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Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Frases... / Antonio Palocci

FRASE DO DIA

Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos.

ANTONIO PALOCCI,

 EX-MINISTRO DE LULA E DILMA

sábado, 8 de abril de 2017

Frase do dia no blog de Ricardo Noblat / Gilmar Mendes

FRASE DO DIA
Se não houver interrupção neste processo (aumento da corrupção no Estado), o Brasil será amanhã o grande Rio de Janeiro.

GILMAR MENDES

MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

domingo, 5 de fevereiro de 2017

"'22 mil pessoas com foro privilegiado no Brasil, o que não acontece em nenhum outro país do mundo."

POLÍTICA

No país das regalias


Maria Helena RR de Souza
Sala de Aula numa prisão na Noruega (Foto: Arquivo Google)

Sala de Aula numa prisão na Noruega
Foro por prerrogativa de função ou mais comumente foro privilegiado é uma regalia gozada por quem ocupa altos cargos nos Governos, tais como Presidente da República, Vice-Presidente, Procurador-Geral da República e membros do Congresso Nacional.
Mas o que isso significa? É simples: a garantia de que essas pessoas terão um julgamento especial quando alvo de processos penais. Seriam julgadas pelo Supremo Tribunal Federal e não em Juizados de Primeira Instância.
Parece que há cerca de 22 mil pessoas com foro privilegiado no Brasil, o que não acontece em nenhum outro país do mundo. Não é que não haja foro privilegiado em outros países, claro que há, mas essa instituição só alcança quem exerce as mais altas funções nos três poderes, justamente os que definem a Democracia: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Se não fossemos o país que herdou as regalias da Casa Grande, assim deveria ser: foro privilegiado apenas para o Presidente da República, seu Vice, o chefe do Ministério Público, o Procurador-Geral da República, e os presidentes das duas casas do Congresso Nacional.
O foro privilegiado, e isso é inegável, fere o princípio de que todos devem ser tratados como iguais. Ou bem somos todos iguais, conforme o artigo 5º de nossa Constituição ou bem alguns de nós são mais iguais do que outros.
Fico em dúvida, sabe, leitor. Porque vejo em outros dados privilégios que fazem mais mal do que bem ao Brasil.
Pense bem: por que o sujeito que tem diploma universitário merece uma cadeia mais limpinha e confortável do que o infeliz que não tem diploma?
Isso me parece uma injustiça terrível: quem é mais culpado, o cidadão que teve todas as vantagens de uma instrução completa, desde o Jardim de Infância à Faculdade, ou o infeliz que não chegou nem a se alfabetizar?
Quem é mais culpado por crimes, sejam graves ou mais leves, qual dos dois? O moleque João que não teve as vantagens que o moleque José teve desde a mais tenra infância, que nunca passou fome, chuva ou frio e que estudou nos melhores colégios? Qual deles, ao matar, ou roubar, ou infringir uma lei é mais culpado? Qual dos dois merece um julgamento justo e detenção numa cadeia onde os direitos humanos sejam verdadeiramente respeitados?
Ambos merecem o privilégio de presídios decentes, com celas limpas, arejadas e bem iluminadas, com salas de aulas, bibliotecas, boas enfermarias, e, sobretudo, trabalho – onde aprendessem um ofício para, ao cumprir sua pena, sair e trabalhar para se sustentar e à sua família.
Esse é o único privilégio que o Brasil deveria exigir, aquele que transformaria nosso país na terra com a qual sonhamos. O privilégio de nossos detentos serem finalmente tratados como gente. Assim, creio eu, as novas gerações honrariam o Brasil.
Sala de Aula numa prisão na Noruega (Foto: Arquivo Google)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

"Não foi acidente" / Leandro Pontes (foto )

