Traduzir uma Bíblia é vencer a enorme distância entre a língua e cultura cristalizadas num texto-origem e a língua e cultura atual, no caso presente. Trata-se de um processo de transculturação, que tem as suas complicações. Cada livro da Bíblia é diferente dos outros, porque nasceu numa época culturalmente diferente, com o seu Sitz im Leben próprio; e tem, por isso, o seu vocabulário próprio técnico. Além disso, mesmo o Novo Testamento possui um substrato inegavelmente semita. Duvido que Lourenço, ao desconhecer o hebraico, tenha competência para entrar em todos esses meandros.
Portanto, traduzir todos e cada um dos livros de toda a Bíblia é tarefa demasiado complicada apenas para uma só pessoa, por mais conhecimentos que ela tenha da língua grega. Isso aconteceu no passado, é verdade; mas, hoje, tal tarefa é impensável. A não ser que se faça uma tradução preocupada, apenas, com os valores culturais do texto bíblico, isto é, traduzi-lo simplesmente como um texto comum, neutro.
Assim, esta é uma tradução possível e até culturalmente louvável, quando ficar no seu território próprio, sem invadir o terreno alheio; coisa que Frederico Lourenço, como salientam alguns destaques das suas entrevistas na imprensa escrita, por vezes parece não fazer nem aceitar.
2. Uma “Bíblia cristã” ou uma “Bíblia neutra”?
Por estas razões, a tradução em causa não poderá ter o valor de uma Bíblia cristã propriamente dita, pois esta é, essencialmente, o livro da fé de um povo, dirigido a um povo de fé. E a fé utiliza um vocabulário próprio, como qualquer ciência tem o seu. Portanto, na Bíblia, como em qualquer tradução científica, temos que utilizar, na língua de chegada (neste caso, o português), uma linguagem equivalente à do texto de origem. Até porque, possivelmente, o ilustre tradutor desconhece tal linguagem, pois se confessa de formação católica, mas “não praticante, há uns anos” (DN, 18.09.16). E também não consta que tenha formação superior em Teologia ou em Ciências Bíblicas.
Por esse motivo, poderíamos chamar à tradução do Professor Frederico Lourenço uma tradução cultural da Bíblia. De facto, como ele próprio afirma, esta será uma “Bíblia neutra”. Damos-lhe os parabéns pela honestidade, pois ele diz que não quis traduzir uma Bíblia propriamente cristã, porque esta tem uma linguagem própria; diríamos, “interessada”… em transmitir e fortificar a fé dos leitores / ouvintes, sem ser infiel à filologia; mas numa tradução da Bíblia, não basta ter em conta a filologia, o valor denotativo das palavras; também é necessário ter em conta a semântica, o género literário, as conotações, a simbologia e, sobretudo, as palavras da linguagem cristã, usadas através dos séculos para transmitir as verdades da fé. Assim, por exemplo, foi a linguagem da Vulgata (traduzida ou não) que configurou o vocabulário da teologia, da liturgia, da cultura da Europa cristã, em geral. E a Europa não perdeu nada com isso; pelo contrário, foi uma luz para muitas civilizações. Na liturgia, por exemplo, não se lê a palavra de Deus por uma Bíblia “neutra”.
Portanto, um bom tradutor da Bíblia, como livro de fé de um povo, não pode prescindir desse contexto de fé, que é o da Bíblia.
3. Que Bíblia devem ler os cristãos?
Pelo que foi referido, não estamos de pleno acordo quando o autor afirma que “os católicos têm tanto a ganhar em conhecer a fundo o Novo Testamento. Regressar à origem, à fonte…” (ib., p. 39). Dá a impressão que ainda não houve tradutores “a fundo”… Será que os tradutores da Bíblia, ao longo de 20 séculos, não tinham descoberto o Novo Testamento “a fundo”. Até hoje, não houve uma verdadeira tradução da Bíblia em geral e do Pai-nosso em particular? Dizer que, durante mais de 1500 anos, andámos a rezar o Pai-nosso mal traduzido em Portugal é, no mínimo, deselegante. Estamos perante um vocabulário, por vezes, polissémico, ao qual os cristãos de todas as épocas atribuíram determinado sentido. E que motivos temos nós para os reprovar? Será que a generalidade dos tradutores cristãos, até hoje, não sabia grego?
Também é de pasmar que o tradutor diga que encontrou o verdadeiro sentido das Cartas de S. Paulo, ao afirmar: “Às vezes pasmo com as traduções de S. Paulo, que se fazem por esse mundo fora e que dão uma imagem totalmente distorcida do texto do Apóstolo” (ib., p. 39). É caso para perguntar, uma vez mais: só agora, depois de 20 séculos, em tantas línguas europeias, apareceu, precisamente em Portugal, o verdadeiro tradutor de S. Paulo?
Por isso, afirmar que o “distanciamento” em relação ao cristianismo dá mais liberdade de tradução, dá mais liberdade ao tradutor, pode ser verdade, mas também pode significar falta de “rigor bíblico” e, portanto, “científico” na tradução. É dentro do cristianismo que melhor se compreende o sentido profundo da linguagem da Bíblia; pois não basta traduzir as palavras da Bíblia, mas sentir-lhe o perfume cristão, o perfume que elas foram ganhando ao longo dos séculos, ao passarem pela vida de milhares de milhões de cristãos, no povo de Deus, que foi sempre acompanhado pelo Espírito de Jesus. Isso, sim, é fazer uma tradução cristã, “rigorosa”, da Bíblia. Como disse o Concílio Vaticano II: “A Bíblia deve ser lida com o mesmo espírito com que foi escrita” (Dei Verbum, 12). E se lida, também traduzida.
É igualmente digno de admiração que o tradutor de Coimbra julgue estar a fazer a verdadeira tradução do Novo Testamento, quando afirma: “Porque é que os leitores de língua portuguesa não hão de ter a oportunidade de se confrontarem com o texto real do Novo Testamento? Penso que é o momento de o fazerem” (ib., 39). Isto equivale a dizer que nenhuma tradução portuguesa apresenta o tal “texto real” do Novo Testamento. Ou seja, todos os outros tradutores portugueses do Novo Testamento, até hoje, não apresentaram o tal “texto real”…
4. Alguns conceitos confusos
Lamentar que a versão grega do Antigo Testamento tenha ficado esquecida (ib., p. 39) não retira mérito às traduções que foram feitas a partir da mesma: a Vetus Latina, a Vulgata e tantíssimas outras. É que a Igreja teve sempre um feeling tradutor que a levava ao texto original da Bíblia, que era, e é, o da Bíblia Hebraica e não a Setenta, a não ser nos deuterocanónicos e apócrifos, que são assim chamados por não estarem na Bíblia Hebraica. Portanto, dir-se-ia que a Igreja procedeu bem ao não traduzir a Bíblia dos Setenta, que é já uma tradução, mas foi traduzir dos originais hebraicos existentes.
Dizer igualmente que os judeus aceitaram bem a Bíblia grega, é só meia verdade, pois aconteceu precisamente o contrário, com os judeus da Palestina/Israel: já na época cristã, “inventaram” outras traduções gregas do Antigo Testamento, a fim de desacreditarem a Setenta e os cristãos que a usavam. E isto, por motivos teológicos importantes. Deste modo, apareceram outras traduções gregas dos judeus: a de Áquila, a de Símaco e a de Teodocion. Cabe perguntar aqui: De que Bíblia grega vai ser traduzido o Antigo
Testamento de Frederico Lourenço? Da Setenta ou destas Bíblias gregas do Antigo Testamento? De facto, dizer Bíblia grega, sem mais, é pouco rigoroso.
Neste sentido, não se pode afirmar com tanta convicção que esta tradução da Bíblia é para “leitores de todas as proveniências e convicções” (DN, 18.09.2016).
