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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

"Sorte e juízo em 2018!" / Eliane Cantanhêde

Sorte e juízo em 2018!

Além de Temer no seu último ano, brasileiros precisam de sorte e juízo na eleição

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
02 Janeiro 2018 | 03h00
A esta altura do campeonato, faltando dez meses para as eleições, o melhor a fazer é desejar boa sorte para o presidente Michel Temer. Sorte dele, sorte do País. Depois é depois, inclusive para o que vier de investigação sobre delações e vídeos de assessor. Temer, porém, não precisa só de sorte, mas de juízo, para evitar desgastes, recuos e derrotas desnecessárias.
Para quê dar sorte ao azar, ou o azar à sorte, cedendo no projeto de trabalho escravo para agradar à bancada ruralista no Congresso (e no governo), desagradando a todo o resto e sendo obrigado a ceder e voltar atrás? Depois de “apanhar” de procuradores e juízes do trabalho, de entidades de Direitos Humanos, de órgãos internacionais e até de uma então secretária do governo, voltou tudo à estaca zero, de onde nunca deveria ter saído.
Para quê dar sorte ao azar, ou o azar à sorte, cedendo no indulto excessivo de Natal para agradar aos correligionários que temem a Lava Jato (como, aliás, ele próprio), desagradando a todo o resto e sofrendo um vexaminoso puxão de orelhas da procuradora-geral Raquel Dodge e da presidente do Supremo, Cármen Lúcia?
Com esses erros crassos, Temer confunde concessões inaceitáveis com esperteza política, privilegia a minoria que se esbalda no poder em detrimento da grande maioria que sofre as consequências e se isola definitivamente da opinião pública. Assim, ele vai assumindo um papel que não lhe cabe e que não ilumina sua biografia para a história: a de líder de uma onda conservadora que reproduz até nas universidades uma guerra ideológica pré-1968.
O desafio de assumir não apenas a Presidência, mas um País atolado em crises – ética, política, econômica – já seria gigantesco, mas se tornou ainda mais arriscado quando Temer não pensou duas vezes antes de se cercar de aliados que, mais cedo ou mais tarde, acabariam caindo na rede da Lava Jato. O terceiro andar do Planalto virou um reduto de futuros presos.
O procurador Rodrigo Janot completou a lambança com suas denúncias atabalhoadas, que não resistiram um ano. Se Temer se cercou das pessoas erradas na hora errada, Janot também beneficiou os bandidos errados na hora errada, contra o alvo errado. Temer salvou o mandato e, assim, as duas denúncias malfeitas só serviram para derrubar de véspera a reforma da Previdência. Ou seja, desserviram ao País.
Em 2018, não há mais tempo para Temer errar, nem para a PGR errar, nem para o STF errar, até porque o ano começa em 24 de janeiro, com o julgamento do ex-presidente Lula no TRF-4, continua em 19 de fevereiro, com a tentativa de votação da reforma da Previdência na Câmara, e termina em 6 de abril, com a desincompatibilização dos candidatos de outubro que tenham cargos no Executivo.
O principal, porém, nem é isso. É o que a eleição de 2018 reserva para o futuro. Que Temer termine bem o mandato, a economia continue se recuperando, os empregos voltem, a Lava Jato vá em frente! Mas o Brasil não tem o direito de errar na eleição de outubro. Depois de tudo o que se revelou dolorosamente nos últimos anos e explodiu em 2017, só nos falta agora errar a mão e o voto para estender ou, quem sabe, até aprofundar as crises. Que, além de Temer, os brasileiros tenham sorte e juízo em outubro!
Surreal. É ridículo e de mau gosto o debate sobre dar ou não o nome de Marisa Letícia a um viaduto em São Paulo. Para começar, faltam credenciais à ex-primeira-dama para dar nome a ruas, avenidas ou viadutos. Depois, é um desrespeito para com a pessoa dela e, terceiro, é constrangedor os partidos se engalfinharem por esse tipo de coisa. Se alguém lucra, mesmo sem querer, é Lula. Ganha mais uma propaganda gratuita e passa de vítima.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Depois de milhares de palavras e de dezenas de horas de discussão os Poderes dizem que está tudo certo ...!

sexta-feira, outubro 06, 2017

‘Afrontá-la, nunca!’ - 

ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 06/10

Cármen Lúcia, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia são decisivos contra a crise entre Poderes


É conversando que a gente se entende e foi exatamente conversando que os presidentes do Supremo, Cármen Lúcia, do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, estão apagando mais um incêndio que poderia tomar grandes proporções entre os dois Poderes.