Não foi acidente

Ao ingressarmos na cadeia ouvíamos o coro geral: “Clareou!” Esta era a senha para que tudo o que não pudesse aparecer no documentário fosse escondido
Policiais retiram corpos do Compaj (Foto: Marcio Silva / AFP)
Leandro Pontes, O Globo
Manaus não tá assim porque o crime ainda não se organizou como no Rio. Mas a tendência é ficar desse jeito. Porque se os caras não se ligarem no que tá acontecendo aqui em Manaus hoje, em dez anos vai ficar pior ou igual do que no Rio.’
Em 2007, há exatos dez anos, eu e o João Áureo Lins, então estudantes da PUC-Rio, fizemos um documentário nas penitenciárias de Manaus. Foram quatro meses visitando a Cadeia Pública Raimundo Vidal e o Complexo Penitenciário Anísio Jobim, ouvindo histórias como a de cima.
Inicialmente, tínhamos a pretensão de gerar uma reflexão sobre a vida sem liberdade, mas nosso trabalho ganhou novos significados a partir de uma rebelião, considerada à época a mais sangrenta do Amazonas, com duas mortes.
Estava tudo ali, nas entrevistas: o sistema se deteriorava a cada dia. A pedra fundamental da recente barbárie no Compaj fora lançada pelos próprios detentos que nos contavam a organização do crime no Amazonas e sua sofisticação para superar as facções de Rio e São Paulo. Alguns falavam deste movimento com brilho nos olhos.
Ao mesmo tempo, num edifício construído em meio a uma densa mata, o Compaj permitia quase uma experiência na selva, pelos mil pássaros que se ouvem na floresta ao redor. Ali dentro, testemunhei detentos produzindo artesanato para sustentar suas famílias, aulas de Inglês, de música, prática de esportes e, pasmem, a organização de um mutirão semanal para doar toda a dispensa do almoço de sexta-feira para caridade.
E foi numa refeição com os detentos que conseguimos estabelecer uma relação de confiança mútua para que eles entendessem os objetivos do documentário e colaborassem.
Arroz, feijão, paio, linguiça e, para cimentar toda a xepa, não poderia faltar a farofa, iguaria que sintetiza na mesa uma cena bem brasileira. Nesse almoço, eu ouvi pela primeira vez os detentos usarem a expressão “lá no Brasil...”, para se referir aos acontecimentos do Sul e Sudeste.
Nessas conversas, era proibido o uso de palavrões, de acordo com uma placa afixada na parede do refeitório, ao lado de belas pinturas da selva amazônica. Naquele país chamado Compaj, não falar palavrão me parecia um símbolo da tentativa de manutenção da paz no cárcere.
Não houve sequer um dia em que ingressamos na cadeia sem ouvir o coro geral: “Clareou!” Esta era a senha para que tudo o que não pudesse aparecer no documentário fosse escondido, incluindo armas e drogas. Mas quando se deu a rebelião do dia 24 de Setembro de 2007, o sistema penitenciário de Manaus finalmente se revelou. O representante dos presos no Compaj, que sempre nos recebeu de forma cortês, monossilábica e quase gentil, seria acusado de chefiar o tráfico de drogas no Amazonas dali de dentro e, por consequência, foi enviado para o presídio federal de segurança máxima, no Mato Grosso do Sul, onde estava Fernandinho Beira-Mar.
Além disto, o diretor-geral do Compaj, vejam só, também ficou foragido e acabou sendo preso dias depois. Contra ele pesavam as acusações de associação com os criminosos, exploração sexual no presídio e facilitação de saídas noturnas, usadas para presos cometerem crimes.
Lembro do padre Guillermo Cadorna, conselheiro espiritual de nossas incursões. Foi um sopro de esperança que trouxe este missionário colombiano até a Amazônia para se engajar nesta guerra civil que, mesmo nós, não temos clareza se é contra o bandido, a polícia ou as drogas. Ainda prevalece no Brasil a crença do “bandido bom é bandido morto", e o governo parece acreditar que a solução são mais presídios. O que vi no Compaj e na cadeia pública foi a falta total de políticas públicas para os presos.
Talvez Nelson Mandela estivesse certo quando disse que “ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas prisões". Moro na França há alguns anos e, talvez pela distância, percebo que o Compaj diz muito sobre o Brasil. Já dizia há dez anos, mas ninguém queria ouvir.
Policiais retiram corpos do Compaj (Foto: Marcio Silva / AFP)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

