Postagem em destaque

Lutador iraniano provoca reação de espectadores russos ...

Mostrando postagens com marcador Guilheme Fiuza. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Guilheme Fiuza. Mostrar todas as postagens

sábado, 13 de janeiro de 2018

Por favor, um microfone para cada um...

sábado, janeiro 13, 2018

O Muro de Oprah 

GUILHERME FIUZA

O Globo - 13/01
Related image


Catherine e suas colegas disseram, com jeitinho, que suposto despertar feminista hollywoodiano é show autopromocional

Desta vez Meryl Streep não chorou. Na edição anterior do Globo de Ouro, suas lágrimas roubaram a cena para anunciar o fim do mundo com a derrota eleitoral da companheira Hillary. Os Estados Unidos tinham acabado de cair nas mãos da elite branca egoísta, e a atriz estava inconsolável diante do destino hediondo que colhera a maior democracia do planeta. Um ano depois, o emprego entre negros e hispânicos no país alcançou nível recorde. E o tema deixou de comover Meryl.
Ela e seus colegas preocupadíssimos em defender alguma vítima de alguma coisa mudaram de assunto no Globo de Ouro deste ano. Com a desoladora notícia de que os fracos e oprimidos tinham melhorado de vida no primeiro ano do governo assassino, a brigada salvacionista concentrou-se nos casos de assédio sexual. A convocação da estilista que organizou o protesto dos trajes pretos era uma fofura, tipo “não é uma boa hora para você bancar a pessoa errada e ficar fora dessa”.

Se uma intimação assim viesse do inimigo era assédio moral na certa.

Mas o show tem que continuar, e a butique ideológica foi um arraso. O stand up apocalíptico de Meryl Streep em 2017 deu lugar ao palanque apoteótico de Oprah Winfrey — aclamada, eleita e já empossada como a nova presidente dos Estados Unidos da América. Faltam apenas uns detalhes burocráticos, bobagens da vida real — que só existem para atrapalhar, como mostram os números do emprego. O ideal seria se Oprah pudesse culpar o agente laranja da Casa Branca pela marginalização dos negros, mas a realidade atrapalhou mais uma vez.

Aí ela gritou pela mulher. Coisa linda. Todo mundo chorando de novo, que nem no apocalipse da Meryl. Se Obama ganhou o Nobel da Paz antes de começar a governar, Oprah era capaz de levar o prêmio ainda no tapete vermelho. Aí vieram os estraga-prazeres lembrar a bonita sintonia da apresentadora com o dublê de produtor e predador Harvey Weinstein — sem uma única palavra dela sobre os notórios métodos do selvagem de Hollywood. Ainda veio o cantor Seal, que também é negro, dizer que Oprah é “hipócrita” e “parte do problema”. Impressionante como essa gente não sabe assistir a um happy end em paz.

O governo Oprah deveria começar construindo um muro para os invejosos não secarem mais o Globo de Ouro. Quem viesse com comentários desagradáveis sobre esse impecável espetáculo demagógico seria sumariamente deportado. Não faz o menor sentido você ter um trabalhão montando a coleção outono-inverno do luto sexual para vir um bando de forasteiros rasgar a fantasia e deixar o heroísmo de ocasião inteiramente nu.

Como se não bastasse, aparece Catherine Deneuve para jogar a pá de cal no picadeiro. Mais uma invejosa. Sobe logo esse muro, presidenta Oprah. Catherine e suas colegas disseram, com jeitinho, que o suposto despertar feminista hollywoodiano é basicamente um show autopromocional e não ataca o problema real. Estaremos sonhando? Será que finalmente alguém relevante teve a bondade de dizer isso?

Não, não é sonho. E La Deneuve disse mais: essas estrelas falsamente engajadas trazem, na verdade, uma ameaça de retorno à “moral vitoriana”, escondida nessa “febre por enviar os porcos ao matadouro”, nas palavras do manifesto publicado no “Le Monde”. Ou seja: não há nada mais moralista e reacionário que o politicamente correto. Até que enfim.

Claro que a patrulha já caiu em cima, acusando as francesas de complacência com o machismo tirânico. Retocar os fatos, como se sabe, é a especialidade da casa. Abuso de poder para chantagem sexual precisa ser denunciado sempre — não só quando se acendem as luzes do teatrinho, companheira presidenta Oprah Winfrey e grande elenco enlutado. Mas montar uma caça às bruxas fingindo que sedução é agressão — e colecionando banimentos de grandes artistas como troféu — é igualmente abominável. Tão feio quanto abandonar o tema da opressão aos negros quando o script do tapete vermelho é contrariado pela realidade.

Danuza Leão disse que o desfile dos vestidos pretos no Globo de Ouro parecia um velório. Já está sendo devidamente patrulhada, porque não se desmascara os retrógrados moderninhos impunemente (a patrulha não sabe com quem está se metendo). Aguinaldo Silva também anda sendo patrulhado por ser gay e não fazer proselitismo gay — veja a que ponto chegamos. É o ponto em que uns procuradores iluminados resolvem obrigar (repetindo: obrigar) o Santander a remontar a exposição da criança viada para fazer a selfie “heróis da diversidade”. Perguntem a Catherine Deneuve se arbitrariedade promocional faz bem à liberdade sexual.

