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quarta-feira, 26 de abril de 2017

"Emílio no país da maravilhas" / Percival Puggina


EMÍLIO NO PAÍS DAS MARAVILHAS

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

 Sentado para não cair, em meio a um turbilhão de emoções, assisti às declarações e respostas de Emílio Odebrecht ao juiz Sérgio Moro. Misturavam-se em mim a inquietação, a insegurança, a tristeza cívica, o constrangimento e um duplo sentimento de vergonha. Sentia vergonha pessoal, porque aquilo afetava a imagem do Brasil, e vergonha alheia, ante o que tal ato dizia do dono da maior construtora nacional e de boa parte de nossa elite política. Envergonhava-me deles e por eles. Emílio, bem ao contrário, espargia bonomia, doçura de ânimo e complacência. Era como se sua presença ali fosse uma dessas cortesias que os príncipes por vezes concedem aos súditos, algo tipo - "Fique à vontade, meritíssimo, aproveite que vim".
Foi então que me veio à lembrança John Milton. O terrível John Milton. Para quem não lembra, ele é o personagem representado por Al Pacino em O Advogado do Diabo, naquela que, indiscutivelmente, constitui sua mais soberba atuação nas telas. John é o dono do escritório de advocacia onde vai trabalhar Kevin Lomax (Keanu Reaves), um bastante ingênuo advogado interiorano a quem o chefe sedutor, pouco a pouco, revela sua total ausência de senso moral. É claro que falta a Emílio Odebrecht a capacidade de interpretação. Aliás, essa falta agrava sua situação. Em momento algum tentou ele interpretar certo papel ou seguir determinado roteiro. Satisfez-se com se apresentar, tal como é, confiante e sorridente. O que o separa de John Milton, a sofisticada encarnação do demônio em O Advogado do Diabo? Apenas a distância que medeia entre a ficção e a realidade. Estamos, porém, diante da mesma potência maligna, da mesma capacidade de perverter e da mesma irrestrita falta de consciência. É ela que lhe permite afirmar perante a justiça e a nação, confortável perante os fatos, que lhe tomou bilhões, a riso largo e mão grande.
Era inevitável seu encontro com Lula. Nascidos um para o outro. Essencialmente diferentes e essencialmente semelhantes. Diferentes na forma, semelhantes no conteúdo. Daí reservar-lhe o mais gentil apelido - "Amigo". Daí a falta de cerimônia deste, tornando-o capaz de pedir à maior empreiteira do país para lhe reformar um pequeno sítio em Atibaia (algo como solicitar carona a um porta-aviões - "Me leva até ali e depois vai para lá"). Daí pagar fortunas por palestras para assegurar ao amigo uma vida de nababo. Daí as franquias com que o ex-presidente foi agraciado. Qualquer um dos dois poderia repetir, sem qualquer constrangimento, a frase atribuída a Homer Simpson - "A culpa é minha e eu a ponho em quem quiser".Não é o que ambos fazem?
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Esse Estado não consegue defender o cidadão brasileiro... / Percival Puggina



DESARMAMENTO E MASSACRE DA POPULAÇÃO CIVIL

por Percival Puggina. Artigo publicado em 


 O mundo do crime declarou guerra ao mundo do trabalho. Nós produzimos e eles tomam nosso ganho - o dinheiro do bolso, o automóvel, a carga do caminhão, o gado no pasto. Guerra na cidade e no campo. Guerra sem dia ou hora de armistício. Não se trava contra o Estado de Direito, que bandido não é doido. Em muitos casos, formam um estado dito paralelo, mas não andam por aí atirando contra quartéis, porque sabem que lá dentro há bala e, de lá, vem bala. Não, eles querem o trabalhador da parada de ônibus, descendo do carro, entrando em casa, saindo do banco. E, não raro, tomam-lhe a vida.
 É uma guerra desigual, assimétrica. Enquanto o mundo do crime tem armas, o pessoal do trabalho árduo não dispõe de meios de defesa. Na tese oficial, esse seria encargo prioritário do Estado, mas ele, há muito tempo, jogou no tablado a toalha e a própria vergonha diante de sua impotência. O mesmo Estado, que tornou impeditiva a posse e o porte de armas pelos cidadãos, apresenta-se à sociedade como uma impotente, "mãos amarradas" pelas próprias leis, decisões judiciais, carência de recursos humanos e materiais. Vendo e ouvindo o Estado, dá vontade de parafrasear João Bosco e cantarolar: "Tá lá o Estado estendido no chão... Em vez de reza uma praga de alguém". Estatisticamente está comprovado: esse Estado não consegue defender o mundo do trabalho.
Em tais condições, quando um lado está armado e o outro indefeso, toda guerra vira massacre. É como ataque de força armada hostil contra população civil desarmada. Deu para perceber a semelhança com as ações do Estado Islâmico? Temos a mesma coisa aqui, de modo fragmentado, mas tão ou mais letal, com 60 mil homicídios anuais e um número várias vezes milionário de "expropriações" ou butins levados a cabo, todo ano, pelas forças vitoriosas do mundo do crime.
Se você reclamar, se cobrar o direito ao uso e porte de armas, imediatamente se insurgirão as falanges opiniáticas da esquerda, acusando-o de ser um sanguinário irresponsável, militante pró bancada da bala, uma espécie de Comando Vermelho com sinal trocado. O massacre das vítimas, a impossibilidade prática de promoverem a própria defesa, deveria ser objeto de escândalo como escandalizam as ações do ISIS. Mas aqui é o Brasil e estamos habituados aos necrológios da sociedade nas páginas policiais.
Como escrevi outro dia, ao direito natural da pessoa humana à própria vida corresponde o direito de defendê-la. A proibição do Estado retira-lhe a efetividade, mas por ser ele natural, ele está ali, inerente à condição humana. É direito recusado, mas persiste sendo da pessoa. Se a legislação me permitisse ter e portar armas, eu até poderia, livremente, renunciar a isso. Mas não digo o mesmo do dever de proteger a vida dos meus familiares! Eu, ao menos, não sinto que possa dele abrir mão. É um dever moral, que considero inerente à condição de homem de família, com mulher e filhos sob seu zelo.
Por isso, em nome disso, mais e mais persistente deve ser o clamor nacional por um novo estatuto sobre a matéria. Danem-se as carpideiras de bandidos, os adversários de toda repressão sobre as práticas criminosas e as atitudes suspeitas, os sócios do clube da maconha e otras cositas mas; danem-se os eternos fiscais da polícia, os censores das opiniões alheias, os esquerdinhas militantes de todas as causas erradas. Quem assina este artigo é pacífico mas não é pacifista, não está a soldo de nenhuma indústria de arma, não é homicida em potencial e está indignado, sim, com o que fizeram do Brasil.
N.A. - No próximo domingo, dia 19/03, às 15 horas, no Parcão, em Porto Alegre, ato pelo Direito de Defesa.

