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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

“DAQUI A DEZ ANOS, O PAÍS GASTARÁ MAIS DE 80% COM PREVIDÊNCIA” / Vitor Wilher

“DAQUI A DEZ ANOS, O PAÍS GASTARÁ MAIS DE 80% COM PREVIDÊNCIA”

Vítor Wilher analisa propostas do Banco Mundial para melhorar situação 

fiscal do país

“O Brasil é um país que gasta muito e mal”. Esse foi o retrato feito pelo relatório “Um ajuste justo – Análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil”, encomendado pelo governo federal ao Banco Mundial. O documento traz uma série de propostas para melhorar a situação fiscal do país, com sugestões que vão desde a reforma da Previdência e a revisão dos salários dos servidores até o fim do ensino superior gratuito. Para o professor de economia e especialista do Instituto MilleniumVítor Wilher, muitas das questões apresentadas já são defendidas por economistas e serão cruciais para nortear o debate no próximo ano. Ouça!
No relatório, estão propostas para o setor privado, como a Reforma do Simples e a eliminação da desoneração da folha; para a educação, como o fim da ineficiência do ensino; para o mercado de trabalho, como uma reformulação do Abono Salarial e do Salário Família; e para a saúde, como mais capacitação dos profissionais e remoção dos subsídios tributários federais para seguros privados de saúde. Confira abaixo outros pontos destacados pelo levantamento:
Alto volume de gasto público, mas dificuldade em diminuir a desigualdade social
Wilher explica que o Estado brasileiro tem uma carga tributária entre 33% e 36% do PIB, a mais alta dos países emergentes. No entanto, apesar da grande arrecadação, esse valor é pouco distribuído entre bens e serviços públicos, como saúde e educação básica, que poderiam afetar a desigualdade de oportunidades.
“O Estado brasileiro foi capturado por algumas elites, que acessam o ensino superior gratuito, grandes empresários que são beneficiados com crédito subsidiado, via bancos públicos, e pelos próprios servidores, que possuem um prêmio salarial muito maior que o privado. Esse Brasil capturado por grupos de interesse não dá conta de reduzir a desigualdade, o que ele faz é perpetuar a discrepância entre quem nasce rico e quem nasce pobre”, comenta.

domingo, 8 de outubro de 2017

Custo-benefício, efeitos colaterais tudo junto..