Chega de dar plateia a esses reacionários trans. Melhor deixá-los a sós discutindo se Anitta na laje é cachorra ou empoderada.


domingo, 26 de novembro de 2017

Políticos estão fazendo 'puxadinho' na Lava Jato...

A Liga da Justiça a Jato  

GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA
Resultado de imagem para imagem de homem rasgando páginas de livroO novo despertar ético está operando o milagre de reabilitar eleitoralmente o PT

O novo despertar da ética no Brasil virou festa com a Operação Cadeia Velha, que prendeu o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A captura de Jorge Picciani e mais uma penca de aliados pela Polícia Federal espalhou o grito de Carnaval: estão atacando a corrupção do PMDB, esse antro de raposas velhas! Mas os éticos deram uma moderada no grito – para não acordar José Dirceu, que tinha sambado até de madrugada.

O Brasil é uma novela. Ou melhor: nem uma novela o Brasil é. Novelas têm complexidade, por mais novelesca que seja ela. O Brasil é um borrão unidimensional, cabe numa marchinha de Carnaval. Foi assim que os abutres de ontem – aqueles fantasiados com adereços politicamente corretos e purpurina roubada – simplesmente sumiram da cena. Quem foi Palocci mesmo? Ué, não era esse que outro dia estava contando tudo a Sergio Moro? Ou esse foi o Santana? Espera aí: que Santana? Não era Mantega?

Do Dirceu parece que todo mundo lembra. Não por ter montado o maior assalto governamental da história, mas porque apareceu outro dia sambando no pé. Uma graça.

O novo despertar ético está operando o milagre de reabilitar eleitoralmente o PT. Do PT você lembra? Isso, esse mesmo – o da senhora Rousseff, a regente do petrolão que hoje viaja o mundo contando história triste à custa do contribuinte. E que lidera pesquisas de intenção de voto para o Senado! O Brasil é uma mãe – e não é a mãe do PAC. Dessa você lembra? A que operou a negociata de Pasadena, isso. Que Pasadena? Ah, deixa para lá. Vamos falar do Picciani. Morte ao PMDB!

O governo Itamar Franco era do PMDB, mas não era. Foi sob um presidente fraco e cheio de compromissos fisiológicos que o Plano Real foi implantado. O governo Temer é do PMDB, mas não é. Assim como na era Itamar, foi nessa gestão pós-impeachmentque se abriu o espaço para a entrada de gente séria, técnica e não partidária disposta a retomar o Estado das mãos dos parasitas da política. É isso o que está acontecendo no Brasil após quase década e meia de pilhagem – e todos os indicadores confirmam o fato. Mas o brasileiro prefere a lenda.

A lenda quer dizer que todos os políticos são igualmente corruptos e agora você vai jogar tudo isso fora para votar numa Liga da Justiça Lava Jato. Se fosse a Lava Jato do Moro até poderia ser uma utopia interessante – mas o Moro já renunciou à candidatura a super-herói de gibi e declarou que pretende ficar onde está, isto é, apenas fazendo seu trabalho direito. Ou seja: é um exemplar de uma espécie em extinção no Brasil – essa dos que acham que o mais nobre objetivo pessoal é cumprir seu papel com integridade até o fim. As espécies que se multiplicam em abundância e sem risco são as dos que põem a cabeça de fora do anonimato e já querem cobri-la com um chapéu de Napoleão carnavalesco. Essa é a Liga da Justiça 2018 – a Lava Jato fake de Rodrigo Janot e seus conspiradores de botequim.

Personagens como o mosqueteiro Dartagnol Foratemer – um desses que após o cumprimento do dever foi à luta do seu chapéu de Napoleão – saíram por aí detonando os políticos para virar políticos. Dartagnol hoje é visto puxando o saco de celebridade petista e fazendo panfletagem digital desonesta – tipo “alertar” que o bando do PMDB capturado no Rio revela o modus operandi que domina Brasília, isto é, o governo federal. Mentira. Os técnicos de alto gabarito que estão trabalhando duro no Banco Central, no Tesouro, na Fazenda, na Petrobras e em outros postos-chaves do Estado nacional deveriam processar esse oportunista, mas estão ocupados demais consertando o desastre do PT – isto é, dos novos camaradas de Dartagnol.
A grita contra a Assembleia Legislativa do Rio quando ela chegou a revogar a prisão de Picciani e sua turma jamais foi ouvida, desta forma retumbante e justiceira, contra a Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Esta protege da prisão, há mais de ano, ninguém menos que o governador do estado, Fernando Pimentel, um dos principais investigados da Operação Lava Jato (a verdadeira).

Olhe para os últimos 15 anos, prezado leitor, e identifique quais foram os grandes protagonistas da vilania que empobreceu a todos nós. Pense bem, porque o Super-Homem é um fracasso de bilheteria e não vai te socorrer.

domingo, 15 de outubro de 2017

"Os catadores de lixo ideológico " / Guilherme Fiuza

domingo, outubro 15, 2017

Os catadores de lixo ideológico 

- GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

O maior eleitor de Bolsonaro é Jean Wyllys, e o maior eleitor de Jean Wyllys é Bolsonaro

O Brasil está em perigo. A polêmica sobre o peladão do MAM vai bem, dando oportunidade a toda essa gente sofrida que batalha de sol a sol por um slogan progressista, mas surgiu o alerta: há sinais de que estão começando a desconfiar do debate – ou, mais precisamente, dos debatedores. Isso é grave.

