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terça-feira, 7 de maio de 2013

Paulo Coelho - Nhá Chica // Depoimento

G1 (@g1) tweetou às 7:37 AM on ter, mai 07, 2013: Paulo Coelho: Nhá Chica de Baependi (beatificada em 4 de maio de 2013) http://t.co/paczAJUIQf (https://twitter.com/g1/status/331719497889230848) Adquira o aplicativo oficial do Twitter em https://twitter.com/download

Nhá Chica de Baependi (beatificada em 4 maio 2013)

by PAULO COELHO on MAY 4, 2013

O que é um milagre?
Existem definições de todos os tipos: algo que vai contra as leis da natureza, intercessões em momentos de crise profunda, coisas cientificamente impossíveis, etc.
Eu tenho minha própria definição: milagre é aquilo que enche o nosso coração de paz. Ás vezes se manifesta sob forma de uma cura, de um desejo atendido, não importa – o resultado é que, quando o milagre acontece, sentimos uma profunda reverência pela graça que Deus nos concedeu.
Há vinte e tantos anos atrás, quando eu vivia meu período hippie, minha irmã me convidou para ser padrinho de sua primeira filha. Adorei o convite, fiquei contente que ela não me pediu para que cortasse os cabelos (naquela época, chegavam até a cintura), nem me exigiu um presente caro para a afilhada (eu não teria como comprar).
A filha nasceu, o primeiro ano se passou, e o batizado não acontecia nunca. Achei que minha irmã tinha mudado de idéia, fui perguntar o que havia acontecido, e ela respondeu: “Você continua padrinho. Acontece que eu fiz uma promessa para Nhá Chica, e quero batizá-la em Baependi, porque ela me concedeu uma graça”.
Não sabia onde era Baependi, e jamais tinha escutado falar de Nhá Chica. O período hippie passou, eu me tornei executivo de gravadora, minha irmã teve uma outra filha, e nada de batizado. Finalmente, em 1978, a decisão foi tomada, e as duas famílias – dela e de seu ex-marido – foram a Baependi. Ali eu descobri que a tal Nhá Chica, que não tinha dinheiro nem para seu próprio sustento, havia passado 30 anos construindo uma igreja e ajudando os pobres.
Eu vinha de um período muito turbulento em minha vida, e já não acreditava mais em Deus. Ou melhor, dizendo, já não achava que procurar o mundo espiritual tinha muita importância: o que contava eram as coisas deste mundo, e os resultados que pudesse conseguir. Tinha abandonado meus sonhos loucos da juventude – entre os quais, ser escritor – e não pretendia voltar a ter ilusões.
Estava ali naquela igreja para apenas cumprir um dever social; enquanto esperava a hora do batizado, comecei a passear pelos arredores, e terminei entrando na humilde casa de Nhá Chica, ao lado da igreja. Dois cômodos, e um pequeno altar, com algumas imagens de santos, e um vaso com duas rosas vermelhas e uma branca.
Num impulso, diferente de tudo o que eu pensava na época, fiz um pedido: se, algum dia, eu conseguir ser o escritor que queria ser e já não quero mais, voltarei aqui quando tiver 50 anos, e trarei duas rosas vermelhas e uma branca.
Apenas para me lembrar do batizado, comprei um retrato de Nhá Chica. Na volta para o Rio, o desastre: um ônibus pára subitamente na minha frente, eu desvio o carro numa fração de segundo, o meu cunhado também consegue desviar, o carro que vem atrás se choca, há uma explosão, vários mortos. Estacionamos na beira da estrada, sem saber o que fazer. Eu procuro no bolso um cigarro, e vem o retrato de Nhá Chica. Silencioso em sua mensagem de proteção.
Ali começava minha jornada de volta aos sonhos, à busca espiritual, à literatura, e um dia eu me vi de novo no Bom Combate, aquele que você trava com o coração cheio de paz, porque é resultado de um milagre. Nunca me esqueci das três rosas. Finalmente, os cinqüenta anos – que naquela época pareciam tão distantes – terminaram chegando.
E quase passam. Durante a Copa do Mundo, fui a Baependi pagar minha promessa. Alguém me viu chegando em Caxambu (onde pernoitei), e um jornalista veio me entrevistar. Quando eu contei o que estava fazendo ali, ele pediu:
- Fale sobre Nhá Chica. O corpo dela foi exumado esta semana, e o processo de beatificação está no Vaticano. As pessoas precisam dar seu testemunho.
- Não – disse eu. – É uma história muito íntima. Só falaria se recebesse um sinal.
E pensei comigo mesmo: “O que seria um sinal? Só mesmo se alguém falasse em nome dela!”
No dia seguinte, peguei o carro, as flores, e fui a Baependi. Parei um pouco distante da igreja, lembrando o executivo de gravadora que estivera ali tanto tempo antes, e as muitas coisas que tinham me conduzido de volta. Quando ia entrando na casa, uma mulher jovem saiu de uma loja de roupas:
- Vi que seu livro “Maktub” é dedicado a Nhá Chica – disse ela. – Garanto que ela ficou contente.
E não me pediu nada. Mas aquele era o sinal que eu estava esperando. E este é o depoimento público que eu precisava dar.
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domingo, 5 de maio de 2013

Nhá Chica, a primeira negra a receber o título de beata no Brasil...!

