Familiares de presos enfrentam filas de
madrugada para visitas na Papuda
Visitantes encaram filas, recebem senhas e são revistados antes de entrar.
Parentes de presos do mensalão puderam entrar em dia sem visita regular.
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Uma estrada escura aberta entre árvores no meio do cerrado, sem comércio nem casas por perto, é o único caminho para acessar o Complexo Penitenciário da Papuda, maior presídio do Distrito Federal, a cerca de 20 km de Brasília. Nas madrugadas de quarta e quinta-feira, centenas de homens, mulheres e crianças enfrentam o frio na beira da pista, agasalhados com cobertores e edredons, para visitar os 10 mil detentos encarcerados no presídio. Para muitos, a aglomeração de pessoas é a "fila da tristeza".
As visitas nas quatro unidades penitenciárias da Papuda são divididas entre quarta e quinta, sempre das 9h às 15h. Cada interno tem um dia específico para receber a visita semanal. E, para poder entrar, familiares e amigos têm de fazer um cadastro prévio, que é analisado pela administração da penitenciária.
Desde o último sábado (16), nove condenados no processo do mensalãoestão detidos na Papuda, entre eles o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o deputado licenciado José Genoino (PT-SP) e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Apesar das regras rígidas para os parentes de presos acessarem as dependências do presídio, familiares, amigos e colegas de partido dos réus do mensalão conseguiram contornar nesta semana as normas e visitá-los fora dos dias e horários pré-determinados.
Na última terça (19), a Secretaria de Segurança Pública do DF abriu uma exceção e permitiuque parentes e amigos dos condenados visitassem os presos no cárcere. Segundo a assessoria da pasta, houve exceção porque as famílias já tinham se deslocado para o local.
No dia seguinte, apesar de a secretaria ter anunciado que havia proibido a entrada no presídio de familiares e amigos dos réus fora dos dias habituais, uma comitiva com 26 deputados federais se reuniu com os presos. Nesta quinta, um grupo de senadorestambém desobedeceu a regra e foi à Papuda visitar os petistas detidos.
Enquanto isso, visitantes dos presos comuns – a maioria deles mulheres e crianças de colo – passam a noite ao relento na portaria do complexo penitenciário para conseguir entrar cedo e aproveitar o máximo possível o único dia de visitas da semana. Não são raros os casos de pessoas que chegam na manhã do dia anterior para assegurar os primeiros lugares na fila.
Na madrugada desta quinta (21), uma mãe desempregada e grávida de um mês, segurando pelas mãos uma filha de 3 anos e outra de 1 ano e 8 meses, protestou: "Queria que as mulheres dos mensaleiros ficassem aqui na fila com a gente para ver o que a gente passa. Aqui é só tristeza."
Uma mulher de 43 anos, que visita semanalmente o irmão na prisão, diz que o tratamento diferenciado dado aos parentes e amigos dos condenados do mensalão aumentou o sentimento de "discriminação, indignação e impunidade" entre os visitantes regulares da Papuda.
"A gente fica indignado porque tem de passar por isso tudo. Eles [os parentes e amigos dos reús do mensalão] não são iguais? [...] Os parlamentares e o governador Agnelo nunca vieram aqui visitar os presos comuns antes", disse a mulher.
Nesta quinta, as primeiras senhas para as visitas começaram a ser distribuídas às 6h03, ao amanhecer. As senhas são entregues por ordem de chegada na guarita central. Somente com os passes em mãos é possível entrar no pátio externo do complexo penitenciário para aguardar até as 9h, horário que é autorizado o ingresso dos visitantes às dependências da Papuda.
"Estou aqui desde as 3h da manhã [de quarta] para garantir um lugar melhor, entrar logo e ter mais tempo com o meu marido. Saio só as 15h, que é o horário-limite", relatou ao G1 uma mulher que foi visitar o marido preso nesta quinta-feira, mas preferiu não se identificar por questões de "segurança".