O sobressalto deixou todo o pelotão da narrativa em alerta. Para o caso de acontecer o pior – isto é, a maioria distraída descobrir que a polêmica só serve aos polemistas de plantão – já há alternativas em estudo. Criar um evangelho trans pode ser uma boa. Descobrir algum brucutu que defenda a virgindade antes do casamento seria melhor ainda. Já pensaram? Toda a MPB de mãos dadas contra o celibato das solteiras? Viva a revolução!

Como se sabe, o maior eleitor de Bolsonaro é Jean Wyllys, e o maior eleitor de Jean Wyllys, coincidentemente, é Bolsonaro. Foram feitos um para o outro, e serão felizes para sempre em sua guerra particular cenográfica. Assim vão se formando as parcerias mais profícuas da vida moderna. Para cada Crivella há um Caetano, num sistema perfeito de retroalimentação demagógica que nos deixa boquiabertos com a exuberância e a simetria da criação. Um bocejo retórico de um multiplica imediatamente o rebanho do outro, tornando-os assim seres unidos para a eternidade pela gratidão mútua. Aleluia.
Há diversos outros casais perfeitos na natureza, como o militante do PSOL e o policial boçal, que rezam diariamente a Nossa Senhora das Causas Idiotas pela oportunidade de se encontrarem na rua. Esse amor lacrimogêneo rende audiências incríveis e faz bem a todo mundo que não tem mais o que fazer.

Por uma coincidência antropofágica, a rapaziada da vanguarda de museu é toda de viúvas petistas. Normal. Não pense que é fácil você chegar ao paraíso fantasiado de algoz da burguesia e te tirarem de lá porque seu guru esfolou o povo. Claro que tudo isso foi um golpe da elite invejosa, mas dói. Como defender ladrão não é propriamente um ato revolucionário (embora muitos ainda insistam que seja), você passa a precisar urgentemente de um esquete novo, algo que te permita chegar em casa e se orgulhar de ter chocado a burguesia, abraçado a seu ursinho de pelúcia.

No princípio era o Fome Zero para chocar a elite branca. Após mais de década de rapinagem soterrando o slogan esperto, surge o plano genial: ficar pelado para chocar a elite branca. É claro que a essa altura, no ano da graça de 2017, com tudo o que a TV já mostrou, tudo o que a internet já escancarou, tudo o que já foi exposto inteiro e do avesso para crianças, velhos, meninos, meninas, burgueses, favelados, crentes e ateus, ficar pelado não choca mais ninguém. Droga. Desde a Xuxa e o rebolado na boquinha da garrafa a erotização infantil já está aí, comendo solta, e até já foi temperada, e até a criançada já teve de aprender a escolher e filtrar o grau de sensualidade com que quer conviver. Absolutamente nada de novo no front. Então vamos convidar crianças para ir ao museu tocar num homem nu e ver o que acontece. Deu certo.

A vanguarda do anteontem ia ficar brincando sozinha de chocar ninguém, mas foi salva. A imagem circulou com aquele poder das redes antissociais de transformar o nada em tudo, tipo “menos a Luíza que está no Canadá”, e num instante estava montada a ficção científica sobre arte moderna e pedofilia, ou vice-versa, só importando ver quem grita mais e quem prevalece sobre quem – num universo onde só o que prevalece é o cultivo e a multiplicação dos mesmos e cegos rebanhos. Jair e Jean, amor eterno.

Junte-se tal fenômeno antifenomenal com a tal polêmica de laboratório em torno da “criança viada” e tem-se a ressurreição dos revolucionários lutando contra a censura! Na proa da nave fantasma, a turma daquele movimento obscuro que batalhou pela censura prévia a biografias não autorizadas por razões pecuniárias, que ninguém é de ferro. São os catadores de lixo ideológico: meu reino por um general fardado que me permita tirar do armário a fantasia de oprimido rebelde.

Todo poder advém do queixume e em seu nome deve ser exercido, enquanto os otários não sacarem a malandragem. Cazuza avisou: somos um museu de grandes novidades. Entre e veja, de graça, que o Brasil hipócrita está nu.

domingo, 1 de outubro de 2017

"Existe rock reacionário ?" Guilherme Fiuza

domingo, outubro 01, 2017

Vocês são "inútil" - 

GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Quem banca o saneamento da máquina pública é ele mesmo, um cacique do velho PMDB


Mais um festival de rock se vai, deixando mensagens no ar. Mas quem quiser decifrá-las para entender, afinal, o que é que muda o mundo, poderá se assustar: mantidas as tendências atuais, logo o rock"n"roll estará servindo para protestos contra a Guerra do Vietnã e em defesa da pílula anticoncepcional. Será que o mundo está mudando de marcha a ré? Existe rock reacionário?

Foi comovente ver aquelas bandas brasileiras caricaturando o passado que nunca tiveram, soltando brados heroicos contra o governo e a política nacional. Se tivessem gritado com metade desse entusiasmo nos 13 anos de rapinagem do PT... Bem, não teria acontecido nada, porque esses rebeldes não fazem mal a ninguém.
A rebeldia empalhada do Rock in Rio não se lembrou de Luiz Inácio Lula da Silva, o comandante do maior assalto da história republicana. Num país mais ou menos saudável, os acordes ensurdecedores do mensalão, do petrolão e das revelações obscenas da Operação Lava Jato imporiam, sobre qualquer outro som, o brado pela prisão de Lula. No entanto, o heptarréu (já condenado em um dos processos) não inspira os revolucionários da tirolesa.