domingo, 5 de março de 2017

O Brasil sofreu 'um derrame cerebral, um AVC nas instituições...' / Percival Puggina


ESTANCAR SANGRIA

por Percival Puggina. Artigo publicado em 
 Na conversa gravada com Sérgio Machado, Jucá registrou a necessidade de um acordo para travar a Lava Jato como forma de "estancar a sangria". Esse era o nome que ele dava ao jorro de denúncias, delações, investigações e prisões que, à época, diariamente, inundavam o noticiário. Para os pichelingues do erário, as seis gongadas do cuco eletrônico marcavam a hora dos horrores. A qualquer momento a Polícia Federal poderia bater à porta. Dá para viver assim? Por isso, aqueles cavalheiros de punhos limpos e alma suja ansiavam e anseiam pelo fim da Lava Jato.
Para os feirantes nos negócios do Estado, nada pode ser mais prejudicial do que a atividade desenvolvida em Curitiba. Contra ela se mobilizam altíssimos escalões da República e poderosíssimos agentes econômicos, para os quais uma cifra de milhões é fração. Contra a Lava Jato, a peso de ouro, confabulam alguns dos mais astutos e argutos advogados do país. E o STF? Pois é, já vi tantos ministros deliberarem, como queiram, ora com olho na forma da lei maior e contra seu espírito, ora no espírito da lei maior e contra sua forma, que o somatório das incoerências me levou à absoluta desconfiança. Quem devolve às ruas uma pessoa como o goleiro Bruno, ou manda indenizar presos, está, minimamente, preocupado com o bem da sociedade? Não, o meliante Jucá, que precisa de uns poucos votos para ser senador na despovoada Roraima, talvez dê mais importância aos cidadãos. São duras estas palavras? São, sim, eu sei.
A sangria que precisamos estancar é outra! Faz lembrar um derrame cerebral, um AVC nas instituições. Afeta funções importantes do corpo político deformando ou impedindo sua correta operacionalidade. É por causa dela que só tem base suficiente para governar quem integre ou negocie com a organização criminosa. Essa mesma sangria entrega poder aos espertalhões e afasta os sábios; cria um Estado de parvos e cúmplices; deixa-se roubar em bilhões e despacha os talentos. Não quer gente séria por perto.
Nosso AVC institucional implodiu os partidos políticos no que neles há de mais precioso e singular - seu programa, seus princípios, seus valores. Ou os partidos nascem disso, por causa disso, com vistas a isso, ou nascem assim como se forma uma nuvem de gafanhotos, voando na direção dos postos de poder. Dirigentes partidários, líderes políticos deveriam ser condutores com ideias na cabeça, ideais no coração e mãos operosas. São ingênuas estas palavras? São, sim, eu sei. Mas só o são porque a sangria nos levou a um realismo hipócrita que tornou ingênua, de fato, a mera normalidade.
A normalidade não nos faria sangrar 12,5 milhões de postos de trabalho. A normalidade não nos traria a estas pautas que abastecem as conversas cotidianas. Nela, na normalidade, partidos políticos seriam reconhecidos por suas propostas para o desenvolvimento social, econômico e cultural do país e não pelos prontuários de seus dirigentes. Sem essa sangria que nos levou o Brasil, não haveria entre as legendas brasileiras tanto banco de sangue à disposição dos vampiros da política. São duras? Sim, sei.
Enquanto no mundo civilizado, os países com boas instituições debatem grandes temas nacionais e internacionais, suas perspectivas de desenvolvimento econômico, tecnológico, sua sustentabilidade, sua integração, nós discutimos os humores de Jucá e de Moreira Franco e as delações de Marcelo Odebrecht. Enquanto o mundo civilizado está nas páginas de política internacional, economia, cultura, nós colocamos o país inteiro nas páginas policiais. Enquanto no mundo civilizado, a sociedade faz os debates, nós somos espectadores do Estado e escolhemos alguns personagens para vaiar. Estancar sangria é, também, acabar com isso e criarmos partidos que acreditem mais nas potencialidades da sociedade do que no suposto e fajuto protagonismo do Estado.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Cuidado... O Brasil pode piorar com nossa inércia!