Nova imagem da beata Nhá Chica será conhecida em procissão neste domingoEm clima de muita fé, cerca de 40 mil pessoas participaram da cerimônia de beatificação de Nhá Chica, em Baependi, no Sul de Minas.

Publicação: 05/05/2013 06:00 Atualização: 05/05/2013 09:29

Cerimônia durou cerca de duas horas e foi acompanhada por milhares de devotos (Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Cerimônia durou cerca de duas horas e foi acompanhada por milhares de devotos


Baependi
 – Uma forte corrente de orações, fé e emoção uniu, na tarde de ontem, moradores da cidade do Sul de Minas e de outros estados brasileiros. Às 15h30, diante de cerca de 40 mil pessoas que participaram da missa campal no espaço G.A. Pedras, perto do Portal de Baependi, o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação da Causa dos Santos e representante do papa Francisco, leu a carta apostólica que declarou beata Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica (1810-1895). Trata-se da primeira negra no país a receber este título da Santa Sé, que permite culto, com imagem, em igreja da diocese de Campanha, à qual Baependi está vinculada. 

Esta é a primeira beatificação do pontificado do papa Francisco. A celebração da festa de Nha Chica será em 14 de junho, dia da morte ou, no entender da Igreja, "dia do seu nascimento no céu". Realmente, era raro quem não estivesse com um brilho especial nos olhos, um sorriso de alegria nos lábios e o semblante de vitória. A beleza da missa solene foi realçada por uma orquestra de câmara e o coro de 140 vozes que entoou o hino dedicado a Nhá Chica, de autoria do padre Luís Henrique Eloy e Silva e do bispo dom Diamantino. "Que festa linda! Que alegria, enche o coração da gente", comentou a dona de casa Helenice Santos, de Careaçu, que chegou à cidade numa caravana de quatro ônibus e assistiu à missa solene bem perto do altar.

Caminho religioso O governador Antonio Anastasia, que assistiu à missa ao lado do ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, representante da presidente Dilma Rousseff, destacou que Nhá Chica representa a fé do povo mineiro e adiantou que Baependi será um dos primeiros municípios a receber intervenções do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que ligará os santuários de Nossa Senhora da Piedade, onde está a padroeira de Minas, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Aparecida, que guarda a imagem da padroeira do Brasil. O percurso é de 850 quilômetros e engloba 86 municípios. Anastasia acredita que a beatificação intensificará o turismo na região e no Circuito das Águas, onde vários investimentos estão em andamento.

Entre os presentes, estava o postulador (advogado) da Causa de Beatificação, o italiano Paolo Vilotta, além de 400 padres. O trabalho pela beatificação começou em 1952 e foi concretizado graças ao reconhecimento do milagre concedido, por intecessão de Nhá Chica, à professora Ana Lúcia Meirelles Leite, de 68 anos, moradora da vizinha Caxambu e curada de problema cardíaco congênito. “Meu coração está 100% e vou carregar uma relíquia de Nhá Chica até o altar”, disse Ana Lúcia, pouco antes da cerimônia. 

De Pé e de braços abertos 
Hoje, às 18h, a imagem oficial de Nhá Chica será conhecida de moradores e visitantes, já que, na cerimônia de ontem, foi mostrada apenas uma gravura da beata. A escultura de cedro, com 1m de altura, feita em São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, por Osni Paiva e policromia de Carlos Magno de Araúlo, sairá no andor da Matriz de Santa Maria em direção à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, conhecido como Santuário de Nhá Chica. 

A tradicional imagem da idosa sentada numa cadeira e mãos apoiadas num guarda-chuva vai mudar de figura. No altar, estará de pé, de braços abertos, significando acolhimento, e com um rosário na mão direita.

Segundo o escultor Osni Paiva, a elaboração da peça seguiu orientações do bispo diocesano de Campanha, dom Frei Diamantino Prata de Carvalho, à qual Baependi está vinculada. Para os especialistas, apenas os chamados doutores da Igreja podem ter imagens sentados numa cadeira.