É a onda purificadora mais poluída da história da rebeldia cívica (alô, vigilância sanitária!). No embalo do bordão carne assada "fora Temer", que virou até brinco no festival, os intelectuais de porta de assembleia resolveram classificar o impeachment da senhora Rousseff (que também está solta) como a mera substituição de uma quadrilha por outra. Não, companheiros da limpeza. Não foi isso o que aconteceu.

Notícia em primeira mão para vocês que estão chegando de Woodstock: a Petrobras, maior empresa nacional, jogada na lona pelo estupro petista, foi saneada e reerguida no espaço inacreditável de um ano. A mesma transfusão de gestão aconteceu no Banco Central, no Tesouro e nas principais instituições que comandam a economia nacional. Vocês não poderiam saber de nada disso porque estavam assistindo a Jimmy Hendrix, mas aí vai: o dólar, os juros, o risco país e a inflação despencaram, também em tempo recorde. Portanto, companheiros revolucionários, avisem ao pessoal da limpeza que, no coração do estado brasileiro, não houve a substituição de uma quadrilha por outra. A não ser que a que entrou seja uma quadrilha do bem, como vocês fingem que a gangue do Lula é.
Quem está bancando esse saneamento da orgia petista na máquina pública, contra tudo e contra todos, queridos metaleiros de playground, é o mordomo! Ele mesmo, um cacique do velho e fisiológico PMDB, que tem de ser investigado sempre. Mas o que se viu foram denúncias fajutas montadas por um falso justiceiro para fazer política – ou, mais precisamente, retomar o poder central para a turminha do progressismo trans.

Em outras palavras, os rebeldes de festival que pagam 500 pratas por um ingresso gritavam por uma virada de mesa a favor de quem esfolou o povo. Não esse povo imaginário que eles defendem, mas o povo que jamais passará nem na porta do Rock in Rio, muito menos participará de protesto fashion bem na hora que o emprego começa a reaparecer.

Os heróis dos revolucionários de auditório são personagens como Rodrigo Janot, que alegrou a criançada com sua brincadeira de arco e flecha enquanto conspirava com os açougueiros biônicos do PT. Janot e os rebeldes de festival deram à delinquência de Dilma Rousseff uma anistia comovente. A regente do petrolão, com seus e-mails de obstrução à Lava Jato esfregados na cara do país, não mereceu flechadas verdadeiras nem gritinhos da plateia.
O Rock in Rio 2017, com suas claques colegiais regidas por cantores decadentes – desesperados por um pouco de charme ideológico –, sintetizou a covardia fantasiada de bravura: todos passando aquele perfuminho de rebeldia para pertencer a um levante imaginário da esquerda popular contra a direita elitista. Todos, portanto, atrás do mesmo véu que protegeu o deputado petista flagrado comprando sua eleição no próprio PT – o último milagre da narrativa coitada.

A má notícia, companheiros perfumados, é que essa barulheira demagógica vai morrer dentro de sua própria bolha. A trilha sonora desse festival deveria ter sido cerimoniosamente solicitada ao Roger do Ultraje a Rigor: a gente somos inútil!

quinta-feira, 10 de março de 2016

"O Brasil está se olhando no espelho e não está se reconhecendo..." /Guilherme Fiuza


A Lava Jato é o impeachment

Esse Brasil sério e raro, que faz seu trabalho direito, é agora caçado como peru em véspera de Natal

