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domingo, 31 de julho de 2016

Crime a sangue frio..../

O martírio do Padre Hamel


O crime bárbaro, cruel como todos os crimes, que tirou a vida do padre Jacques Hamel na Igreja de Saint-Étienne-du-Rouvray, na Normandia, foi ainda mais chocante pela figura da vítima que morreu tal como o padroeiro de sua igreja, martirizado por sua fé, na terça-feira, 26 de julho de 2016.

Vítima de monstros piores do que os piores monstros.
Senti uma dor profunda ao ler sobre a morte do padre Hamel. Ao olhar suas poucas fotos, ele não era um padre midiático, era um padre devotado ao seu ofício, isso sim, o que percebemos é uma expressão da mais profunda paz interior. Um homem bom, um homem que se dedicou aos outros a vida toda.
Santo Estêvão (Saint Étienne) morreu lapidado em 36 D.C. Foi o primeiro mártir da Cristandade. Como eu gostaria de saber que padre Hamel foi o último!
Mas, como disse o papa Francisco em voo para Cracóvia, onde vai participar de uma nova Jornada da Juventude, o mundo está em guerra. Segundo ele, não é uma guerra religiosa, mas sim por dinheiro e poder.
Concordo com o papa. É uma guerra sim, uma guerra imunda e covarde, como todas as outras, aliás.

Passaram-se dois mil anos desde o martírio de Santo Estêvão e o Homem se vangloria da civilização em que vive.
Civilização? Que civilização?
O que faz o governo francês que não toma uma atitude drástica contra os fundamentalistas islâmicos que se valem de tudo que a França lhes oferece de bom, mas que a odeiam a ponto de degolar um padre de 86 anos que não lhes fazia mal algum, só lhes dava conforto espiritual e auxílio quando necessário?
No Libération, no dia de sua morte, li muitos comentários de pessoas comovidas com o sofrimento do padre que os batizou ou aos seus filhos, que casou seus pais, que dava assistência aos muçulmanos que habitam a pequena cidade, espalhados que estão por toda a França. País onde têm escola de primeira linha, saúde de qualidade e gratuita, onde, para os que querem, há trabalho e moradia, mesquitas para orar livremente, mas ao qual retribuem com atentados e matanças inacreditavelmente violentos.
O padre foi assassinado em plena missa das 10:00 por dois muçulmanos, um dos quais recém-saído da cadeia e que usava uma tornozeleira eletrônica. Ele só podia sair de casa entre 8h30 e 12h30, horário que o desgraçado cumpriu... Além de obrigar o padre a se ajoelhar, ele e seu comparsa pregaram em árabe diante de sua vítima e depois o degolaram.
Quando, há poucos meses, perguntaram ao padre Hamel por que ele não se aposentava, idoso como era, ele respondeu:
— Já viu um padre se aposentar? Vou trabalhar até meu último suspiro.
E foi o que fez. Foi diante do altar onde cumpria seu ofício e rezava a missa do dia que Jacques Hamel foi degolado pelos infelizes do ISIS. Foi diante do altar que ele deu seu último suspiro.

Sem saber o que dizer diante de tanta brutalidade fui buscar na poesia de T.S.Eliot, em sua magistral peça teatral 'Murder In The Cathedral', cujo tema é o martírio do Arcebispo Thomas Becket em 29 de dezembro de 1170, na catedral de Canterbury, os versos a seguir:
A morte tem cem mãos e anda em mil caminhos.Pode passar à vista de todos, chegar sem ser vista nem ouvida.Chegar como um sussurro no ouvido, ou um choque súbito na nuca.
E foi assim que a morte chegou para Jacques Hamel, padre há 58 anos, logo após a celebração da Eucaristia na Igreja de Saint-Étienne-du Rouvray.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O medo transformou o planeta TERRA ...