"Bandido bom é só o da literatura...." / Mary Zaidan

Quanta barbaridade

Intolerância  (Foto: Arquivo Google)
Símbolos da falência do Estado, os massacres nos presídios de Manaus e Boa Vista, com quase nove dezenas de mortos, expõem outra barbaridade: apoios explícitos à matança.
E não só de irresponsáveis ou anônimos nas redes sociais. Nesse estágio de brutal incivilidade se enquadram o ex-secretário nacional de Juventude, Bruno Júlio, para quem o melhor seria “uma chacina por semana”, e seus apoiadores de primeira hora, os deputados Fernando Francischini (SD-PR) e Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG).
Bruno Moreira Santos, transformado em Bruno Júlio por ser filho do deputado estadual mineiro Cabo Júlio, sempre foi um garoto problema. Seus antecedentes -- duas investigações por agressão a ex-mulheres e uma por assédio sexual a uma funcionária – deveriam ter impedido o presidente Michel Temer de nomeá-lo. Teria evitado um fecho tão nojento e deletério para uma semana em que seu governo só perdeu.
Temer, que demorou a reagir, e quando o fez foi impróprio e infeliz ao classificar a carnificina como “acidente pavoroso”, permitiu que seu governo colecionasse equívocos. A começar pelos graves tropeços do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, useiro e vezeiro em meter os pés pelas mãos. Desta vez, primeiro disse que a governadora de Roraima, Suely Campos, não pedira ajuda federal, tendo de voltar atrás ao ser confrontado com os ofícios em contrário emitidos por ela.
Tudo que Temer não precisava era de Bruno Júlio e suas declarações pró-morticínio.
E vieram do PMDB, partido do presidente, as defesas mais ardentes dos pontos de vista do ex-secretário de Juventude.
Por mineiridade e proximidade, Newton Cardoso Júnior, filho do ex-governador mineiro Newtão, envolvido em várias denúncias de corrupção, disse que Bruno Júlio teve a “coragem de expressar a opinião e a indignação da maioria dos brasileiros”. Ex-secretário de Segurança do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), Francischini foi categórico: a sociedade aplaude quando bandido mata bandido.
O mais grave é que a maior parte da população crê mesmo que “bandido bom é bandido morto”. Pesquisa Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada em novembro de 2016 dentro do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, aponta que 57% dos brasileiros concordam com a afirmativa, percentual que sobe para 62% nas cidades com menos de 50 mil habitantes.
Fruto provável da associação da exploração e da ausência do Estado, que cobra muito em impostos e nada ou quase nada devolve, e das curvas crescentes de criminalidade, o resultado da pesquisa traduz a descrença do cidadão no governo – em qualquer um, e em todas as esferas.
Mas, ao concordar com a premissa populista de morte ao bandido, esses parlamentares e outros da bancada da bala até podem agradar à plateia, mas prestam um gigantesco desserviço aos que dizem representar. Acirram o descrédito na cidadania, aguçam a violência, propagandeiam a medieval justiça com as próprias mãos, jogam a sociedade no colo das organizações criminosas.
A precariedade do sistema prisional brasileiro, seja nas instalações físicas, equipamentos e pessoal, seja nas estruturas de polícia e de Justiça, que não conseguem investigar, concluir inquéritos e processar em tempo razoável, não é culpa deste  governo (de apenas cinco meses) ou exclusiva de um ou de outro. É de todos. Do Estado e da sociedade que só se atentam para o problema quando ele explode.
E ambos parecem só enxergar alternativas imediatistas – construir mais presídios, aumentar a segurança dos cárceres, discutir pena de morte.
Parecem não entender o que já foi testado e aprovado mundo afora. Nem prender mais nem matar mais pode solucionar o que só se resolve com o educar mais, principal matriz das nações desenvolvidas (e civilizadas).
Bandido bom é só o da literatura.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Desconfie de 2017... É melhor !

