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terça-feira, 3 de abril de 2018

"Eles vão para o pau"/ Ricardo Noblat

Eles vão para o pau

O Dia D do combate à corrupção

Não haverá recuo. Os cinco ministros partidários dentro do Supremo Tribunal Federal do fim da prisão em 2ª instância estão dispostos a tudo para acabar com ela ainda esta semana.
Não querem conceder de cara lavada o habeas corpus pedido por Lula para ficar solto apesar de ter sido condenado três vezes. O habeas corpus, por sinal, foi negado unanimemente pelo Superior Tribunal de Justiça.
Os cinco ministros supremos querem, na verdade, é se esconder por trás de uma decisão mais ampla (o fim da prisão em segunda instância) para que não se diga que foram condescendentes com Lula.
Qualquer ministro poderá pedir vista e interromper o julgamento, o que beneficiaria Lula a quem o tribunal deu um salvo conduto para que não fosse preso antes de sua decisão final. Mas é improvável que isso ocorra.
Provável é que o julgamento, marcado para começar no início da tarde da próxima quarta-feira, só seja concluído na quinta ou na sexta, a depender do estado físico dos ministros. Eles cansam rápido.
O ministro Celso de Mello, decano da corte e autor de longos votos, já anunciou que o dele, desta vez, será especialmente longo. Celso está de olho na História, não nos espectadores da TV Justiça.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

90% não quer muro pichado, dizia enquete do blog de Noblat


POLÍTICA

A voz do povo: Não pode pichar o muro dos outros

Ricardo Noblat
Na madrugada de hoje, quando ainda faltavam 15 horas para que ela saísse do ar, era o seguinte o resultado da enquete do Blog do Noblat no twitter sobre a pichação de muros:
Você acha que alguém pode pichar o muro dos outros?
3% - Pode
90% - Não pode
03% - O meu, não
04% - Tô nem aí
Haviam votado 1.653 pessoas.
Muro para pichadores (Foto: Arquivo Google)Muro para pichadores (Foto: Arquivo Google)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Advogados, mais de 100, suprimem de seus currículos a Ética e 'atiram em seus pés'... //


POLÍTICA

Democracia de resultados

Estátua da igualdade, monumento central na  praça la République, Paris (Leopold Morice, estatuário, e Charles Morice, arquiteto (Foto: Domínio Público)Estátua da igualdade, monumento central na praça la République, Paris (Leopold Morice, estatuário, e Charles Morice, arquiteto (Foto: Domínio Público)
Democracia não tem dono, embora muitos se arvorem em tutelá-la. Não permite ser ditada por mandatários políticos ou econômicos. Muito menos tem espaço para ser transformada em democracia de resultados, de conveniência, como preconiza o grupo de advogados que assinou a “Carta aberta em repúdio ao regime de superação episódica de direitos e garantias verificado na Operação Lava Jato”, publicada na sexta-feira nos principais jornais do país.
Nada contra o direito de gritar, espernear, esbravejar, algo que só a liberdade de expressão garantida pelos regimes democráticos permite. Mas seria melhor fazê-lo sem banalizar o conceito de democracia, tão surrado no Brasil nestes tempos de domínio do lulopetismo, em que o governo se considera titular exclusivo dessa doutrina. E que agora tem de partilhar com os causídicos que defendem réus e investigados da operação Lava Jato, responsável por desbaratar a roubalheira desvairada que assolou a Petrobras.
A carta é um primor.
Do título extenso e nada convidativo, que denuncia a “superação episódica”, ao juridiquês, que transmuta descaso ou menosprezo em “menoscabo”, e salubridade em “higidez”, tudo nela é hiperbólico, ou melhor, exacerbado, exageradíssimo. A ponto de perder a razão até nos momentos em que poderia tê-la.
Para os signatários – 103, sendo que pelo menos um deles, o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Gipp, negou ter autorizado o uso de seu nome –, a Lava Jato não apenas viola “as prerrogativas da advocacia”, dentre “outros vícios” não explicitados, como imputará “consequências nefastas para o presente e o futuro da justiça criminal brasileira”.
Ora, se é assim tão grave, e se a Lava Jato fere de morte a Constituição, como afirmam, por que a tese não foi levada ao Supremo? Por que só reclamam agora depois de perder sucessivos (não confundir com periódicos) recursos em nome de seus clientes na mais alta Corte do país? 
A certa altura, depois de criticar sem nominar a reportagem da revista Veja que traz o dia a dia de detentos nobres no presídio, a carta traça o cenário da conspiração perfeita: “estratégia de massacre midiático”, parte de um “verdadeiro plano de comunicação para incutir na coletividade a crença de que os acusados são culpados, mesmo antes deles (sic) serem julgados”.
E, pasmem-se, capaz de “pressionar instâncias do Poder Judiciário a manter injustas e desnecessárias medidas restritivas de direitos e prisões provisórias”. Nessa frase acusam diretamente – sem meias palavras - os juízes de tribunais superiores de serem suscetíveis à mídia e julgarem com parcialidade. Contra os clientes dos signatários, é claro.
Assim como o governo Dilma Rousseff e o PT, rechaçam com veemência o que chamam de “vazamento seletivo”, como se seus ricos fregueses tivessem foro privilegiado e depoimentos policiais protegidos.
Nem de longe mencionam que o Supremo manteve as prisões provisórias com base em fartura de provas e na possibilidade de os acusados, se libertados, manipulá-las.
Desafiam o STF e afirmam que a continuidade das prisões é instrumento de coerção para obter delação premiada. Os mesmos presos que representam “gravíssimo risco a ordem pública”, dizem, não oferecem ameaça alguma quando se tornam delatores. Omitem o fato de que, ao contrário dos demais detentos, delatores querem preservar as provas de seus dizeres, sob pena de perderem as vantagens negociadas, em vez de eliminá-las ou tentar alterá-las para driblar a Justiça.
Novamente com o cuidado de não citar nomes e até para evitar ser alvo de eventuais processos, imputam parcialidade ao juiz Sérgio Moro, que estaria se comportando “de maneira mais acusadora do que a própria acusação”.
Por fim, evocam a ameaça ao Estado de Direito e voltam a duvidar da capacidade do Poder Judiciário, que estaria sujeito a ser influenciado pela “publicidade opressiva que tem sido lançada em desfavor dos acusados”. Pura peça de defesa, aqui sem qualquer disfarce.
Mas nada é mais acintoso do que o uso indevido e oportunista do sentido da democracia. Muito mais do que uma “Justiça que se pretenda democrática”, como o documento defende, o país precisa de uma Justiça justa. Que não privilegie ninguém. Isso, sim, é democracia e o mérito maior da Lava Jato. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

