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sexta-feira, 23 de março de 2018

"Intervenção não é desejável, é inevitável" / Roberto Medina

Intervenção não é desejável, é inevitável 

ROBERTO Medina 

O Globo - 23/03

Em vez de guerra ideológica, precisamos de choque de gestão, sem tempo a perder.
De repente uma execução bárbara, e Marielle torna-se símbolo de qualquer rótulo que se queira pregar nela, em seu louvor ou seu apedrejamento. Enquanto viva, defendendo causas, exigindo ações, acertando aqui, errando ali, não me lembro de ter lido qualquer texto abordando sua luta, e a importância desta luta para o Rio encurralado. Nunca deparei nas redes sociais com alguém que a defendesse ou a atacasse. E, no entanto, não importa nas mãos de quem, as armas que a mataram há muito já disparavam contra cada carioca.

Estamos vivendo um momento trágico, em que o nosso estado agoniza e precisa de união de todos, acima das divergências, em defesa da causa maior. Marielles, Marias, Andersons, Antônios, universitários, operários. Marielles e Marias que temem levar filhos à escola ou ao parquinho, Andersons e Antônios que recebem seus salários atrasados e não têm outra fonte para sustentar suas famílias, Marielles brancas, negras, morenas, sem oportunidades pelo que não aprenderam na escola, Marielles com alta escolaridade e assim mesmo desempregadas pela estagnação econômica.

Quando fui sequestrado, decidi que, se saísse daquilo com vida, iria fazer o que pudesse por um Rio mais seguro e mais feliz. Libertado, me uni ao Movimento Viva Rio e promovemos um evento pela paz que reuniu 400 mil pessoas vestidas de branco e de emoção. Era um começo. Foi ali que entrou em minha história uma das pessoas mais admiráveis que já encontrei: o sociólogo Betinho. E ele me disse: “Roberto, passamos tempo demais sem nos conhecer”. Daí para frente, nossa cidade foi a nossa ponte.

Em vez de guerra ideológica, precisamos de um choque de gestão, sem tempo a perder. Não há bala de esquerda ou de direita. O direito de ir e vir foi usurpado por bandos de ladrões e assassinos. A população não pede favor para ser socorrida — exige! Não há um plano B para a intervenção federal na segurança pública. Não há dinheiro, competência administrativa ou liderança para substituí-la. Ela tem que ficar pelo tempo necessário para que as polícias recuperem sua capacidade de proteger a vida do cidadão. E é imperativo que receba todo o apoio do governo federal, do governo estadual e das vítimas em potencial, que chamamos de sociedade.

Teremos neste ano a oportunidade de escolher nossos representantes no poderes do estado e da República. Aproveitemos, com lucidez cidadã e sem desperdício do voto, esta oportunidade de nos reinventar. Acima de qualquer radicalismo, os valores que devem prevalecer na escolha são a capacidade de gestão e a honestidade, a criatividade e a coragem, a determinação e o bom senso.

Vamos olhar com lupa os candidatos, antes de decidir a quem delegaremos nosso poder de mudar. Vamos abrir espaço para ouvir o que as Marielles e Andersons de todas as classes e todos os lugares têm a dizer e a cobrar, antes que seja tarde demais. Vamos eleger um novo amanhã para nosso estado, com a firmeza da razão e a energia da esperança.

Frase / Editorial do Estadão


Bate-boca entre ministros do STF prestou-se a simbolizar a degradação de um Poder que hoje é fonte e motor de grande parte das crises que infelicitam o País

