Cargos de confiança custam R$ 3,5 bi por mês, aponta TCU
Gasto representa 35% da folha do funcionalismo federal, incluindo todos os Poderes
POR LUIZA SOUTO
27/05/2016 6:00
SÃO PAULO — Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) revela que a administração pública federal — incluindo Executivo, Legislativo e Judiciário federais — gasta hoje R$ 3,47 bilhões por mês com funcionários em cargos de confiança e comissionados. O valor representa 35% de toda a folha de pagamento do funcionalismo público na esfera federal, que é de R$ 9,6 bilhões mensais....
Vírus Zika: Cientistas de Harvard e Oxford dizem que Olimpíada do Rio 'deveria ser transferida ou adiada'
Especialistas dizem que descobertas recentes sobre o zika tornam 'antiética' a manutenção dos jogos no Rio.
Da BBC
Em carta aberta enviada à OMS (Organização Mundial da Saúde), um grupo formado por mais de 100 cientistas internacionais afirma que os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro deveriam ser transferidos ou adiados em decorrência do surto de vírus Zika.
Os especialistas dizem que descobertas recentes sobre o zika tornam "antiética" a manutenção dos Jogos no Rio. Na carta, os cientistas também pedem que a OMS reveja com urgência suas recomendações sobre o Zika, um vírus relacionado a uma série de problemas no nascimento, incluindo microcefalia.
A carta ainda diz que o adiamento ou a transferência dos Jogos também "diminui outros riscos trazidos por uma turbulência história na economia, governança e na sociedade do Brasil - que não são problemas isolados, mas que fazem parte de um contexto que tornam o problema do Zika impossível de resolver com a aproximação dos Jogos".
Em maio, o Comitê Olímpico Internacional disse que não vê razões para atrasar ou transferir os Jogos por causa da doença. No Brasil, a explosão da enfermidade transmitida pelo mosquito Aedes aegypti aconteceu há um ano - hoje mais de 60 países e territórios são afetados pela doença.
A carta afirma que o Zika está relacionado à microcefalia (crescimento do crânio abaixo da média) em recém-nascidos e que pode trazer síndromes neurológicas raras e às vezes fatais a adultos.
O documento é assinado por 125 cientistas, médicos e especialistas em ética médica de instituições como as universidades de Oxford, no Reino Unido, Harvard e Yale, ambas nos Estados Unidos.
Um personagem de Molière, Monsieur Jourdain, descobriu certa feita, de estalo, que ao longo de toda sua vida falara em prosa sem perceber. Da mesma forma, muitos brasileiros são marxistas sem saber, hobbesianos sem saber, e muitos, sem saber, são responsáveis pelo aumento dos impostos que pagam. De fato, toda vez que alguém atribui a ele, o Estado, o dever de dar um jeito em algo, está pressionando no sentido de que se forme um novo centro de custos, que vai exigir uma nova receita e ela se tornará permanete. Se o custo for criado e a receita não, a conta que surgirá não pode ficar pendurada na parede por um prego.
Estamos todos assistindo, nestes dias, verdadeira aula prática sobre as consequências de se deixar o Estado crescer. Todo mundo sabe que o Brasil precisa reduzir custos. Note-se: quando digo todo mundo estou falando mesmo de uma percepção nacional e mundial. Um déficit de R$ 170 bilhões não se resolve sem dor. O desemprego gerado pelas baixas expectativas e elevados encargos é apenas um dos muitos artefatos instalados nessa sala de tortura em que se transformou o Estado brasileiro. E extinguir um simples centro de custo tem sido uma encrenca dos diabos.
Vou dar um exemplo. Nem o Itamaraty escapou ao laboratório de fracassos que foi o governo da presidente Dilma. José Serra se deparou com um rombo de R$ 3,2 bilhões nas contas da nossa chancelaria. Uma vergonha. Aluguéis atrasados, contas de fornecedores vencidas, compromissos regulares referentes à participação em órgãos internacionais não pagos, e por aí vai. Mais de três bi. Solução? Fechar alguns centros de custo, certo? Serra propôs fechar cinco embaixadas na África. Legal, mas não tem jeito, ao que parece. Não dá para fechar nem Serra Leoa e Libéria.
E isso vale para tudo. No setor público todos concordam com a necessidade de reduzir despesas, contanto que os cortes ocorram noutro lugar, bem longe de onde cada um esteja atuando. Na original história de Spencer Johnson – Quem mexeu no meu queijo? – falta um terceiro ratinho que represente os que, no Brasil, passam a vida gritando “No meu queijo ninguém mexe!”. Esses são os mais onerosos. A começar pelos poderes de Estado, onde o Judiciário cuida do seu lado e de qualquer um que alegue direitos sobre seu queijo federal, estadual ou municipal.
Se essa mentalidade não for superada, se a gritaria que está se formando encontrar respaldo político, se nada for feito para reduzir o custo do Brasil sobre os brasileiros, caminhamos para uma situação hobbesiana, uma guerra de todos contra todos em que todos perdem. Quem ganha o quê, quando o dinheiro acaba?