Meia dúzia de coisas que incomodam, para dizer o mínimo

2017 (Foto: Arquivo Google)
O ano de 2017 entrou violento, como a querer dizer que fomos precipitados em comemorar a saída de 2016.  O Brasil está numa fase que, Deus nos perdoe, torna quase que impossível ter esperança por dias melhores.
Mas há salvação... Segundo a capa da revista VEJA do último fim de semana, a grande cartada do Palácio do Planalto para tirar a popularidade do Governo do atoleiro é a agenda de aparições da jovem e bela primeira-dama, Marcela Temer. E, como todos sabemos, um governo popular pode muito mais.
Ao ler que os grandes desafios do governo, aqueles que farão 2017 um ano a ser amado, dependem pois da beleza, dom que Santo Agostinho associava à Verdade; fico mais animada pois, de fato, dona Marcela é o tipo da beleza clássica que agrada aos Céus.
Mas, e os pequenos desafios? Que entra ano sai ano, só continuam a estressar, a irritar, a incomodar o cidadão, esse ser sem importância, anônimo, sem poder? Quem vai cuidar deles? Será que o poder da Beleza dará para tudo isso, tanto os detalhes monumentais quanto os infinitesimais?
Por exemplo:
1) O descuido com as calçadas: falta manutenção permanente, para que não haja tombos que causam danos muitas vezes sérios, sobretudo em idosos; cuidar para que haja rampas de acesso para cadeirantes; não permitir objetos como caixas, mesas, cadeiras, escadas, que obstruem a passagem do pedestre que é, é bom sempre repetir, o verdadeiro dono das cidades!
2) Iluminação pública maluca: lâmpadas acesas durante o dia ou apagadas à noite. Absurdo comum em muitas ruas do Brasil.
3) A Internet: geralmente cai a linha no meio de um trabalho. Ou quando estamos enviando ou recebendo uma mensagem. Ligo para o provedor. Depois de ouvir o robô oferecer muitas opções, escolho a que me interessa: falar com o atendente. A espera é longa e duas coisas podem acontecer: ou me informarem que está havendo uma manutenção na área ou um atendente pedir para eu desconectar cabos em profusão e aguardar alguns minutos para reconectá-los e quando nada acontecer, ouvir que vão agendar uma visita da assistência técnica.

Pior: você liga, já estressado, para perguntar o que houve com sua conexão com a Internet e ainda tem que ouvir o robô lhe aconselhar a acessar o serviço via Internet!
4) Ida aos bancos: nas grandes agências, fieiras de guichês e dois ou três dedicados funcionários para atender aos clientes. Resultado, longas filas. Saio sempre intrigada: por que tantos guichês e tão poucos ocupados por funcionários?
5) Teles, ah! as teles! – Mensagem comum: Telemar: esse número não existe. Como assim, não existe, penso eu: é o número da minha casa há uns quinze anos. Está em débito automático no banco. Mas é o que a Telemar me informa. Desligo, ligo de novo e aí, miracolo! ele volta a existir!
Ainda a Telemar: Não é possível completar a sua chamada com o número discado. Por favor, consulte o serviço de auxílio às listas. Auxílio às listas? Onde? Vou é verificar onde anotei. O número é esse mesmo. Volto a ligar, ele continua inexistente. Tento mais tarde e, de repente, ele existe!

E o telemarketing? Será que existe alguém no mundo que goste de receber – e ouça? – ligações de telemarketing? Ou mensagens de celebridades que você nem conhece e que mais aborrecem que colaboram com quem quer que seja?
6) Poucas coisas me incomodam mais do que o uso estranhíssimo do verbo Estar. Antes da hecatombe que o abateu, era normal ouvi-lo para informações do tipo: estarei aí depois de amanhã. Hoje em dia, o pobre do verbo Estar aparece em horas inusitadas: estarei enviando seu vestido amanhã; estarei agendando sua hora; estarei pedindo sua receita ao médico... O que será que houve com o futuro que não pode prescindir do verbo Estar?
Uma amiga muito inteligente e arguta sugere que isso nada mais é que a pouca vontade de assumir compromissos. Tem lógica: se dissesse agendarei, em vez de estarei agendando, a pessoa assumiria um compromisso. Já com o uso do subjuntivo, o compromisso é atenuado. Concordo.
Portanto, nas coisas graves, como nas mais simples, estarei torcendo por 2017. Pela Beleza, sempre!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Você acredita que o Brasil se tornará um pais sério?