Depois de muita tensão entre Congresso e Supremo, ontem foi dia de bandeira branca, aproveitando a solenidade pelos 29 anos da Constituição de 1988. Estavam lá, amigavelmente, os três presidentes, ministros e parlamentares que participaram daquele grande momento da democracia brasileira e ainda hoje são seus fiéis defensores, como Miro Teixeira, do Rio.

Visões diferentes de mundo, reações corporativas e eventuais divergências fazem parte da vida, ninguém é obrigado a concordar sempre. Mas o fundamental é que o Legislativo faz leis e o Judiciário as interpreta e aplica e que não é bom para a democracia – logo, para o País – quando Poderes se estranham e se confrontam.

Depois da crise gerada pela decisão monocrática do ministro Marco Aurélio derrubando o então presidente do Senado, Renan Calheiros, agora foi a Primeira Turma, com os votos de Roberto Barroso e os dois próximos presidentes do TSE, Luis Fux e Rosa Weber, que jogou o Senado contra o STF, num embate entre instituições em que nenhuma delas sai vitoriosa.

O pivô desta vez foi o senador Aécio Neves, presidente afastado do PSDB, que recebeu R$ 2 milhões de Joesley Batista e foi delatado pelo benfeitor. Mas, apesar de pivô, Aécio é uma figura secundária na nova crise, porque ele tem um encontro inexorável com a Justiça e crise não é para salvá-lo, é para resguardar a independência entre Poderes.

A decisão da Primeira Turma de afastar Aécio do mandato e criar a figura do “recolhimento noturno” deixou o Senado em polvorosa, já que senadores e deputados não podem ser presos, a não ser em flagrante delito inafiançável e o tal “recolhimento noturno” é um eufemismo para... prisão. E até no STF os ministros se dividiram: apoiar os três colegas ou dar razão ao Senado?

Assim, o Senado aprovou urgência para autorizar ou não a prisão, ops!, o recolhimento noturno do tucano e o STF marcou data para definir regras claras para punições de deputados e senadores, principalmente se o plenário da Câmara e do Senado têm de autorizar, além da prisão, também medidas cautelares como recolhimento noturno.

Escolhidas as armas, Eunício Oliveira seguiu um caminho familiar para Rodrigo Maia: o do gabinete de Cármen Lúcia. Foi ali, conversando, que a solução foi construída: o Senado adiou a decisão sobre desautorizar ou não a Primeira Turma para o dia 17, ou seja, para depois do julgamento do Supremo sobre punições a políticos com mandato.

A expectativa é que o STF repita a solução para a crise Marco Aurélio-Renan: o pleno faz mil elogios a Fux, Rosa e Barroso, mas decide, em tese, contra as medidas cautelares aplicadas a Aécio. Se for assim, o Senado fará sua parte na semana seguinte, deixando a crise com o STF para lá e se concentrando no afastamento de Aécio pelo Conselho de Ética, sem interferência “externa”.

Na votação do adiamento, Roberto Requião, Gleisi Hoffmann e Renan Calheiros aproveitaram para atacar o Supremo, mas o resultado tende a estancar a crise. Foi um acordão, apesar de seus atores preferirem dizer que “prevaleceu o bom senso, o diálogo”.