A hostilidade a Michel Temer por deputados do PT revela a incapacidade do partido de entender como funciona uma democracia representativa e seus rituais – entre os quais se encontra o respeito solene ao decoro
Por: Augusto Nunes
Publicado no Estadão
Desde sua fundação, há mais de três décadas, o PT nunca perdeu uma chance para demonstrar menosprezo pela democracia e suas instituições. Assim, não surpreende o comportamento lamentável, próprio de arruaceiros, que alguns parlamentares do PT exibiram no instante em que o presidente em exercício Michel Temer foi ao Congresso, na segunda-feira passada, para encaminhar a revisão da meta fiscal. O incidente demonstra de maneira cabal que o PT confunde oposição firme, legítima em qualquer democracia, com baderna, que é própria de quem não conhece outra forma de fazer prevalecer suas vontades que não seja no grito e na marra.
Em pleno Senado, três deputados petistas, Paulo Pimenta, Helder Salomão e Moema Gramacho, acompanhados de servidores por eles arregimentados, vaiaram e hostilizaram Temer. Aproveitando-se do mal-estar gerado por uma gravação clandestina que comprometeu o senador Romero Jucá – custando-lhe o cargo de ministro do Planejamento por sugerir que ele ajudou a articular o impeachment da presidente Dilma Rousseff com a intenção de frear a Lava Jato –, receberam o presidente em exercício aos gritos de “golpista”.
O menor dos absurdos desse episódio é o uso inapropriado de servidores públicos para funções estranhas a seu trabalho, mormente a participação em protestos políticos. É preciso lembrar que os funcionários do Legislativo, mesmo os que servem nos gabinetes, são pagos pelo Estado, e não é sua função compor claques.
O mais grave, contudo, é a incapacidade dos petistas de entender como funciona uma democracia representativa e seus rituais – entre os quais se encontra o respeito solene ao decoro. A atitude truculenta dos deputados petistas, típica do gangsterismo sindical do partido, infringiu diversos pontos do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara.
No artigo 3.º, lê-se que é dever fundamental dos deputados “zelar pelo prestígio, aprimoramento e valorização das instituições democráticas e representativas e pelas prerrogativas do Poder Legislativo”. O artigo 5.º afirma que atenta contra o decoro parlamentar “praticar atos que infrinjam as regras de boa conduta nas dependências da Casa” e “praticar ofensas físicas ou morais” contra colegas, servidores e autoridades. Ao chamar de “golpista” o presidente em exercício, que está no cargo por decisão soberana do Congresso, há não apenas uma ofensa às regras de boa conduta, mas uma clara ação que desprestigia e desvaloriza o Legislativo.
As exigências de decoro não são um capricho. Ao exigir que os parlamentares tenham comportamento civilizado, o código parlamentar procura preservar a essência da democracia, que é limitar o confronto de ideias ao terreno da política – em que prevalece o debate e a negociação. Por maiores que sejam as diferenças de opinião entre os diversos grupos representados no Parlamento, deve-se observar, sempre, o respeito aos oponentes – que, afinal, lá estão também porque receberam votos. É assim que funciona em democracias maduras.
Mas o PT nunca demonstrou tal maturidade. Ao contrário: a democracia, para a tigrada, sempre foi mero instrumento para tomar o Estado de assalto e acabar com a alternância de poder. Para lastrear esse projeto de força, mais do que de poder, a máquina de propaganda petista criou o mito segundo o qual o único movimento político verdadeiramente democrático no Brasil era o PT; logo, qualquer derrota do PT é tratada como derrota da própria democracia.
Foi esse espírito que presidiu a manifestação desrespeitosa dos deputados petistas contra Temer. Não importa que o afastamento da presidente Dilma tenha sido decidido pelo Congresso conforme o estabelecido pela Constituição, tampouco interessa se o país precisa urgentemente de um esforço coletivo para superar a imensa crise que a inépcia de Dilma e a corrupção lulopetista criaram. A única coisa que importa é causar confusão e, por meio da acusação fajuta de “golpe”, impedir que o governo tenha condições de consertar as lambanças de Dilma e, assim, expor a todos o mal que o PT causou ao país.
Lula, José Antunes Sobrinho, Taiguara e os mistérios que cercam as obras da
hidrelétrica de Cambambe, em Angola.
Além da Odebrecht, a construtora Engevix, cujos controladores e executivos também foram presos na Lava Jato, participou das obras de ampliação da hidrelétrica de Cambambe, em Angola. A Operação Janus, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, investiga a participação do ex-presidente Lula e do sobrinho Taiguara Rodrigues dos Santos na negociata do financiamento dessa obra pelo BNDES.
Dono da Engevix, José Antunes Sobrinho está preso desde setembro. Ele delatou Renan Calheiros, Erenice Guerra e Dilma, a “honesta”.