COMO GADO PARA O ABATEDOURO?

por Percival Puggina. Artigo publicado em 


 Quem se alinha com teses sempre desastrosas, como os defensores do desarmamento, por exemplo, senta-se sobre o lado esquerdo do traseiro. Por que será? As exceções são tão raras que não ocupam lugar na arquibancada dos fatos sociais. Não contentes com fincarem pé nos fracassos, nem com andarem por aí arredondando pilar quadrado até que a casa caia, esse pessoal se esmera em espancar o bom conselho e em desqualificar a divergência. Você é contra o desarmamento? Então você é raivoso, da turma da bala; está a serviço da indústria da guerra. Potencialmente, um assassino de aluguel.
No entanto, a entrega compulsória de todas as armas das pessoas de bem tem lugar de merecido destaque na lista das iniciativas absurdas e maléficas já adotadas em nosso país. Responde, diretamente, pelo aumento da criminalidade, tanto em razão do quantitativo quanto da desfaçatez com que os bandidos passaram a agir nos mais variados ambientes e circunstâncias. Percebem-se – e de fato são – “donos do pedaço”, tocadores de gado para o abatedouro ou para o brete da marcação. Rapidamente vamos adquirindo destreza em preencher boletins de ocorrência, aos quais já tratamos na intimidade como "os meus BOs".
Nós, os conservadores, e boa parte dos liberais, cremos que a pessoa humana é titular de direitos aos quais denominamos naturais. Entre eles, o direito à vida, à liberdade e à propriedade dos bens legitimamente havidos. Para os estatistas, socialistas, comunistas e outros totalitários em geral, as coisas não são assim. Entendem que os direitos nos são dados pelo Estado, motivo por que, fonte de todos os direitos, ele se torna, simultaneamente, objeto de reverência e de assédio. Estados vão à falência por conta do assédio. Sociedades são escravizadas por conta da reverência.
O leitor destas linhas pode estar pensando: “Mas se o Estado diz que eu não posso isto ou aquilo, na prática eu não posso mesmo; na prática eu não tenho tais direitos". Ora, se um direito é natural, inerente à condição humana, o Estado pode não o reconhecer, mas ele não deixa de existir. Os criminosos sentenciados têm a liberdade justificadamente tolhida; os presos políticos em regimes não democráticos, tem a liberdade injustificadamente contida. Mas o direito? Ah, o direito permanece na pessoa!
Isso é tão significativo quanto objeto de abuso. Se olharmos a pauta das postulações daqueles corpos políticos a que me referi no início, veremos que atuam invocando o reconhecimento de supostos direitos que seriam naturais aos grupos que manipulam. Normalmente, não são.
Pois bem, a turma das teses desastrosas acabou, simultaneamente, com o sistema penitenciário e com a possibilidade de dar devida vigência repressiva ao Código Penal. A realidade social evidencia que já há mais criminosos soltos do que presos. As baixas contabilizadas pelas estatísticas são indicativas de estado de guerra, e de guerra sangrenta. Em tais condições, nosso direito à vida não pode ser preservado, defendido ou exercido na ausência de legítimo e proporcional direito de defesa. No Brasil de 2017, a posse e o porte de armas deveria ser objeto de clamor nacional ante o Estado omisso no cumprimento das obrigações. Esse não cumprimento se torna ainda mais grave quando, simultaneamente, nos recusa o direito à posse e ao porte de armas de defesa pessoal. Como gado para o abatedouro, não!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Brasil, esse de hoje, tem uma queda para o suicídio... Sempre escolhe ser infeliz !

Artigos do Puggina 


O FORO É PRIVILEGIADO OU O TRIBUNAL É ERRADO?