Resultado de imagem para imagem de balança de dois pratos

CUSTO-BENEFÍCIO






O conceito “relação custo-benefício” é ensinado aos alunos de Economia nos primeiros semestres da faculdade. Como os recursos são escassos, os governantes precisam levar em conta os impactos de cada opção de política pública nas suas escolhas. Não fazê-lo implica má alocação de recursos e menor bem-estar social.
Não há no Brasil uma tradição de fazer avaliação de custo-benefício das políticas públicas. Os próprios economistas costumam ignorar essa lição quando propõem aumentar os gastos do governo sem critérios, ignorando as restrições orçamentárias e as consequências para a economia. Na maioria das vezes, gastamos os recursos públicos às cegas, sem estabelecer metas e prazos. Somos perdulários.
O problema é que não há mais como deixar a fatura para as próximas gerações. A “regra de ouro”, prevista na Constituição, proíbe a emissão de dívida pública para pagar gastos correntes (como aposentadorias, salários e remédios), sendo que o Tesouro Nacional já está esbarrando nessa restrição. Aumentar impostos, além de difícil politicamente, não resolveria o problema, inclusive porque a “regra do teto” (limita o crescimento dos gastos à inflação do ano anterior) ficará cada vez mais restritiva já nos próximos anos. É necessário cortar gastos urgentemente, com a devida atenção para a relação custo-benefício de cada política pública.
Essa avaliação das políticas governamentais é mais complexa do que a racionalidade do setor privado, pois envolve não apenas seu custo monetário e o benefício no bem-estar social, mas também suas implicações políticas. O cálculo é também político.
Investimento em saneamento, por exemplo, produz uma tremenda melhora na vida e na saúde das pessoas. Trata-se, porém, de um investimento pouco considerado pelos governantes, pela sua pouca visibilidade; diferente de construir uma ponte ou um hospital. Enquanto isso, benefícios fiscais e crédito subsidiado rendem apoio político de grupos de interesse beneficiados, apesar de pouco transparentes para o restante da sociedade.
O mesmo vale para reformas estruturais. A reforma da Previdência ainda que seja crucial para o País, enfrenta grande resistência, pela proximidade da campanha eleitoral de 2018. Para o Congresso, o desgaste de fazer agora é muito elevado, até porque o governo se mostra pouco empenhado, indicando haver outras prioridades para a agenda legislativa. Por que o Congresso arcaria sozinho com o custo?
Ocorre que, passada a eleição, o cenário sem reformas fiscais é tão devastador, inclusive do ponto de vista político, que não faz sentido adiá-las. A devastação não seria para daqui dez anos. Seria para já.
Solicitar ao Congresso a flexibilização das regras de ouro e do teto, que são constitucionais, em vez de promover reformas estruturantes, pode parecer uma saída fácil, mas não é. Não mesmo. A consequência de uma perspectiva de retorno à trajetória do governo Dilma poderá ser tão virulenta, com impacto na taxa de câmbio e nos juros, que faria qualquer gestor mudar de ideia rapidamente. O quadro fiscal é suficientemente grave para justificar tremenda reação.
Entre flexibilizar as amarras constitucionais dos gastos e avançar com as reformas, o custo-benefício estará cada vez mais favorável para o segundo.
Difícil repetir tantos erros como nos últimos anos. O desastre veio de uma não política que contava com apoio de importantes segmentos do setor produtivo e com o descuido de órgãos de controle.
Aprendemos com a crise. Políticos são pragmáticos e nossas instituições de controle têm funcionado melhor. O papel das lideranças do setor privado, no entanto, será crucial para empurrar a classe política na direção das reformas. Ajudará a reduzir o custo-benefício das reformas.
A pressão da sociedade ajuda a moldar a agenda econômica, sendo maior a responsabilidade da elite. Não convém esperar dos governantes mais do que eles podem entregar.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 05/10/2017.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

" O poço e o fundo do poço " da Educação do Brasil

Educação no Pisa: o topo e o fundo do poço

O foco da análise feita por IDados são os extremos da distribuição dos resultados: os melhores e os piores alunos. Sobre os piores alunos não há muita novidade. O Brasil continua entre os piores, os avanços dos piores contribuíram para melhorar um pouco a média, mas nas últimas edições da prova esses avanços estão se reduzindo. É possível que o avanço ocorrido esteja relacionado com a maior inclusão de crianças na pré-escola mas, com a virtual universalização da mesma, os avanços já deram o que tinham de dar. Ou se melhora a qualidade do ensino ou não melhoram as notas do Pisa.
O boletim dedica grande parte de sua análise aos alunos com melhor desempenho. E a realidade apontada é preocupante: o desempenho dos 5% melhores alunos brasileiros é comparável à média dos alunos dos países da OCDE. E também aqui os resultados da elite brasileira encontram-se estagnados. Nossa elite educacional é medíocre e apenas sobrevive porque a camada de baixo não possui poder de pressão.
Em seu convite ao debate, o boletim apresenta informações relevantes que constituem uma boa provocação: o impacto de uma elite bem qualificada sobre o desenvolvimento econômico é maior do que o impacto da qualificação média do país. Ou seja: numa economia global competitiva, o país que não cuida de estimular e promover sua elite educacional e exigir dela altos níveis de desempenho fica cada vez mais para trás.
Em sua reportagem sobre o tema, assinada pela repórter Maria Clara Vieira, a Revista Veja destaca uma comparação particularmente relevante para o Brasil: os BRICS, especialmente China e Rússia. Dentre nossos parceiros comerciais mais próximos, nosso desempenho também vai nos deixando em piores condições de competir.
Num país de imensa desigualdade econômica e social como o Brasil, os desafios que se apresentam ao sistema educacional são de enorme magnitude. A experiência internacional sugere que um sistema educacional só responde à sua vocação quando se assenta em critérios meritocráticos. De um lado precisa promover a equidade. Ao mesmo tempo precisa promover a excelência. Para romper com a inércia o Brasil precisa enfrentar esse debate.
Fonte: “Veja”, 23 de maio de 2016.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Mais do mesmo...Dirigentes da Caixa maquiavam contas públicas // Instituto Millenium