A Hora do Medo

Quando li sobre o ataque a machadadas e facadas feito pelo afegão de 17 anos em um trem que chegava a Würzburg, Alemanha, fiquei muito chocada. Como pode um adolescente ainda tão próximo da infância ser assim cruel, violento, desgraçado?
O que será que o levou a se transformar nesse monstro?
A fragilidade do mundo (Foto: Alex Falcò Chang / Cartoon Movement)
Depois, como se alguém puxasse pelos meus cabelos para que meu cérebro acordasse, eu me dei conta de que, para uma carioca, ler esse tipo de notícia não devia ser chocante. Triste, sim, sempre. Mas chocante não já que aqui, nesta linda e outrora aconchegante cidade, crimes cruéis são cometidos a cada 2 horas. Já devia estar habituada a ler sobre o mal, o ódio, a sanha que pode levar o homem a se transformar numa besta-fera.
A VEJA de 13 de julho faz um relato do que aconteceu nas primeiras 48 horas do mês de julho: das 20 horas do dia 1º, uma sexta-feira, às 20 horas do domingo 3, foram vinte e sete mortos,  vinte feridos, dezenove tiroteios, sete arrastões.
A descrição de alguns dos crimes cometidos nessas 48 horas é terrível.  Depois de ler a reportagem, podemos avaliar o crime do afegão como brutal, feroz, bestial?
E é nesta cidade que teremos no mês de agosto os Jogos Olímpicos. O cenário é perfeito, o carioca já gosta de uma festa, é apaixonado pelo circo.  Ao pão creio mesmo que prefere o circo. Receberemos  milhares de pessoas, boas, más, violentas, pacíficas, cruéis, bondosas, perigosas, gente de todo tipo.
Minha oração a Deus é que não permita que a espoleta que esses visitantes possam trazer chegue perto da pólvora que nossa criminalidade armazena há tanto tempo...
O terror que ameaça o mundo de hoje ficará tentado a vir ao Rio? Aqui encontrará guarida entre os traficantes? Morro de medo dessa gente, confesso. E mais insegura fico ao ver as declarações conflitantes de nossas autoridades. O prefeito dá entrevistas divergentes ao The Guardian. Ora o Rio está à beira de muitas tragédias, ora se você quiser desfrutar de um agosto tranquilo, venha para o Rio.
O governo francês pede proteção extra para os liceus que mantém no Brasil e para as sedes de suas escolas de língua francesa em território brasileiro.  Nossa Abin se aconselha com o Mossad, com o FBI, com a CIA...  E querem me fazer crer que não há razão para medo?
O medo é o sentimento mais primitivo do homem. Os recém-nascidos tremem na mão do parteiro que os segura mal saem do ventre de suas mães e é de medo que tremem.  O coração acelera, a respiração fica ofegante,  as pernas e os braços se agitam.  É o corpo se defendendo do medo.  E por toda a nossa vida, em momentos de grande medo, assim ficaremos.
Eu me pergunto como se pode matar o medo? Como dar um tiro no coração de um fantasma, ou cortar sua cabeça fantasmagórica,  ou estrangular sua garganta espectral?”, foi a pergunta que Joseph Conrad fez e que ficou sem resposta.
Já Averróis, Jean-Paul Sartre e Umberto Eco não nos deixaram perguntas sobre o medo; definiram o que pensavam sobre esse sentimento que pode ser devastador:
De Averróis: A ignorância leva ao medo, o medo leva ao ódio e o ódio conduz à violência.  Eis a equação.
De Sartre:  Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem.
De Eco: É sempre melhor que quem nos incute medo tenha mais medo do que nós.
Será? Neste Rio onde há uma morte a cada duas horas, onde a vida não vale nada, onde matar um ser humano é o mesmo que pisar numa formiga? Estou com muito medo. Quero afastar esse sentimento negativo, feio, escuro. Mas como?
Na verdade, o mundo está ameaçado. A maldade e o ódio parecem dominar todos os países. Nice, Paris, Bruxelas, Londres, Orlando, Madrid... Não há como fugir da constatação: como é frágil esta nossa nave.
A fragilidade do mundo (Foto: Alex Falcò Chang / Cartoon Movement)

sexta-feira, 29 de abril de 2016

O Brasil precisa de reza forte...



POLÍTICA

Cristo, olhai pra isto!