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

 A segunda turma do STF decidiu, nesta terça-feira, que o processo decorrente da delação de Sérgio Machado não será compartilhado com Curitiba. Isso significa, na prática, que o ex-senador José Sarney foi salvo por osmose. Como aquela delação envolveu, além de Sarney, outros senadores com mandato, a defesa do maranhense postulou o privilégio e levou. Sarney repousará nas dormentes prateleiras do Supremo, livrando-se da dedicação ao trabalho que caracteriza o juiz Sérgio Moro. O site O Antagonista, comentando o assunto, lembrou que Celso de Mello, recentemente, disse não haver privilégio algum nesse tipo de foro, tecnicamente chamado "foro especial por prerrogativa de função". Supõe-se, então, que os advogados de Sarney erraram e que o ex-senador deve ter ficado muito contrariado com a decisão. Oh, ministro!
 Fatos como esse transformaram a reprovação ao foro privilegiado numa unanimidade nacional. A sociedade brasileira nutre especial repulsa a esse instituto, que tem servido para homiziar criminosos, transformando o mandato, ou a função, em casamata protetora de patifes engravatados. No entanto (sempre pode haver um "no entanto"), observou hoje um ajuizado amigo que o problema não está no privilégio de foro, mas no STF.
O argumento com que justifica a afirmação me traz a este artigo. Ele propõe uma incerteza à reflexão dos leitores: o que estaria transformando o foro especial em privilégio seria esse Supremo, causa de tantos males infligidos à vida nacional, vertente de estapafúrdias decisões, contradições e desacertos. Esse tipo de Supremo é que teria, pelo seu formato, composição e amplitude de suas imperfeições, convertido um preceito de prudência política em providencial mecanismo a serviço da morosidade e da impunidade. O que deveria ser uma instância qualificada e célere, porque única, se tornou símbolo da justiça que não acontece.
Poucos dirão desconhecer, observou meu amigo, a presença numericamente expressiva de militantes de esquerda nos cursos de Direito, no ambiente acadêmico e, daí, para os vários compartimentos do universo judicial. O STF é apenas a parte mais visível, o ápice desse fenômeno que procede e avança pelos labirintos do sistema. Há uma diferença gritante entre a conduta dos magistrados, procuradores, promotores e defensores públicos de esquerda e os conservadores ou liberais. Os primeiros são, comumente, militantes de suas causas. Os últimos têm suas opiniões, mas não as transformam em causas pessoais ou "coletivas", levadas com militância aos autos.
Nessa perspectiva, a eliminação de todos os foros especiais seria mais uma arma, talvez a mais poderosa delas, nas mãos do ativismo judiciário para infernizar adversários políticos, extinguindo-se as últimas barreiras de atuação nesse sentido. Do mais humilde prefeito ao presidente da República, todos estariam sujeitos às eventuais animosidades e ativismos dos juízos singulares.
"Os males que vemos no foro especial por prerrogativa de função - males que o transformam em foro 'privilegiado' - são males do nosso STF, de sua genética partidária e/ou ideológica, de sua incompetência e incapacidade para a função de juízo criminal", concluiu meu amigo, abalando minhas certezas.
Como não tenho convicções que se sobreponham à boa razão, trago o assunto aos leitores. Que lhes parece? Suponha que seu preferido para a eleição presidencial de 2018 vença o pleito. Você sentiria aquele futuro governo num ambiente de estabilidade institucional sabendo que qualquer juizo federal, de qualquer lugar do país, poderia infernizar-lhe a vida? Verdade que, em tese, o pau bateria em Chico e em Francisco. Mas seria isso saudável? Não seria preferível mudar o STF?
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

"A TURMA DOS JATINHOS E HELICÓPTEROS" / Percival Puggina


A TURMA DOS JATINHOS E HELICÓPTEROS

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

Sempre que você escutar um economista dito "desenvolvimentista" saia correndo, chame a mulher e as crianças e grite por socorro, SOS, mayday, salve-se quem puder!
Naqueles tempos em que Lula ainda tentava mostrar o petismo à nação como experiência bem sucedida, malgrado o crescimento fosse tipo merengue e a prosperidade não passasse de contas penduradas num prego, ele surtava dizendo que, graças aos governos do partido, pobre já andava de avião. Doze milhões de desempregados depois, contas ainda no prego da inadimplência, as companhias aéreas devolvem aviões e reduzem o número de voos, mas... há uma parcela da elite política brasileira que só viaja de jatinho.
 Ah, as nossas instituições! Desgraçadamente, nos últimos anos, elas se corromperam em proporções ainda não plenamente descritíveis. A sociedade, que não lhes devotava confiança, perdeu-lhes o respeito. Se o leitor destas linhas for parlamentar, ministro de Estado, membro das cortes superiores do Judiciário, agente público de alto escalão e considerar excessivamente duras estas palavras, fale com as pessoas. Ouça o povo nas ruas. Será ainda mais contundente o que vai ouvir. O descaramento e a inépcia de muitos que se instalam nessas posições para os piores fins, totalmente desprovidos de espírito público, atinge a todos e abala os pilares da Ordem, da Política e do Direito. Produz o que hoje se observa no país.
 E não é só por causa da corrupção! A sociedade também não tolera mais os contracheques de centenas de milhares de reais, recheados com "indenizações", parcelas adicionais, gratificações especiais e jeitosas manobras. Divulgada esta semana, não mostrava a folha de pagamento do TJ sergipano um pouco mais disso, com remunerações de centenas de milhares de reais aos desembargadores? Pergunto: prodigalidades assim não se repetem em toda parte, gerando ganhos impensáveis fora do serviço público, cujo patrão, o povo, desconhece os absurdos que paga? A nação enoja-se desses esbanjamentos, dos cartões corporativos, dos voos em primeira classe, das aposentadorias privilegiadas, e da conduta dessa elite cuja boa vida, ela, a nação, custeia com o gotejado suor de seu rosto e com a sola do sapato gasta nas calçadas do desemprego.
Notórias personalidades, além do privilégio de foro que as oculta da efetiva justiça, desfrutam do raro privilégio de se eximirem do convívio social nos saguões dos aeroportos e nas filas de embarque onde não seriam bem acolhidas pelo Brasil que se leva a sério e exige respeito. Então, os senhores da casa grande republicana, andejam pelo país para reuniões de proselitismo e mentira, festejados por cupinchas à espera da própria vez. E como viajam? Em jatinhos, helicópteros e voos fretados, às custas de terceiros, quartos e quintos, entre os quais, quase certamente, nós mesmos, a turma da senzala.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