Nota do MPF informou que a Janus investiga se Lula fez tráfico internacional de influência e se recebeu vantagens indevidas.
A empresa de Taiguara, sobrinho de Lula, teve a Odebrecht como único cliente, recebendo o equivalente a US$4 milhões (R$14 milhões).
A gigante francesa Alstom, velha conhecida brasileira no escândalo do Metrô de São Paulo, foi fornecedora de geradores na obra angolana. Do site Diário do Poder
Em vez de fazer as obras necessárias para o setor elétrico no Brasil, o governo de Lula e Dilma transferiam recursos para ditadores comunistas. É que nas ditaduras a transparência é zero o que facilita todos os tipos de negociatas.
Isto é só o comecinho. Há, pelo menos, dezenas de obras com recursos públicos brasileiros beneficiando ditaduras comunistas como a da Nicarágua. O povo brasileiro ainda não viu nada. E quando ver tudo o que o PT fez com o Brasil a reação poderá ser terrível. Por estas e outras que estão para ser reveladas é que a Dilma não tem mais a mínima chance de voltar. E mais: o povo brasileiro voltará às ruas para exigir a proscrição não apenas do PT, mas de todos os partidos de viés comunista, como Rede, PSOL, PCdoB e demais ajuntamentos de jagunços ideológicos e ladrões do erário. Transcrevo matéria do site da revista Exame, noticiando ação do TCU, cortando a sangria dos cofres públicos que vinha sendo executada por Lula, Dilma e seus sequazes para beneficiar um dos tiranetes mais odiosos da América Latina e, pelo jeito o butim, via lavagem, cevava a turma do Foro de São Paulo e seus amiguinhos 'burgueses' empresários. Leiam:
O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou hoje (25) uma medida cautelar para suspender repasses de recursos para a construção da Usina Hidrelétrica de Tumarín, na Nicarágua.
O empreendimento foi concedido para a Eletrobras, em parceria com a construtora Queiroz Galvão, que é investigada na Operação Lava Jato da Polícia Federal.
O ministro Bruno Dantas defendeu a medida cautelar para que não fossem mais aportados recursos no empreendimento, orçado em US$ 1,2 bilhão, e a maioria dos ministros do TCU acompanhou esse entendimento. Segundo Dantas, existem irregularidades no projeto, que já tem autorizado um aporte de US$ 100 milhões.
“Os recursos já alocados estão parados, não foram pagos porque não tem dinheiro. Mas, se por uma razão qualquer, a Eletrobras quiser pagar, o tribunal, tomando conhecimento de todas essas irregularidades, vamos ter considerado que não há risco”, disse ele.
O relator da matéria, ministro José Múcio, determinou que a Eletrobras e a Queiroz Galvão prestem esclarecimentos sobre o empreendimento em um prazo de 15 dias.
Para o ministro Benjamin Zymler, o investimento da Eletrobras em um empreendimento no exterior não se justifica, especialmente na situação financeira atual da empresa.
“A Eletrobras está diante de uma crise de recursos extraordinária", afirmou Zymler. Para o ministro, em tais circunstâncias, pensar que possa haver investimentos da Eletrobras no exterior é algo inimaginável.
"Além de inconstitucional, é quase politicamente injustificável.” A Queiroz Galvão informou que não irá comentar a decisão do TCU. Procurada pela Agência Brasil, a Eletrobras não se manifestou até a publicação da reportagem. Do site da revista Exame
Valentina de Botas: Dilma é tão despreparada para ser presidente quanto para deixar de ser
A czarina patética legou um rombo de 170 bilhões de reais e foi gozar a agonia de um golpe imaginário em meio a 120 empregados no Alvorada
Por: Augusto Nunes
Na primeira semana do Governo Temer, fruindo o silêncio melodioso que ecoava da boca fechada e da figura sumida do jeca, também silenciei um pouco. Uma pedra desvitalizou meu texto, aquela que Drummond viu no meio do caminho. Como todo sonho, essa coisa que abre caminho para a realidade, livrar a nação da escória que o desgraçou exige tempo até que se torne um fato.
Um fato não é de direita nem de esquerda: um fato é um fato. A lição básica de discernimento vem de Karl Marx, famoso desconhecido dos esquerdistas com menos de 50 anos. E o fato é que, entre a ternura e o abatimento, não sei se a pedra no meio do caminho apareceu ou reapareceu; se o caminho será retomado; se espero ou se leio outro Drummond.
Outro fato é que Dilma Rousseff, crescentemente detestável de dentro de um apego chulo ao poder, é tão despreparada para ser presidente quanto para deixar de ser. Apoiada por pessoas despreparadas para deixar de orbitar o poder, a mulherzinha faz dos restos de imperceptíveis racionalidade e honradez a saga ordinária de perene delírio que a consolará nos dias vazios e nas noites longas do resto de uma existência que volta à irrelevância da qual foi desgraçadamente desperta pelo jeca. Entre elas, os artistas fascistoides adoradores do PT e do PCdoB e, portanto, da estatização da cultura – como tudo o mais – num MINC aparelhado.