Cristo Redentor (Foto: Arquivo Google)
Quem já foi a Pompeia não esquece as cenas da vida cotidiana que o Vesúvio petrificou para sempre. Os habitantes e frequentadores daquela cidade de veraneio próxima a Nápoles, uma das mais lindas e ricas da península, foram apanhados de surpresa e não puderam se postar da maneira como gostariam de ser eternizados.
Já aqui... onde a natureza nos poupou de ter vulcões, o que explode são vesúvios morais que levam ao fim de um governo e à derrocada de um partido político que já foi o mais forte do país.
Mas não há ninguém cuidando da foto que deixará para a História do Brasil.
O problema de dona Dilma é um só: lutar desesperadamente para não perder o Poder, essa ambição que destrói o mundo há séculos. Ela parece não se preocupar com a imagem que deixará.
Discursando mais nos últimos dois meses do que nos cinco anos em que está na tal cadeira à qual se aferra como craca, ela só sabe dizer que tudo aquilo de que é acusada é farsa, traição, atentado à Constituição. Só não explica o que fez e porque o fez, só não responde com provas que desmintam aquilo de que é acusada.
Às vésperas de ter que largar o cargo, ela e seu partido resolveram que vão fazer o possível e o impossível – vão novamente fazer o diabo? - para perturbar e prejudicar o governo que virá substituí-la.
Se amasse o Brasil como diz amar, agora seria o momento de provar esse amor e pensar mais no país do que na manutenção da caneta.
É natural, é humano que dona Dilma não deseje tudo de bom a Michel Temer. Mas é de um egoísmo brutal ela se dedicar a fazer o possível para complicar o governo de seu sucessor, posto que isso prejudicará a vida de todos nós.
Dona Dilma, num dos seus últimos palanques, cita Eduardo Cunha como o "pecado original" do impeachment. Taí, ele é mesmo culpado de muitas coisas que, se Deus quiser, serão investigadas e ele receberá a punição que merece.
Mas se há uma coisa da qual ele é absolutamente inocente é o fato dela ter sido colocada lá na tal cadeira. Disso, desse crime abominável, só é culpado o ex-presidente Lula. E menos culpado ainda é Cunha dos erros que ela cometeu.
Dona Dilma confirmou à excelente jornalista Christiana Amampour, da CNN International, que não é um animal político. Disso Lula não pode se valer: ele é sobretudo um animal político e, portanto, duvido que ele não perceba que ao tentar destruir o governo que vai suceder o atual, ele vai é acabar de destruir o Brasil.
Não acredito que Lula concorde com Rui Falcão quando ele conclama os militantes a ocupar as ruas e criar o máximo de tumulto que consigam. Tenho medo que eles só se satisfaçam com grandes tumultos. Eles são bem capazes de vibrar com isso.
Todavia, Lula sabe que isso não somente não salvará o mandato de Dilma Rousseff, como sabe que isso fará com que o PT vire pó nas próximas eleições.
Pode ser que as palavras de Rui Falcão iludam dona Dilma e a militância petista. Mas duvido muito que iludam Lula.
Nós, cidadãos que estamos sofrendo os malfeitos do lulopetismo, não vamos deixar que o Brasil se ferre. Vamos apoiar o afastamento de Dilma Rousseff pelo bem do Brasil. Com as bênçãos do Cristo.
Para concluir: tenho cá para mim que Lula deveria ouvir mais dona Marisa. Ela bem que o alertou...

sábado, 26 de março de 2016

Presentes para Lula / Maria Helena RR de Souza


POLÍTICA

Alguns Presentes

Presentes (Foto: Arquivo Google)
1) O presente que mais chamou minha atenção nos últimos dias foi o que Lula recebeu do ministro Teori Zavacki.

Lula, com a ajuda de Dilma, lutou acirradamente pelo cargo de ministro do Governo Federal para escapar da “República de Curitiba”, como ele chama a 13ª Vara da Justiça Federal. Pois não é que não precisava tanto esforço?
Bastava ter reclamado junto ao STF que o ministro Teori Zavacki atenderia ao ex-presidente: retirar seu processo das mãos do juiz Sergio Moro e levá-lo para o STF.
A mim me parece que esse é um presente de grego, mas isso só saberemos depois que o plenário do STF se reunir, o que pode levar alguns dias.

2) Naquele dia em que Lula foi tomar café da manhã em casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, o que mais me intrigou foi o presente que o anfitrião deu ao seu convidado: um exemplar da Constituição Federal de 1988.
Achei indelicado, para dizer o mínimo. A não ser que fosse um exemplar ricamente encadernado da nossa Constituição, francamente, não vi sentido, já que é impossível imaginar que um ex-presidente da República não tenha mais de um exemplar, um em cada uma das casas que possui, fora um no Instituto Lula. E exemplares lidos e relidos.
A não ser que aquilo tenha sido uma mensagem subliminar, o que é possível, vindo de quem vem...
3) Eu já disse aqui e repito hoje: Deus lembrou-se que é brasileiro e nos enviou um grande presente, o juiz Sergio Moro. Trabalhando sem trégua, dedicado ao Brasil, o juiz que está desvendando a teia infernal da corrupção que devora o país, em vez de só receber apoio e aplausos, vem sendo criticado por almas menos perceptivas do Bem que ele está nos fazendo.
Há quem tenha a coragem de dizer, diante da admiração e gratidão que Sergio Moro desperta na grande maioria dos brasileiros, que não precisamos de mitos e que o juiz de Curitiba deve fugir dos holofotes. De mitos não precisamos, é verdade. Deus nos livre dos mitos. Mas de pessoas que mereçam nossa admiração, disso estamos mais do que necessitados. São poucas, muito poucas, as pessoas públicas dignas da admiração dos brasileiros. Nunca estivemos tão pobres nessa área... Mais do que pobres, indigentes. O Juiz Sergio Moro é uma brava exceção!
4) Mas, falando em presentes, eu não poderia deixar de mencionar o presente que dona Dilma deu ontem à Imprensa Internacional.
Ela reuniu os correspondentes estrangeiros em seu Palácio para queixar-se amargamente dos que pregam seu impeachment. Falou um bocado e disse, como sempre, que a Oposição quer sua renúncia porque sabe que seu afastamento não tem base legal. É o que ela diz...
Sabem que fiquei com pena dela? Será que ela pensa que os jornalistas estrangeiros que aqui representam os maiores jornais e revistas do mundo estão tão por fora de tudo que o Governo Federal tem aprontado que vão rezar pela ladainha dela?
Tenho a impressão que esse presente vai se transformar num osso duro de roer...
5) Peço licença para mencionar o meu presente: votos de uma Boa Páscoa para os leitores do Blog do Noblat e de uma rica Pascoela para todos os brasileiros, com o renascimento de nosso país.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