"NOVILÍNGUA, EUFEMISMOS E ... TESTOSTERONA" / Percival Puggina



NOVILÍNGUA, EUFEMISMOS E ... TESTOSTERONA

por Percival Puggina. Artigo publicado em 13.02.2017

 O famigerado "politicamente correto" parece nascido nas páginas de 1984, o profético livro de George Orwell sobre o totalitarismo em expressão máxima. É a própria "novilíngua" ...
Publicado originalmente em https://www.facebook.com/blogbbraga.

I.
Em 21 de janeiro, o Jornal Nacional anunciou que "milhões de mulheres saíram às ruas de centenas de cidades americanas pra protestar contra Donald Trump" [1]. Sem mencionar a fonte dos números que sustentavam a referência a "milhões" e "milhares", a matéria foi apresentada por Monalisa Perrone. A jornalista - que já foi desmentida ao vivo por inventar falas de Trump e afirmou que defender a fé e a família é "extremismo" [2] - encheu a boca para descrever o protesto contra o Presidente dos Estados Unidos.
O Jornal Nacional não mencionou, porém, o patrocínio multimilionário que George Soros generosamente concedeu as tais "mulheres" [3]. Elas, que tinham - ora, ora... - uma "agenda", já que mulheres que eram a favor da vida e contra o aborto - contra o assassinato em massa de crianças inocentes - foram impedidas de participar do evento.
Em outubro do ano passado, Gioconda Brasil - repórter da Globo - disse "No Brasil não existe cobertura das eleições americanas. Existe torcida pela vitória de Hillary Clinton" [5]. Mas, não é só "torcida" por um candidato, mas compromisso - escancarado - com a agenda, não a das mulheres, e sim a das feministas e de seus padrinhos comuno-globalistas.
***
Comuno-globalismo - travestido de "mulher" - contra Trump.
George Soros tem ligação com mais de 50 "parceiras" da "Marcha das Mulheres" em Washington.
Leia: "Billionaire George Soros has ties to more than 50 ‘partners’ of the Women’s March on Washington". The New York Times, 20 de janeiro de 2017 [http://nytlive.nytimes.com/womenintheworld/2017/01/20/billionaire-george-soros-has-ties-to-more-than-50-partners-of-the-womens-march-on-washington/].
II.
As imagens por si só exibem uma monstruosa concentração de pessoas. Você por acaso viu o evento ser noticiado no Jornal Nacional? Procure lá - na edição do dia 27 de janeiro - por "Marcha pela Vida". Não vai encontrar nada [6].
Mas, com paciência, vá até a edição do dia 21. Você irá encontrar uma matéria com grande destaque - enviesado - sobre a tal "Marcha das Mulheres", realizada na mesma capital americana. Uma "marcha" promovida não por "mulheres", mas por gangues abortistas para - não simplesmente protestar contra o Presidente eleito Donald Trump - mas para exigir o "direito" de assassinar crianças indefesas. Tudo patrocinado pelo multimilionário George Soros [7].
Eis mais uma amostra das fraudes promovidas por um jornalismo delinquente, comprometido com a macabra agenda comuno-globalista.
III.
Em uma nota anterior, mostrei como o Jornal Nacional enalteceu a "Marcha das Mulheres", em Washington - uma "marcha" organizada por gangues abortistas para reivindicar o "direito" de assassinar bebês e protestar contra Donald Trump - e omitiu do noticiário a "Marcha pela Vida" - um evento contra o aborto que levou milhares de pessoas às ruas da mesma capital americana e que contou com o apoio do Presidente eleito e do vice-Presidente dos Estados Unidos [8].
Vamos pegar agora o "Fantástico". Na edição do dia 22 de janeiro, o programa da Rede Globo levou ao ar uma matéria de 4 minutos e 25 segundos, na qual exaltou a "Marcha das Mulheres", valendo-se das "estrelas" que participaram do evento [9]. Exibiu Madona pregando a "revolução do amor"; mas não mostrou a cantora dizendo, sob aplausos e gritos entusiasmados, que estava pensando em explodir a Casa Branca [10]. O "Fantástico" recortou um "belo" trecho do discurso de Scarlett Johansson; porém, escondeu aquele em que a atriz dá o seu testemunho e promove a Planned Parenthood - o maior matadouro de crianças inocentes da face da terra, acusada de comercializar os órgãos e os tecidos dos bebês assassinados [11]. Deu destaque aos estereótipos inventados para manchar a reputação de Donald Trump - proferidos por Ashley Judd -, mas não reservou vinte segundos da reportagem para as palavras de Donna Hylton na "Marcha" - uma "black feminist" condenada por sequestrar, torturar e matar um senhor branco de 62 anos de idade [12]. Não falou das ligações dos familiares de uma das organizadoras com o Hamas - grupo terrorista islâmico [13]. Sequer fez menção aos "lindos" cartazes e do "mais puro bom gosto" exibidos no protesto financiado por George Soros [14].

