Local seria utilizado por Geddel para guardar dinheiro em espécieDivulgação/PF
A Polícia Federal encontrou na manhã desta terça-feira (5) um apartamento em Salvador (BA) com milhares de notas de R$ 50 e R$ 100 armazenadas em malas e caixas de papelão. A PF classificou o local como suposto "bunker" de Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Michel Temer, para guardar dinheiro em espécie (veja mais imagens da apreensão).
A descoberta foi feita durante a Operação Tesouro Perdido, decorrente da Operação Cui Bono, deflagrada na manhã de hoje para cumprir mandados de busca e apreensão emitidos pela 10ª Vara Federal de Brasília.
Segundo a PF, após investigações decorrentes das últimas fases da Cui Bono, os agentes chegaram "a um endereço em Salvador (BA) que seria, supostamente, utilizado por Geddel Vieira Lima como “bunker” para armazenar dinheiro em espécie".
"Durante as buscas foi encontrada grande quantia de dinheiro em espécie. Os valores apreendidos serão transportados a um banco onde será contabilizado e depositado em conta judicial", esclareceu a PF em nota.
Presidente do COB é suspeito de receber propina para compra de votosLuciano Belford/Estadão Conteúdo
O presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Carlos Arthur Nuzmann chegou, por volta das 10h, na sede da Polícia Federal, região portuária do Rio. Ele foi intimado à prestar esclarecimentos acerca da operação Unfair, que investiga irregularidades na escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos 2016. De acordo com as investigações, o executivo é suspeito de receber propina de US$ 1,5 milhão para a compra de votos na disputa da cidade sede.
Mais cedo, policiais federais estiveram na casa de Nuzmann no Leblon, zona sul da cidade, para cumprir mandados de busca e apreensão em sua casa. O juiz também determinou o bloqueio de até R$ 1 bilhão nos bens e patrimônios do executivo.
Logo após a chegada de Nuzmann, Eliane Pereira Cavalcante também chegou a sede da PF para prestar depoimento. Ela é ex-sócia de Arthur Soares Filho, dono da empresa Facility. Os dois tiveram a prisão preventiva expedida pela Justiça, mas Arthur Ainda não foi localizado. Ele vive em Miami, nos Estados Unidos, e já é considerado foragido. O empresário está na Difusão Vermelha, a lista de procurados da Interpol.
A operação Unfair Play, Jogo Sujo em português, foi deflagrada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Receita contra “um esquema criminoso envolvendo o pagamento de propina em troca da contratação de empresas terceirizadas por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro”.
Se a suspeita de pagamento de propina para a escolha do Rio como sede das olímpiadas for confirmada, o caso será de "gravidade muito superior ao que tem sido apurado na vasta série de investigações" da Lava Jato no Rio. A análise está no parecer do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelos casos da força-tarefa no Estado.
Jovens negros de favelas são as vítimas mais frequentes da guerra às drogas no Rio de Janeiro, segundo estatísticas. Um grupo quer, agora, inverter essa narrativa e assumir protagonismo no debate para buscar um fim a uma política que, na visão deles, mata, prende e viola direitos - sobretudo dos próprios moradores de favelas.
Com o Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, espraiando-se ao fundo, Sabrina Martina, de 19 anos, a MC Martina, olha para a câmera para transmitir o recado do Movimentos, no vídeo que apresenta o coletivo.
"A guerra contra as drogas significa escolas fechadas, mudança de rotina, preocupação com a nossa família. Em nome dessa guerra, o Estado justifica uma série de violações de direitos contra nós, jovens moradores de favelas.Essa guerra não é nossa", diz a moradora do Alemão.
O Movimentos é um grupo de 15 jovens que começou a se reunir há mais de um ano e lançou neste sábado o primeiro resultado desses encontros - uma cartilha sobre política de drogas que começa com a questão: "Por que jovens de favelas precisam falar sobre drogas?"
"Nós nunca fomos inseridos nesse debate, mas nós vivemos a política de drogas", diz Jéssica Souto, de 24 anos, compositora e videomaker, também do Alemão.
"Quando entrei no projeto, eu não me dava conta de que tudo que a gente vivia - um vizinho morrendo a cada semana, a escola fechada, o medo de sair de casa - é por causa das drogas. Por causa dessas substâncias e de seus efeitos, morre essa cambada de gente. São anos e anos de ações truculentas, tirando vidas, acabando com milhares de famílias", diz ela.
"A gente não conseguia assimilar o quanto a política de drogas afetava as nossas vidas", complementa André Galdino, de 30 anos, do Complexo da Maré. "Nossos encontros e a formulação da cartilha permitiram desenvolver essa consciência."