Pretendem-se comissários do povo sem saber do que ele é feito. Assim, pretextando a defesa da cultura e da memória, partem para a truculência na invasão de prédios do MINC apropriando-se de patrimônio que é de todo o povo. Esse ente idealizado entre a Vila Madalena e o Leblon, mas que não está nem lá nem muito menos entre a alucinação fascista de Marilena Chauí e a de Olavo de Carvalho: a maior parte dele está preocupado em ir trabalhar se ainda tiver emprego rezando para que não haja meliantes queimando pneus no meio da rua em defesa do gangsterismo de Estado cuja czarina patética legou um rombo de 170 bilhões de reais e foi gozar a agonia de um golpe imaginário em meio a 120 empregados no Alvorada.
Em razão desse anseio do país por ordem para progredir, é que discordo da crítica de Marco Antonio Villa à escolha do lema da bandeira nacional como slogan de Michel Temer. Ora, ela foi o símbolo onipresente nas marchas pró-impeachment dilatando o sentimento de pertença a uma mesma nação no verdeamarelismo – que, atacado por Marilena Chauí em surto permanente, só pode ser coisa boa – farta do vermelhismo que a cindia para a esbulhar.
Quem é que liga para Augusto Comte e a doutrina positivista? Os brasileiros se reconheceram na bandeira nacional, só isso; e Temer fez bem ao acolher esse reconhecimento. Também por isso deve remover a inadmissível pedra no caminho: André Moura (PSC-SE). Acusado de homicídio e réu num processo no STF, não pode continuar líder do governo na Câmara ou Temer estará ignorando o clamor das manifestações que resultaram no afastamento de Dilma em favor de nossas retinas tão fatigadas de patifarias.
Voltando à discussão sobre o MINC, registre-se que foi ignorada a perspectiva do consumidor de cultura. A classe artística despreza o fato de que, num país com Estado demais onde ele é desnecessário e de menos onde é fundamental, não há ambiente cultural para a cultura – nem para a tal alta cultura enquanto os filhos da elite que estudam em universidades públicas não se lembrarem delas em seus testamentos (José Mindlin uma das poucas exceções) ou Machado de Assis for considerado um autor elitista; nem para a tal cultura popular enquanto o “povo” achar que pode jogar o sofá velho num rio: cultura é educação.
MINC? Que MINC? O povo nunca viu nem comeu e agora só ouve falar. Povo? Que povo? O MINC nunca viu, só o assaltou. Ótimo fundir a Pasta da Cultura ao MEC porque as estruturas são parecidas e, se a economia seria insignificante, a intermitente racionalidade nacional, extinta nos governos lulopetistas, ganharia espaço. O barulho serviu para nos darmos conta de uma coisa boa, só possível com o PT fora: o Brasil voltou a falar de si, mal ou bem; a bandidagem petista ficou em segundo plano até começar a gritaria autoritária em defesa da cultura das divinas tetas e boquinhas.
Mesmo considerando que Temer não deveria ceder a militantes da chantagem que sequer reconhecem a legitimidade do governo interino, não me junto aos que o acusam de “amarelar” recuando da fusão, afinal nem tudo é uma questão de ser contra ou a favor, mas de reflexão: Temer não disseminará a racionalidade por decreto num meio impermeável e, com apenas dois anos para evitar a colisão do país com uma catástrofe maior, deve se concentrar nos embates relevantes futuros em vez de se desgastar com gente a quem não faltam grana fácil e tempo.
Um MINC desaparelhado que resolva isso basta. Os progressistas agora revoltados com a nomeação de um evangélico para o ministério da Ciência e Tecnologia no novo governo nada disseram enquanto aberrações de Mercadante a Celso Pansera passaram pelo ministério deixando como marca a redução drástica de recursos para o CNPq e para a Capes. Os fascistoides-tipo-descolados que defendem o MINC foram incapazes de ajudar Niède Guidon na defesa da Serra da Capivara.
As militantes da representatividade de gênero – só de escrever uma coisa assim já me diverte – deveriam ter queimado todos os sutiãs da presidente quando ela escolheu umas vigaristas para o governo, mas guardaram o discurso patrulheiro contra Temer por não incluir mulheres no ministério. Dilma já o alertou: as mulheres não aceitam ser “fetiche decorativo”! Claro, ou ela não teria se cercado de adornos adequados somente à sala da Família Adams; não, Erenice Guerra, Miriam Belchior e Graça Foster não foram decorativas, mas muito ativas. E fetichista é a relação da mulherzinha com a presidenta, a tal ponto que deixou 50 mil famílias esperando a entrega de unidades prontas do Minha Casa Minha Vida porque não havia espaço na agenda oficial, segundo o novo Ministro das Cidades, Bruno Araújo: é o mesmo povo do MINC que só tem concretude no gozo fetichista de ser presidenta.