TCU decide multar 16 dirigentes da Caixa por inflar resultados

Grupo é condenado por manobra que gerou R$ 719 milhões a mais em 2012
O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu multar 16 integrantes e ex-integrantes da cúpula da Caixa Econômica Federal por encerrar contas de clientes e usar o dinheiro para melhorar o balanço de 2012. A manobra foi considerada como mais uma para “inflar” o caixa do governo federal e maquiar as contas públicas, ou seja, mais uma “pedalada fiscal”.
Entre os condenados a pagar multas que variam de R$ 8 mil a R$ 20 mil está a ex-presidente da Caixa Maria Fernanda Coelho. Outro ex-comandante do banco também foi multado: Jorge Hereda, que era vice-presidente na época e também aprovou as contas do banco na reunião do Conselho Deliberativo. O nome do peemedebista Geddel Vieira Lima, então vice-presidente da instituição, também está na lista.
Outros vice-presidentes da instituição como Édilo Ricardo Valadares, Carlos Augusto Borges, Clarice Coppetti, Fábio Lenza, Marcos Roberto Vasconcelos e Márcio Percival foram multados pela manobra.
Dinheiro estava em contas inativas
Há três anos, no auge dos malabarismos para cumprir a meta de superávit primário — economia para pagar juros da dívida —, a Caixa lançou mão de R$ 719 milhões que estavam parados em 526 mil contas inativas. Sobre esse dinheiro, o banco pagou impostos ao governo, incorporou R$ 420 milhões ao balanço e ainda repassou dividendos à União.
Segundo o relatório do ministro do TCU Bruno Dantas, aprovado ontem, o que chama mais a atenção é o fato de o reconhecimento dessa receita ter ocorrido no exercício de 2012, ano em que o Tribunal enfatizou o relevante crescimento da distribuição de dividendos ao Tesouro Nacional (40% a mais que o ano anterior), que tem impacto imediato nas contas do governo federal.
Ele lembra ainda que, em 2012, a Caixa distribuiu para a União 86% do seu lucro líquido em dividendos e juros sobre capital próprio, um dos maiores percentuais entre as empresas estatais federais. A média de distribuição em anos anteriores era de 41%.
“É propugnada a tese de que o governo federal teve seu resultado fiscal superestimado em razão de irregularidades envolvendo a sua relação com os bancos públicos federais, como atrasos de repasses relacionados às mais diversas despesas sociais, trabalhistas e previdenciárias, atrasos esses que caracterizam operações de crédito vedadas pela LRF, e cujo início ocorreu justamente no ano de 2012”, diz Dantas.
Caixa pretende recorrer
A Caixa recorrerá da decisão do TCU. Em nota, informou que encerrou as contas de depósito devido a inconsistências cadastrais, conforme normas do Banco Central, e contabilizou os valores com base em norma do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, reconhecida como correta em pareceres produzidos por profissionais de notório saber das áreas de contabilidade e direito tributário.
“O recurso oriundo dessas contas está, sempre esteve e continua disponível para saque pelos respectivos titulares a qualquer tempo, mediante adequada identificação”, frisa a instituição. “Como a Caixa argumentou em sua defesa, o saldo das contas encerradas representou apenas 7% do lucro líquido da Caixa em 2012 e, portanto, com baixo impacto na distribuição dos dividendos”.
Fonte: O Globo

domingo, 11 de janeiro de 2015

Jornalismo é profissão de risco... / Instituto Millenium / PEC


Home » Blog » Brasil foi o 10º lugar mais perigoso para se trabalhar como jornalista em 2014

