Postagem em destaque

Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

Mostrando postagens com marcador o ano que já terminou. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador o ano que já terminou. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

"2013, o ano que já terminou" // Guilherme Fiuza



2013, o ano que já terminou

(ÉPOCA – edição 763)
O ano de 2012 se encerrou de forma absolutamente normal no Congresso Nacional. Em sua última sessão, o Senado aprovou um trem da alegria para os três poderes, com a criação de milhares de cargos numa só canetada. É normal porque a caneta era de José Sarney, companheiro de Dilma Rousseff, uma aliança que, todos sabem, serve ao Brasil de todos – todos os que fizeram as amizades certas. Se você está de fora dessa, terá que cumprir em 2013 o destino trágico dos reles mortais, esses infelizes que não têm uma Rosemary para chamar de sua – e que ainda fazem uma coisa primária que os companheiros revolucionários não precisam mais fazer: trabalhar.
Mas não se desespere. A vida dos excluídos (do banquete petista) tem lá suas compensações. É bem verdade que você nunca verá um filho seu ficar famoso da noite para o dia por ter arranjado uma boquinha na Anac ou no Senado. Nunca lhe convidarão, também, para uma reunião com José Dirceu para “reforçar o Marco Maia”. Enfim, você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas nem tudo são espinhos: ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão.
Para consolar os excluídos, os que vivem miseravelmente sem acesso a uma única teta do Estado brasileiro, uma ponderação: o Brasil se tornou um país previsível, de rumo firme, o que torna possível antecipar o que vai acontecer em 2013. Isto jamais seria possível antes do Descobrimento (em 2003) – portanto, não reclame de barriga cheia.
Em março, Dilma Rousseff convocará a primeira cadeia nacional de rádio e TV da série 2013. Fará um pronunciamento à nação pelo Dia Internacional da Mulher. Falará com a voz embargada, sobre um fundo de violinos, e se a iluminação do estúdio estiver correta, parecerá ter os olhos molhados. Encherá os brasileiros de orgulho por serem governados por uma “presidenta” – palavra que seus assessores saberão encaixar no discurso – e anunciará algum programa social novo, tipo Brasil Caridoso, Brasil Sem Tristeza ou Brasil Fofo. Apresentará uma estatística impressionante, encomendada ao Ipea e à FGV, mostrando que nos anos Fernando Henrique lugar de mulher era na cozinha.
Em 2013 o Brasil sofrerá novos apagões, provocados por raios neoliberais e elitistas. A tarifa populista de energia será implantada, ajudando a sucatear as empresas do setor, que por isso investirão menos ainda em manutenção – mas os blecautes não terão nada a ver com isso. O ministro Edison Lobão explicará que nosso sistema é um dos melhores do mundo, e que essa mania de ter luz o tempo todo é coisa de burguesia consumista. Sarney ficará orgulhoso de seu afilhado – e pedirá a Roseana, com jeito, que deixe Lobão governar um pouquinho o Maranhão (“Filha, agora descansa e deixa o seu colega brincar também.”)
A inflação em 2013 continuará subindo, e a aprovação a Dilma também. Explica-se o paradoxo: a principal causa da subida dos preços será um novo aumento explosivo dos gastos públicos, incluindo a distribuição de mais dinheiro de graça para a população – através dos programas carinhosos, o Bolsa Tudo. É a chamada “destruição invisível” da economia nacional, que em 2013 será caprichada, porque em 2014 tem eleição. Os simpatizantes do governo popular ficarão felizes com a farta distribuição de bolsas, cargos, convênios a granel para os ministérios parasitários, e Dilma marchará tranquila para a reeleição. Aécio Neves assistirá a tudo escondido nas Alterosas e rezando que Eduardo Campos o ultrapasse na corrida para não chegar.
Joaquim Barbosa, o redentor, fará muitos comícios sociais na presidência do Supremo, deixando pela primeira vez os brasileiros na dúvida: talvez exista outro ser tão bonzinho quanto Lula da Silva. Barbosa evidentemente será mordido pela mosca azul, mas o eleitor acabará ficando mesmo com o pacote Lula/Dilma, para não arriscar a mesada (o mensalão popular).
Rosemary não entregará seu chefe. Terá um ano sofrido, sem passaporte diplomático, mas ficará firme. Afinal, Lula não sabia (Dona Marisa muito menos), e o amor sempre vence.
Como se vê, 2013 já foi. Se quiser uma passagem direta para 2014, passe no caixa da revolução, que o pessoal da Rose na Anac arranja para você.