Tudo refletindo o fato de que a academia onde pensadores glorificam tiranos, a classe artística que celebra tiranos e a militância que serve a tiranos não enxergam o país imenso, real, heterogêneo e devastado justamente pelo que buscam manter ao rejeitarem o governo legítimo de Temer e, como pastores da tirania viciados nas benesses do Estado, farão o diabo para inviabilizá-lo. Isso é Dilma, a pedra no nosso caminho impedindo que nossas retinas tão fatigadas de cafajestice esqueçam que tinha uma Dilma no meio do caminho. Lembrarão nas próximas eleições, em toda elas. Pelo tamanho do texto, vê-se que decidi buscar outro Drummond: o silêncio não é o companheiro preferido das minhas emoções mais puras. Perdão se me excedi.
O presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, exoneraram Miriam Belchior da presidência da Caixa Econômica Federal e nomearam para ocupar o posto, interinamente, o vice-presidente de Tecnologia da Informação do banco, Joaquim Lima de Oliveira.
Oliveira irá acumular as duas funções. Os respectivos decretos de exoneração e nomeação estão publicados no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira.
Meirelles assumiu o Ministério da Fazenda avisando que iria trocar os presidentes dos bancos oficiais, entre eles Caixa e Banco do Brasil. O anúncio era esperado para ocorrer na semana passada junto com os nomes dos secretários de sua equipe e a indicação para o comando do Banco Central.
No entanto, uma indefinição justamente relacionada à Caixa adiou a divulgação. O ministro não fixou uma data para anunciar os novos titulares.
Petrobras - Em resposta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobras esclareceu alguns pontos divulgados na imprensa sobre a troca de comando. A estatal petroleira informou que analisa a indicação de Pedro Parente para a presidência pelo acionista controlador, "em consonância com o estatuto social e suas normas de governança, integridade e conformidade".
A Petrobras também acrescentou que não recebeu qualquer carta de renúncia de seu atual presidente, Aldemir Bendine, e que não houve da parte de nenhum órgão da companhia discussão relativa à atual composição da diretoria. Do site de Veja
“O caminho reto estava perdido”. Dante, Divina Comédia
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O momento em que seu olhar se depara pela primeira vez com um fuzil na entrada de um supermercado é inesquecível. Você está desprevenida pensando no almoço e, de repente, é surpreendia por esse longo cano preto tão fora de lugar. A minha primeira vez foi em uma manhã ensolarada de 2012. Talvez o soldado que exibia a arma também se lembre. Ele parecia estar desconfortável, como se estivesse estreando nessa missão. Franzia a testa em uma vã tentativa de endurecer o seu rosto de menino.
Tinha sido enviado para lá para evitar tumultos. Os clientes se alinhavam em uma fila, como formigas, para comprar o produto mais comum de nossa dieta: farinha de milho para fazer arepas. Outro soldado, tão jovem como ele, cuidava da retaguarda naquele enorme mercado localizado em frente uma das estações de metrô mais movimentadas de Caracas(Venezuela).
Atravessei o parque do Leste, um oásis de 82 hectares de onde a vista do Ávila –uma montanha muito verde ao norte da capital venezuelana– é tão esplêndida que recarrega a energia e o otimismo.
Uma hora depois, ao retornar, a fila permanecia tão longa quanto, como se o tempo tivesse parado. Os soldados no mesmo lugar, na mesma posição. A fila estava do mesmo tamanho, enquanto alguns clientes saiam com sua carga de quatro quilos de farinha dentro de um saco plástico branco. À época, aquilo não era tão comum. Começava a acontecer esporadicamente.
Apesar da tensão política que nos agoniava há muito tempo, ainda levávamos uma vida bastante normal, dentro do padrão latino-americano. Nossa principal preocupação era a violência, essa epidemia implacável que nos encurrala. O maná venezuelano era vendido a quase 100 dólares por barril e 98% dos venezuelanos comiam três vezes ao dia, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Aquele encontro inesperado com o fuzil no mercado foi, no entanto, um mau presságio, o prólogo antecipado de um livro que estava por ser escrito. O presidenteHugo Chávez tinha vencido sua última reeleição há poucas semanas, mas perdia a batalha contra o câncer. Todos nós sabíamos que ele estava morrendo. Assim como morreria em breve a fantasia do petróleo. Assistíamos ao final de uma utopia.
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É provável que tenha feito calor demais durante o Carnaval de 2014. Ou que os uniformes camuflados fossem daquele poliéster que raspa a pele. Ou, simplesmente, que os meninos de boina vermelha tenham ficado tempo demais na mesma posição, sobre a caminhonete cheia de balões vermelhos e fotos de quando Chávez era candidato presidencial. O fato é que esses pequenos, fantasiados como o herói de seus pais, estão entediados até a morte, alheios a seu papel na construção do mito.
