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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Os quatro suicídios / Maria Lucia Victor Barbosa



DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015



OS QUATRO SUICÍDIOS


Maria Lucia Victor Barbosa

14/02/2015

Mario Vargas Llosa, escritor peruano e Prêmio Nobel de literatura, em artigo publicado pelo O Estado de S. Paulo em 08 de fevereiro de 2015, discorreu sobre suicídio político, que é de teor coletivo e “praticado nos países que, presos de um desvario passageiro ou prolongado, decidem empobrecer-se, barbarizar-se, corromper-se ou todas essas coisas juntas”.

Vargas Llosa cita como exemplos desse tipo de suicídio na Europa, Hitler e Mussolini “que chegaram ao poder por vias legais e um bom número de países centro-europeus que se atiraram nos braços de Stalin sem maiores pudores”. Na atualidade o escritor aponta a Grécia, “que em eleições livres acaba de levar ao poder o Syriza, um partido demagógico e populista de extrema esquerda que se aliou para governar com um pequeno grupo de direita ultranacionalista e antieuropeu”.

Como latino-americano Llosa não podia deixar de dizer que em matéria de suicídio político “a América Latina é pródiga em exemplos trágicos”. Ele analisa especialmente a Argentina na fase peronista que arruinou o país antes considerado de Primeiro Mundo, mas absteve-se de falar no atual e desastroso governo de Cristina Kirchner. Focou também na Venezuela sob o comando do caudilho messiânico, Hugo Chávez, sucedido por Nicolás Maduro “que embora inepto para tudo o mais, na hora de fraudar eleições, encarcerar, torturar e assassinar opositores,” não vacila.

Sem dúvida a América Latina é pródiga em suicídios políticos e muitos outros exemplos podem ser dados. Entre eles o do Brasil que recentemente cometeu quatro suicídios políticos ao eleger petistas.

 Lula da Silva foi presidente de direito durante dois mandatos e presidente de fato na gestão de Dilma Rousseff, assim continuando no mandato que ora se inicia. E ele não pretende apear do cargo mais alto da República, pois avisou que já está a postos para dar continuidade ao seu longevo poder, em 2018.

Esta sequência que visa à hegemonia petista confirma a profecia de José Dirceu, o Bob como é conhecido nas lides criminosas do petrolão e que praticamente está livre da Papuda depois de ter sido o cérebro do esquema igualmente criminoso do mensalão. Talvez, os 20 anos previstos por Dirceu ainda sejam poucos.  Quem sabe ele próprio retome a carreira interrompida e entre em campanha para se eleger presidente da República em 2022. Afinal, a propensão para suicídios políticos na América Latina é arraigada.

A questão é que os caminhos da vida e das sociedades ainda são mutáveis, imprevisíveis e complexos, antes que os avanços tecnológicos confirmem um mundo inteiramente controlado que aparece nos livros e filmes de ficção.  No nosso caso o dinamismo social, político e econômico está trazendo complicações que se antepõe ao projeto petista de poder.

 O primeiro mandato de Lula da Silva foi fácil. Ele singrou nas águas da estabilidade econômica obtida pelo Plano Real de FHC. Pareceu excelente para os pobres das bolsas esmola e para os ricos banqueiros, empreiteiros, enfim, para a “dona zelite” que lucrou como nunca antes nesse país. O período foi cantado em verso e prosa pelo ególatra, tido pelo povo como um operário pobrezinho que logrou chegar lá. Contudo, no decorrer do tempo o partido autointitulado como o único ético, puro, aquele que vinha para mudar o que estava errado, extrapolou em escândalos de corrupção e na incompetência governamental.

Nos quatro anos de Rousseff o processo de arrebentar a economia se consumou, o que pode ser simbolizado pela devastação da Petrobras assaltada pelo PT e companheiros. Como não podia deixar de ser caiu vertiginosamente a aprovação da criatura, enquanto no Congresso surgiu uma verdadeira oposição liderada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Para piorar, o desenrolar da operação Lava Jato vai se aproximando perigosamente de Lula da Silva e de Rousseff.

Como não podia deixar de ser, o presidente de fato entrou em campo. Junto com o ministro da Justiça e outros tenta influir na Operação Lava Jato para anular as delações feitas. Pede também o impossível a Rousseff: que ela seja simpática e dialogue com os partidos, com os movimentos sociais, com governadores e prefeitos.

Lula pode até conseguir algumas coisas, exceto mudar instantaneamente a insatisfação popular com a economia e controlar a ação judicial contra a PTbras aberta por acionistas americanos que se sentiram roubados.

Lembra um amigo meu, que um bilionário chamado Madoff deu um gigantesco golpe em investidores americanos.  Em dois anos foi julgado, condenado e preso nos Estados Unidos. Hoje, aos 80 anos, trabalha na lavanderia da prisão. Se viver mais 30 anos, sairá, mas é pouco provável. Vai ver, que o grande temor de Lula, Rousseff e demais companheiros é a lavanderia, único meio de impedir que brasileiros cometam outro suicídio politico.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga