Com o trio MSN em campo pela primeira vez desde a final da última Liga dos Campeões, o Barcelona derrotou a Roma por 3 a 0, no Camp Nou, nesta quarta-feira, e levou o troféu Joan Gamper. A equipe catalã volta a campo na próxima terça-feira, em Tbilisi, na Geórgia, contra o Sevilla, em jogo válido pela Supercopa Europeia.
O melhor prêmio que a Olimpíada no Rio poderá proporcionar aos atletas brasileiros será o milagre de que nesse momento o Brasil volte a estar unido em um mesmo projeto
O Brasil perdeu a Copa em 2014. E perdeu-a mal. Aquela derrota deixou feridas, e desde então uma sombra se abateu sobre a magia do futebol brasileiro, que deixou de emocionar o mundo.
Será a Olimpíada do Rio, a ser aberta daqui a 12 meses, a revanche daquela derrota?
A Copa foi um fracasso futebolístico e político porque o torneio organizado no país pentacampeão acabou sendo envolvido em suspeitas de corrupção, e sua abertura foi maculada pelas vaias à presidenta Dilma Rousseff e pelas manifestações populares de protesto. E por aquele fatídico 7 x 1, que entrou para a história como se Deus tivesse deixado de ser brasileiro.
Desde então, o clima político se agravou. A crise se agigantou, e o consenso em torno da presidenta Dilma encolheu. Entretanto, desta vez não se nota um movimento popular contra a Olimpíada, um acontecimento de igual ou maior envergadura esportiva que a Copa do Mundo de futebol.
É como se os brasileiros quisessem fazer do sucesso dos Jogos Olímpicos um contraponto à derrota da Copa, de modo a lhes devolver o orgulho esportivo perdido. Mas será que os preparativos para a Olimpíada estão à altura da sua importância, ou já revelam lacunas graves, como as da poluição das águas onde as regatas serão disputadas, que já foi alvo de denúncias internacionais?
Será que o Brasil e o Rio têm atualmente um clima político e social que permita fazer dos Jogos um fato histórico, que deixe sua marca?
Os Jogos Olímpicos serão no Rio, mas, rivalidades regionais à parte, o Brasil é impensável sem a Cidade Maravilhosa, sem contar que a capital fluminense, meca do turismo internacional, é hoje um mosaico de pessoas de todo o país, um microcosmo brasileiro. É todo o país, portanto, que sedia a Olimpíada. Participarão cerca de 10.000 aletas de aproximadamente 200 países, em mais de 300 eventos.
Os Jogos Olímpicos nasceram na Grécia, há nada menos que 2.791 anos, ou seja, em 776 a.C.. Era na época um acontecimento não só esportivo como também religioso, político e social. Era o maior evento do país, e era dedicado aos deuses.
Nas Olimpíadas modernas, que começaram há 120 anos e foram se tornando cada vez mais cosmopolitas, as cidades que as receberam passaram por uma intensa transformação e modernização. Nenhuma das metrópoles que promoveram Jogos Olímpicos permaneceu igual ao que era antes. Tornaram-se melhores, mais habitáveis e mais belas. Barcelona é um exemplo na Espanha. Será também o Rio?
Para o sucesso da Olimpíada será necessário que, até lá, a crise política tenha sido pelo menos encaminhada
Não sou daqueles que acham que as Olimpíadas estão perdendo seu antigo brilho e que as cidades já não desejam sediá-las. Organizar os Jogos Olímpicos continua sendo o sonho e a inveja das grandes metrópoles. Quando o Rio ganhou, Madri chorou por ter perdido.
O Rio e o Brasil têm a esperança de que seus atletas possam ficar entre os 10 melhores do mundo, dobrando o número de medalhas obtido na última Olimpíada, em Londres. É um desejo legítimo. Entretanto, essas medalhas não são a única coisa importante.
O que contará, no final, será a imagem de país que for transmitida ao mundo. Será preciso demonstrar, além do bom desempenho dos nossos atletas, que Rio depois dos Jogos será uma cidade não só mais bela, mas também mais funcional, mais humana e menos violenta.
Uma cidade menos dividida entre o asfalto e o morro, entre a opulência e a pobreza. Menos rasgada entre aqueles que têm de sobra para viver e os que sofrem porque sua renda continua a mantê-los na escassez material e cultural.
Para o sucesso da Olimpíada será necessário que, até lá, a crise política tenha sido pelo menos encaminhada. É de se desejar que esses Jogos sejam abertos por um Presidente da República que no dia da abertura, que será vista por bilhões de pessoas no mundo todo, possa ser aplaudido ao invés de vaiado, como ocorreu na Copa.
Será necessário que a essa altura já se comece a vislumbrar uma luz no fim do túnel da maltratada economia brasileira, e que os índices negativos de desconfiança dos brasileiros quanto ao seu futuro já tenham baixado.
Os amantes do esporte e os cariocas, cuja hospitalidade e internacionalismo são proverbiais, merecem isso. Assim como esse outro Brasil, o que não sai nos jornais e na televisão, o que trabalha em silêncio, sem fazer barulho, cujas lágrimas são invisíveis para nós. Esse Brasil que sofre em solidão e anonimato e que se sente importante com as vitórias esportivas nacionais.
Merecem isso os habitantes sacrificados e sofridos das comunidades carentes que cercam a Cidade Maravilhosa qual uma dolorosa coroa de espinhos, vítimas quase diárias da violência policial e institucional.
