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quinta-feira, 12 de março de 2015

O maior hobby dos homens continua matando pessoas, esperanças, objetivos, crianças... // BBC


Síria tem 5,6 milhões de crianças em risco humanitário

  • Há 48 minutos
Criança síria próxima a Damasco | Foto: Reuters
Número de crianças que necessitam de ajuda no país aumentou 31% desde 2013
A Síria tem 5,6 milhões de crianças em risco humanitário, segundo um relatório elaborado por uma coalizão global de agências de ajuda divulgado nesta quinta-feira.
O relatório Failing Syria, feito por organizações que incluem a Save the Childrem e a Oxfam, afirmou que os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU não cumpriram suas promessas de aumentar a ajuda humanitária e aliviar o sofrimento dos civis.
De acordo com o documento, 2014 foi o "pior ano" para civis desde que o conflito começou, em 2011.
"A realidade amarga é que o Conselho de Segurança não conseguiu implementar suas resoluções", disse Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês de Refugiados, outro dos grupos envolvidos no relatório.
"As partes do conflito agiram com impunidade e ignoraram as exigências do Conselho de Segurança, os civis não estão protegidos e o seu acesso à ajuda não melhorou."
Três resoluções do Conselho de Segurança foram aprovadas no ano passado, pedindo o fim dos ataques a civis e o aumento da ajuda humanitária, permitindo que a ONU operasse na Síria sem a permissão de Damasco, entre outras coisas.
Em resposta ao relatório, a ONU também acusou as potências mundiais de falharem em ajudar as vítimas do conflito na Síria.
Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral Ban Ki-moon, disse à BBC que nações poderosas colocaram seus interesses na frente da necessidade de colocar um fim à guerra no país e que a ONU ainda acredita em uma solução política para o conflito.
O porta-voz afirmou ainda que houve sucesso em eliminar as armas químicas do presidente Bashar Al-Assad e em conseguir que alguma ajuda humanitária entrasse no país, mas que suprimento de armas para as partes em conflito está piorando as coisas.
"Percebemos uma falta de vontade política de avançarmos juntos para dar um fim às batalhas."

Guerra na Síria

220.000
mortos desde o início da crise
  • 76.000 sírios mortos em 2014 - o ano com mais fatalidades
  • 4,8 mi de pessoas em necessidade vivem em áreas de difícil acesso
  • 5,6 mi de crianças precisando de ajuda
  • 1,6 mi de crianças fora da escola
Reuters
O relatório Failing Syria diz que:
  • As pessoas não estão protegidas: 2014 foi o ano com mais fatalidades do conflito, com pelo menos 76 mil mortos.
  • O acesso à ajuda humanitária não melhorou: 4,8 milhões de pessoas que precisam de ajuda vivem em áreas definidas pela ONU como "de difícil acesso", um milhão a mais do que em 2013.
  • As necessidades aumentaram: 5,6 milhões de crianças precisam de ajuda, um aumento de 31% desde 2013.
  • A resposta humanitária diminuiu, em comparação com o aumento da necessidade: em 2013, 71% dos fundos necessários para apoiar os civis na Síria e os refugiados em países vizinhos foi arrecadado. Em 2014, esse número caiu para 57%.

No escuro

Uma análise feita por outro grupo de agências humanitárias diz que 83% das luzes da Síria visíveis do espaço de apagaram.
A coalizão WithSyria, formada por mais de 100 organizações humanitárias, divulgou imagens de satélite mostrando que o número de luzes diminuiu dramaticamente desde março de 2011.
Luzes visíveis na Síria à noite em março de 2011
Luzes visíveis na Síria à noite em fevereiro de 2015
Elas afirmam acreditar que a queda ocorreu por uma série de fatores, incluindo danos de infraestrutura.
Separadamente, um terceiro relatório feito pelo Centro Sírio para a Pesquisa de Políticas afirmou que quatro anos de conflito armado, de desintegração econômica e de fragmentação social no país fizeram com que 10 milhões de pessoas deixassem suas casas e reduziram a expectativa de vida dos sírios em duas décadas.
Na quarta-feira, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou que é necessário um aumento urgente da assistência médica na Síria.
Em seu relatório, o MSF disse que, dos cerca de 2,5 mil médicos que trabalhavam em Aleppo – a segunda maior cidade da Síria – antes do conflito, restam menos de 100.
Os outros saíram do país, se deslocaram internamente, foram sequestrados ou mortos.
O conflito na Síria começou em 2011 com protestos em todo o país contra o presidente Bashar Al-Assad.
As forças de segurança do regime tentaram usar a força para reprimir as manifestações, mas a oposição aderiu ao conflito armado.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Guerra da civil da Síria contada por brasileira...!