GUILHERME FIUZA
25/02/2016 - 08h00 - Atualizado 25/02/2016 08h00
O juiz Sergio Moro derrubou a manobra da Odebrecht que tentava desqualificar os documentos bancários enviados por procuradores suíços à Lava Jato. Após uma retificação de procedimento, eles continuarão valendo como prova. É uma dor de cabeça tentar sabotar quem conhece as leis. Por isso, a maior operação anticorrupção da história do país está completando dois anos de vida. Até o STF já tentou pulverizá-la. É inútil.
O Brasil continua afogado no conto de fadas do oprimido – e, agora que Lula está no centro das investigações, a temperatura vai subir. Do já famoso e vexaminoso “manifesto de juristas” montado pelos advogados da Odebrecht, que comparava Moro aos trogloditas da ditadura, ao choro de petistas e seus artistas de aluguel contra a “criminalização” do filho do Brasil, assiste-se a uma rajada de tiros n’água. O estoque de clichês populistas não acaba – o que pode acabar é a proverbial paciência da opinião pública para engoli-los.
Um dos ministros fisiológicos da coleção de Dilma Rousseff declarou, numa das faxinas fantasiosas da presidente, que só deixaria o cargo debaixo de tiro. Acabou saindo por bem – ou melhor, por muito bem: colaborou com o show da faxineira e negociou com ela um substituto de sua gangue, para continuar a sucção que ele iniciara. Assim é o teatro dos pobres milionários. Na vida real, quem só sairá de seu caminho debaixo de tiro é Sergio Moro.
A Lava Jato já tinha revelado ao Brasil o desenho do petrolão antes da reeleição de Dilma. Até os maiores críticos do PT apostavam que, se a presidente ganhasse a eleição, a operação esfriaria. É o país acostumado às CPIs flácidas e às investigações que só sobrevivem enquanto o escândalo está nas manchetes. Aí vieram Sergio Moro e a equipe de procuradores e agentes federais da Lava Jato desmentir a teoria da vida mansa para quem tem costas quentes. Desta vez não foi a bravura da imprensa, nem uma mulher traída ou um sócio roubado quem empurrou a depuração em frente: foi a virtude de um grupo de pessoas que trabalham de verdade. O Brasil está se olhando no espelho e não está se reconhecendo.
Pois é esse pedaço de Brasil sério e raro, que não está fazendo nada além de trabalhar direito, sem partidarizações ou jogos de influências ocultas, que agora está sendo caçado a céu aberto como peru em véspera de Natal. Claro que os caçadores são todos bonzinhos, sofridos e vítimas do peru ao qual tentam degolar. É a especialidade da casa. Você ainda vai ver muitas “reportagens” plantadas por essa elite cultural parasitária acusando a Lava Jato e Sergio Moro de arbitrariedades, condutas abusivas e caça às bruxas. O choro é livre. Como já foi dito aqui, Moro e sua devassa só são paráveis à bala. Espera-se que a coalizão da vadiagem progressista ainda não tenha incorporado o bangue-bangue a seu ideário sublime.
Mas há um único e grave equívoco associado à Operação Lava Jato. E é este equívoco que custa mais caro ao país no momento: o bando que engendrou o monumental sistema de roubo do Estado em favor de um partido continua mandando no Brasil. E mandando turbinado pelo dinheiro roubado. Nunca se viu nada igual, em lugar nenhum do mundo. Uma devassa com a proporção de um tsunami varrendo uma república inteira, sem desalojar do topo dela o grupo responsável pela bandalheira revelada.
A correção desse equívoco é urgente e óbvia, embora o país do Carnaval pareça não se dar conta: falta um pedido de impeachment de Dilma Rousseff baseado na Lava Jato.
O gigante não sabe se samba ou se dorme – sua única certeza é cair em todos os truques do Supremo Tribunal companheiro para proteger a presidente em estado vegetativo. A ideia é esperar a paralisia e a recessão chegarem ao nível do pré-sal? É muito sofrimento ficar carregando o TCU como um vaso de porcelana para que a acusação das pedaladas fiscais não se esfarele no caminho. Ou torcendo para que Eduardo Cunha desembarace as malandragens do companheiro Barroso.
Dilma é a representante oficial do grande projeto – de Lula, de Dirceu, de Vaccari e de toda a teia montada com as marionetes petistas na diretoria da Petrobras. Alguém duvida disso? Os dois anos de literatura da Lava Jato são mais do que suficientes para embasar esse pedido. Acorda, Brasil.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O Brasil parece um imenso laranjal... /

terça-feira, fevereiro 02, 2016


O laranjal do Guarujá - 

GUILHERME FIUZA 

REVISTA ÉPOCA

A mais honesta de todas as vivas almas anda penando um bocado. O famoso tríplex de Lula que não é de Lula, no Guarujá, entrou na mira da Lava Jato. Sérgio Moro e sua turma são mesmo uns golpistas: por que suspeitar de um entroncamento entre Bancoop, OAS, Vaccari, offshores de operadores do petrolão e Lula? Ou melhor, corrigindo: Lula não tem nada com isso. E as outras almas cheiram a talco. A Operação Triplo X da Polícia Federal só pode ser uma conspiração da direita contra o governo popular — para citar a frase imortal do companheiro Delúbio no mensalão.

As coincidências é que atrapalham a revolução progressista. O tríplex vizinho ao de Lula que não é de Lula pertence a Nelci Warken, acusada de estelionato no escândalo da Bancoop junto com o companheiro João Vaccari. Nelci já está presa pela Operação Triplo X, apontada como laranja do esquema. Ela tem offshores criadas pelo mesmo escritório que constituiu as offshores de operadores do petrolão, como Pedro Barusco, E os investigadores descobriram que outros apartamentos do mesmo conjunto Solaris, no Guarujá, pertencem igualmente a laranjas. O tríplex de Lula que não é de Lula está plantado, desgraçadamente, no meio desse laranjal. E muito azar.

A Lava Jato descobriu que um diretor da OAS foi mobilizado exclusivamente para comprar os armários de R$ 300 mil do tríplex de Lula que não é de Lula. Para uma das maiores empreiteiras do país mobilizar um diretor na missão grandiosa de comprar armários, o cliente deve ser mesmo muito importante. Talvez um xeique árabe ou um desses ditadores bilionários de países miseráveis. Lula é apenas um humilde filho do Brasil, não pode ter sido para ele.

Foi no meio dessa confusão que o ex-presidente e tutor de Dilma Rousseff declarou, para desfazer qualquer dúvida, que não existe uma viva alma mais honesta” que ele. Estão vendo, seus golpistas? Vocês acham que a mais elevada entre as almas honestas aceitaria morar no laranjal do Guarujá? Como essa alma se sentiria em meio àquele entra e sai de picaretas de aluguel? No mínimo, nem se atreveria a descer para um banho de mar com as sandálias da humildade. Vai que você abre a porta do elevador e dá de cara com uma das cunhadas do Vaccari? Ou com a companheira Nelci offshore? As almas puras são vulneráveis às emoções radicais. Para viver enclausurado, melhor ficar em São Bernardo mesmo.