O desfile transcorre ao ritmo do samba no Paseo de Los Próceres, em frente ao maior forte militar da Venezuela, e o ministro do Turismo celebra a operação do feriado –“a festa mais legal”–. A atmosfera é de tensão, desafio e medo.
O país está há duas semanas em ebulição. O barulho dos fogos de artifício se confunde com o dos tiros. O sol mais radiante, com a névoa mais escura. Os protestos contra a insegurança, a inflação e a escassez, iniciados pelos estudantes e liderados por um setor da oposição, estão no auge. Há uma batalha feroz em várias cidades. E se multiplicam –espontânea ou artificialmente– as queixas que nos dividem.
Enquanto se comemora em Los Próceres, não param de cair bombas de gás lacrimogêneo, balas e golpes contra os manifestantes. Nem pedras e coquetéis molotov contra a polícia e os soldados que chegam às zonas de combate com tanques e motocicletas, às vezes acompanhados de civis. Há ruas bloqueadas por lixo, paus e pneus. A lista de feridos ultrapassa 250. A de detidos supera mil.
Ainda não se acabou de assentar a terra nas sepulturas de 18 vítimas. Jovens que estavam na linha de frente ou que fugiam da polícia, universitários de rostos apagados por espingardas, policiais e soldados baleados, algum passante com péssima sorte, uma grávida desprevenida, motoristas surpreendidos por barricadas. Pessoas que estavam a favor ou contra o governo, mas que nunca pensaram que isso lhes custaria a vida.
Em um dia passamos do Carnaval mais longo e delirante que já tínhamos vivido à comemoração do primeiro aniversário da morte do Comandante Supremo e Eterno, com um programa de 10 dias para lembrar o Cristo dos pobres. Assim é descrito por seu herdeiro, o presidente Nicolás Maduro.
A luta nas ruas não acaba e se prolonga por várias semanas. Até somar 43 mortos, mais de 800 feridos, 3.351 presos e dezenas de denúncias de tortura. A Procuradoria admite 183 violações de direitos humanos e 166 de tratamento cruel. Por esses dias, tudo parece preto e branco. Mas nada é tão uniforme como alguns querem fazer parecer. Enquanto um soldado bate ou atira para matar, outro aponta a arma e pisca um olho para que você fuja rapidamente.
Que tão perigosa é essa belíssima jovem que leva uma etiqueta de "estudante venezuelana" no coração? Que tão feroz é a agente de polícia que humaniza sua vestimenta de choque pintando os lábios de cereja? Quais são os seus antagonismos reais, suas diferenças irreconciliáveis? Será que as duas não compartilham esse estado perene de frustração e medo em que todos nós vivemos por causa dos grandes recordes registrados na Venezuela? Nada menos do que a maior inflação do mundo e a criminalidade mais mortal da América do Sul.
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Amarelis López desperta na escuridão, acende a luz e se veste rapidamente. Hoje é o seu dia. Às 4h da manhã, quando chega ao supermercado, outros caçadores esperam no estacionamento. A visão de um fuzil não surpreende ninguém. Faz parte da paisagem. A enfermeira, com paciência evangélica, se dispõe a esperar de pé enquanto for necessário.
O Governo estabeleceu turnos, de acordo com o último número da carteira de identidade, para a compra de 50 produtos básicos que são subsidiados e cuja distribuição é controlada pelos militares. Na sexta-feira, por exemplo, é o dia daqueles que têm documentos terminados em 8 e 9. Além disso, antes de pagar, é preciso colocar o dedo sobre uma máquina de leitura de impressões digitais, como na imigração dos Estados Unidos, para confirmar que você realmente é você.
Fazer uma compra de produtos básicos se tornou um pesadelo, mas se pode facilmente comprar 453 variedades de vinho, 28 de uísque escocês e 20 de champanhe se você tem muito dinheiro. Ou uma mostarda Dijon com geleia de laranja da La Grande Épicerie de Paris.
Passaram-se três anos da morte de Chávez. Algumas pessoas carregam seu rosto ou sua assinatura tatuados no corpo. O conflito não acaba. Seus fiéis sentem a falta dele mais do que nunca.
Quem diria que debaixo dessa superfície maltratada, onde as pessoas esperam horas para comprar farinha, onde se rouba a comida das crianças de uma escola primária, há um verdadeiro oceano de petróleo? As maiores reservas do planeta Terra: 296,5 bilhões de barris. E a quarta maior de gás. Minas de ouro suficientes para que até mesmo as Forças Armadas explorem uma parte. E diamantes e coltan.
Somos um paradoxo amargo: o país rico mais pobre do mundo. Cegado por essa sorte que caiu do céu, sempre acreditando que as vacas gordas são eternas. O boom desinflou. A chuva de petrodólares cessou. Outra vez. Como nos anos 1980, quando um presidente assumiu o cargo alertando que recebia "um país hipotecado". Estamos tão arruinados que dá raiva. Na pior falência que já experimentamos.