" O PT brincou com fogo e se queimou.;;" // no blog de Ricardo Noblat

O país e Dilma na direção do fundo do poço
É uma crise histórica. O país só viu outra maior às vésperas da queda de Fernando Collor em 1992. E, antes, na década de 40 do século passado

Ricardo Noblat
O PT brincou com fogo e se queimou. Parece um amendoim torradinho.
O fundo do poço (Foto: Arquivo Google)
Havia, de um lado, um homem-bomba, Eduardo Cunha, capaz de se imolar caso não encontrasse uma saída para salvar seu cargo de presidente da Câmara e seu mandato.
Até abriria mão do cargo se não tivesse outro jeito, mas do mandato, não. A política foi o melhor negócio da vida dele até aqui. Dedicou-se a ela com entusiasmo e ambição. Deu-se bem.
Deu-se mal quando mentiu a seus pares ao negar que tivesse contas bancárias no exterior. Teve 5 pelo menos. Mentir é pecado mortal numa casa, o Congresso, onde todos mentem.
O PT, que resolveu apostar suas fichas na destruição de Eduardo, não era páreo para ele no jogo de cartas. Negou-lhe três votos necessários para que ele se salvasse no Conselho de Ética da Câmara.
Por algumas horas, ontem, o comando nacional do PT, afinado com as tendências mais à esquerda do partido, celebrou o entusiasmo com que militantes do PT receberam sua decisão de confrontar Eduardo.
Finalmente, o partido levantara a cabeça e fizera a opção por si mesmo, sua História, seu passado, sua fama imerecida, como se vê hoje, de refratário a concessões espúrias.
Durou pouco.
Tão logo Eduardo anunciou que acolhera o pedido de abertura de impeachment contra Dilma, o entusiasmo da militância esfriou, esvaiu-se por fim. Cedeu espaço à perplexidade e ao medo.
Pesquisas de opinião conferem que 65% dos brasileiros são favoráveis ao impeachment. Cerca de 40% creem que o impeachment será possível.
E se os 65% atenderem aos pedidos que serão renovados de ocuparem as ruas para pressionar o Congresso a aprovar o impeachment?
Sem as ruas, Dilma vencerá a batalha para concluir seu mandato. Só precisa do apoio de 171 dos 513 deputados federais para enterrar o impeachment.
Contra as ruas, tem tudo para perder. De resto, conspira pelo impeachment o aprofundamento da crise econômica.
É uma crise histórica. O país só viu outra maior às vésperas da queda de Fernando Collor em 1992. E, antes, na década de 40 do século passado.
O país ainda não atingiu o fundo do poço. Nem Dilma atingiu. Os dois — o país e Dilma — poderão chegar juntos ao fundo do poço. Ele sobreviverá. Ela, não. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Frase do dia no blog de Ricardo Noblat / Carlos Siqueira, presidente do PSB