E aí lá vêm as coincidências mórbidas: qual era um dos focos centrais dos mandados de prisão da Operação Triplo X? Justamente São Bernardo. Só pode ser perseguição. Se a polícia está investigando apartamentos no Guarujá, o que foi fazer no ABC, que nem praia tem? Essa elite branca não deixa a classe operária em paz. De tanto procurar, a PF encontrou não só a companheira Nelci Warken, como um rabo do propinoduto ligando a OAS ao doleiro Alberto Youssef, operador do petrolão. Esse dinheiro viajava pela mesma rede de offshores criada para atender prepostos do PT como Renato Duque.

Essa turma boa que a Lava Jato já mostrou estar no guarda-chuva de João Vaccari e José Dirceu (as vivas almas que já foram presas) compõe o presépio do assalto companheiro ao Estado brasileiro — com o qual a mais honesta das almas não tem nada a ver. Lula nem sabe direito quem são esses aloprados. O lobista Milton Pascowitch, por exemplo, que levou Dirceu à prisão com sua delação sobre as propinas da Engevix, acaba de revelar que entregou R$ 10 milhões em espécie ao Diretório Nacional do PT, numa maleta de rodinhas. E R$ 4 milhões em propina na veia da campanha que elegeu Dilma Rousseff em 2010. Se alguém contar ao guardião da suprema honestidade quem é essa tal de Dilma, ele prende e arrebenta.

O Brasil caiu sete posições no ranking da corrupção (infelizmente o 1° colocado é o menos corrupto, senão teria sido uma incrível ascensão). Tudo isso graças a um governo podre que ninguém sabe de quem é, graças a um partido picareta que ninguém sabe a quem obedece, graças a um sistema de pilhagem que brotou do nada numa floresta de almas luminosas como as estrelinhas que carregam no peito.

Não dá para entender por que a elite cultural brasileira não manifesta seu apoio também ao companheiro Zika. Só porque ele não tem um tríplex?



domingo, 18 de outubro de 2015

Brasil, abra os olhos, os ouvidos, os sentidos antes que seja tarde...! Guilherme Fiuza


O Grilo Falante de Lula

Nem Pinóquio teve uma ajuda tão generosa. Mas Pinóquio não tinha um BNDES, só um Gepeto


GUILHERME FIUZA
17/10/2015 - 10h00 - Atualizado 17/10/2015 10h00


O palestrante Luiz Inácio da Silva é um sujeito de sorte. Antes de se consagrar com suas palestras internacionais, ele passou pela Presidência da República, onde não ganhava tão bem. Mas tinha bons amigos, especialmente na empreiteira Odebrecht, que lhe sopravam o que dizer nas reuniões com outros chefes de Estado. Os recados eram passados ao futuro palestrante, então presidente, sob o título “ajuda memória” – ou seja, os empreiteiros estavam ajudando o presidente a se lembrar de coisas úteis, uma espécie de transplante de consciência. A Odebrecht era o Grilo Falante de Lula.

Nem Pinóquio teve uma ajuda-memória tão generosa. A de Lula se transformou em negócios de bilhões de reais – mas é bem verdade que Pinóquio não tinha um BNDES, só um Gepeto. É uma desvantagem considerável, especialmente porque Gepeto não fazia operações secretas, ao que se saiba. “O PR fez o lobby”, escreveu o então ministro da Indústria e do Comércio aos amigos da Odebrecht, respondendo à cobrança da empreiteira sobre a defesa de seus interesses pelo PR Lula junto ao PR da Namíbia. Essa e outras ajudas-­memórias valiosas, reveladas pelo jornal O Globo, não tiveram nada de mais. Segundo todos os envolvidos, isso é normal.

A normalidade é tanta que a parceria foi profissionalizada. Quando Luiz Inácio terminou seu estágio como PR, foi contratado pela Odebrecht como palestrante. Nada mais justo. Com a quantidade de ajuda-­memória que ele recebera da empresa durante oito anos, haveria de ter muita coisa para contar pelo mundo. Foi uma história bonita. Lula soltinho, sem a agenda operária de PR, viajando pelos países nas asas do lobista da Odebrecht, fazendo brotar obras monumentais por aí e mandando Dilma e o BNDES bancá-las, enquanto botava para dentro cachês astronômicos como palestrante contratado da empresa ganhadora das obras. Normal.

A parceria também funcionou no Brasil, claro, com belos projetos como o estádio do Corinthians – que uniu seu time do coração com a sua empreiteira idem. Num drible desconcertante dos titãs, o Morumbi foi desclassificado para a Copa de 2014 e brotou em seu lugar o Itaquerão, por R$ 1 bilhão. Como não dava para Gepeto fazer a mágica, o Pinóquio PR chamou o bom e velho BNDES para operar mais esse milagre. Após alguns anos fazendo os bilhões escorrerem dos cofres públicos para parcerias interessantes como essas – incluindo as obras completas da Petrobras –, o palestrante e seu partido levaram o Brasil à breca. Ainda hoje, em meio à mais terrível crise das últimas décadas, que derrubou o aval para investimento no Brasil e fará dele um país mais pobre, a opinião pública se pergunta: como foi que isso aconteceu?