Brasil foi o 10º lugar mais perigoso para se trabalhar como jornalista em 2014 


O Brasil foi em 2014 um dos dez países mais perigosos para um jornalista atuar e, em cinco anos, registrou o sexto maior número de assassinatos entre os profissionais da imprensa no mundo. O alerta é da entidade Press Emblem Campaign (PEC), que compila todos os anos o número de mortes entre jornalistas em atividade.
Para 2014, a instituição aponta para 128 jornalistas assassinados, uma marca muito próxima do recorde de 2013, quando 129 profissionais foram mortos. Gaza lidera a lista, com 16 mortes durante as operações de Israel. Na Síria, foram outros 13 jornalistas mortos, contra 12 no Paquistão.
O Iraque vem na quarta posição, com dez mortos em 2014, ano da operação contra as milícias islâmicas.
Fora da região, o país mais violento é a Ucrânia, com nove mortos em 2014. Segundo a entidade, jornalistas russos também foram assassinados.
Depois de México, Afeganistão, Honduras e Somália, o Brasil aparece na lista com quatro mortos em 2014. Ao lado da República Centro Africana, o Brasil é o décimo mais perigoso do ano.
Neste ano, perderam a vida trabalhando os profissionais Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, Pedro Palma, José Lacerda da Silva, da TV Cabo Mossoró, e Geolino Xavier, da TV N3, da Bahia.
Desde 2009, porém, o Brasil acumulou 31 mortos entre os jornalistas, o que coloca o país como o sexto mais violento.
“2014 foi um ano terrível para os jornalistas”, declarou o secretário-geral da entidade, Blaise Lempen. Ele destacou que não apenas os profissionais foram mortos, mas alguns deles tiveram sua execução filmada e difundida.
A região mais perigosa continua sendo o Oriente Médio, com 46 mortos, seguido pela Ásia, com 31, e América Latina com 27.
Em nove anos de levantamentos, a PEC registrou 1.038 mortes. Isso representa 2,4 jornalistas assassinados por semana no mundo.
Fonte: O Estado de S.Paulo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Criminosos jovens cearenses são recuperados pelo estudo...!!! // Instituto Millenium



No Ceará, 700 jovens que cometeram crimes se recuperam pelo estudo

Programa Qualifica Socioeducativo apresenta bons resultados
Setecentos adolescentes condenados pela Justiça a cumprir medidas socioeducativas em regime fechado, aberto ou semiaberto participam de uma iniciativa pioneira no Ceará: um curso de formação inicial para o mundo do trabalho, com ênfase no resgate da autoestima. As aulas começaram em agosto e terminarão na semana que vem. Os primeiros resultados começaram a ser discutidos ontem num seminário que reuniu jovens, pais, professores, gestores públicos e especialistas no Theatro José de Alencar, em Fortaleza.
O Qualifica Socioeducativo, como foi batizado o programa, é resultado de uma parceria entre o governo do Ceará e a Fundação Roberto Marinho. A partir de aulas adaptadas do Telecurso, os professores desenvolvem atividades variadas: desde dicas sobre como se comportar numa entrevista de emprego até o ensino de fatos e personagens históricos do Ceará para quem for trabalhar no setor de turismo.
Mas o foco do Qualifica Socioeducativo vai muito além. Entre os alunos, há jovens condenados a internação de até três anos por homicídio, estupro ou sequestro. E boa parte deles vem de famílias desestruturadas, de baixa renda e pouca escolaridade. Assim, as quatro aulas semanais, com duração de três horas cada, tentam despertar nos estudantes a vontade de aprender e reduzir os índices de reincidência.
– Quando fui convidada, tive medo. E me surpreendi com a segurança lá dentro. Não só a segurança, mas o carinho das adolescentes. Elas querem ser ouvidas – disse a professora Ivanira Lucas Ramos, que dá aulas para uma turma de meninas.
A professora Irene Gois destacou a importância da metodologia do Qualifica: os alunos sentam em círculo e, antes das aulas propriamente ditas, há uma sessão de acolhimento para integrar o grupo:
– Não se pode dizer simplesmente bom-dia e vamos lá para o quadro. A metodologia é diferente e é isso que leva o aluno a participar – afirmou Irene.
Uma jovem de 17 anos condenada por homicídio elogiou as aulas. Ela contou que, numa das dinâmicas realizadas em sala, cada aluna colava um papel nas costas para que as demais estudantes escrevessem as qualidades que viam na colega.
– A gente acha que só tem defeito, nunca enxerga as nossas qualidades. As qualidades que elas me falaram eu nunca pensei que tinha – afirmou a garota.
A gerente geral de Educação Profissional da Fundação Roberto Marinho, Aparecida Lacerda, disse que a experiência no Ceará foi exitosa
– Os jovens aprenderam nesses seis meses, em várias oficinas, não só as coisas essenciais do mundo do trabalho, como também a voltar a acreditar que eles podem e têm capacidade de participar desse mundo – afirmou Aparecida.
O secretário de Trabalho e Desenvolvimento Social do Ceará, Josbertini Clementino, disse que o projeto será repassado à equipe de transição do governo do Ceará, já que o atual governador Cid Gomes está concluindo seu segundo mandato e deixará o cargo no próximo dia 1.º de janeiro. Caberá ao próximo governo decidir se dá continuidade ao projeto.
– Não enxergamos nenhum jovem do nosso estado, e nem esse adolescente que está cumprindo medida socioeducativa, como problema. Esse jovem não é entrave para o processo de desenvolvimento. Ele é solução e nós temos que convidá-lo, convocá-lo para esse processo de desenvolvimento – disse Josbertini.
Fonte: O Globo