Tão longe, tão perto
A cartilha vai ser apresentada no Complexo da Maré em um evento que inclui debate, rap e poesia. Haverá vans saindo de diferentes pontos do Rio para incentivar interessados a irem ao evento - simbolizando a dificuldade de fazer a voz das favelas chegar ao asfalto e de transpor a distância entre dois mundos tão próximos e tão díspares na mesma cidade.
A BBC Brasil conversou com parte dos jovens do Movimentos em outro encontro simbólico de mundos: a Escola Parque, na Barra da Tijuca, colégio particular construtivista frequentado por uma elite que almeja uma educação alternativa.
Jéssica, André e Aristênio Gomes, de 24 anos, saíram cedo de suas casas, na Maré e no Alemão, para chegar ao campus arborizado na Barra. Segundo André, o encontro foi "uma troca saudável", interessante para "confrontar realidades", mas com perguntas que expunham a falta de conhecimento sobre a vida nas favelas - desconhecimento que o grupo está lutando para reduzir.
Jéssica emocionou os estudantes ao apresentar uma de suas composições, Aborto Social. A música narra a breve vida de um "famoso pivete", abandonado pelo pai após um aborto malogrado, antes mesmo de nascer. "Nasce outro feto sem afeto nesse mundo complicado", diz a canção, sobre uma criança que logo virará bandido e não chegará à vida adulta.
Drogas sem mitos
O guia apresenta informações sobre quando jovens começam a ser criminalizados e as consequências da guerra às drogas - citando o aumento de 90% no número de pessoas presas no Brasil entre 2005 e 2013, relacionado à Lei de Drogas de 2006.
A cartilha será distribuída entre ativistas, militantes e lideranças de favelas, no Rio e em outras cidades. O objetivo é oferecer subsídios para multiplicar o debate.
"A cartilha é para discutir como a guerra às drogas afeta as favelas e a sociedade como um todo", opina Jéssica. "Um dos pontos centrais é olhar para o usuário pela ótica da saúde. Assim como temos usuários pesados de álcool, e eles não são tratados à mira de um fuzil."
Jéssica diz ter perdido um amigo há dois meses no Alemão, baleado durante uma troca de tiros. Aristênio diz ter perdido a conta de quantas vezes viveu ou presenciou "achaques" da polícia na Maré, ou que teve a casa revistada, inclusive no meio da noite.
"Acordei com os gritos da minha mãe. Saí do quarto correndo e dei de cara com um fuzil no peito", lembra. Os três relatam "quase ter morrido" algumas vezes, e delatam a truculência policial como corriqueira nas favelas cariocas.
Questionada sobre as críticas feitas pelo grupo, a Polícia Militar não atendeu ao pedido de resposta da BBC Brasil.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública ressaltou que o secretário Roberto Sá formou, como uma de suas ações estratégicas, um grupo de trabalho para debater política de drogas. Com a participação de dez instituições - que reúne das polícias Militar e Civil à Uerj e ao Instituto Igarapé -, o grupo se reuniu três vezes desde sua criação neste ano para "estabelecer um diagnóstico sobre a política de drogas e fomentar parcerias para elaborar ações preventivas".
"Criminalizados, estigmatizados"
A crise econômica no Rio e o aumento da criminalidade no Estado levaram o governo federal a enviar, em julho, o Exército para reforçar a segurança.
Mas os confrontos entre facções criminosas ou entre tráfico e polícia têm sido constantes em favelas cariocas. Na quinta-feira, mais de 5 mil alunos ficaram novamente sem aulas, com 17 escolas fechadas devido a confrontos em favelas cariocas. A rede municipal de ensino só teria funcionado de maneira plena durante oito dias neste ano.
Um vídeo lançado pelo governo federal para promover a atuação de militares causou polêmica ao contrapor imagens idílicas de paisagens do Rio à presença de tanques em favelas, dizendo que o Rio está "ferido", mas segue em frente cheio de "vida, alegria e beleza", e resiste, sabendo que a luta "é de todos nós" - exibindo o aparato militar nas comunidades.
"A guerra às drogas criminaliza e cria estigmas sobre quem vive nas periferias", diz André. "Esse recorte racial ocasiona o genocídio da juventude negra e pobre das favelas."
Sem apologia
O Movimentos nasceu em maio do ano passado, quando uma oficina promovida pelo Centro de Estudos e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (Cesec) juntou jovens do Rio, de São Paulo e da Bahia para discutir política de drogas.
A partir de então, os encontros se tornaram regulares, passando a ocorrer cerca de duas vezes por mês em favelas ou no Cesec, n o Centro do Rio, com um intercâmbio constante entre a pesquisa acadêmica e a vivência nas comunidades - palavra que o grupo se nega a usar, preferindo falar sempre em favelas.