Os riscos em torno da decisão do STF sobre escutas

A pauta do Supremo, na volta do recesso, inclui recurso sobre a duração de grampos cujo veredicto pode permitir o bloqueio de operações como a Lava-Jato
Grampo telefônico (Foto: Arquivo Google)
Editorial O Globo
Por contingências da evolução da vida pública brasileira, o Supremo Tribunal tem sido levado a tomar decisões na fronteira do universo da política. Há quem chame isso de “judicialização”, de forma pejorativa, embora registre-se que a Corte não age por conta própria, apenas quando é acionada. É o que tem acontecido, sem que isso impeça a politização de veredictos. Nada a fazer.
Como também houve uma “criminalização” da política, mesmo quando o Judiciário trata de temas técnicos na área criminal pode, mesmo que não queira e nem seja sua função, afetar interesses de partidos e políticos.
O ano do Judiciário terminou agitado, devido à liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello afastando do cargo o presidente do Senado, Renan Calheiros, por não ser possível réu estar na linha de substituição do presidente da República. O clima ficou ainda mais tenso com o desrespeito da decisão pelo político alagoano, em parte apoiado pelo Pleno da Corte — Renan ficou fora da linha sucessória, mas se manteve na principal cadeira da Mesa do Senado. Tempos estranhos.
A volta do recesso, em fevereiro, deve também ser acompanhada por outro tema pesado na agenda do STF: o julgamento de um processo, nas mãos do ministro Gilmar Mendes, que decidirá, com repercussão geral — o veredicto terá de ser seguido por todos os tribunais —, se escutas podem ser realizadas por mais de 30 dias.
Há enorme controvérsia sobre o assunto, com decisões favoráveis e contrárias no Judiciário. Está mesmo na hora de uma definição. Mas as implicações de uma posição final favorável ao prazo fixo, burocrático, de 30 dias pulverizarão incontáveis operações de combate à corrupção, a começar pela Lava-Jato.
O próprio Marco Aurélio, atendendo a pedido de réu, suspendeu julgamento que seria realizado em novembro, na segunda instância da Justiça federal fluminense, de um grupo de conhecidos bicheiros do estado, atuantes no ramo mafioso dos caça-níqueis, à espera do que decidirá Gilmar Mendes sobre a duração de grampos.
A origem desse processo, cuja relatoria está com Gilmar Mendes, é uma operação de investigação de crimes de colarinho branco cometidos no grupo empresarial Sundown, em que atuaram, entre outros, o promotor Deltan Dallagnol e o juiz Sérgio Moro. Irônica coincidência. A operação terminou suspensa pela Justiça.
Há interpretações conflitantes no Conselho Nacional de Justiça, no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo. No centro deste emaranhado estão a Lei de Interceptação Telefônica (9.296/96) e a Lei do Crime Organizado.
O bom senso aconselha que sejam realizados tantos grampos quanto necessários para o combate vitorioso ao crime, todos devidamente autorizados pelo juiz. Até mesmo em nome da defesa do respeito da sociedade ao Poder Judiciário.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

História de Amor e Ódio, mais Inveja... os eternos protagonistas da História...!



GERAL

Por que Wirsung foi assassinado?