E a "Marcha pela Vida"? No último domingo - 29 de janeiro - o "Fantástico" não mostrou nada, nada, nada. Procure lá na página do programa [15]. Mas exibiu uma matéria curiosa: "Notícias falsas divulgadas na internet se tornam um problema mundial". Nela, trata das eleições nos Estados Unidos - contando com a colaboração do petista Eugênio Bucci -, sempre mirando Donald Trump [16].
O principal nessa matéria é que o "Fantástico" coloca em xeque a internet. Sim, as informações que circulam na rede devem ser realmente verificadas. Porém, ele dá a imprensa "oficial", e o programa mesmo, como fontes de extrema credibilidade - o que é falso. Basta ver como o "show da vida" omitiu a "Marcha pela Vida". Verificar o seu histórico de fraudes jornalísticas - e o da Rede Globo - a serviço da agenda comuno-globalista para comprová-lo [17].

REFERÊNCIAS.
[1]. "Milhões de mulheres protestam contra Donald Trump". Jornal Nacional, 21 de janeiro de 2017 [http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/01/milhoes-de-mulheres-protestam-contra-donald-trump.html].
[4]. Cf. "Estados Unidos: Marcha pela Mulher retira feministas pró-vida do evento". ACIDigital, 20 de janeiro de 2017 [http://www.acidigital.com/noticias/estados-unidos-marcha-pela-mulher-retira-feministas-pro-vida-do-evento-74450/].
[7]. Cf. Jornal Nacional, 21 de janeiro de 2017 [http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/01/milhoes-de-mulheres-protestam-contra-donald-trump.html] - Cf. NOTA sobre a cobertura do Jornal Nacional [https://www.facebook.com/blogbbraga/photos/a.190586071090013.1073741828.184797238335563/766843470130934/?type=3&theater] e "Comuno-globalismo - travestido de "mulher" - contra Trump": George Soros tem ligação com mais de 50 "parceiras" da "Marcha das Mulheres" em Washington [https://www.facebook.com/blogbbraga/posts/766969776784970].
[12]. Cf. "Women's march speaker a kidnapper, murderer". WND, 26 de janeiro de 2017 [http://www.wnd.com/2017/01/womens-march-speakera-kidnapper-murderer/].
[13]. Cf. "Women’s March organizer Linda Sarsour has family ties to Hamas, recently met former Hamas financier". Jihad Watch, 22 de janeiro de 2017 [https://www.jihadwatch.org/2017/01/womens-march-organizer-linda-sarsour-has-family-ties-to-hamas-recently-met-former-hamas-financier].
[14]. Cf. "The Horrible New Normal", Rod Dreher [http://www.theamericanconservative.com/dreher/the-horrible-new-normal/].
[17]. Cf. "Fantástico adapta a 'família' à 'novilíngua' gayzista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2016/05/fantastico-adapta-familia-novilingua.html]; "O 'Fantástico' e a fraude gayzista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/07/o-fantastico-e-fraude-gayzista.html]; "A 'fantástica' propaganda gayzista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-fantastica-propaganda-gayzista.html]; "A 'fantástica' mitologia dos 'torturados'". Tópico VIII in "Bolsonaro, Ustra: o 'torturador' e a mitologia comunista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2016/04/bolsonaro-ustra-o-torturador-e.html]; "Ana Maria Braga, Fátima e a ideologia de gênero gayzista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2016/10/ana-maria-braga-fatima-e-ideologia-de.html].



terça-feira, 31 de janeiro de 2017

" ser pobre não é condição necessária para que alguém se torne criminoso, nem é o mundo do crime destino obrigatório de quem vive em condições de carência material." / Percival Puggina

