A partir de informações reveladas por importante semanário nacional, o Brasil, mais uma vez, fica perplexo diante da desfaçatez política. Sem cortinas, as notícias publicadas indicam a existência de complexa organização criminosa que, desviando recursos da Petrobras, alimentava uma multifacetada rede de corrupção, formada por políticos diversos e partidos plurais; segundo o informado, além de concatenações no Executivo, o crime chegaria ao coração do Legislativo, envolvendo supostamente a presidência de ambas as casas parlamentares. Não faço juízo de valor nem digo que sim ou não; apenas registro o fato noticiado.
O que fica é a certeza de que a política está cada vez mais transformada em um caso de polícia
É claro, no entanto, que a simples possibilidade do fato já é de fazer corar um frade de pedra. Afinal, admitir, mesmo que hipoteticamente, a eventual existência de subterrânea rede de esgoto político, no núcleo central do poder republicano, com vista a irrigar o produto criminoso de uma ética desviada de personalidades transviadas da ética, bem expõe o elevado grau de necrose das instituições políticas brasileiras. Pelo visto, o famigerado “mensalão” foi um simples café pequeno, pois, desta vez, o esquema rompe as cifras dos milhões para atingir um patamar bilionário. Enfim, a ganância de nossos corruptos parece ilimitada; pensam que tudo podem, mesmo que o tudo seja um absoluto nada moral.
Sabidamente, a vida ensina que aquilo que atenta contra a natureza das coisas uma hora desmorona sobre suas pífias estruturas. Sim, a corrupção é poderosa, mas todo poder corrupto é fútil. E a futilidade, por maior que seja o brilho da superfície, é frágil em sua substância. Assim, quando menos se esperava, através do instituto da delação premiada, uma das peças centrais do esquema criminoso falou, jogando luzes sobre as sombras do delito potencial.
Naturalmente, as informações reveladas serão investigadas pelas autoridades competentes. Até aqui, o que fica é a certeza de que a política está cada vez mais transformada em um caso de polícia. O crime está subjugando a República para vender a democracia brasileira. Aliás, quanto será que custa a cadeira do Planalto?
Fonte: Zero Hora, 9/9/2014