por ALFREDO GUARISCHI
Operação (Foto: Alfredo Guarischi)
Acabo de operar um grande amigo. Foram muitas horas para retirar um grande tumor da cabeça do pâncreas e junto remover todo o duodeno, parte do estômago e do canal biliar, religando todos no final, “quase” como eram antes... A junção do pâncreas ao intestino é a mais complexa de todas. É como juntar um cano de cobre a um de plástico.
Meu amigo já está em casa, sem drenos e comendo bem.
Realizo muitas dessas cirurgias, mas não posso negar meus pensamentos nas longas horas em silêncio e meditação, entre os ruídos dos monitores e trabalho em equipe, nessa especial cirurgia.
Durante a junção do canal principal do pâncreas - canal de Wirsung - ao intestino, me veio a lembrança dos meus anos como professor de anatomia na UFRJ.
O canal leva o nome de seu descobridor, Johann Georg Wirsung, nascido na Bavária, Alemanha, em 1589. Esse irrequieto alemão especializou-se em anatomia com Jean Riolan, em Paris. Posteriormente, foi para Pádua, Itália, onde se formou em medicina em 1630, sendo logo convidado para trabalhar como dissector de cadáveres com o professor Johannes Wesling, vivendo uma relação conflituosa com seu famoso chefe.
Em 2 de março de 1642, uma segunda-feira, dissecando o cadáver de Zuane Badia, um criminoso de 30 anos de idade que havia sido enforcado no dia anterior, Wirsung se deparou com um canal que atravessava o pâncreas de um extremo ao outro (da cabeça à cauda) e que não havia sido descrito anteriormente. Assistiam a dissecção realizada no Hospital San Francesco dois estudantes: Thomas Bartholin e Moritz Hoffman.
Percebeu ter feito uma importante descoberta, mas, sem saber a função do canal pancreático, talvez por isso hesitasse publicar o fato em uma revista científica. Esculpiu secretamente o pâncreas com seu canal dissecado com detalhes técnicos em uma placa de cobre, que ainda pode ser vista no Palácio de Bo, em Pádua. Esse modelo serviu para imprimir sete desenhos que enviou a eminentes anatomistas da França, da Dinamarca, da Itália e da Alemanha, pedindo opinião sobre o significado de seu achado e assegurando, dessa forma, seu pioneirismo. Nunca recebeu o merecido reconhecimento em vida, talvez por não ter sido um professor, porém, com habilidade, por 14 anos dissecou e preparou cadáveres para serem utilizados em aulas administradas por professores eminentes.
Na noite de 22 de agosto de 1643, um sábado, na tradicional hora de cantar “Ave Maria”, Wirsung conversava amistosamente com outros vizinhos, no alojamento onde viviam próximo à Basílica de Santo Antônio, quando foi perseguido por três agressores e atingido por um tiro de escopeta disparado com requintes de ódio pelo médico belga Jacobus Cambier, que estava em companhia de Nicaise Cambier e um estudante de medicina nunca identificado. Morreu sangrando, denunciando o nome de seu assassino. Os agressores fugiram de Pádua.
A cirurgia do pâncreas continua sendo um grande desafio, e a história de Wirsung, um grande mistério.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Charge de Chico Caruso no blog de Ricardo Noblat

A charge de Chico Caruso

Charge (Foto: Chico Caruso)

E agora Rio de Janeiro...? O dinheiro acabou, a esperança se escondeu, a política baixou o nível de credibilidade...?

Uma encrenca carioca

Para acirrar os ânimos e baixar o nível, tem aumentado a troca de ofensas pessoais que, além de confundir os eleitores, mostra as fragilidades de Freixo e Crivella
Rio de Janeiro pós Olimpíadadas (Foto: Arquivo Google)
Zuenir Ventura, O Globo
A s más notícias não cessam de perseguir o Rio depois da Olimpíada. Já não se fala nem da violência urbana, velha rotina que tende a aumentar com a saída do governo de José Mariano Beltrame, uma esperança perdida.
Além disso, antes mesmo de terminados os Jogos, o governador em exercício Francisco Dornelles decretou “estado de calamidade pública”, diante da iminência de “total colapso na segurança pública, na saúde, na educação, na mobilidade e na gestão ambiental”.
O motivo alegado foi a queda da arrecadação do ICMS e dos royalties do petróleo. Os efeitos dessa providência continuam a aparecer nas primeiras páginas dos jornais. Ontem, soube-se que o projeto de orçamento do governo estadual para 2017 prevê um rombo de R$ 15,3 bilhões.
E que 26 empreiteiras culpam a prefeitura pela paralisação de obras por suposta dívida de R$ 700 milhões. O pior é que as perspectivas para a cidade não são animadoras. A cada dia surgem revelações de deslizes de um e outro candidato à sucessão de Eduardo Paes.
A acusação mais recente é a de que Marcelo Freixo nomeou sua ex-mulher no gabinete do partido na Câmara dos Vereadores; e Marcelo Crivella teria feito coisa parecida no Senado com a mãe de uma assessora.
Para acirrar os ânimos e baixar o nível, tem aumentado a troca de ofensas pessoais que, além de confundir os eleitores, mostra as fragilidades de ambos. No quesito xingamento, o pastor está ganhando a disputa, ao exibir seu imbatível repertório verbal.
Ao lado dos termos com que premiara o adversário — “não vou dizer que você é safado, canalha, vagabundo, o povo vai dizer isso nas urnas” — ele guardou alguns como “patifes”, “patetas” e também “vagabundos” para os jornalistas que desmascararam seus malfeitos do passado.
Com a autoridade de quem passou pela política moralmente incólume, Fernando Gabeira fez uma primorosa análise do impasse em que se encontra o eleitor carioca: “Entre a cruz e a espada”, ou seja, entre um fundamentalismo religioso e outro político.
No primeiro caso, ele se refere ao livro em que o autor demoniza religiões que não a sua; e no segundo, ele lembra dois episódios emblemáticos: o ataque ao Prêmio Nobel da Paz, Shimon Peres, chamado no site do PSOL de “genocida”, e a queima da bandeira de Israel por um dirigente do partido de Freixo.
Por isso, ele se dá o direito de afirmar, e eu concordo: “Assim como a suspeita de obscurantismo religioso é razoável no contexto de Crivella, a do obscurantismo político também é razoável no da extrema-esquerda”.
Como é que o carioca, que se acha tão esperto, foi se meter numa encrenca dessas?
Zuenir Ventura é jornalista