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ideia inovadora : criação de líderes em Universidades itinerantes !


‘Objetivo das universidades deve ser criar líderes’

Num mundo onde as pessoas podem adquirir conhecimento online, as universidades não devem mais preparar seus alunos para o mercado de trabalho, mas ensiná-los a pensar. Essa é a aposta de Ben Nelson, fundador e diretor executivo do Projeto Minerva, que pretende revolucionar o ensino superior ao investir em um modelo flexível. Em agosto, os primeiros 29 alunos da instituição iniciaram o curso de um ano em São Francisco, na Califórnia, onde estudam matérias que estimulam o pensamento crítico, como Análise Empírica e Comunicação Multimodal. Depois, o grupo passará por sete cidades do mundo, para estudar a cultura local e formas de inovação, lançando o novo modelo de “universidade itinerante”.
Como surgiu a ideia do Projeto Minerva?
Quando eu era um estudante da Universidade da Pensilvânia, fiz um curso sobre a história das universidades. Foi ali que me deparei com a ideia de uma universidade reinventada. Vinte anos depois, essa ideia se transformou no Projeto Minerva.
Qual é o papel da universidade no século XXI?
As universidades devem tirar seu foco da disseminação do conhecimento — algo que hoje está disponível gratuitamente na web — para apostar no desenvolvimento intelectual dos estudantes. O objetivo deve ser a criação de líderes e inovadores em contexto global.

Dê um exemplo.
Em vez de prendermos os alunos em um campus por quatro anos, devemos colocá-los no mundo para viverem e aprenderem em grandes cidades. Em vez de lhes ensinar conteúdos que podem ser encontrados em livros e cursos online (MOOCs, em inglês), precisamos usar o tempo de aula para ensinar e reforçar conceitos fundamentais do pensamento. Somos a única universidade a ensinar aos alunos as habilidades que os levarão, gradualmente, a pensar criativamente e se comunicar de forma eficaz.

Como foi o processo de escolha do currículo?
O diferencial do nosso currículo no primeiro ano da faculdade é que nos concentramos em condicionar a mente a pensar em uma variedade de direções, em vez de apenas passar informações introdutórias. Nossos alunos são capazes de aprender o conteúdo básico por conta própria e, em seguida, usar esse conhecimento nas aulas para ampliar a maneira como pensam. Os jovens ganham a capacidade de explorar qualquer assunto que encontram e não apenas memorizar informações.

O Minerva avalia a evolução dos alunos?
Durante o primeiro ano, todos os alunos fazem as quatro matérias básicas, que apresentam os principais conceitos do pensamento, e são avaliados diariamente nessas disciplinas. A nota de um aluno é determinada de acordo com essa avaliação continuada. Já as médias do final do primeiro ano são provisórias e podem ser ajustadas para cima ou para baixo a cada semestre, dependendo da performance do aluno nos cursos.
Como o Minerva estimula seus alunos para que eles estudem por si só?
Engajamento é fundamental. Isso significa que as aulas precisam ser dinâmicas e interessantes para o aluno. Também significa que o conceito de testes como determinantes do desempenho acadêmico tem de mudar. Uma vez que 100% das nossas turmas têm menos de 20 alunos, o professor garante que todos estejam engajados em sala e sejam avaliados diariamente. Por isso, os alunos não podem “empurrar com a barriga”.