Se, ao contrário, a Olimpíada servisse somente para melhorar a vida dos que desfrutam do asfalto, esquecendo-se, no apagar suas luzes, do outro Rio, isso significaria uma derrota mesmo que se ganhasse mais medalhas do que nunca, e mesmo que o centro da cidade ficasse mais bonito.
A população do Rio certamente terá durante a Olimpíada uma segurança com a qual os cariocas nunca sonharam. Isso ficará a cargo dos milhares de policiais e soldados do Exército. E depois?
Esse será o teste definitivo. O Rio será, a partir da Olimpíada, uma cidade mais segura e integrada? A única medalha que o Rio não deverá ganhar é “a do ranking da violência”, como escreve Joaquim Ferreira dos Santos com amarga ironia em sua coluna do O Globo.
Na antiga Grécia, o atleta vitorioso não ganhava medalhas, a vitória era dedicada ao deus Zeus. O melhor prêmio que a Olimpíada poderá proporcionar aos atletas brasileiros no Rio será o milagre de que nesse momento o Brasil volte a estar unido em um mesmo projeto de esperança e prosperidade.
Será a melhor revanche à derrota esportiva, política e moral da Copa.
Quem sabe a Olimpíada não realiza também o milagre, se é que Deus continua sendo brasileiro, de ressuscitar o futebol, cujo eclipse empobrece e dói em todos nós?
Me parece que há uma mesma raiz tanto para o fenômeno do mensalão quanto para este do chamado “petrolão”, e agora “eletrolão”, e quantos “ãos” venham ainda. Me parece que há uma mesma matriz, é uma forma de governar, é um modelo de governança
GILMAR MENDES, MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Dilma Rousseff se esforça há semanas para atingir dois objetivos estratégicos: não cair e passar a impressão de que comanda. De volta das férias, os deputados que supostamente apoiam o governo apertaram o botão de ‘dane-se’. Sonegaram à presidente até a ilusão de que preside. Menos de 24 horas depois de ouvir um apelo de Dilma para que desarmassem os projetos-bomba, os partidos governistas acenderam um pavio no plenário da Câmara.
Uniram-se à oposição para rejeitar requerimento que retirava da pauta uma proposta que vincula aos contracheques dos ministros do STF os salários de várias categorias: advogados da União, delegados federais e civis, auditores fiscais, procuradores estaduais e de capitais… Uma farra. O pedido que resultaria no adiamento da encrenca foi rejeitado por 278 votos a 179. Se não houver um acordo que restabeleça a racionalidade, a bomba irá a voto nesta quarta-feira.
O mapa da votação do pedido de adiamento, disponível aqui, revela que Dilma foi traída por deputados dos principais partidos ditos governistas. O PDT, legenda que controla o Ministério do Trabalho, ostenta o maior índice de infidelidade: 92,8%. Dos 14 deputados da legenda presentes à sessão 13 disseram “não à retirada da bomba da pauta.
O PSD do ministro Gilberto Kassab (Cidades) vem em segundo no ranking da infidelidade: 75%. Dos 32 deputados da legenda que deram as caras, 24 disseram “não” à retirada da bomba da pauta. O PTB vem a seguir: 69,5% de infidelidade. Dos 23 deputados da legenda presentes em plenário, 16 votaram contra os interesses do Planalto.
O PP, partido enrolado no escândalo do petrolão da portaria à presidência, ostenta um índice de traição de 65,6%. Dos 32 votos que o PP levou ao painel da Câmara, 21 foram contra o governo.
O PMDB do vice-presidente Michel Temer, com 29,5% de traidores, somou 18 silvérios num total de 61 votos. Até no PT houve 6,8% de infidelidade: quatro deserções num total de 58 presentes.
Atônito, o petista José Guimarães (CE), líder do governo, foi ao microfone pronunciar algo muito parecido com uma chantagem. Soou como se insinuasse que os traidores poderiam perder as trincheiras que ocupam na Esplanada. “Temos de exigir fidelidade”, disse ele. “E isso se faz isso no painel de votações. Você acha que é razoável um partido ter um ministro e a bancada votar contra o governo?”
Desde que o governo de Dilma Rousseff começou a deslizar para o caos, o país espera um sinal claro de que ainda há no Planalto uma presidente em condições de presidir. Sinaliza-se, porém, o oposto. Dilma reuniu-se com os governadores para rogar que pressionassem as bancadas de seus respectivos Estados, afastando-as da irresponsabilidade fiscal. Deu em nada.
Dilma serviu um churrasco no Alvorada para os presidentes e líderes de partidos da sua coligação. Encareceu que agissem junto aos seus liderados para evitar ataques ao Tesouro Nacional. Os liderados deram de ombros para os líderes. Pior: os próprios líderes riram de Dilma pelas costas ao celebrar na mesma noite com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um acordo que excluiu o PT do comando das CPIs dos fundos de pensão e do BNDES —ambas por instalar.
Como se fosse pouco, os pseudo-aliados de Dilma ajudaram a aprovar um pedido de urgência para a análise das contas de três ex-presidentes: Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT). As votações devem ocorrer nesta quinta-feira (6). Com isso, abre-se o caminho para a análise da prestação de contas do governo Dilma de 2014.
A escrituração de 2014 encontra-se no TCU, que ameaça rejeitá-la. O parecer do TCU vai ao Legislativo, dono da última palavra sobre a matéria. Confirmando-se a rejeição das contas, abre-se um debate sobre a conveniência de abrir um processo de impeachment contra Dilma.