domingo, 16 de outubro de 2016

É sacanagem de todos os lados... e nós aqui esperando a punição !

Investigação do TSE expõe submundo das finanças eleitorais

Inspeção em campanha da chapa Dilma-Temer mostra gasto de R$ 416 mil com caminhada de 1 quilômetro
Dilma Rousseff e Michel Temer (Foto: Orlando Brito)
José Casado, O Globo
Na mesa havia uma montanha de dinheiro: R$ 14 bilhões em contratos, 80% financiados pelo banco estatal BNDES, para a construção da Usina de Belo Monte, no Pará, uma das maiores hidrelétricas do mundo.
O governo Lula decidira obrigar as empreiteiras concorrentes a se juntar num consórcio liderado pelos grupos Andrade Gutierrez, Odebrecht e Camargo Correa. Otávio de Azevedo Marques, então presidente do grupo Andrade Gutierrez, não esquece daquele outono de 2010: “Eu fui chamado pelo deputado, ex-ministro Antonio Palocci, para uma reunião. Na época ele não era ministro, né? Trabalhava na arrecadação de fundos da presidente Dilma, futura presidente, candidata.”

A conversa foi objetiva, contou dias atrás a Herman Benjamin, juiz-corregedor do Tribunal Superior Eleitoral: “Ele me disse que aquela escolha, feita pela ministra Erenice (Guerra, chefe da Casa Civil na época), precisaria ter um entendimento de que havia um projeto político para ser apoiado. E que nós deveríamos recolher 1% do valor dos nossos faturamentos naquele consórcio: 0,5% para o PT e 0,5% para o PMDB.”
As empresas privadas pagaram na proporção da sua participação no negócio, relatou o executivo. À Andrade coube uma fatura de R$ 20 milhões. “Também pagaram nos outros projetos federais?”, quis saber o juiz-auxiliar Bruno Cesar Lorencini, referindo-se às obras em rodovias, ferrovias e aeroportos. “Também houve contribuições”, confirmou o executivo.
O dinheiro de empresas investigadas por corrupção em contratos públicos irrigou o caixa das campanhas da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer (PT-PMDB) nas eleições de 2010 e 2014. Algumas usaram métodos convencionais de lavagem. Outras, como a Andrade, preferiram disfarçar pagamentos como doações eleitorais.
Recursos fartos levaram a um recorde de gastos. Nunca uma campanha presidencial foi tão cara quanto a de 2014. A chapa Dilma-Temer liderou nos votos e na gastança: declarou despesas equivalentes a R$ 514,2 milhões (valor atualizado pelo índice IGPM/FGV). A oposição achou que a derrota foi provocada pelo “abuso de poder econômico” do governo e pediu uma devassa nas contas.
Há 21 meses a Justiça investiga a origem e o destino desses recursos. Financiamento eleitoral ilícito é punível com a cassação dos eleitos. Desde o impedimento de Dilma, em maio, o processo avança no TSE com um único alvo: o antigo vice-presidente. Numa ironia da história, Temer, o sucessor de Dilma, hoje é um presidente “sub judice” — por iniciativa do seu principal avalista político, o PSDB. O inquérito sobre o caixa da campanha presidencial de 2014 está expondo em detalhes, pela primeira vez, como funciona o submundo dos negócios e das finanças eleitorais.