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1149882-brasileira-conta-como-fugiu-de-aleppo-em-meio-a-guerra-civil.shtml

07/09/2012 - 05h45

Brasileira conta como fugiu de Aleppo em meio à guerra civil


ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU

Onda de RevoltasA brasileira Priscila Eroud Ibrahim Bacha, 25, morava havia quatro anos em Aleppo, norte da Síria, quando estourou a guerra civil no país. Ela e o marido, o sírio Mohamed Eikmat Ibrahim Bacha, 36, além dos filhos Najla e Orfan, de sete e cinco anos, fugiram do país com a ajuda da embaixada brasileira, que conseguiu as passagens. Os quatro chegaram ao Brasil na semana passada.
*
Eu nasci em São Paulo e passei minha infância lá, depois vim para Foz. Noivei e casei aqui, com 16 anos. Meus dois filhos nasceram em Foz.
Depois de quatro anos, apareceu uma oportunidade de trabalho para o meu marido na Síria --e ele estava com muita saudade da família dele, que vive lá.
Fomos morar em Aleppo, no bairro Seif al-Dawla, um dos bairros que mais estão sendo atacados agora. A gente abriu duas lojas de internet; aqui chamam lan house.
Aleppo é uma cidade enorme [tem cerca de 3 milhões de habitantes]. Era lindo, era seguro.
Roberto Lemos/Folhapress
Priscila Eroud Ibrahim Bacha, 25, conta como era viver no meio da guerra
Priscila Eroud Ibrahim Bacha, 25, conta como era viver no meio da guerra
SORVETE
A gente saía para tomar um sorvete, sentava na avenida e ficava conversando até quatro, cinco horas da manhã.
No começo do ano as coisas começaram a piorar. Dava para escutar os tiros de longe, as bombas, os aviões. Mas tínhamos certeza que não chegaria até nós. É que Aleppo é grande. Continuávamos com a vida normal.
No dia 3 de agosto, uma sexta-feira, senti que tinha alguma coisa acontecendo lá fora. Eram umas 14h30 quando olhei pela janela. Achei que era passeata, que sempre tinha. Mas aquela passeata estava diferente: os rebeldes estavam atrás, com armas.
Naquela hora, eu percebi que eram rebeldes, pelas roupas que estavam vestindo. Porque eles não são sírios; a maioria é de fora. O comandante dava para ver que era tipo um paquistanês, até pela roupa. E pela cara: era a cara de uma pessoa ruim.
Eram umas oito pessoas. Depois, tomaram conta da escola, em frente à minha casa, e ficaram. Foram chegando pessoas ali, foi aumentando.
À noite, começaram os tiros. A gente estava sentado no sofá. Quando começaram a atirar, fomos todos para o chão. Sabe quando alguém pula na piscina? Assim que eu fui, para a piscina. Bati com tudo.
Eu não conseguia nem sair do lugar, de susto. Minha cunhada me puxou, puxamos meus filhos pela perna e fomos agachados para o corredor. Era muito barulho, começou a entrar tiro dentro de casa. A gente não conseguia nem falar.
PARA ONDE VAMOS?
Depois que passou, ficamos desesperados: para onde vamos agora? Liguei para minha mãe, no Brasil, e disse: "Pelo amor de Deus, me tira daqui. Chegaram, a guerra chegou". Ela fez contato com a embaixada, aí a embaixada começou a fazer contato comigo.
Não dormimos nem um minuto. Como vou dormir com aviões, bombas, tiroteio a noite toda, telefonemas?
No dia seguinte, fomos para a casa do tio do meu marido. Ele também mora em Aleppo, mas em outro bairro.
A gente teve que andar muito, não sei quantos quilômetros, até achar uma rua aberta. Carro não entra.
Os rebeldes entram, colocam uma bandeira preta em cada ponto, colocam armas, fecham todas as ruas e não pode mais chegar carro. Quem quer fugir pode, mas a pé. Está cheio de refugiado nas ruas.
FRONTEIRA
Ficamos uma semana no tio do meu marido, até que a embaixada brasileira pagou as passagens de avião, de Aleppo a Damasco. Depois, um carro da embaixada nos levou até a fronteira do Líbano.
Lá no Líbano não tem lugar para dormir. O que tem está cheio de sírios. Quem tem condição de ficar em hotel fica. Mas a maioria está em barraquinha.
Tem muito fogos de artifício lá, todo dia; eles adoram. E, todo dia, a minha filha corria porque achava que era bomba caindo.
A gente acha que as crianças não entendem, mas entendem melhor que nós. Choraram, sofreram... Meu filho emagreceu muito.
Trouxemos quatro malas. Só roupa. Ficaram a loja, os computadores, a casa, minhas lembranças, o dinheiro... Foi tudo.
Paramos na frente da televisão e começamos a ver Seif al-Dawla. O bairro onde a gente morava, tomava sorvete... É impressionante, destruíram tudo.
Eu falo para os jornalistas: não sou contra nem a favor. A única coisa que posso falar é que a gente estava tranquilo até que chegaram os rebeldes. Depois é que vieram os aviões do Bashar [Assad, ditador sírio].
Ficamos sabendo que a casa onde eu morava com meus sogros foi bombardeada. Explodiu tudo. Lustre de bronze, de 120 anos, derreteu. Os dois gatinhos do meu sogro viraram carvão.
O Brasil é o recomeço, nasci de novo. Eu fiquei quatro anos lá, fiz a vida lá, para nada. Vim aqui no zero. Síria, para mim, nunca mais.
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