"STF, uma visão do Inferno" / Percival Puggina


STF, UMA VISÃO DO INFERNO

Imagem relacionada

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

 Não, três vezes não! Eles não farão um Brasil à sua hedionda imagem e semelhança.
Nesta noite de 22 de março, enquanto escrevo, sinto o coração apertado. Sei que, neste momento, os ratos se regozijam nos porões do submundo e os grandes abutres festejam nas iluminadas coberturas do poder. Aos olhos escandalizados da nação, o STF testemunhou contra si mesmo. Falou aos trancos com o “humanitário” Gilmar Mendes. Soprou vaidade e ironia matreira com Marco Aurélio Mello. Tartamudeou e olhou assustado com Rosa Weber. Perdeu resquícios de pudor militante e se fantasiou de amor ao próximo com Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Deu razão a Saulo Ramos com os floreios monocórdios de Celso de Mello.
Enquanto confessavam suas culpas e exaltavam a impunidade, viralizava o crime, a corrupção e o pandemônio moral. Suas palavras nos aprisionavam ainda mais, corroendo esperanças que juízes de verdade haviam plantado em nossas almas. Acabamos o dia numa cidadania vã, sugados feito bagaço, desprovidos de qualquer poder e capturados pelo mecanismo que nos tomou como servos submissos, pagadores das contas que não cessam de nos impor. Ironicamente, queriam convencer-nos de que era tudo para o nosso bem e que impunidade também pode ser chamada – vejam o sacrilégio! – de liberdade. Ora, isso é tão ridículo que não prosperará!
Reconheço. Assim como, em Cuba, tive medo do Estado, esta tarde tive medo aqui. Medo de também nos tomarem a esperança. Senti a dormência de sua perda e me lembrei das palavras lidas por Dante no sinistro portal do Inferno: “Por mim se vai a cidade dolente; por mim se vai a eterna dor; por mim se vai a perdida gente...”. E, ao fim do verso, a sentença terrível que, há sete séculos, ecoa com letras escuras nas horas sombrias: “Lasciate ogni speranza voi ch’entrate” (Deixai toda esperança, vós que entrais).
Não exagero, leitor amigo. Ali estava, mesmo, o portal do Averno, do Inframundo. Cinco dos sete pecados capitais eram encenados por uma tribo de togas. Os dardos da ira cruzavam o salão como tiroteio na favela. A soberba se refestelava na própria voz. Ah, o poder sem freios! A inveja se esbaforia entre duas malquerenças: a do brilho e a da altivez. A preguiça, sim ela, fez parar a sessão às 18 horas; ela mesma admitiu as férias pascais. A avareza fremia de cupidez, olhos postos nos bilhões em honorários que se derramarão para a imediata soltura de milhares de criminosos endinheirados, já cumprindo pena de prisão por condenação em segunda instância. São sentenciados cujas condenações extinguiram completamente a presunção de inocência, mas em relação às quais não se completou – e talvez não se complete jamais – o rito do trânsito em julgado. Ao menos enquanto houver talão de cheques com fundos suficientes para puxar os cordéis da impunidade.
Todavia, não! Este é o país de Bonifácio, de Pedro II, de Nabuco, de Caxias! Esse STF fala por si e haverá de passar! Os corruptos não nos convencem nem nos vencem. Trouxeram-nos às portas do Inferno. Exibiram-nos o portal de Dante. Que entrem sozinhos. Perseveraremos.
______________________________
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

  

quinta-feira, 22 de março de 2018

"Um terremoto, um marquês e uma nação de concurseiros" ? dr Tony Carvalho

https://www.blogbrainstorm.com/single-post/2017/10/23/Um-terremoto-um-marqu%C3%AAs-e-uma-na%C3%A7%C3%A3o-de-concurseiros