As receitas – 96 de cada 100 dólares provêm da exportação de petróleo – já não são suficientes para continuar importando 70% do que comemos, a grande maioria dos medicamentos e milhares de outras coisas. Passamos da abundância à tragédia de ter que vagar de comércio em comércio farejando alguma presa, às vezes deixando a farmácia com um nó na garganta e de mãos vazias.
Cinco horas depois de chegar, Amarelis sai chateada, com dois quilos de leite em pó. Nada mais. Na sexta-feira passada não conseguiu nada regulado. "Não tenho arroz, nem farinha, nem pão, nem café. Estamos tomando café da manhã com cazabe[biscoito de farinha de mandioca]. Você acha que isso é justo?", exclama explosivamente, ignorando as lições de seu Senhor. Ele entenderá que sua ovelha está há muitos meses nesse suplício.
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O Governo atribui a escassez e a inflação, que em 2015 atingiu o recorde histórico de 180,9%, a uma guerra econômica do imperialismo. E a oposição culpa o governo. Mas mesmo as explicações mais intelectualizadas dos economistas não servem de alívio para a maioria dos 30 milhões de venezuelanos que empobrecem vertiginosamente.
Belkys Márquez tem quatro filhos, com idades entre 6 e 14 anos. Trabalha como caixa de banco. É esse tipo de pessoa que sempre sorri quando fala. Exceto quando conta, com algum constrangimento, que não pode jantar porque a comida não é suficiente. Três em cada 10 venezuelanos estão na mesma dieta forçada. São 13,4% os que comem uma vez por dia e apenas 53% podem fazer as três refeições. Isso é o que revela uma pesquisa realizada pelo Instituto Venezuelano de Análise de Dados (IVAD) em abril e divulgada na imprensa local.
O salário mínimo –que aumentou, por decreto, em 50% até agora este ano— é realmente mínimo em comparação com a inflação dos alimentos: 254,43% em um ano (setembro de 2014 a setembro de 2015), segundo o Banco Central. Belkys ganha 501,6 bolívares por dia, mais 664 de bônus de alimentação: 1.165 bolívares por dia. Isso é o que custa uma arepa com queijo na rua. No total, 33.636 bolívares mensais, cerca de 110 reais no mercado negro.
Também é minúsculo em relação ao custo da cesta básica, que inclui 58 produtos para uma família de cinco membros, e em março passado custava 142.853 bolívares (mais de quatro vezes sua renda atual).
Esse preço também é inacessível para muitos profissionais de classe média, médicos, advogados, engenheiros. O salário diário de um professor universitário, com doutorado em Columbia, equivale a três cervejas.
Algumas vezes Belkys teve que recorrer aos bachaqueros, como eles chamam os revendedores em referência a bachaco, uma formiga grande e voraz. Subornando a quem for preciso –militares, distribuidores, empregados—, eles compram e vendem produtos regulamentados até 40 vezes mais caros. Um quilo de arroz, de 25 bolívares por 1.040; um de farinha, de 19 por 800; uma caixa de ovos (30 unidades), de 420 bolívares por 2.200. Em qualquer fila são reconhecidos de imediato. Vão em grupos, com ar ameaçador, e estão dispostos a te mostrar uma faca se você reclamar. Eles se adiantam, entrem na frente e acabam comprando mais do que todo mundo. Os bachaqueros vendem seus produtos abertamente nas calçadas de áreas populares. Alguns têm, até mesmo, serviço de entrega em domicílio para a minoria que pode pagar.
As pessoas chegaram ao limite. Nervosas –encolerizadas– é a palavra mais ouvida. E explodem a intervalos cada vez menores. Sem importar que haja fuzis à vista, saem da fila, amontoam-se na porta, arremetem e entram, passando por cima dos vidros quebrados e de quem ficar no caminho. Na Semana Santa aconteceu 21 vezes. Em média, foram três saques por dia. O relato é do vice-presidente, Aristóbulo Istúriz. Os protestos de rua se multiplicam. Contra a escassez, por melhores salários, contra os apagões e a falta de água. A exaustão é sentida em cada esquina. A exaltação faz centenas de militares ficarem nas ruas.
A situação é tão extrema que o chefe do Ministério da Alimentação, um general do Exército, percorre áreas populares com sacolas de comida (arroz, farinha, macarrão, frango, óleo), à frente de uma operação de venda de casa em casa. O Estado tem uma rede de 22.000 pontos de armazenagem, distribuição e expedição de produtos.Quando voltaremos a ir normalmente ao mercado?
