Brasileiros que moram em Bruxelas, na Bélgica, relataram ao G1 os momentos de tensão e medo após os atentados terroristas que deixaram dezenas de mortos e feridos no Aeroporto Internacional de Zaventem e na estação de metrô Maelbeek. A imprensa local fala em 34 mortos, além de 170 feridos. As explosões levaram o país a entrar em alerta máximo para atentados terroristas.
Duas explosões ocorreram no aeroporto e uma no metrô. Pelo menos uma delas foi provocada porum homem-bomba, segundo procuradoria local. Vozes em árabe e tiros também teriam sido ouvidos no local, segundo a imprensa belga.
Uma terceira explosão atingiu a movimentada estação Maelbeek, que fica perto de um bairro onde parte das representações da União Europeia está sediada, segundo a CNN. O prefeito de Bruxelas, Yvan Mayeur, afirmou que 20 pessoas morreram no metrô e outras 106 ficaram feridas, sendo 17 gravemente.
Leia, abaixo, relatos de brasileiros que moram em Bruxelas:
Samla Da Rosa, jornalista, mora em Bruxelas há 20 anos, em relato enviado ao G1 por e-mail; ela estava no trem que sofreu o atentado:
Tudo se passou muito rápido. O barulho foi surdo e a janela do metrô caiu sobre a minha cabeça. As luzes foram cortadas imediatamente. Olhei para o lado, vi fumaça, fogo do lado de fora, alguns trilhos destruídos e algumas pessoas correndo na plataforma do outro lado.
O rapaz da minha frente disse que estávamos no meio de "um atentado terrorista". Aquele anúncio era um soco para acordar-nos da imobilização. Pedimos calma àqueles que gritavam e estavam em pânico. Deitamos no chão e nos abraçamos, mesmo sem nunca termos visto um ao outro. Vivíamos aquele momento de solidariedade da dor e cumplicidade do medo.
Muita gente chorava. Perguntávamos o porquê de tudo isso? Pouco a pouco as pessoas se dispersaram e restaram os mais feridos. Muita gente queimada no rosto, com a pele em carne viva.
Olhei à minha volta e me dei conta que havia nascido novamente a dois dias de completar 54 anos. Porém muitos não conseguirão retomar suas vidas nunca mais e isso me dá um aperto muito grande no coração. Ficará na memória a solidariedade humana, o olhar de desespero das pessoas, os muitos rostos desfigurados e um braço, perdido de seu dono, estirado na calçada.
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Fotos tiradas por Samla Da Rosa mostram passageiros saindo do metrô após explosão de bomba em Bruxelas (Foto: Samla da Rosa/Arquivo pessoal)
Gabriel Lopes, de 20 anos, de Diadema (SP), faz intercâmbio de um ano na Université Saint-Louis, em Bruxelas, onde mora desde agosto de 2015, em depoimeno ao G1 por telefone:
O brasileiro Gabriel Lopes, 20, de Diadema (SP), que mora em Bruxelas desde agosto de 2015; ele faz intercâmbio em uma universidade belga (Foto: Arquivo Pessoal)
Hoje de manhã, quando soube dos atentados, pensei em voltar a morar no Brasil. Mas só pensei. Depois você se acalma, e a razão bate. E eu sei que é perigoso aí no Brasil também, mais do que aqui. Mas, sei lá, vai que eu estou no aeroporto e acontece um atentado. Na semana passada, comprei uma passagem para Berlim, e o voo seria hoje de manhã. Estava tudo certo para a viagem, só desisti realmente ontem, porque tinha compromissos.
Hoje acordei às 9h20 daqui [5h20 no horário de Brasília], com o celular vibrando e o barulho de sirenes da polícia nas ruas. E tinha gente da família ligando, um monte de mensagem de amigos. Minha primeira reação foi mandar mensagem para uma amiga portuguesa que eu sabia que iria pegar um voo hoje de manhã. No fim, consegui falar com todos os meus amigos daqui.
Quando teve o ataque em Paris [em novembro do ano passado], aqui em Bruxelas a gente ficou em nível 4 de atenção, mas não fiquei tão preocupado. Mas desta vez não: fiquei muito, muito preocupado. Porque o aeroporto é um lugar em que estou sempre, com amigos viajando. Não dá para acreditar.
Estou vendo pela TV e também chegando notícias em Facebook. A única coisa que eles falam é que a polícia já está tomando controle, mas acho que dizem isso porque não querem assustar o povo. Se tivesse controle, não teria explodido.
Renata Lemos, 37 anos, analista de sistemas, mora em Bruxelas há quatro anos, em depoimento aoG1 por telefone
A analista de sistemas Renata Lemos, de 37 anos, que mora em Bruxelas há quatro anos (Foto: Arquivo Pessoal)
Foi bem assustador. O sentimento que estou tendo agora... Não consigo achar uma palavra no dicionário que descreva. A gente sempre escuta falarem de atentado, e já é assustador quando acontece longe da gente, mas quando se vê esta realidade tão perto – é apavorante.