Um terremoto, um marquês e uma nação de concurseiros

October 23, 2017
Lisboa, primeiro de novembro de 1755.
Um terremoto seguido de um maremoto destruiu grande parte da cidade. Milhares de vítimas fatais se amontoaram pelas ruas e, desejoso da reconstrução de sua capital, o rei de Portugal Dom José I confia em Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, como o renovador da cidade.
A reconstrução andou a passos largos, mas a maior parte do ouro para pagar essa reforma vinha da capitania brasileira mais rentável da época: Minas Gerais. Portugal apertava a colônia o máximo que podia, porém, mesmo aumentando impostos, o rei não obtinha recursos suficientes para alcançar seus objetivos de renovar Lisboa.
Após Dom José I ser baleado enquanto retornava ao palácio, o Marquês de Pombal encontra uma solução para os problemas financeiros da corte. Ele convence o enfraquecido monarca de que uma conspiração arquitetada por padres jesuítas e nobres tramava a sua morte e uma espécie de inquisição é instaurada no país. Em menos de um mês, mais de mil pessoas são presas e torturadas, onze nobres são assassinados e se deu o fim da Companhia de Jesus nos domínios de Portugal, incluindo no Brasil. Os bens da ordem são confiscados e, como resultado, Pombal coloca as mãos no capital necessário para os interesses do Estado.
O resultado desta ação em meados dos anos de 1760 seriam sentidos por mais de dois séculos na vida das sociedades portuguesa e brasileira. Isso porque os jesuítas haviam chegado ao Brasil em 1549 e, em menos de 50 anos, escolas foram fundadas pelos religiosos e podiam ser encontradas do litoral de Santa Catarina ao Ceará. Além disso, na época da perseguição que expulsou os jesuítas dos domínios portugueses, 670 escolas de nível básico e superior já haviam sido construídas no Brasil que ensinavam Medicina, Geometria, etc. Porém, as mesmas tiveram que fechar as portas após o ocorrido, o que também levou à estagnação de regiões inteiras da colônia. Este foi o primeiro colapso educacional que o Brasil sofreu em sua história.

Este foi o primeiro colapso educacional que o Brasil enfrentou em sua história.

Em Portugal, Pombal ganhou força e iniciou um processo de estatização de várias dimensões da vida civil tanto naquele país como nos domínios da coroa. Iniciou-se assim o processo de estatização do ensino e, consequentemente, um processo de formação de cidadãos para o Estado incentivado por doutrinações ideológicas. Uma mistura fatal!
Dom Duarte, descendente da Família Real portuguesa e nosso contemporâneo, concorda que os resultados desse processo foram catastróficos para o Brasil. Segundo ele, o impacto da expulsão dos jesuítas foi tão profundo no nosso país que se a Companhia de Jesus tivesse mantido sua influência no desenvolvimento do Brasil poderíamos ter ultrapassado os Estados Unidos da América sem dúvida alguma.
A verdade por trás dos interesses do Marquês de Pombal é bem parecida com a nossa história atual. O então ministro se tornou o senhor absoluto de Portugal e passou a concentrar riqueza nas mãos de seus aliados, aplicando-lhes privilégios fiscais e auxílio estatal para esmagar seus concorrentes. Além disso, Pombal proibiu diversas atividades econômicas no Brasil, mudou nossa capital de Salvador para o Rio de Janeiro e estatizou a educação em um país que não tinha professores.
Resultado: indicações de amigos do rei, leia-se do Marquês de Pombal, conquistaram seus cargos como professores e temos, desde então, a instauração de uma política corporativista nas instituições de ensino do Brasil.
A moda de hoje que nos difere daquela do século XVIII é a aplicação de concursos públicos para admissão de profissionais tanto no ensino quanto em diversas áreas do funcionalismo público. Contudo, é exageradamente evidente a palhaçada! Quantos concursos “de mentirinha” são feitos pelo Brasil? Milhares! Todos os anos uma enxurrada de denúncias chegam no Ministério Público e são veiculados na mídia. Veja esteeste e este exemplos. Eu mesmo já passei por isso e não conheço  um acadêmico que não saiba de pelo menos uma pessoa que já se deu mal ou que que se deu bem por conta de apadrinhamento. Temos corrupção de forma generalizada nas corporações públicas e apadrinhamentos fazem parte de uma triste regra no nosso querido Brasil. Uma derrota muito profunda no coração e na alma daqueles que lutaram e dos que ainda lutam tão bravamente pela liberdade ideológica e pela diminuição da influência do Estado na vida dos cidadãos de nosso país.

A moda de hoje que nos difere daquela do século XVIII é a aplicação de concursos públicos para admissão de profissionais tanto no ensino quanto em diversas áreas do funcionalismo público. Contudo, é exageradamente evidente a palhaçada!