" É óbvio: tirar o PT do Palácio do Planalto. Esse seria o décimo-terceiro trabalho de Hércules..."


POLÍTICA

Os treze trabalhos de Hércules

No Jardim das Hespérides (Foto: M.A.N Madri)
No Jardim das Hespérides (Foto: M.A.N Madri)
Parece que o Governo Federal finalmente voltou seus olhos para a Escola e deixou de pensar só nas universidades das quais tanto se gaba o Lula. E bolou um programa para uma Base Nacional Comum que possa atender todas as escolas brasileiras. Excelente idiea, desde que deixem espaço para que os professores dos diversos Estados e Municípios do país enriqueçam a Base com temas e assuntos de interesse local.
Mas...  já repararam como tem sempre um mas em tudo que vem do PT?
Agora o "mas" se refere á indigência da Grade Curricular em tudo que se refere à História e à Cultura Geral.
Vou aproveitar enquanto o Currículo Nacional Comum ainda não está a pleno vapor para falar num dos mais altos momentos da Mitologia Grega, a figura heroica, valente, corajosa e apaixonante do grande Hércules que, num acesso de loucura provocado pela deusa Hera, matou sua mulher e seus três filhos.
Hércules não era um sujeito cruel e quando se deu conta do horror que cometera, isolou-se no campo e lá foi viver como eremita. Encontrado por seu primo Teseu, foi com ele consultar o Oráculo de Delfos com o objetivo de pagar por seus crimes e recuperar sua honra. A penitência que lhe foi imposta foi terrível: doze tarefas que exigiam inteligência, valentia, força, além de obedecer fielmente a um de seus piores inimigos,o  rei de Micenas, Euristeu.  Cumpridas as tarefas, Hércules se tornaria imortal, o que era seu direito de nascença não tivesse sido ludibriado por Euristeu.
Que tal pedirmos ao Oráculo que passe mais uma tarefa para o herói, talvez só mais complicada que a ordem que recebeu de colher os pomos de ouro do Jardim das Hespérides, o que só poderia fazer depois de matar o dragão de cem cabeças que era o guardião do tesouro? Para tanto, Hércules precisou da ajuda do titã Atlas: esse matou o dragão enquanto Hércules sustentou em seus ombros o Céu, tarefa eterna do titã.
E qual a tarefa que falta, segundo esta audaciosa e enxerida articulista?
É óbvio: tirar o PT do Palácio do Planalto. Esse seria o décimo-terceiro trabalho de Hércules.
(Leitor, antes que não seja mais necessário ler e estudar nem a Grécia Antiga, que dirá sua Mitologia, compre "Os Doze Trabalhos de Hércules", de Monteiro Lobato, e acompanhe o grande herói em suas aventuras assessorado pela genial Emília. Se a Grade Curricular Petista entrar em vigor ninguém mais vai saber quem foi Emília, que dirá Hércules!).
A nossa tarefa, dos cidadãos, será impedir que a Base Nacional omita o estudo das figuras da Antiguidade Clássica, do Império Romano, do Cristianismo, da América Pré-Colombiana, da Revolução Francesa, da  Revolução Americana... Não podemos matar nosso passado sob pena de não termos mais futuro.
O Governo petista hoje conta com o par perfeito na Presidência e na Chefia da Casa Civil. Ela pinta, ele borda; ela corta, ele costura; ela morde, ele assopra. Ele, com a sinceridade que o caracteriza, declarou que o PT se lambuzou no Governo. Ela, com a determinação que as mulheres têm quando encasquetam uma ideia na cabeça, resolveu adoçar os pontos da Lei que reprovavam toda e qualquer leniência com malfeitos. 
O PT não soube administrar o país. Pior, não soube zelar pelo que é nosso. Agora, se lamentam choramingando ao dizer que quem é favorável ao impeachment é golpista.