Repetindo o histórico discurso de Ulysses Guimarães 29 anos atrás, Cármen Lúcia lembrou que a Constituição não é perfeita, mas não há alternativa: “Discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca”. Vale tanto para senadores e deputados quanto para ministros do Supremo, de hoje e sempre.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Fim de festa / Eliane Cantanhêde / Estadão


Fim de festa  




ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 18/03

Posses de ministros, especialmente de um chefe da Casa Civil, são solenidades concorridas que lotam o principal salão do Palácio do Planalto com políticos, empresários, líderes dos mais variados setores da sociedade. Imagine-se se esse superministro já foi presidente da República e desceu a rampa há apenas cinco anos, com 80% de popularidade! Pois não foi nada disso que se viu ontem na posse de Lula, que virou um evento do PT, ao som de “não vai ter golpe”.

Nada poderia ilustrar de forma tão contundente o isolamento do governo Dilma Rousseff e o esvaziamento da força política e do encanto de Lula. Mas o pior nem foi a falta de figurões da sociedade, mas sim a do PMDB e do vice Michel Temer. Caso típico em que uma ausência foi mais estridente do que todas as presenças.

Significa que o impacto positivo de Lula como superministro não resistiu 24 horas. Foi atropelado pelos protestos na porta do Planalto, pelas gravações de Lula e Dilma, pelas liminares concedidas por mais de um juiz e acabou empurrado para o terceiro plano com a criação da comissão do impeachment na Câmara, horas depois da posse que não valeu.


Se Lula foi a estrela da quarta-feira, já na quinta era considerado fato velho, enquanto o foco se desviava para Temer e para o PMDB, que vão se transformando no polo aglutinador dos partidos que entram na fila para se desgarrar de um governo moribundo. O PSB já tinha caído fora, ontem foi o PRB, agora é a vez do PP. Até a ministra Kátia Abreu está de saída.

Foi para evitar a debandada que Lula, ao aceitar a saída mequetrefe de virar superministro, avisou para Dilma que sua prioridade seria segurar o PMDB. Mas Lula, apesar de toda a sua genialidade política, vem sucumbindo ao peso da própria crise pessoal e comete um erro atrás do outro. Está mal no PMDB, na PGR, no STF...

Enquanto telefonava para Temer, José Sarney, Renan Calheiros e sabe-se lá mais quem, ele articulava com Dilma a cooptação do deputado Mauro Lopes (PMDB-SP) para a Secretaria de Aviação Civil, com direito a anúncio e posse ao lado do mito Lula, dias depois da convenção em que o PMDB proibiu seus filiados de aceitarem cargos no governo.

Foi uma afronta que deu, de mão beijada, o pretexto que Temer e o PMDB queriam para se distanciar de Dilma, Lula, PT e todas as crises do governo, potencializadas pela decisão de Dilma de levar para dentro do Planalto o juiz Sérgio Moro, a Lava Jato, a Zelotes, Lula, os filhos, o tríplex, o sítio e as empreiteiras que destruíram a Petrobrás. Como se ela, Dilma, já não tivesse crises suficientes...

Nomear o tal de Lopes numa hora dessas foi de uma burrice política inacreditável. Péssimo para a estratégia de Lula de se reaproximar do PMDB, excelente para a decisão do PMDB de se distanciar a galope de Lula e Dilma. Tanto que, além de não ir à posse de Lula, Temer cancelou uma conversa que teria com ele ontem, em São Paulo. Ato contínuo, assinou, como presidente do PMDB, um ato antecipando em duas semanas, para o próximo dia 29, a reunião do diretório nacional do partido que deverá formalizar a “independência” – ou o “rompimento”, puro e simples, dependendo de como as coisas caminhem até lá, sobretudo nas ruas.

O afastamento, já em si grave, se torna desesperador diante da instalação da comissão do impeachment no momento mais crítico do governo. O PSDB e seus aliados na oposição são o lado minoritário. O PT e a base de Dilma, o majoritário. Quem tem número e força para mexer nesse equilíbrio é o PMDB, ímã da dissidência governista.