Artigos do Puggina

DR. DRÁUZIO E A VIOLÊNCIA

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

No último dia 17, o programa Timeline da rádio Gaúcha ouviu o Dr. Dráuzio Varella sobre o surto de violência que assola o país. Mostrando conhecimento do assunto na perspectiva em que o examinou (causas sociológicas), o conhecido médico diagnosticou-a como uma enfermidade que se alastra sob o impulso de inúmeras causas, sendo a periferia das grandes cidades o espaço onde mais rapidamente se expande. Entre os fatores que originam o mal da violência e a aparente surpresa com que nos colhe, ele citou: 1) a desconexão entre o discurso que menciona os muitos milhões tirados da pobreza e as péssimas condições reais de vida naquelas áreas; 2) os milhões de jovens desocupados, que não trabalham e não estudam, ou estudam em péssimas escolas, e são facilmente transformados em recrutas das organizações criminosas; 3) a natalidade descontrolada e socialmente desequilibrada; 4) a permanente expansão da população que nasce com pequenas possibilidade de desenvolvimento individual e social, a produzir verdadeira "fábrica de ladrões".
 Com justo discernimento, o Dr. Dráuzio, observou que ser pobre não é condição necessária para que alguém se torne criminoso, nem é o mundo do crime destino obrigatório de quem vive em condições de carência material. No entanto, diante da nossa triste realidade e das imensas facilidades que o caos social disponibiliza às forças do crime, o entrevistado do Timeline afirmou que a taxa de criminalidade brasileira poderia ser ainda maior.
Creio que foi o David Coimbra quem, lá pelas tantas - citando a Índia como exemplo -, perguntou sobre os motivos pelos quais países com níveis de pobreza ainda mais acentuados ou não padecem dessa enfermidade, ou não são por ela atingidos nas proporções em que o Brasil é afetado. O médico foi incisivo: famílias bem estruturadas, onde ocorra a transmissão de valores, com mães e pais trabalhadores, inexistindo abusos ou violência, podem proporcionar "ovelhas desgarradas". Mas serão sempre em número muito menor do que na situação oposta. Sem carinho, sem imposição de limites, convivendo com pais violentos e sem referências saudáveis a infância se faz vítima potencial, também, do recrutamento pela criminalidade.
É claro que o programa não esgotou a imensa pauta. O entrevistado abordou apenas alguns elementos da caótica situação das "comunidades" tomadas pelos traficantes, ou na fila de espera de que isso aconteça enquanto o Estado vai para um lado e a sociedade marcha para a anomia. Não, o Brasil não se explica nem se entende em 15 minutos. Nem em 15 anos. Nem em 15 livros. No entanto, do diagnóstico à terapia recomendada, o Dr. Dráuzio mencionou temas que considero relevantes, sobre os quais tenho escrito ao longo das últimas décadas sucessivos artigos.
Note-se, ele é ateu e não consigo vê-lo como um conservador. No entanto, falou no binômio família e valores, apontou a conveniência da simultânea presença masculina e feminina, a mãe, ou alguém por ela, o pai, ou alguém por ele, como cuidadores responsáveis, proporcionando afeto, estabelecendo limites e atentos às vivências e convivências das crianças e adolescentes. E chegamos, assim, ao meu ponto: nada disso se consegue com a irresponsável publicidade (o mais apropriado seria falar em propaganda) da "mulher dona do próprio útero"; dos filhos de "produção independente"; da família identificada como "instituição opressora", a ser superada em vistas do pleno exercício da liberdade; do "proibido proibir". Nem com apoio às rupturas da ordem e à impunidade. Nem torcendo pelo bandido contra a polícia. Nem com a libertinagem sexual que procria, mas não cria; que povoa, mas não civiliza...

"ser pobre não é condição necessária para que alguém se torne criminoso, nem é o mundo do crime destino obrigatório de quem vive em condições de carência material" / Percival Puggina


