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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Neologismo importado...

Sérgio Rodrigues


Todoprosa


“Poesia não dá dinheiro. Em compensação, dinheiro também não dá poesia.” ROBERT GRA


07/11/2014
 às 15:00 \ Palavra da semana

‘Mandatada’: de onde saiu isso?

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  A presidente Dilma Rousseff não pode ser acusada de deixar comentaristas linguísticos sem assunto. O verbo “mandatar”, que pipocou esta semana em seu discurso sob a forma do particípio “mandatada”, rendeu burburinho nas redes sociais por ser uma palavra ausente não só de todos os dicionários brasileiros, mas também, tudo indica, da língua que as pessoas falam de fato por aqui.
Quer dizer que Dilma inventou um verbo, lançou um neologismo? Não: apenas o importou de Portugal. Embora comece a ganhar suas primeiras e tímidas aplicações no Brasil, “mandatar” – que significa “atribuir mandato ou procuração a” – já tem presença razoavelmente vigorosa no português falado do lado de lá do Atlântico. Vocábulo emergente, não aparece ainda em todos os dicionários lusos: o da Academia das Ciências de Lisboa o ignora, mas o da editora Porto e o Priberam o registram.
“A atitude do ganhador não pode ser nem de soberba, nem de pretensão de ser o último grito em matéria de visão política”, discursou a presidente na quarta-feira 5, ao receber no Palácio do Planalto a cúpula do PSD. “Não pode de maneira nenhuma ter uma visão pretensamentemandatada por um processo qualquer que faz com que não seja necessário nem o diálogo, nem a construção de consensos e pontes.”
Estilo palavroso à parte, o que Dilma disse tem parentesco com uma notícia saída no “Público”, o principal jornal português, em julho do ano passado (além da coincidência engraçada na sigla dos partidos em questão): “O CDS mandatou o líder do partido, Paulo Portas, para renegociar o acordo de coligação com o PSD”.
Em espanhol ocorre algo semelhante: o neologismo mandatar, de idêntico significado, ainda não frequenta os dicionários tradicionais, mas já é reconhecido por lexicógrafos mais inquietos e tem circulação crescente.
Nos dois idiomas o verbo é formado, evidentemente, por mandato + -ar. O curioso é que as prováveis influências para sua recente adoção na Península Ibérica existem há um bocado de tempo: o inglês mandate nasceu no século XVII com o sentido de “ordenar” (o de “delegar autoridade” é de meados do século XX); o francês mandater, “investir alguém de um mandato”, nasceu em 1902.
Por que será que só agora o português e o espanhol – línguas em que nunca estiveram em falta herdeiros do latim mandatum, como “mandato” e “mandatário” – estão indo atrás? E será que Dilma conseguirá mandatar esse novo ente vocabular entre nós? Aguardemos os próximos capítulos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Do blog de Sergio Rodrigues / Todoprosa


Sergio Rodrigues>
02/2012
 às 13:25 \ Pelo mundo

Quando escritores falam de sexo – e isso não é ficção


Desta vez a lista do Flavorwire (em inglês) é picante: cartas de amor com conteúdo sexual, na maior parte dos casos explícito, assinadas por escritores famosos. Leitura muito divertida. James Joyce (foto), insuperável, faz até Charles Bukowski parecer um coroinha.
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O crítico acadêmico João Cezar de Castro Rocha publicou na última edição do Prosa & Verso um artigoalentador e de leitura obrigatória. Ainda bem que a fauna e a flora da universidade são diversificadas a ponto de incluir visões lúcidas, autocríticas e generosas como esta:
Dada a pluralidade da produção atual, é impossível decretar a morte da crítica ou o impasse definitivo da literatura, simplesmente porque há muito tempo não mais existe uma única forma de poesia, prosa ou crítica — aspecto que desautoriza juízos totalizadores.
A tarefa atual da crítica é realizar uma arqueologia das formas do presente, a fim de descrever os movimentos novos esboçados na prosa, na poesia, no ensaio e na interlocução crescente com os meios audiovisuais e digitais. O único modo de fazê-lo é dedicar-se à leitura atenta da produção contemporânea, em lugar de proferir sentenças magistrais, com base na hermenêutica mediúnica dos profissionais do obituário alheio.
Trata-se de evitar a vocação fóssil do crítico que recorre ao truque fácil de confundir o agudo com o obscuro.
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Este artigo (em inglês) de um renomado pesquisador acadêmico americano – sobre suas tentativas frustradas de consertar um artigo torto na Wikipedia citando fontes primárias, todas rejeitadas em nome de fontes secundárias duvidosas – levanta um ótimo debate sobre os limites do crowd-sourcing, que ambiciona engarrafar a tal “sabedoria das multidões”.
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Não se deve acusar de provincianismo aqueles que vêm da província, mas, quando se comportam com arrogância sem igual, como fizera o Sr. Piffl-Percevic, aí, havendo oportunidade, cumpre, sim, registrar o fato.
Há um certo estado de espírito — entre o cansaço, a desilusão e a impaciência difusa — em que o último resquício de humor se despede do cidadão. Para esses casos extremos existe um bálsamo chamado Thomas Bernhard (aqui em “Meus prêmios”, Companhia das Letras, 2011).