Como a história ensina, governos só caem quando a dissidência encorpa, a traição se generaliza e o “povo” vai para a rua, como no fim do regime militar e na queda de Fernando Collor. Ah! E caem também quando posses espetaculares em palácio viram grito de guerra de um só partido.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

A sociedade brasileira não 'encontrou um bom partido'... O noivo era proprietário de ficha criminal e escondeu da noiva


 ELIANE CANTANHÊDE


Parabéns pra você! -

O ESTADÃO - 28/02

Na década de 1990, 
surgiram os sem-terra na área rural. Mais adiante, vieram os sem-teto na área urbana. Pois agora está em gestação no Planalto Central a figura da presidente sem partido. Saiu Joaquim Levy, entrou Nelson Barbosa e o partido de Dilma Rousseff, o PT, continua implacável na oposição ao ajuste fiscal do governo e, portanto, à própria Dilma. Já a principal sigla da base aliada, o PMDB, retomou as articulações para o impeachment.

Durma-se com um partido desses! Ou com partidos como esses! Dilma, que já tem (e criou) problemas de sobra, deve estar dando uns bons gritos, roendo as unhas e xingando a mãe de muito petista por aí, inclusive de um tal Quaquá, presidente do PT do Rio, que deixou claro que não fazia a menor questão da presença da presidente, ontem, no aniversário do partido.

Conclusão: Dilma não queria ir à festa do próprio partido, nem o próprio partido queria Dilma num encontro com dois objetivos: atacar Dilma e defender Lula. Os bois de piranha, nos dois casos, foram os ministros Barbosa e José Eduardo Cardozo.

Já na sexta-feira, o PT mandou seus recados contra o que Levy dizia e Barbosa continua dizendo sobre a necessidade de uma política econômica responsável, capaz de fechar as contas públicas, equilibrar receitas e despesas e estancar a trajetória de queda do Brasil e dos brasileiros – sobretudo dos mais pobres – no precipício.

Segundo resolução que passou pelo Diretório Nacional, o PT “só apoia medidas pactuadas com o sindicalismo, as organizações populares e os movimentos sociais”. Ou seja, o PT se volta de costas para o seu governo e de frente para os movimentos aliados. Só topa qualquer coisa com o viés populista e sem nenhum traço de responsabilidade e pragmatismo. Sindicatos, organizações populares e movimentos sociais estão no seu direito, aliás, dever, de fazer pressão, mas o partido da presidente da República tem a obrigação de ir além, de pensar e agir estrategicamente.

Mas, não. Nega-se a admitir que a farra fiscal e a inflação atingem justamente os assalariados e os que dependem do Estado para saúde, educação, saneamento, infraestrutura. Para assegurar isso, dispensam-se discursos contra o “sacrifício do povo trabalhador” e exige-se a responsabilidade de traçar uma política econômica sólida, confiável, que garanta de fato bem-estar e direitos de médio e longo prazos desse mesmo povo trabalhador.

Na prática, o PT faz o oposto do que pretende: fala contra o “golpismo”, mas dá argumentos para o impeachment; defende a unidade, mas racha o governo para um lado e o partido para o outro; sabe que Lula e Dilma são indissociáveis, mas empurra um contra o outro; reconhece que há enorme fragilidade, mas opera para converter os convertidos e ignora reconquistar a maioria que debandou.

Em resumo, o partido da presidente age como se Dilma não tivesse mais jeito. Logo, toda a energia e todas as festas devem ser para renegar o presente, ressuscitar o passado e investir no futuro. Ou seja, contra Dilma, a favor de Lula. Só que... se Dilma não vai bem, porque seu governo destruiu a economia, Lula não está melhor, porque o dele explodiu a Petrobrás e permitiu uma farra com dinheiro público e com as empreiteiras num nível nunca antes visto e imaginado.

E O PMDB? Está sendo novamente empurrado para o PSDB e para a tese do impeachment, depois da prisão de João Santana – aliás, o grande ausente na festa do PT, junto com José Dirceu, Delcídio Amaral, André Vargas e uma penca de ex-tesoureiros. Se o PT é de oposição e o PMDB é uma ameaça, Dilma está perto de criar o movimento dos presidentes sem partido – e sem base, sem povo e sem credibilidade.