Em resumo
Ninguém contesta a capacidade do tradutor da língua grega para a língua portuguesa. Pelo contrário, é digno dos melhores elogios, por se meter em tamanha tarefa. Mas pode fazer-se alguns reparos à tradução de uma Bíblia. E porquê? Precisamente porque, como acima se diz, a Bíblia, grega ou hebraica, não é um livro clássico, como outro qualquer. Tem um vocabulário “técnico” próprio, tem a linguagem da fé, situa-se num contexto de fé, pois, como livro de fé, nasceu e cresceu num povo de fé e foi escrita precisamente para transmitir os valores da fé desse povo. Tudo isto porque a Bíblia não é uma obra literária escrita para manifestar apenas os valores literários, estéticos; pois ela é um conjunto de documentos que manifestam as vicissitudes e o conteúdo da fé de um povo e dos seus respetivos valores. É esta compreensão global do texto bíblico que deve funcionar também como critério de tradução.
Enfim, falar da Bíblia não é nada fácil. Traduzi-la ainda é mais difícil. E falar da Bíblia grega dos Setenta também não é para iniciados. É pena que, em alguns textos de apresentação da obra, apareçam algumas imprecisões e meias verdades, que não favorecem a preciosa e importante obra do Professor Frederico Lourenço, a quem endereçamos daqui os nossos parabéns e as nossas saudações bíblicas.
Franciscano capuchinho, professor de Sagrada Escritura na Universidade Católica do Porto, coordenador da nova tradução da Bíblia da Difusora Bíblica (1992-1998), realizou a sua tese de doutoramento sobre “A Bíblia de João Ferreira Annes d’Almeida”
O texto que segue abaixo é parte da reportagem-bomba da revista IstoÉ que chega às bancas neste sábado. Revela em detalhes a trajetória de um integrante do dito 'núcleo duro' do PT: Antonio Palocci, que ficou mais conhecido com o denominado escândalo Francenildo, o caseiro de uma casa misteriosa que também ficou conhecida como a "mansão dos prazeres", em Brasília, locus onde grandalhões (hoje nanicos) do PT armavam os esquemas que pretendiam eternizar o partido vermelho no poder. O caseiro Francenildo abriu o bico e a casa caiu. Palocci caiu também e passou a agir nas sombras. Sombras escuras sobre as quais a Operação Lava Jato lançou um facho de luz devastador.
A reportagem de IstoÉ faz um inventário do que se sabe até agora. Segue a parte inicial da reportagem com link ao final para leitura completa. Leiam:
Preso na última segunda-feira 26, Antonio Palocci atravessou a recepção da Superintendência da Polícia Federal do Paraná meio sorumbático. Cabisbaixo, mal conseguiu reparar no quadro que adorna a entrada da carceragem em Curitiba com a imagem de uma onça agressiva – “a fera”, como costumam dizer os agentes penitenciários. Seu semblante abatido em nada lembrava o impávido ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma, protagonista do Petrolão, responsável por gerenciar negociatas que renderam cifras extraordinárias ao PT. Tampouco fazia jus ao physique du rôle do consultor milionário investigado pelo Ministério Público Federal. Pela primeira vez, em muitos anos, Palocci estava mais para Antonio, o médico sanitarista boa praça de Ribeirão Preto que debutou para a política em 1981 vendendo estrelinha do PT. De lá para cá, realmente, muita coisa mudou em sua vida. Preso pela Lava Jato, o petista é o retrato mais bem acabado do político que enriqueceu no poder – e graças ao poder.
