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segunda-feira, 25 de maio de 2015

"Marin e Del Nero deveriam estar na cadeia!" > Romário, senador, sobre atuação de dirigentes da CBF


Uma seleção privatizada?

A CBF nega que seus contratos com uma empresa influam na convocação de jogadores


Jogo Camarões x Brasil na Copa. / BERNAT ARMANGUE (AP)



No mês de julho passado, quando a Alemanha arrasou o prestígio futebolístico brasileiro em sua própria casa, o país do jogo bonito exigiu uma revolução esportiva: uma melhor organização do futebol-base, um modelo de rentabilidade que saneasse seus campeonatos e uma investigação das denúncias de corrupção na poderosa Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desde os tempos em que era dirigida por Ricardo Teixeira, genro do ex-presidente da FIFA (e também corrupto) João Havelange. O ex-jogador Romário, hoje senador, chegou a pedir uma comissão parlamentar de inquérito: “Marin e Del Nero deveriam estar na cadeia!”, afirmou sobre os dirigentes máximos da entidade. Especulou-se inclusive com a contratação de Pep Guardiola como treinador, na esperança de que um técnico estrangeiro modernizasse os esquemas táticos de um futebol deprimido, e ainda rompesse os vínculos de amizade (“máfia”, diz Romário) que mantiveram a tomada de decisões sobre o esporte mais popular de um país de 200 milhões de habitantes entre um grupo reduzido de pessoas durante décadas.
A escolha de Dunga como técnico esfriou o entusiasmo popular. Não só por ele já ter ocupado o posto recentemente, mas por sua concepção pouco chamativa de jogo e sua pouca experiência no posto. Os resultados, até agora, o endossam: o Brasil ganhou as oito partidas amistosas disputadas desde setembro e enfrenta a próxima Copa América com um pouco mais de confiança. A última que venceu (2007) foi exatamente com Dunga como técnico. Sua mão firme parece ter unido de novo uma equipe que saiu arrasada doMineiraço, e até o esquecido Robinho volta a justificar suas inesperadas convocações com gols.
Há uma semana, o jornal O Estado de S. Paulo publicou contratos “confidenciais” assinados entre a CBF e uma sociedade de fachada sediada nas Ilhas Cayman (International Sports Events, ISE), segundo os quais a federação deve pagar uma multa de 500.000 dólares se jogadores estrelas como Neymar não estiverem sobre o gramado em uma partida da seleção. A empresa de marketing, que explora comercialmente a marca, paga um milhão de dólares pelos direitos de cada encontro amistoso e exige, em troca, contrapartidas. O contrato prevê que a CBF deve apresentar um atestado médico para a International Sports Events quando um jogador ficar no banco, e que a “CBF poderá substituí-los por outros jogadores do mesmo nível, segundo seu valor de mercado e capacidade técnica”. O ISE tem, além disso, os direitos exclusivos para a organização das partidas em qualquer país do mundo: determina o preço dos ingressos e tem poder de decisão até sobre os rivais da equipe brasileira em partidas preparatórias. O acordo secreto exclui, em princípio, toda tributação pelos valores pagos.
A CBF rejeitou taxativamente as insinuações, chamando de “ridículas” e “absurdas” as denúncias de que tenha “vendido” a seleção e nega qualquer influência externa na convocação de jogadores: “Os critérios para escolher a equipe nacional brasileira são, e sempre serão, do técnico” [...] A CBF não vendeu a seleção brasileira. Em nenhum momento o contrato influiu na composição da equipe, nem no julgamento do treinador”. A nota oficial da Federação expressa, além disso, que a “hipótese ridícula não se sustenta sobre qualquer prova e se explica apenas pela necessidade do jornalista Jamil Chade [autor da matéria] de procurar notícia fácil que gere escândalos”.
Os dirigentes do futebol brasileiro negam também que as exigências comerciais dessa empresa possam bloquear o desenvolvimento de jovens talentos, em uma seleção que não mantém, nem de longe, a qualidade de décadas anteriores. As revelações ilustram, no entanto, o poder financeiro da seleção nacional e seus vínculos com agentes comerciais, sociedades instaladas em paraísos fiscais e a própria FIFA, na qual Ricardo Teixeira (promotor do contrato) foi membro do Comitê Executivo até sua demissão de todos os cargos em 2012 por um escândalo milionário e seu posterior exílio em Miami. A empresa International Sports Events é uma subsidiária do grupo saudita Dallah Al Baraka Group, associado ao escândalo de subornos milionários que aposentou para sempre do futebol Mohamed bin Hammam, do Catar, ex-candidato a presidente da FIFA e ex-presidente da Confederação Asiática de Futebol.
Romário voltou a chamar de “criminosos” os dirigentes da CBF e expressou em público seu desejo de que “o técnico Dunga não aceite esse esquema nojento”. Segundo o campeão do mundo de 1994, “o futebol sofre porque os atuais gestores agem em sua própria conveniência [...] Só modernizaram o que podia maximizar seus benefícios. Mantiveram a tirania, a falta de transparência e a permanência eterna no poder”. O jornalista José Cruz também qualificou, em seu blog, a gestão da CBF de “criminosa” e escreveu: “Essa revelação ressuscita a tese sobre a representatividade da Seleção Brasileira, que se apresenta em nome da nação, desfila com a Bandeira Nacional e pratica o principal patrimônio esportivo do país. No entanto, a renda dessas exibições não contribui para o fortalecimento do futebol, internamente. ‘Clubes e federações estão quebrados’, dizem os cartolas”.