O projeto virá ao Brasil?
Esperamos ir a uma cidade brasileira no futuro, mas provavelmente não nos próximos anos.

Você teme que o mercado não reconheça os diplomas da Minerva
Os empregadores estão insatisfeitos com a qualidade do ensino nas universidades tradicionais e têm demandado o tipo de educação que o Minerva oferece. Muitas empresas já estão se envolvendo com o projeto para ter acesso aos nossos estudantes.
Fonte: O Globo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

"Estamos acabando com o país" / Gustavo Ioschpe

Estamos acabando com o país

Há algumas semanas, dei uma palestra em um evento sobre educação, organizado por uma grande empresa e sediado em uma escola. Havia muitos educadores e alunos na plateia. Compartilhei alguns dos dados preocupantes sobre o fracasso do nosso sistema educacional. Expus minha oposição ao plano — agora consagrado em lei — de investirmos 10% do PIB em educação, notando que o único país que investe nesses patamares é Cuba. (Não porque aprecie sobremodo a educação, mas porque não tem PIB: qualquer meia dúzia de vinténs já dá 10% do PIB cubano…)
Já passou da hora de termos uma escola apolítica, sem doutrinação
Depois da minha fala, vieram as perguntas do público. Sempre que há professores na plateia, estas perguntas se repetem: não é muito simplista/reducionista/alienado falar apenas em qualidade do ensino através do domínio dos conhecimentos de linguagem, matemática e ciências medidos por meio de exames como a Prova Brasil, o Enem e o Pisa? A função da educação não vai muito além disso? Não seria formar o cidadão crítico e consciente, engajado na construção de um país mais justo? Respondi o que sempre respondo nesses casos: a educação brasileira está tão mal — incapaz até mesmo de alfabetizar seus alunos ou ensinar-lhes as operações matemáticas básicas — que podemos gerar um consenso abarcando desde os stalinistas do PSTU até o neoliberal mais empedernido. Quer você deseje gerar o próximo Che Guevara, quer um operário preparado apenas para trabalhar numa linha de montagem, ambos precisam ser alfabetizados e dominar as operações matemáticas básicas. Então vamos primeiro focar a criação de um sistema educacional que garanta a 100% de seus alunos o direito de aprender pelo menos essas competências básicas, e deixemos as discussões ideológicas para outras áreas e outros momentos. Para mim, isso tudo é de uma obviedade mais do que ululante.
Qual não foi a minha surpresa quando, ao terminar, fui interpelado por uma meia dúzia de adolescentes, na faixa dos 15 anos, alunos daquela escola, dizendo-se indignados com meu desprezo por milênios de linguagem oral, meu menosprezo pelos analfabetos (“Então o senhor acha que é preciso ler para ter conhecimento?!”) e minhas críticas ao “grande” modelo cubano. Sim, sim, tem bastante gente ainda pensando assim em 2014, não estou brincando! Caiu o Muro de Berlim, e eles ainda estão sonhando em descer a Sierra Maestra. Você deve estar pensando que essa escola era da rede pública de alguma biboca do nosso interior profundo, administrada por uma prefeitura de partido socialista, certo? Pois é, eis a minha surpresa: essa escola, senhores e senhoras, está no Rio de Janeiro, na divisa entre a Barra da Tijuca e Jacarepaguá, e — esta é a melhor parte — pertence ao Sesc. Sim, o Serviço Social do Comércio, mantido pelos empresários e funcionários das áreas de comércio e serviço através de impostos cobrados na folha salarial. Longe de ser exceção, essa dinâmica é a regra: escolas e universidades de entidades privadas, algumas inclusive com fins lucrativos, estão entupindo o cérebro de seus alunos com a mais rasteira e ignóbil doutrinação política marxista. Depois, quando esses alunos se tornam adultos e passam a comandar o país, os donos e diretores dessas escolas e universidades passam anos a fio reclamando (com razão) do intervencionismo estatal e do viés antiempresarial dos líderes… que eles mesmos formaram!