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Na Venezuela há as pessoas mais afetuosas. E também os criminosos mais frios e impiedosos. E seres que sofrem mutação nesse caldo de punição e impunidade, tão fora do usual, tão inédito, num Governo com uma presença militar tão forte e tão extensa. Seres como os que sobem nas redes sociais, vídeos de ladrões em chamas, vítimas das mais macabras representações de Fuenteovejuna [localidade espanhola palco de um linchamento no século 15]. Nos quatro primeiros meses deste ano houve 74 linchamentos, em que metade dos delinquentes morreram, segundo o Ministério Público. Média de mais de 18 por mês. Fartos de pedir segurança e justiça, sem conseguir, entre e 60% 65% da população aprova a barbárie, segundo pesquisa do Observatório Venezuelano da Violência (OVV).
Sobrevivemos há tanto tempo com tanto medo. Num estado de alerta permanente, com um olhar estroboscópico. Enclausurados atrás de muros e cercas sem fim. Preocupados com um enxame de motociclistas anárquicos, sem conseguir distinguir quais estão armados e dispostos a estourar os miolos de quem não lhes entrega o celular, a carteira ou o carro.
Somos jogadores involuntários de uma tétrica loteria que a cada meia hora despacha alguém desta para a melhor. Por dia, 52. Por mês, 1.565.
Um morro de 4.696 no primeiro trimestre deste ano. Uma montanha de 17.778 pessoas em 2015 (índice de 58,1 por 100.000 habitantes, segundo o Ministério Público). Ou uma cordilheira de 27.875 venezuelanos (90 por 100.000), segundo o OVV. Enterros e cremações demais, milhares de órfãos, viúvos, pais desolados.
Os sequestros expressos estão em alta – e se dolarizaram, com a queda do Bolívar. Os sequestradores podem tratar bem a vítima ou bater nela. Conformar-se com o que a pessoa leva, se acreditarem que a família está em dificuldades, só tendo o bastante para as despesas do dia. Ou largá-la na estrada, como um cachorro, atirando em suas nádegas. Alguns fazem a gentileza de dar dinheiro para o táxi, depois de pago o resgate. Outros matam.
Que tipo de sequestrador é o destes três jovens mascarados que posam com altivez, e talvez com docilidade, para a câmera? Um deles confidencia à fotógrafa que não encontrou outra forma de sair da pobreza. Que, na verdade, não querem fazer mal a ninguém. Mas esclarece: “Se eu te sequestrasse e você me tratasse com respeito, pegaríamos seu dinheiro e você viveria. Mas se não, teria que te matar. Não pensaria duas vezes”.
Pergunto-me se a pistola que ele empunha como se fosse um prolongamento de sua mão terá pertencido a algum policial assassinado para sua arma ser tomada. Como Osmary Tavare, de 27 anos, morta com um tiro na cabeça enquanto fazia de bicicleta uma patrulha pelo Leste de Caracas numa bela manhã de abril.
No ano passado, 344 funcionários do setor de segurança, 65 deles militares, foram assassinados para o roubo de suas armas de foto, segundo dados da ONG Fundepro. A
caçada é brutal. Os agentes são alvos ambulantes. Os bandidos, que se juntam em quadrilhas cada vez maiores, ficaram tão ousados que se atrevem a atacar com granadas quartéis da polícia.
Yohangel Márquez, de 33 anos, acabou nesse túmulo em que uma cruz se eleva sobre um grosso tapete de flores, rodeado por mulheres com sombrinhas. Estava sem uniforme, numa festa ao ar livre, quando um bandido a reconheceu e esvaziou o revólver em seu rosto. Márquez trabalhava na polícia do Estado de Miranda. Não é o primeiro agente que o comissário Rafael Graterol viu cair. Em suas pupilas apagadas parece haver funerais em excesso. Em seus ombros curvados, mais de uma batalha perdida.
6.
Já ouvi algumas pessoas perguntarem como é possível que, num lugar tão decomposto, nada aconteça. Mas por acaso não acontece muita coisa? Esperam uma explosão popular com muitos mortos, como o Caracazo de 1989? Uma guerra civil? Ou talvez outro golpe militar como o de 1992, ou como o de 2002, ou como tantos de nosso avultadíssimo repertório histórico de aventuras e ditaduras militares?
Nesta contradição de 912.000 quilômetros quadrados, que agora parece um túnel sem final, quantos estão realmente dispostos a se matar? Nesta ferida da qual fugiram mais de um milhão de venezuelanos nos últimos anos, a enorme maioria trava uma luta comovedora e contínua para viver e criar seus filhos em paz. Uma luta ao rés do chão, menos estridente, mas muito mais admirável do que qualquer épica.
Eis aí essa multidão de rostos sorridentes ao sol. Com uma esperança à prova de fracassos. Como este verso de Wislawa Szymborska que diz: “Minha fé é cega, forte e sem nenhum fundamento”. Eis aí essa roupa branca, impondo-se ao muro carcomido. Essa roleta eleitoral, que a cada vez que gira emudece as trombetas do Apocalipse. Essa mão que aponta o caminho mais desejado neste extravio chamado Venezuela.
Cristina Marcano é jornalista e escritora. Autora, com Alberto Barrera, do livroHugo Chávez sem uniforme: uma história pessoal (2005, editora Gryphus).