FRASE DO DIA

Entendemos que é um governo moribundo [o de Dilma]. Temos que encontrar um meio de o país não sangrar por muito tempo
CARLOS SIQUEIRA, PRESIDENTE DO PSB

domingo, 30 de agosto de 2015

" Não é da sua conta "; ... / blog do Ricardo Noblat... / O Globo

http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2015/08/nao-e-da-sua-conta.htm

“Não é da sua conta”

“O delator não é dedo-duro, X-9, ou alcaguete, é um colaborador”. Rodrigo Janot, sobre as críticas ao instituto da delação premiada

O senador Fernando Collor foi o primeiro a chegar para a sabatina de Rodrigo Janot (Foto: Jorge William / O Globo)
O senador Fernando Collor foi o primeiro a chegar para a sabatina de Rodrigo Janot (Foto: Jorge William / O Globo)
A mim me dá a maior tristeza lembrar que Collor já foi presidente da República do Brasil. Acho uma humilhação termos tido essa figura no posto mais alto da Nação. Saber que depois de tudo ele ainda voltou para o Senado Federal, é de amargar.

Figura em tudo hiperbólica, sem nem um fiapo de desconfiômetro, peça que faz muita falta nas engrenagens de uma pessoa, ensaboado, engomado, convencido, sempre se comportou como se já fosse um busto em praça pública. Eu não me surpreenderia se ele depositasse flores nesse monumento nos dias de seu aniversário.
Não falo isso com tranquilidade pois ele me causa medo. Sei lá, parece que tem uma cimitarra escondida dentro do paletó impecável. Mas não consigo me calar, sobretudo depois das últimas semanas, nas quais ele tornou a desonrar os votos que recebeu do povo de Alagoas.
No plenário do Senado agrediu verbalmente o Procurador-Geral da República. Mais de uma vez. Parecia ensaio para o espetáculo que daria na quarta-feira por ocasião da sabatina do Dr. Rodrigo Janot.

A sabatina estava marcada para as 10h00 da manhã. O que fez o empertigado? Chegou às 09h40 e sentou-se na primeira fila, bem em frente à cadeira onde ficam os sabatinados. E ali ficou aguardando o Dr. Janot, que ele chama de Dr. Janó, sabe-se lá com que intuito.

Será que ele se apercebeu do papel que fez? De como deixou à vista de todos a diferença que existe entre ele e o Dr. Janot? Do modo de falar ao vocabulário que usam, às expressões faciais, à postura, ao olhar, meu Deus, parecem seres de galáxias diferentes.

De nada adiantou o lugar que escolheu sentar para apoquentar o sabatinado. De nada adiantaram as perguntas tipo “pegadinhas” que lhe fez.  De nada serviram as micagens, caretas e calões sussurrados, mas nem tanto...

Ou melhor. De nada adiantou para o Collor. Para nós, sociedade brasileira, serviu para confirmar que a permanência de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República era uma bênção para o Brasil não perder a perfeita continuidade da Lava-Jato.
Num domingo deste agosto que já termina, um helicóptero vermelho pousou no heliporto da Casa da Dinda. Chamou a atenção de quem estava no Lago Paranoá, sobretudo depois da polícia ter apreendido as belíssimas Ferrari, Porsche e Lamborghini, as macchine de luxo do senador. O helicóptero seria dele também? Não, não era, era do senador Wilder Morais (DEM/GO) que, conforme relatou, quando a caminho de um churrasco em casa de amigos foi informado pelo piloto que, por precaução, era melhor pousarem devido a uma súbita ventania. (VEJA, 26/8/2015)
Indagado sobre a visita inesperada do senador democrata, Collor, com aquela desconsideração que lhe é peculiar, respondeu ao jornalista: “Não é da sua conta”.
Engano do senador. Tudo que se refere aos políticos que dependem dos eleitores para viver, nos interessa. E para chegar até nós, tem que passar pela Imprensa. Ando, por exemplo, muito interessada em saber por que Collor tem direito a um apartamento institucional, como ele se refere a essa benesse, quando tem casa em Brasília.