O que meu pai falou pra mim: “Não sei o que é pior, o terrorismo aí em Bruxelas ou a violência do Brasil”. Uma das coisas que me fazem ficar na Bélgica é a tranquilidade. Não tem a violência do dia a dia do Brasil. Aqui, ando com celular na rua, com o computador no trem, já deixei o carro aberto – e nunca aconteceu nada. Às vezes, escuto alguma coisa sobre violência, mas nada comparado ao Rio, que é a minha cidade.
Agora, uma parada dessas como os atentados, uma coisa que mata trocentas pessoas por hora... Mas, ao mesmo tempo, quantas pessoas morrem no Rio e no Brasil? É difícil. As pessas estão ficando loucas, doentes, a gente nem sabe mais para onde correr.
Vou visitar o Brasil no mês que vem, já estava de passagem comprada. Mas agora tenho muito medo de chegar no aeroporto de Bruxelas. Já estou com medo, mas não vai acontecer nada, estou fazendo pensamento positivo e nada vai acontecer. Estou louca para ver minha família, morrendo de saudade. Nessas horas, a gente pensa: E se eu morresse hoje?
Fábio Jardelino, 25 anos, jornalista, mora na Bélgica há um ano, em depoimento ao G1 (veja abaixo):
Eu fiquei sabendo [dos atentados] através de amigos, pelo WhatsApp. Ainda estava em casa, tinha acabado de acordar. Tenho um amigo que estava lá [no aeroporto de Zaventem], e ele ficou ferido, voltou para casa completamente chocado. A situação foi bem tensa, bem pesada.
Por volta das 8h30, 9h, a gente teve a notícia da explosão na estação de Maelbeek. A estação é próxima da estação de Schuman, que uso duas ou três vezes por semana para ir para a universidade, e basicamente nesta hora em que houve as explosões. Estamos todos muito tristes aqui em Bruxelas. Graças a Deus, nenhum amigo ficou ferido, mas várias pessoas morreram, e isso deixou toda a cidade de luto. A cidade está praticamente fechada, a polícia, o exército, forças especiais – todo mundo está na rua. E fecharam totalmente o centro. A gente não pode entrar ou se aproximar de instituições como o Parlamento e a Comissão.
Leia maisNeuseli Lamari, fisioterapeuta, participou de um congresso em Bruxelas, em depoimento ao G1
Foi por um minuto que perdi o trem que explodiu. Apesar do alívio enorme por ter perdido o trem anterior, não deixa de ser assustador estar em meio a toda essa confusão. Era uma fumaceira e uma correria só. Temos de aguardar aqui até sermos liberados para voltar em segurança ao hotel, em Paris.
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Diego Salles, acrobata em uma escola em Bruxelas, em depoimento ao G1 (veja abaixo):
Nós estávamos no meio da aula e diretor da escola fez uma reunião para contar para gente o que tinha acontecido. Foi uma coisa terrível. Logo depois, cerca de 20 minutos após isso, eles disseram que a escola teria que fechar as portas e encerrar as aulas por conta dos atentados. As aulas estão suspensas até a segunda ordem.
"Dá medo até de voltar para casa, pois o clima na rua é bem estranho. Está todo mundo desconfiado, porque aqui é tudo tão perto, tão próximo e pode acontecer do nosso lado. É muito triste e revoltante que isso esteja acontecendo.
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Tatiane Rocha, de 29 anos, mora em Bruxelas desde agosto de 2015, em depoimento ao G1 (veja abaixo):
Hoje eu pensei: foi sorte que não utilizo o metrô porque minha escola e o trabalho do meu marido são perto de casa e então vamos a pé. Se usasse, passaria naquela estação onde houve a bomba. É uma sensação de alívio dentro disso tudo. Nós tentamos não entrar em pânico, mas assusta porque é muito próximo da gente.
Eu sai logo de manhã por volta das 8h30. Percebi que tinha uma movimentação estranha na minha rua. Nós moramos perto de uma escola judaica e tem sempre polícia. Mas hoje percebi que tinha uma movimentação diferente, parecida com o que aconteceu no dia dos atentados em Paris em novembro. Policiais militares observando carros, olhando dentro para ver se tem bomba.
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Guilherme Ferreira, 18 anos, em depoimento à EPTV Sul de Minas (veja abaixo):
É realmente uma fatalidade o que aconteceu aqui na nossa cidade. Eu tinha acabado de acordar, abri a janela e a primeira coisa que eu vi, escutei foi somente sirenes e polícia passando, olhava pro céu e só via helicópteros, as pessoas na rua desesperadas correndo pra chegar em casa, os pais de família dentro de seus carros loucos pra buscar os filhos na escola, porque a ordem da polícia foi que evacuassem as escolas.
E liguei a TV, pra ver o que estava acontecendo, porque eu não estava entendendo essa loucura, e a primeira notícia e imagem que veio na televisão foi do aeroporto totalmente danificado, pessoas mortas no chão, e, como pode escutar, não para de passar polícia aqui, [a estação] de metrô aqui do lado tinha acabado de ser explodida, isso foi algo de um homicida, de um atentado terrorista. E agora o que nos resta é simplesmente aguardar pra ver o que vai acontecer, se isso é realmente só o começo de tudo isso, e o nosso clima aqui infelizmente está terrível, porque o transporte foi totalmente fechado, metrô não está mais funcionando, as fronteiras do país estão fechadas.
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