A empresa de marketing paga um milhão de dólares pelos direitos de cada encontro amistoso e exige, em troca, contrapartidas
A plataforma Bom Senso exige há anos uma profunda renovação e o saneamento do futebol brasileiro “para que volte a ser o país do futebol”, com propostas concretas que foram ouvidas pessoalmente pela presidenta Dilma Rousseff e estão sendo debatidas no Congresso durante a renegociação da dívida milionária dos clubes brasileiros com a Fazenda. Um de seus líderes, o meio-campista internacional Alex, também reagiu duramente à divulgação dos contratos: “O futebol é patrimônio do povo brasileiro e não pode ser usurpado por tanto tempo por uma sociedade privada como a CBF [...] Como ex-jogador, minha maior preocupação é com o futebol brasileiro, que tem muitos clubes endividados, está pobre de ideias e tem pouca preocupação de melhorar. A CBF enriquece comercialmente, mas se preocupa pouco com o futebol”.
Ele já tinha avisado o então presidente da CBF, José Maria Marin, semanas antes da Copa de 2014: “O futebol brasileiro está no purgatório. Se ganharmos, vamos para o céu. Se não, desceremos para o inferno”. Falta agora ver se haverá consenso algum dia sobre as causas de uma crise tão profunda.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Zé Dirceu 'bate um bolão'....


José Dirceu agora faz tabela com Marin, da CBF
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Desde que deixou a Casa Civil de Lula e teve o mandato de deputado passado na lâmina, José Dirceu dedica-se a prospectar negócios. No campo das consultorias, tornou-se um craque. Nas últimas semanas, achegou-se ao mundo da bola. Faz tabelinha com o novo presidente da CBF, José Maria Marin.
Há quatro dias, na manhã de segunda-feira (2), Dirceu e Marin protagonizaram uma cena que dá idéia do potencial da parceria. Após desembarcar de um voo da Air France, procedente de Paris, a dupla aguardava as malas na esteira do aeroporto de Guarulhos. Súbito, foram avistados por dois conhecidos da política.
Vindos de Nova York, o deputado Jorge Tadeu Mudalen e o ex-deputado José Carlos Aleluia também buscavam suas malas. Vice-presidente do DEM federal, Aleluia cumprimentou Dirceu. Presidente do DEM de São Paulo, Mudalen trocou um dedo de prosa com Marin, seu velho amigo.
Sem entrar em detalhes, Marin contou a Mudalen que Dirceu o acompanhara num jantar realizado na capital francesa. Dias antes, em Zurique, Marin participara de uma reunião com a cúpula da Fifa, a primeira desde que assumiu a cadeira de Ricardo Teixeira na CBF, há 24 dias.
Ficou subentendido que o ex-todo-poderoso da Era Lula move-se na grande área em que são tricotados os acertos para a Copa do Mundo de 2014. Na política, Dirceu e Marin são como água e azeite. O primeiro migrou da resistência à ditadura para as arcas do mensalão. O outro foi da Arena à cartolagem futebolística.
Aproximados pela bola, parecem cultivar interesses comuns. Dirceu tem nova oportunidade de exibir seus dotes de consultor. Marin enxerga no craque uma ponte que pode ajudá-lo a driblar as resistências que encontra nos gabinetes de Brasília, até aqui fechados para ele.