Espero que algum repórter lhe faça essa pergunta. E que ao “Não é da sua conta”, responda: “É sim, senador, aí é que o senhor se engana. Tudo sai do nosso bolso, então tudo nos interessa e muito! Faça o favor de responder”. 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Contra-senso em momento ilusório em palanques e teatros / Dilma e Lula perdem a compostura e 'forçam a barra'

http://noblat.oglobo.globo.com/meus-textos/noticia/2014/10/aparentemente-sobrio-lula-fala-mal-da-imprensa-e-cita-jornalistas.html

Aparentemente sóbrio, Lula fala mal da imprensa e cita jornalistas

"Agora é nós contra eles", ameaça o ex-presidente ao lado de Dilmaa
Ricardo Noblat
Lula foi além, ontem à noite, do limite da irresponsabilidade.
Dilma Rousseff e Lula, comício em Itaquera, na Zona Leste de São Paul (Foto: Michel Filho / Agência O Globo)
Dilma Rousseff e Lula, comício em Itaquera, na Zona Leste de São Paul (Imagem: Michel Filho / Agência O Globo)
Em comício ao lado de Dilma em Itaquera, distrito da Zona Leste da capital paulista, ele falou mal da imprensa – até aí nada demais. É direito dele. E nada tem de original.
Mas a certa altura do seu discurso, ele citou os nomes dos jornalistas Miriam Leitão, do jornal O Globo, e de William Bonner, apresentador do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão.
- Daqui para frente é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão, e a gente falando bem dela (Dilma) na periferia. É o (William) Bonner falando mal dela no “Jornal Nacional”, e a gente falando bem dela em casa. Agora somos nós contra eles - ameaçou Lula.
As cerca de cinco mil pessoas reunidas para escutá-lo foram ao delírio. Mais tarde, no teatro da Universidade Pontifícia de São Paulo, no bairro de Perdizes, Lula voltou a criticar a imprensa. E a citar Míriam Leitão e a Rede Globo.
Não dá para afirmar que ele tenha bebido antes de discursar. Aparentava estar sóbrio. Dilma e líderes do PT que testemunharam os discursos de Lula sorriram com o que ele disse. Certamente não pensaram numa coisa – e se pensaram não deram importância.
A saber: Lula expôs dois jornalistas à ira dos seus seguidores fanáticos.
Nesta reta final de campanha, os ânimos estão cada vez mais exaltados de um lado e do outro. Se um ex-presidente da República, popular como Lula, menciona nomes de pessoas e completa dizendo que “agora somos nós contra eles”...
Quer tenha sido essa sua intenção ou não, legitima a eventual ação de um desequilibrado que pode atentar contra a integridade dos jornalistas alvos da insanidade dele.
Por orientação do marketing da campanha de Dilma, ela e Lula combinaram como deveriam se comportar a poucos dias do dia da eleição em segundo turno.
Coube a Lula o papel de bater forte nos adversários – e em quem mais ele quisesse. A Dilma, bancar a vítima dos ataques do PSDB.
Dilma bate como um estivador. Quer apanhar como uma criança indefesa.
Lula está à vontade. Desaforo é com ele. Desacato é com ele. Partir para cima é com ele. Usar palavrões é com ele. Quanto a Dilma... No papel de coitadinha não convence. Longe disso.
O PT se vale de todas as armas, as legítimas e as vetadas pelo senso comum, para não perder o poder que conquistou há 12 anos. Vale, vale tudo. Vale a manipulação de informações, vale a mentira deslavada, vale a pressão sobre os mais vulneráveis.
O desejo do PT de se eternizar no poder começou com o mensalão 1, esquema que pagava propina a deputados federais. E se afirmou com o mensalão 2 – o esquema de desvio de recursos da Petrobras para enriquecer políticos e financiar campanhas.
O mensalão 1 garantiu a reeleição de Lula. O mensalão 2 parece capaz de garantir a reeleição de Dilma.
Até hoje, o PT, Lula e Dilma não admitem que corromperam a política mais do que ela já fora corrompida. Isso significa que se ganharem a eleição do próximo domingo continuarão agindo como de hábito.
Afinal, se os eleitores não mudam com eles por que eles devem mudar? 
Dilma Rousseff e Lula, comício em Itaquera, na Zona Leste de São Paul (Imagem: Michel Filho / Agência O Globo)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Poema da noite.... de ontem! / blog Ricardo Noblat