Não acredito que esse tiro no pé seja intencional. É só miopia ou visão de curto prazo. Nas universidades, as áreas de pedagogia e licenciaturas são muito desprestigiadas, e acabam se tornando incompetentes. Formam maus professores, mas ninguém se importa, porque, como muito poucos prefeitos ou governadores são cobrados pela qualidade do ensino que oferecem, mesmo o mau professor não terá muita dificuldade de se encaixar no mercado, desde que tenha o diploma. Como os cursos não precisam ter qualidade, o jeito de reter aquele aluno é dizendo-lhe o que ele gosta de ouvir. De preferência, algo fácil de entender. Como esse é um público muito idealista, que já vem doutrinado do ensino médio, e como os pedagogos responsáveis por esses cursos também estão, na maioria dos casos, imbuídos de um sentido de missão revolucionária, o que você acha que esses cursos fazem? Trilham o caminho difícil de transmitir o domínio da didática e da matéria a ser ensinada ou optam por falar do papel revolucionário do professor, da missão grandiloquente da formação do cidadão crítico etc.? Sim, eles optam pelo caminho do ensino raso recheado por profundo doutrinamento. E assim se formam os professores que formarão as futuras gerações.
Lendo estas linhas você deve estar com um misto de compaixão e desprezo pelos proprietários de nossas universidades, investindo hoje na criação do seu opositor de amanhã. Mas eles não são os maiores culpados pela situação que vivemos. Sabe quem é? Você. Sim, você, que tem recursos para ler esta revista e, provavelmente, para pôr seu filho em uma escola particular. Você que faz parte da elite financeira e intelectual do país, que representa a sua liderança. Pois eu pergunto a você: qual foi a última vez que leu um livro didático de história ou geografia adotado pela escola do seu filho? Se você for como a maioria dos pais, deve fazer muito tempo. Você sabe que seus filhos estão ouvindo nas escolas diatribes contra o capitalismo e a burguesia brasileira (leia-se: você) e elogios ao modelo cubano e outros lixos socialistas? Provavelmente não sabia. É provável que só esteja preocupado com que seu filho entre em uma boa universidade, preferencialmente pública, em que o doutrinamento rastaquera praticado na escola será substituído por uma panfletagem esquerdista travestida de intelectualidade. Ou talvez até saiba o que está se passando mas não tenha vontade suficiente para debater com os professores e diretores, mantidos pela sua mensalidade, o lixo mental que seu filho recebe diariamente. 
Você que se preocupa com a saúde física do seu filho a ponto de obrigá-lo a comer arroz integral e tomar suco verde não dispõe da mesma energia e entusiasmo para fazer com que seu cérebro seja preservado dos detritos descarregados diariamente pela escola que você financia.
Talvez acredite que não importa o que seu filho ouve na escola: você corrige os desvios de caminho em casa. E pode ser até que tenha razão. Mas os 83% de alunos que estudam em escolas públicas têm pais cujo nível de instrução é muitas vezes insuficiente até para ajudar na alfabetização do filho. Certamente não conseguirão fazer o mesmo nem saberão que seu filho está sendo vitimado pela historiografia marxista, ou mesmo que há outras historiografias possíveis.
O resultado das últimas eleições mostra que não é possível construir um país nos três meses que antecedem a votação. Mostra que, sim, é ótimo que a nossa elite ganhe muito dinheiro, progrida e tenha condições de passar um tempo em Miami, Paris ou onde bem lhe aprouver, mas que só isso não basta: precisamos de uma elite empenhada em alterar a realidade do país, não em fugir dela. O Brasil está criando pessoas que desconfiam da democracia, dos valores republicanos, de sua própria capacidade empreendedora. Se as lideranças do país continuarem se abstendo da discussão que mais importa — a de valores, de identidade, de aspirações nacionais —, continuaremos colhendo atraso e frustração. Não se constrói um país desenvolvido sem elites. Esse debate é indelegável.
Já passou da hora de termos uma escola apolítica, sem doutrinação, que consiga fazer com que nossos alunos pensem e tenham os instrumentos para pôr de pé seus sonhos de vida. Não podemos nos furtar desse debate nem adiá-lo. Ele começa hoje, na sua sala de jantar, na escola de seus filhos. Aproveite essa liberdade enquanto a temos.
Fonte: Veja, 10/11/2014.