Enviado por Pedro Lago -
11.11.2013
|23h30m
POEMA DA NOITE
As cinzas de Gramsci IV - Pier Paolo Pasolini
O escândalo de me contradizer, de estar
contigo e contra ti; contigo no coração,
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;
traidor da condição paterna
- em pensamento, numa sombra de ação -
a ela me liguei no ardor
dos instintos da paixão estética;
fascinado por uma vida proletária
muito anterior a ti, a minha religião
é a sua alegria, não a sua luta
de milênios: a sua natureza, não a sua
consciência; só a força originária
do homem, que na ação se perdeu,
lhe dá a embriaguez da nostalgia
e um halo poético: e mais nada
sei dizer, a não ser o que seria
justo, mas não sincero, amor abstrato,
e não dolorida simpatia…
Pobre como os pobres, agarro-me
como eles a esperanças humilhantes,
como eles, para viver me bato
dia a dia. Mas na minha desoladora
condição de deserdado,
possuo a mais exaltante
das posses burguesas, o bem mais absoluto.
Todavia, se possuo a história,
também a história me possui e me ilumina:
mas de que serve a luz?
Pier Paolo Pasolini (Bolonha, Itália, 5 de março de 1922 - Óstia, Itália, 2 de novembro de 1975) - Além de mundialmente conhecido e importante cineasta, também foi poeta, escritor, jornalista e professor. Formou-se em Literatura pela Universidade de Bolonha, pertenceu ao Partido Comunista Italiano. Combateu o Fascismo a sua vida inteira. Foi brutalmente assassinado sob condições ainda bastante polêmicas. Pasolini realizou filmes que se tornaram clássicos como 'Medeia', 'Os 120 dias de Sodoma' e 'Teorema'. Todas as traduções foram feitas por Maria Jorge Vilar de Figueiredo