Gosto por luxo e acúmulo de poder marcaram imagem de Sarkozy
Daniela Fernandes
De Paris para a BBC Brasil
Derrotado nas eleições de domingo, Nicolas Sarkozy deixa a Presidência da França sem conseguir se distanciar da imagem de "playboy" que adotou no começo do mandato, que acabou desagradando igualmente partes da direita e da esquerda francesas.
Ele foi eleito prometendo uma "ruptura" com o estilo tradicional de um presidente na França. Essa "nova" imagem foi marcada inicialmente pelas
Sarkozy não conseguiu se desvencilhar de imagem de 'presidente de luxo' férias em um iate de um grande empresário, pelo seu gosto notório por coisas luxuosas e pela exposição de sua vida pessoal em revistas de celebridades no início de seu mandato.
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Mas a maior "ruptura" prometida ocorreu na forma como ele exerceu o poder: Sarkozy foi onipresente na vida política, acumulando as funções de chefe de Estado e atribuições de primeiro-ministro, o que lhe valeu o apelido de "hiperpresidente" e o fez ser comparado inúmeras vezes a Napoleão Bonaparte.
"Sarkozy exerceu a função presidencial de maneira inédita na França", diz o cientista político Stéphane Montclaire, da Universidade Sorbonne.
"O presidente francês é responsável pela política internacional e pela defesa. Ele deixa o restante para os ministros. Sarkozy achou que os franceses se acomodariam com (seu estilo de governar), mas a transição foi muito rápida. Foi um erro fatal", diz Montclaire.
Talvez por essa razão o primeiro-ministro, François Fillon, registre até hoje um índice de popularidade maior do que o do presidente.
"Sarkozy vai entrar para a história como o exemplo a não ser seguido", afirma o especialista.
Presidente dos ricos
Sarkozy celebrou sua vitória em 2007 no luxuoso restaurante Fouquet's, na Champs-Elysées, sob o olhar das câmeras de TV do mundo todo. O local acabou se tornando, ao longo de seu mandato, o símbolo dos "presidente dos ricos", como vinha sendo chamado por seus opositores.
Ele foi o primeiro presidente a se casar novamente - com a top model e cantora Carla Bruni - após um divórcio e o primeiro a se tornar pai durante o exercício da função.
Foi também pioneiro ao entrar no Palácio do Eliseu usando shorts e tênis após uma corrida, ao insultar um cidadão comum em um evento com frases vulgares e ao nomear personalidades da oposição para cargos de governo, o que provocou críticas em seu próprio campo.
Seu estilo tempestuoso desagradou parte do eleitorado tradicional da própria direita francesa, para quem esse tipo de comportamento não corresponde à imagem de um chefe de Estado.
A oposição se aproveitou disso e usou a imagem de Sarkozy como munição. Durante a campanha, o candidato socialista François Hollande prometeu que seria um "presidente normal".
Francês como os outros
Derrotado, Sarkozy, disse que voltará "a ser um francês como os outros", o que deverá ser um desafio a partir de 15 de maio, quando deixará o cargo, para um homem que certamente não agiu como um francês "como os outros".
Sarkozy obteve recordes que preferia não ter obtido: foi o presidente com o mais baixo índice de popularidade da chamada 5ª República, que começou com o general Charles de Gaulle em 1958, e foi o primeiro chefe de Estado a não liderar o primeiro turno de uma eleição presidencial.
Mas se no campo interno Sarkozy foi alvo de críticas, sua atuação internacional, como nos conflitos na Geórgia (2008) ou na Líbia e na crise na zona do euro, foi elogiada.
Sarkozy foi um dos líderes europeus mais em evidência na mídia internacional dos últimos tempos.
Apesar de sua baixa popularidade, sua derrota não foi esmagadora. Ele recebeu 48,38% dos votos, segundo o Ministério do Interior, resultado melhor do que o apontado nas pequisas eleitorais.
Sarkozy havia prometido deixar a vida política em caso de derrota.
No discurso aos militantes de seu partido, na noite de domingo, ele foi, no entanto, vago a respeito de seu futuro.
Mas, segundo a imprensa francesa, Sarkozy teria dito à sua equipe que encerrá suas funções políticas e não irá conduzir o partido às eleições legislativas, em junho.