Graças a essa pergunta abilolada, o esquema parasitário que tomou de assalto o Estado brasileiro ainda permanece, incrivelmente, sediado no Palácio do Planalto. O tráfico de influência como meio de privatização de recursos públicos – através de parcerias, consultorias, convênios, mensalões e pixulecos mais ou menos desavergonhados – foi institucionalizado, de cabo a rabo, no governo petista. Lula, o palestrante, é investigado pelo Ministério Público por tráfico de influência internacional. O Brasil se surpreende porque quer: esse é omodus operandi de todos os companheiros que já caíram em desgraça – Vaccari, Delúbio, Erenice, Palocci, Dirceu, Valério, Youssef, Duque, Vargas, João Paulo, Rosemary... Faltou alguém? Ou melhor: sobrou alguém?

Marcelo Odebrecht recomendou que Lula ressaltasse o papel de “pacificador e líder regional” do presidente de Angola. E assim foi feito. Deu para entender? O dono da empresa e cliente do governo era quase um adido cultural do presidente. Se o Brasil não consegue ver promiscuidade (ou seria obscenidade?) nesse enredo, melhor botar o Sergio Moro em cana e liberar o pixuleco.
Acaba de ser arquivado o inquérito contra Lula no mensalão. No auge do escândalo com a Odebrecht e demais envolvidas no petrolão, o PT bate seu próprio recorde de cinismo advogando a proibição das doações eleitorais de empresas. Pixuleco nunca mais. Ajuda-memória ao gigante: ou abre os olhos agora ou não verá as pegadas companheiras sendo mais uma vez apagadas. Aí os inocentes profissionais estarão prontos para o próximo golpe. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Já para o armário... ! // Guilherme Fiuza

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/5/28/ja-para-o-armario
armario multiuso 4.jpg (294×400)

Já para o armário

Autor(es): Guilherme Fiuza
Época - 28/05/2013  


A causa gay, como todo mundo sabe, virou um grande mercado - comercial e eleitoral. Hoje, qualquer político, empresário ou vendedor de qualquer coisa tem orgulho gay desde criancinha. Se você quer parecer legal perante seu grupo ou seu público, defenda o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Você ganhará imediatamente a aura do libertário, do justiceiro moderno. Você é do bem. Em nome dessa bondade de resultados, o Brasil acaba de assistir a um dos atos mais autoritários dos últimos tempos. Se é que o Brasil notou o fato, em meio aos confetes e serpentinas do proselitismo pansexual.




O Conselho Nacional de Justiça decidiu obrigar os cartórios brasileiros a celebrar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Tudo ótimo, viva a liberdade de escolha, que cada um case com quem quiser e se separe de quem não quiser mais. Só que a bondade do CNJ é ilegal. Trata-se de um órgão administrativo, sem poder de legislar - e o casamento, como qualquer direito civil, é uma instituição fundada em lei. O CNJ não tem direito de criar leis, mas tem Joaquim Barbosa.



Joaquim Barbosa - presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça - é o super-herói social. Homem do povo, representante de minoria, que chegou ao topo do Estado para “dizer as verdades que as pessoas comuns querem dizer”. O Brasil é assim, uma mistura de novela com jogo de futebol. Se o sujeito está no papel do mocinho, ou vestindo a camisa do time certo, ele pode tudo. No grito.



Justiceiro, Joaquim liberou o casamento gay na marra e correu para o abraço. Viva o herói progressista! Se a decisão de proveta for mantida, o jeito será rezar para que o CNJ seja sempre bonzinho e não acorde um dia mal-humorado, com vontade de inventar uma lei que proíba jornalistas de criticar suas decisões. Se “o que o povo quer” pode ser feito no grito, o que o povo não quiser também pode. O Brasil já cansou de apanhar do autoritarismo, mas não aprende.



E lá vai Joaquim, o redentor, fazendo justiça com as próprias cordas vocais. Numa palestra para estudantes de Direito, declarou que os partidos políticos brasileiros são “de mentirinha”. Uma declaração absolutamente irresponsável para a autoridade máxima do Poder Judi-

ciário, que a platéia progressista aplaude ruidosamente. Se os partidos não cumprem programas e ideias claras, raciocinam os bonzinhos, pedrada neles. Por que então não dizer também que o Brasil tem uma Justiça “de mentirinha”? Juizes despreparados, omissos e corruptos é que não faltam. Quantos políticos criminosos militam tranquilamente nos partidos “de mentirinha”, porque a Justiça não fez seu papel?



A democracia representativa é baseada em partidos políticos. Com todas as suas perversões - e são muitas eles garantem seu funcionamento. E também legitimam a ação de gente séria que cumpre programas e ideias, pois, se fosse tudo de mentira, um chavista mais esperto já teria mandado embrulhar o pacote todo para presente, com Joaquim e tudo.



A resolução do CNJ sobre o casamento entre homossexuais é uma aberração, um atropelo às instituições pelo arrastão politicamente correto. A defesa da causa gay está ultrapassando a importante conquista de direitos civis para virar circo, explorado pelos espertos. Um jogador de basquete americano anuncia que é homossexual, e isso se torna um espetáculo mundial, um frisson planetário. Como assim? A esta altura? A relação estável entre parceiros do mesmo sexo já não é aceita na maior parte do Ocidente? Por que, então, a decisão do jogador é uma bomba? Simples: a panfletagem pró-gay virou um tiro certo. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dá declaração solene até sobre a opção sexual dos escoteiros. Talvez, um dia, os gays percebam que foram usados demagogicamente, por um presidente com sustentação política precária, que quer se safar como herói canastrão das minorias.