Não é. Golpista é o PT, que roubou e deixou roubar.

Mas roubar nosso direito ao Saber, aí 

também é demais!


sexta-feira, 29 de maio de 2015

Crônica que contém passado, presente e futuro ... nem tanto // Maria Helena Rubinato Rodrigues de Souza / blog de Ricardo Noblat

POLÍTICA

No coração do Rio

"Chega-se a ser grande por aquilo que se lê e não por aquilo que se escreve". Jorge Luís Borges
Como sempre fazia, entro na Da Vinci e vou até o fundo, para, antes de ‘viajar’ pelas prateleiras, cumprimentar dona Vanna. E quem encontro sentado em altas negociações com a livreira?  Luis Antonio, “sobrinho” querido, filho de amigos da vida inteira, então com menos de 15 anos, a negociar os pagamentos dos livros de Astérix que levava e dos que encomendava.
Fiquei parada, atrás dele, em silêncio, impressionada com a capacidade de negociação do garoto e mais ainda, com o modo como dona Vanna lidava com o cliente, confiando na sua palavra e anotando, em um caderno, só o nome dele e suas encomendas.

Telefone? Endereço? Nome dos pais ou responsáveis? Não, nada disso foi necessário. Ali bastava a palavra do leitor. Que se tornou tão fiel que depois dos Astérix passou a comprar ali a série Dungeons and Dragons...
Fachada Casa Daros  (Foto: Jacqueline Felix )
Fachada Casa Daros (Foto: Jacqueline Felix )
Terminado o assunto entre os dois, Luis Antonio se levanta e caminha tão apressado para a porta que nem me vê. Comento com dona Vanna meu espanto e pergunto se agindo assim ela não leva muitos prejuízos. E ela: “Poucos. De adultos. Mas de um jovem, menino ainda, que sabe muito bem o que quer e que é um leitor interessado no que lê... Não. Por esse ponho minha mão no fogo”.

Quem quisesse ler e precisasse pagar em mensalidades, tinha em dona Vanna uma aliada. Velho ou menino, não importava, importava que o leitor amasse os livros como ela os amava. Ali encontrávamos os últimos livros saídos na França e toda a coleção da Bibliothèque de La Pléiade, tentação que até hoje me fascina e que só mesmo em parcelas era possível comprar.
Dona Vanna amava ler. E transmitia esse afeto a quem a procurava. Foi Borges quem disse que imaginava o paraíso como uma grande livraria. Concordo com ele e digo mais: o meu céu se parece com as duas salas maiores da Leonardo da Vinci, abarrotadas de livros, com suas lombadas tentadoras como a nos dizer “me pega”!
A Leonardo da Vinci, assim como a finada Casa Crashley, faziam do centro do Rio a sucursal do paraíso. Na Crashley comprei os livros da Jane Austen que marcaram minha adolescência; foi onde conheci Agatha Christie, Somerset Maughan, Hemingway e Graham Greene.

Ontem li em O Globo que a filha de dona Vanna, Milena Duchiade, declara sua livraria “inviável”. Doeu. A Da Vinci atravessou um incêndio tenebroso, passou pela estupidez dos anos de chumbo. Giovanna Piraccini, italiana de Bolonha, com seu sotaque marcante, dizia, em alto e bom som o que pensava das dificuldades que os milicos impunham à importação de livros, não escondia de ninguém que nada é mais importante que a liberdade de escolha e que a censura é burra.

Mas a livraria não atravessa o que fazem com o Rio, que anda tão acabrunhado... Já perdemos tantas coisas. Noutro dia o Elio Gaspari pediu que alguém salvasse a Casa Daros, o belo casarão em Botafogo. Sugere que milionários brasileiros façam como os Gulbenkian, os Rockefeller, os Frick, os Wallace e se unam para salvar o museu.


Vou nas águas do excelente jornalista e sugiro: que tal os milionários (e temos tantos, não é? nunca tivemos tantos) se unirem e transferir a Livraria Leonardo da Vinci para a Casa Daros? Não vejo, em parte alguma, melhor acervo para aquele belíssimo casarão que os livros das prateleiras da grande livraria em perigo.