Na quinta-feira, por exemplo, o TSE resolveu decretar a quebra do sigilo de três gráficas (Red Seg, Focal e VTPB). Juntas, teriam sido responsáveis por 15% dos gastos totais declarados pela chapa DilmaTemer na eleição de 2014. A documentação coletada mostra o seguinte: do total de despesa declarada pela chapa PT-PMDB com serviços dessas empresas (R$ 77 milhões, em valores corrigidos), o tribunal só conseguiu comprovar regularidade sobre 21% (R$ 16,1 milhões).
Significa que só existem comprovantes fiscais para R$ 16 de cada R$ 100 gastos pela chapa Dilma-Temer nessas gráficas. Dois terços desses gastos da chapa Dilma-Temer foram concentrados em gráficas (Focal e VTPB) que não dispunham de empregados ou maquinário suficiente e multiplicaram por dez seu movimento de caixa com “serviços” ao PT e PMDB nas eleições presidenciais de 2010 e 2014.
Criada como empresa de “banca de jornais e revistas”, a VTPB se transformou em “impressora de material publicitário” em julho de 2014, às vésperas da campanha eleitoral. É controlada por Beckembauer Rivelino de Alencar Braga, filiado ao PT paulista, segundo o TSE. Já a Focal tem como controlador Carlos Alberto Cortegoso, militante do PT mineiro com histórico em inquéritos sobre lavagem de dinheiro na política.
Foi personagem no caso do mensalão, delatado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes, que repassou-lhe R$ 1 milhão (valor atualizado). Cortegoso também aparece em dois processos sobre corrupção em curso na Justiça Federal, em Curitiba. Num deles figura como receptor de sete imóveis do pecuarista José Carlos Bumlai, que se confessou à Justiça como o “trouxa perfeito do PT” em negócios ilícitos com a Petrobras.
Em outro foi delatado como intermediário da empresa Consist na lavagem de R$ 67 milhões para o PT (80% obtidos na cobrança de taxas ilegais sobre empréstimos consignados tomados por servidores do Ministério do Planejamento). Ao conferir as despesas declaradas pela chapa Dilma-Temer em 2014, peritos judiciais estranharam pagamentos elevados por alguns “serviços” em eventos de campanha.
À Focal, por exemplo, pagou-se R$ 204 mil pela “organização” de um “comício de Michel Temer na quadra da Portela”, no Rio. E R$ 431 mil pela “organização” de uma “coletiva de imprensa no Hotel Royal Tulip Brasília” para Dilma. Os documentos apresentados para justificar gastos de R$ 77 milhões com as gráficas são sugestivos. A “organização” de carreatas custou R$ 390 mil em Aracaju, R$ 204 mil em Campinas e R$ 138 mil em Padre Miguel, no Rio.
Gastou-se R$ 322 mil para “organizar” uma caminhada de Dilma em Canoas (RS). Outros R$ 416 mil num percurso de 1,3 mil metros no Centro do Recife, e R$ 127 mil em 500 metros da rua Barão de Itapetininga, em São Paulo. Cobrou-se R$ 404 mil pela “organização” de um encontro de Dilma com estudantes em Maceió. E R$ 314 mil pela reunião com artistas no Leblon, Rio. E um “ato pela Igualdade Racial”, em Nova Lima (MG), custou R$ 302 mil.
Os preços da “organização” de comícios oscilaram entre R$ 433 mil (Guaianases, SP), R$ 639 mil (Goiânia) e R$ 719 mil (Ceilândia, DF). Nesses eventos, supostamente, foi consumida parte dos 693 milhões de santinhos da chapa Dilma-Temer que teriam sido impressos por uma das gráficas sob investigação. Volume suficiente para distribuir três panfletos a cada brasileiro, com ou sem título de eleitor.
Dilma Rousseff e Michel Temer (Foto: Orlando Brito)