"Ninguém está fazendo apologia do uso ou da venda de drogas. O que esses jovens querem é desafiar o senso comum, desafiar ideias preconcebidas em relação à política de drogas e contribuir para mostrar que a atual política de drogas acaba por legitimar a violência da polícia dentro das favelas", diz a socióloga Julita Lemgruber, uma das coordenadoras do Cesec.
Ana Clara Teles, pesquisadora do Cesec, considera que o grupo tem um duplo papel: trazer o debate sobre política de drogas para dentro das favelas, aumentando a conscientização o impacto da guerra às drogas sobre seu dia a dia; e levar a favela para o centro do debate na cidade, que vê a favela como "coadjuvante".
"A academia tende a construir um olhar enviesado sobre política de drogas. Quando se adota a perspectiva da favela, surgem problemas e questões que precisam estar no centro da discussão. A partir daí, podemos chegar a soluções mais pertinentes e justas para a população como um todo", avalia Teles.
Depois de lançar a cartilha, o grupo vai começar a trabalhar em um documento propositivo para política de drogas e planeja para o fim do ano um encontro nacional reunindo jovens de favelas e periferias para ampliar o debate.
Há alguns dias, na apresentação do programa Estúdio I (GloboNews), a jornalista Maria Beltrão entrevistou um casal que decidiu atribuir nome neutro a seu bebê, a quem não tratam como menino ou menina, para que a "identidade sexual" da criatura venha a ser resultado de escolha ou escolhas a fazer no futuro. Durante um bom quarto de hora ambos discorreram sobre o tema, estimulados pela entrevistadora, enquanto esta e demais membros do colegiado opinativo intercalavam expressões de admiração e reverência àquela notável efusão de sabedoria e responsabilidade parental. A ninguém ocorreu perguntar que tipo de escolha pode fazer quem sequer sabe o que é porque não lhe é permitido saber.
Impossível desconhecer a existência, no Ocidente, de uma articulação para impor as teses da ideologia de gênero através, principalmente, da comunicação social e do sistema de ensino, mirando de modo resoluto e implacável a população infantil. A ideologia de gênero já integra o patrimônio vitorioso do "politicamente correto". Quem vê equívoco no que aquela dupla está fazendo com o bebê, acolhe imediatamente os adjetivos homofóbico, sexista, machista e preconceituoso.
No ano passado, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, motivada pela apresentação do projeto de lei da Escola Sem Partido, emitiu uma Nota Técnicasustentando a inconstitucionalidade do projeto. Nela se lê:
“O que se revela, portanto, no PL e no seu documento inspirador é o inconformismo com a vitória das diversas lutas emancipatórias no processo constituinte: com a formatação de uma sociedade que tem que estar aberta a múltiplas visões do mundo; com o fato de a escola ser um lugar estratégico para a emancipação política e para o fim das ideologias sexistas – que condenam a mulher a uma posição naturalmente inferior, racistas – que representam os não-brancos como os selvagens perpétuos, religiosas – que apresentam o mundo como a criação dos deuses, e de tantas outras que pretendem fulminar as versões contrastantes das verdades que pregam”.
A procuradora federal que assina essa nota técnica, Dra. Deborah Duprat, em debate com o Dr. Miguel Nagib, do Escola Sem Partido, afirmou textualmente: "Ademais, essa percepção equivocada de que a criança pertence à família; que a família tem um poder absoluto (!) sobre a criança - isso não é verdade. A constituição diz que a criança é um problema (?) da família, da sociedade e do Estado. A criança recebe educação na família, mas precisa ser preparada para o espaço público". A construção do espaço público tem uma arquitetura bem clara na mente da Dra. Deborah e ela não admite divergência. Quando a lei federal removeu a ideologia de gênero da Base Nacional Curricular Comum, os burocratas do MEC tentaram impô-la às unidades federadas através de ato administrativo. Mas se fazia necessária a aprovação pelas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. E quando os legislativos começaram a derrubar a proposta, a Dra. Deborah voltou à carga requerendo ao PGR Rodrigo Janot que questionasse junto ao STF a constitucionalidade dessas leis locais restritivas.
O que a jornalista Maria Beltrão e seu colegiado opinativo politicamente correto desconhecem, escudados pela Dra. Débora Duprat (que conhece bem) é que a ideologia de gênero serve-se de algumas minorias, para a ruptura marxista da ordem familiar. A ideologia de gênero é, então, meramente instrumental. O roteiro vai adiante com sua substância política, deixando para trás seres humanos cuja identidade - logo ela - vira uma torre de Babel sempre em construção. Não sei o que mais possa ser adulterado, depois disso, para aprofundar a desumanização do humano.
________________________________ * Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.