Festa do PT é para renegar o presente, ressuscitar o passado e investir no futuro

sábado, 16 de janeiro de 2016

A vida dá voltas e alguns motoristas tornam-se passageiros / Eliane Cantanhêde

O mistério Lula-Collor -

 ELIANE CANTANHÊDE 

ESTADÃO  - 15/01

Precisa-se criar, urgentemente, uma comissão multidisciplinar, com policiais, procuradores, advogados, cientistas políticos, economistas, matemáticos, gestores públicos e, claro, psiquiatras, para a sociedade brasileira tentar entender a incrível relação entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello.

Em 28 de junho, perguntou-se exatamente neste espaço por que raios a UTC teria doado R$ 20 milhões para Collor, duas décadas depois do impeachment. Afora o detalhe de que foi mais ainda que R$ 20 milhões, a nova pergunta é por que diabos Lula teria dado de presente para Collor uma estatal preciosa como a BR Distribuidora. Nem Freud explica.

Collor é de Alagoas, Estado pequeno com apenas nove dos 513 deputados federais, e é do PTB, partido que é o oitavo da Câmara, tinha 18 deputados em 2014 e elegeu 25. Detalhe: nenhum dos eleitos por Alagoas é do partido. Então, fica difícil compreender, com base na política e na aritmética, o que Lula tanto pretendia lucrar ao entregar a BR para Collor. Certamente, não eram votos no Congresso, ou só votos no Congresso.

Lula dirá que não sabe, não viu, não ouviu falar, não deu coisa nenhuma e, aliás, quem é mesmo esse tal de Collor? Como já disse que nunca teve nenhuma relação com o diretor de Finanças e Serviços da BR Nestor Cerveró, hoje delator da Lava Jato. Mas, se Collor não tinha nada com a BR, por que e para que ele recebeu o diretor de Finanças da empresa no aconchego da Casa da Dinda? E por orientação de quem?

Juntando as pontas: o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu numa denúncia formal ao Supremo Tribunal Federal que Lula entregou a BR para Collor e loteou a subsidiária da Petrobrás em troca de apoio político. E, em delação, Cerveró disse que Lula lhe deu de presente uma diretoria (justamente de Finanças, não custa repetir...) como recompensa por sua atuação junto ao banco Schahin para desviar uma graninha para o PT.

Há, portanto, algum motivo para o presente de Lula para Cerveró, mas nada explica, à luz do dia e da lógica, que ele tenha jogado a subsidiária da Petrobrás no colo de Collor (sem trocadilho, por favor). É um mistério.

As histórias do sindicalista Lula e do “playboy” Collor cruzam em 1989, na primeira eleição direta para presidente da República após a ditadura militar. Collor não teve o menor prurido nem ao jogar na TV a história de uma ex-namorada e de uma filha de Lula. Foi um golpe baixo ao quadrado: além de não se falar da filha dos outros em vão, o próprio Collor tinha um filho em situação semelhante à de Lurian.

Collor eleito, Lula foi à forra com unhas, dentes e as feras do PT. Em aliança com policiais, procuradores e jornalistas, ele, José Dirceu, Aloizio Mercadante e os Waldomiros Diniz da liderança petista na Câmara foram expondo os Fiat Elba, as cascatas da Casa da Dinda e os dossiês do PC Farias que geraram os caras-pintadas e enterraram o mandato de Collor.

Zero a zero? Passados os oito anos de inelegibilidade, eis que Collor não apenas volta das profundezas do ocaso como é recebido com pompa e circunstância pelo adversário cruento. Abraçado a ele, Lula reduziu os embates anteriores a mera guerrinha política, previu que Collor faria um mandato “extraordinário” no Senado e meteu o ex-presidente no Aerolula. Agora, o procurador-geral informa que o meteu também na BR Distribuidora.

Dorival Caymmi escreveu e Carmen Miranda imortalizou uma pergunta que atravessa o País há décadas: “O que que a baiana tem?” E ensinou: “Ai, quem não tem balangandãs não vai no Bonfim/ Oi, quem não tem balangandãs não vai no Bonfim”. Hoje, a pergunta é outra: o que que o Collor tem? Deve ter muito rosário de ouro, uma bolota assim e põe balangandãs nisso! Não foi por Alagoas e pelo PTB que ele chegou no Bonfim. Muito menos na BR Distribuidora.