Tendo isso como base, não vejo muito futuro para as instituições públicas que estão tomadas pela corrupção. Uma reforma urge para ser concretizada há mais de dois séculos e não tardará até que a consciência da nossa brava e rica história seja conhecida pelos brasileiros. Como disse Pedro Calmon, “nenhum povo tem a consciência do seu destino e a certeza do seu valor, se ignora o seu passado, ou, o que é mais funesto ainda, se não o entende”. Portanto, avise ao seu professor que não pensa em ensiná-lo sobre os caminhos de uma vida empresarial que o tempo dos concursos públicos está passando e que você precisa se adequar a um novo Brasil. Se ele não entende nada disso, avise-o que ele precisará aprender também. O Brasil precisará de líderes proativos e de empresários comprometidos com o desenvolvimento científico, intelectual e tecnológico do país.

E aí? Nos vemos no nosso novo Brasil?

P.s.: Este é um texto de desabafo que eu vinha querendo publicar há algum tempo. A partir da próxima postagem entraremos em um roteiro progressista para levar ideias e oportunidades para você iniciar ou expandir o seu negócio, bem como para fortalecer o seu espírito empreendedor. Por favor, deixe um comentário no blog para que possamos avaliar se o conteúdo está sendo útil para você e se estamos no caminho certo. Só assim poderemos melhorar e avançar no nosso projeto. Ah, e não esquece de mandar o texto para aquele amigo que você julga se identificar com o que estamos falando ;)

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P.s.s.s.: Este artigo foi inspirado pelo segundo capítulo da série do Brasil Paralelo exibido a partir do dia 17 de Outubro de 2017. Para ter acesso ao conteúdo da série, clique AQUI.

Dr. Tony Carvalho
Itabuna, BA, Brasil
23 de outubro de 2017

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quinta-feira, 15 de março de 2018

Tá difícil acreditar no Brasil como país...


Assassinato de vereadora desafia a intervenção
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Josias de Souza
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Duas frases de Michel Temer sobre o fuzilamento da vereadora Marielle Franco: 1) Ela “fazia manifestações, trabalhos com vistas a preservar a paz e a tranquilidade na cidade do Rio de Janeiro. Por isso, aliás, nós decretamos a intervenção, para acabar com esse banditismo desenfreado que se instalou naquela cidade por força das organizações criminosas.” 2) “Estamos no Rio de Janeiro para restabelecer a paz, restabelecer a tranquilidade. […] Não destruirão o nosso futuro; nós destruiremos o banditismo antes.”
O presidente da República ainda não se deu conta. Mas ninguém olha para o Rio de Janeiro pensando no futuro. Ironia sinistra: O escritor Stefan Zweig, autor de ‘Brasil, País do Futuro’, suicidou-se por não aguentar o presente. Ao decretar intervenção federal na segurança do Rio, Temer trouxe o presente trágico da cidade e do Estado para o seu colo. O banditismo, ainda “desenfreado”, não pára de produzir violência e mortes. E acaba de empurrar para dentro do Palácio do Planalto os cadáveres da vereadora Marielle e do motorista dela, Anderson Pedro Gomes.
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Vereadora Marielle Franco (PSOL) é assassinada no Rio43 fotos

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15.mar.2018 - Emocionados, amigos e familiares se despedem da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ)VEJA MAIS >Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

O mandato de Temer termina em dezembro. Menos de dez meses! Nem por mágica o presidente conseguiria “acabar com o banditismo” em tão pouco tempo. Também não cumprirá a promessa de “restabelecer a paz e a tranquilidade” no Rio. Mas Temer ganhou um desafio mais urgente: ou providencia rapidamente o esclarecimento do duplo assassinato que estarreceu o país ou tranformará os últimos meses de sua administração num inferno.
No decreto de intervenção federal, Temer escreveu que o general-interventor Braga Netto está subordinado diretamente ao presidente da República. Foi como se dissesse: “Quem manda na segurança do Rio agora sou eu.” Ao fuzilar a vereadora Marielle às vésperas do aniversário de um mês da intervenção, os criminosos informaram a Temer que continuam dando as cartas. Em português claro: a bandidagem desafiou o presidente. Em vez de se preocupar com a destruição do futuro, Temer precisa cuidar da construção do seu presente. A resposta é para ontem.