Embarcando para a cadeia: Palocci sobe a escada de acesso à aeronave da Polícia Federal que o transportou à carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
O 'MODUS OPERANDI' DO PT
No início dos anos 2000, antes de se eleger deputado, Palocci tinha um patrimônio que somava R$ 295 mil. Sua conta-corrente no Banco do Brasil apresentava um saldo de R$ 2.300. No Banespa, seus depósitos somavam R$ 148. A ascensão patrimonial foi colossal. Na última semana, o juiz Sérgio Moro bloqueou das contas pessoais – físicas e jurídicas – do petista um total de R$ 30,8 milhões. Entre os bens adquiridos por Palocci nos últimos anos figuram um apartamento nos Jardins, área nobre de São Paulo, avaliado em R$ 13 milhões e um escritório na mesma região, que hoje vale pelo menos R$ 2 milhões. A movimentação bancária do ex-ministro entre 2010 e 2015, a qual ISTOÉ teve acesso, revela números ainda mais exuberantes. Neste período, R$ 216,2 milhões passaram pelas contas de Palocci e de sua empresa de consultoria, a Projeto. Os serviços contratados, acreditam os procuradores, iam além dos conselhos. Muitas vezes, os serviços de consultoria propriamente ditos nem eram prestados. Traduziam-se em lobby. Em português claro: tráfico de influência em favor de grandes empresas junto aos governos petistas.
O enriquecimento e os valores movimentados pela firma de consultoria de Palocci acenderam o sinal de alerta entre os investigadores. Fundada em 2006, a Projeto recebeu R$ 52,8 milhões entre junho de 2011 e abril de 2015. Só em 2010, quando Palocci coordenava a campanha de Dilma, o ex-ministro teve ganhos de R$ 12 milhões. É um faturamento infinitamente maior do que o de prestigiadas assessorias de negócios do País. Conforme ISTOÉ adiantou com exclusividade em seu site, na última semana, duas novas investigações a respeito da evolução patrimonial foram abertas pala Procuradoria da República do Distrito Federal. As autoridades possuem fortes indícios de que os serviços oficialmente contratados pela Caoa e pelo Grupo Pão de Açúcar não foram prestados.
CONLUIO EMPRESARIAL
A primeira das apurações mira em valores recebidos do Grupo Pão de Açúcar. Ao todo, a firma de Palocci amealhou R$ 5,5 milhões do conglomerado varejista. O dinheiro era repassado pelo ex-ministro da Justiça falecido Márcio Thomaz Bastos. Chama a atenção o fato de os depósitos terem começado logo após Palocci ser anunciado ministro da Casa Civil da ex-presidente Dilma. O que por si só configuraria um conflito de interesses. As irregularidades se acumulam. Sequer há um contrato formal entre as partes. O próprio Grupo Pão de Açúcar reconheceu, depois de uma auditoria interna sob nova administração, não ter identificado qualquer serviço prestado pela Projeto. Na prática, acreditam os procuradores, a verdadeira razão dos pagamentos não podia ser registrada em papel: propina para Palocci defender os interesses da empresa.
A segunda apuração do MPF contra Palocci esquadrinha as suas relações com o grupo Caoa. A empresa automobilística aparece como a segunda principal cliente da Projeto. Pagou R$ 10 milhões à firma do petista. Uma parte dos depósitos ocorreu durante a primeira campanha de Dilma. Seria, de acordo com o contrato selado, para Palocci identificar e auxiliar em negócios na China. Não é o que acreditam os investigadores. “Aventou-se que o presente contrato destinar-se-ia, em verdade, a acobertar a prática do crime de tráfico de influência, ocorrido no processo de edição de medidas provisórias que, ao concederem benefícios fiscais à indústria automobilística, favoreceram sobremaneira a Hyundai-Caoa”, afirmou o procurador Frederico Paiva em despacho. A medida provisória, de fato, atendeu aos interesses da Caoa ao prorrogar as vantagens tributárias para montadoras instaladas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O grupo comanda uma fábrica da Hyundai em Anápolis (GO). Por contratar “consultorias” similares, a Caoa se tornou alvo das operações Zelotes e Acrônimo. Em uma delas, há suspeitas de que teria pago R$ 10 milhões a Fernando Pimentel, então ministro da Indústria e Comércio de Dilma. Em troca, teria recebido benefícios fiscais. Clique AQUI para ler a reportagem completa e ver infográficos