Ser gay não é orgulho nem vergonha, não é ideologia nem espetáculo, não é chique nem brega. Não é revanche. Não é moderno. Não é moda. É apenas humano.



A luta contra o preconceito precisa ser urgentemente tirada das mãos dos mercadores da bondade. Eles semeiam, sorridentes, a intolerância e o autoritarismo. Já para o armário!



Guilherme Fiuza é jornalista. Publicou os livros Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme, 3.00 dias no bunker e Amazônia, 20º andar. Escreve quinzenalmente em Época.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

"2013, o ano que já terminou" // Guilherme Fiuza



2013, o ano que já terminou

(ÉPOCA – edição 763)
O ano de 2012 se encerrou de forma absolutamente normal no Congresso Nacional. Em sua última sessão, o Senado aprovou um trem da alegria para os três poderes, com a criação de milhares de cargos numa só canetada. É normal porque a caneta era de José Sarney, companheiro de Dilma Rousseff, uma aliança que, todos sabem, serve ao Brasil de todos – todos os que fizeram as amizades certas. Se você está de fora dessa, terá que cumprir em 2013 o destino trágico dos reles mortais, esses infelizes que não têm uma Rosemary para chamar de sua – e que ainda fazem uma coisa primária que os companheiros revolucionários não precisam mais fazer: trabalhar.
Mas não se desespere. A vida dos excluídos (do banquete petista) tem lá suas compensações. É bem verdade que você nunca verá um filho seu ficar famoso da noite para o dia por ter arranjado uma boquinha na Anac ou no Senado. Nunca lhe convidarão, também, para uma reunião com José Dirceu para “reforçar o Marco Maia”. Enfim, você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas nem tudo são espinhos: ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão.
Para consolar os excluídos, os que vivem miseravelmente sem acesso a uma única teta do Estado brasileiro, uma ponderação: o Brasil se tornou um país previsível, de rumo firme, o que torna possível antecipar o que vai acontecer em 2013. Isto jamais seria possível antes do Descobrimento (em 2003) – portanto, não reclame de barriga cheia.
Em março, Dilma Rousseff convocará a primeira cadeia nacional de rádio e TV da série 2013. Fará um pronunciamento à nação pelo Dia Internacional da Mulher. Falará com a voz embargada, sobre um fundo de violinos, e se a iluminação do estúdio estiver correta, parecerá ter os olhos molhados. Encherá os brasileiros de orgulho por serem governados por uma “presidenta” – palavra que seus assessores saberão encaixar no discurso – e anunciará algum programa social novo, tipo Brasil Caridoso, Brasil Sem Tristeza ou Brasil Fofo. Apresentará uma estatística impressionante, encomendada ao Ipea e à FGV, mostrando que nos anos Fernando Henrique lugar de mulher era na cozinha.
Em 2013 o Brasil sofrerá novos apagões, provocados por raios neoliberais e elitistas. A tarifa populista de energia será implantada, ajudando a sucatear as empresas do setor, que por isso investirão menos ainda em manutenção – mas os blecautes não terão nada a ver com isso. O ministro Edison Lobão explicará que nosso sistema é um dos melhores do mundo, e que essa mania de ter luz o tempo todo é coisa de burguesia consumista. Sarney ficará orgulhoso de seu afilhado – e pedirá a Roseana, com jeito, que deixe Lobão governar um pouquinho o Maranhão (“Filha, agora descansa e deixa o seu colega brincar também.”)
A inflação em 2013 continuará subindo, e a aprovação a Dilma também. Explica-se o paradoxo: a principal causa da subida dos preços será um novo aumento explosivo dos gastos públicos, incluindo a distribuição de mais dinheiro de graça para a população – através dos programas carinhosos, o Bolsa Tudo. É a chamada “destruição invisível” da economia nacional, que em 2013 será caprichada, porque em 2014 tem eleição. Os simpatizantes do governo popular ficarão felizes com a farta distribuição de bolsas, cargos, convênios a granel para os ministérios parasitários, e Dilma marchará tranquila para a reeleição. Aécio Neves assistirá a tudo escondido nas Alterosas e rezando que Eduardo Campos o ultrapasse na corrida para não chegar.
Joaquim Barbosa, o redentor, fará muitos comícios sociais na presidência do Supremo, deixando pela primeira vez os brasileiros na dúvida: talvez exista outro ser tão bonzinho quanto Lula da Silva. Barbosa evidentemente será mordido pela mosca azul, mas o eleitor acabará ficando mesmo com o pacote Lula/Dilma, para não arriscar a mesada (o mensalão popular).
Rosemary não entregará seu chefe. Terá um ano sofrido, sem passaporte diplomático, mas ficará firme. Afinal, Lula não sabia (Dona Marisa muito menos), e o amor sempre vence.
Como se vê, 2013 já foi. Se quiser uma passagem direta para 2014, passe no caixa da revolução, que o pessoal da Rose na Anac arranja para você.