Enviado por Pedro Lago - 
11.11.2013
 | 
23h30m
POEMA DA NOITE

As cinzas de Gramsci IV - Pier Paolo Pasolini


O escândalo de me contradizer, de estar 
contigo e contra ti; contigo no coração, 
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;

traidor da condição paterna 
- em pensamento, numa sombra de ação - 
a ela me liguei no ardor

dos instintos da paixão estética; 
fascinado por uma vida proletária 
muito anterior a ti, a minha religião

é a sua alegria, não a sua luta 
de milênios: a sua natureza, não a sua 
consciência; só a força originária

do homem, que na ação se perdeu, 
lhe dá a embriaguez da nostalgia 
e um halo poético: e mais nada

sei dizer, a não ser o que seria 
justo, mas não sincero, amor abstrato, 
e não dolorida simpatia…

Pobre como os pobres, agarro-me 
como eles a esperanças humilhantes, 
como eles, para viver me bato

dia a dia. Mas na minha desoladora 
condição de deserdado, 
possuo a mais exaltante

das posses burguesas, o bem mais absoluto. 
Todavia, se possuo a história, 
também a história me possui e me ilumina:

mas de que serve a luz?


Pier Paolo Pasolini (Bolonha, Itália, 5 de março de 1922 - Óstia, Itália, 2 de novembro de 1975) - Além de mundialmente conhecido e importante cineasta, também foi poeta, escritor, jornalista e professor. Formou-se em Literatura pela Universidade de Bolonha, pertenceu ao Partido Comunista Italiano. Combateu o Fascismo a sua vida inteira. Foi brutalmente assassinado sob condições ainda bastante polêmicas. Pasolini realizou filmes que se tornaram clássicos como 'Medeia', 'Os 120 dias de Sodoma' e 'Teorema'. Todas as traduções foram feitas por Maria Jorge Vilar de Figueiredo 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"O poder do crime" / José Anibal

Enviado por José Aníbal - 
16.10.2013
 | 12h02m
POLÍTICA

O poder do crime, por José Aníbal



"Uma organização que movimenta R$ 120 milhões por ano, que possui mais de 11 mil "colaboradores" e que atua em 22 estados brasileiros, além da presença em dois países vizinhos, seria, sob todos os aspectos, um empreendimento respeitável, se não estivéssemos falando da maior agremiação criminosa do país."
Segundo O Estado de S.Paulo, o faturamento estimado 
da quadrilha a colocaria entre as mil maiores empresas 
do país.

O poder de corromper, de ameaçar e de subjugar por meio da violência que um grupo desses possui ultrapassa os limites das atribuições, jurisdições e responsabilidades dos entes públicos isoladamente.
Quando o crime se articula com tal poderio e sofisticação, ele deve ser objeto de uma política de Estado, e não somente de governos. Isso significa esforços contínuos e integrados na repressão policial, no sistema prisional, no monitoramento de fronteiras e no ativismo judiciário, sem esquecer da lavagem de dinheiro.
Mas quando analisamos as investigações do Ministério Público descobrimos que o grupo possui uma rede de laranjas para "girar" seu capital criminoso; que ele se utiliza das liberdades do Estado de direito para conspirar contra a lei e a ordem; que a única preocupação ao cruzar fronteiras é quanto ao meio de transporte.
  
Nada disso parece sensibilizar o judiciário. Mesmo planejando fugas e resgates, armando campanas contra agentes do Estado, cuidando abertamente da logística dos crimes ou ameaçando a vida de autoridades, os criminosos foram "aliviados" pela Justiça, que viu nas solicitações do MP algo "infundado, desproporcional, desnecessário e inútil".
Se tais circunstâncias não põem a ordem pública em risco, é de supor que as 52 mil páginas de evidências compiladas pelo MP nos últimos três anos e meio, embasadas em gravações telefônicas de clareza inquestionável, não passam de ficção -- embora a violência e a impunidade estejam aí, vergonhosamente reais.
A sociedade cobra do Estado brasileiro um poder de reação pactuado acima dos governos e dos partidos. Mas enquanto as mazelas que assolam a vida dos brasileiros servirem como artefato político, o imobilismo não vai deixar de ser a política oficial do governo federal.
O crime prospera quando as esferas de poder, achando que o problema é dos outros, deixam de se importar.

José Aníbal é economista e ex-presidente do PSDB.