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DR. DRÁUZIO E A VIOLÊNCIA

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

No último dia 17, o programa Timeline da rádio Gaúcha ouviu o Dr. Dráuzio Varella sobre o surto de violência que assola o país. Mostrando conhecimento do assunto na perspectiva em que o examinou (causas sociológicas), o conhecido médico diagnosticou-a como uma enfermidade que se alastra sob o impulso de inúmeras causas, sendo a periferia das grandes cidades o espaço onde mais rapidamente se expande. Entre os fatores que originam o mal da violência e a aparente surpresa com que nos colhe, ele citou: 1) a desconexão entre o discurso que menciona os muitos milhões tirados da pobreza e as péssimas condições reais de vida naquelas áreas; 2) os milhões de jovens desocupados, que não trabalham e não estudam, ou estudam em péssimas escolas, e são facilmente transformados em recrutas das organizações criminosas; 3) a natalidade descontrolada e socialmente desequilibrada; 4) a permanente expansão da população que nasce com pequenas possibilidade de desenvolvimento individual e social, a produzir verdadeira "fábrica de ladrões".
 Com justo discernimento, o Dr. Dráuzio, observou que ser pobre não é condição necessária para que alguém se torne criminoso, nem é o mundo do crime destino obrigatório de quem vive em condições de carência material. No entanto, diante da nossa triste realidade e das imensas facilidades que o caos social disponibiliza às forças do crime, o entrevistado do Timeline afirmou que a taxa de criminalidade brasileira poderia ser ainda maior.
Creio que foi o David Coimbra quem, lá pelas tantas - citando a Índia como exemplo -, perguntou sobre os motivos pelos quais países com níveis de pobreza ainda mais acentuados ou não padecem dessa enfermidade, ou não são por ela atingidos nas proporções em que o Brasil é afetado. O médico foi incisivo: famílias bem estruturadas, onde ocorra a transmissão de valores, com mães e pais trabalhadores, inexistindo abusos ou violência, podem proporcionar "ovelhas desgarradas". Mas serão sempre em número muito menor do que na situação oposta. Sem carinho, sem imposição de limites, convivendo com pais violentos e sem referências saudáveis a infância se faz vítima potencial, também, do recrutamento pela criminalidade.
É claro que o programa não esgotou a imensa pauta. O entrevistado abordou apenas alguns elementos da caótica situação das "comunidades" tomadas pelos traficantes, ou na fila de espera de que isso aconteça enquanto o Estado vai para um lado e a sociedade marcha para a anomia. Não, o Brasil não se explica nem se entende em 15 minutos. Nem em 15 anos. Nem em 15 livros. No entanto, do diagnóstico à terapia recomendada, o Dr. Dráuzio mencionou temas que considero relevantes, sobre os quais tenho escrito ao longo das últimas décadas sucessivos artigos.
Note-se, ele é ateu e não consigo vê-lo como um conservador. No entanto, falou no binômio família e valores, apontou a conveniência da simultânea presença masculina e feminina, a mãe, ou alguém por ela, o pai, ou alguém por ele, como cuidadores responsáveis, proporcionando afeto, estabelecendo limites e atentos às vivências e convivências das crianças e adolescentes. E chegamos, assim, ao meu ponto: nada disso se consegue com a irresponsável publicidade (o mais apropriado seria falar em propaganda) da "mulher dona do próprio útero"; dos filhos de "produção independente"; da família identificada como "instituição opressora", a ser superada em vistas do pleno exercício da liberdade; do "proibido proibir". Nem com apoio às rupturas da ordem e à impunidade. Nem torcendo pelo bandido contra a polícia. Nem com a libertinagem sexual que procria, mas não cria; que povoa, mas não civiliza...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O Futuro nos espera com dúvidas como 'suicídio demográfico da Europa' / Percival Puggina

EUROPA OCIDENTAL, NATALIDADE, IMIGRAÇÃO

por Percival Puggina. Artigo publicado em 
  Praticamente todos os países europeus, se deduzida a natalidade dos imigrantes, vêm apresentando taxas que não repõem, na próxima geração, os atuais níveis populacionais. Quando a taxa de fecundidade média cai abaixo de 2,1 filhos por mulher, a população começa a envelhecer e a diminuir. É o "suicídio demográfico da Europa", sobre o qual demógrafos vêm apontando e alertando há bom tempo.
 Os motivos são vários. Os jovens estão despendendo mais tempo em sua formação, estudando mais e evitando relações estáveis. O nível de renda subiu e as pessoas estão mais preocupadas consigo mesmas (a elevação de renda é positiva, mas a ascensão do egocentrismo não). As relações conjugais não proporcionam às mulheres segurança suficiente para engravidarem com a certeza de que a família não se irá desfazer. A integração feminina no mercado de trabalho ganhou tal abrangência e significado econômico que a gravidez passou a ser vista como um embaraço ao sucesso profissional. À medida em que avançam nas respectivas carreiras, muitas mulheres percebem que, simultaneamente, por falta de tempo, regridem na estabilidade conjugal. Muitos homens europeus, mesmo comprometidos com sua relação, percebem a gravidez da companheira como uma restrição adicional à sua "liberdade" e como severa redução da própria autonomia. A tudo isso, somam-se as periódicas crises econômicas, a redução do número de matrimônios formais, a facilidade que muitos países concedem ao aborto, a expansão da homossexualidade, a profusão de métodos contraceptivos e por aí vai.
 Com tantas "razões" para e modos de não ter prole, às razões do amor e sua generosa partilha na geração de outros seres, as emoções da gravidez, do parto, do desenvolvimento dos filhos, a maternidade e a paternidade, enfim, vividas em sua riqueza psicológica, emocional, espiritual e social perde impulso. Fica para depois. Fica para o futuro. Até que o futuro vira passado, e já era.
Várias fontes consultadas relatam que França, Reino Unido, Irlanda e países escandinavos têm taxas de fecundidade menos assustadoras, entre 1,8 e 2,0, mas esses números certamente computam os nascimentos de europeus em comunidades de imigrantes, notadamente muçulmanos. Noutros países, como na Alemanha, Áustria e Suíça, os números, mesmo assim, são assustadores (1,3 filhos por mulher). Em contrapartida, as famílias muçulmanas, que lideram com folga os atuais fluxos populacionais para a Europa, têm taxas de natalidade de 3,1 filhos por mulher. Assim, com dados do Pew Resarch Center, a população muçulmana cresce duas vezes mais rapidamente do que a população nativa europeia e já atinge 7,5% da população da França, 6,0% da Holanda, 5,9% da Bélgica, 5,8% da Alemanha e 4,8% do Reino Unido.
Se os europeus pretendem, hoje, utilizar recursos humanos oriundos do mundo islâmico para realizar trabalhos que não estão mais dispostos a executar, se o egoísmo, a frouxidão dos laços familiares e as atitudes antinatalistas continuarem no rumo em que estão, logo verão quem estará trabalhando para quem.