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domingo, 1 de março de 2015

Expansão das violações dos direitos humanos // DW Brasil


Opinião: Um clima de impunidade se alastra

Relatório da Anistia Internacional aponta constante expansão das violações dos direitos humanos. Continuar denunciando permanece como único recurso, opina ex-diplomata alemão Hanns Schumacher.
Ex-diplomata Hanns Schumacher escreve como convidado da DW
"Terá sido o ano de 2014 um ponto baixo absoluto ou o início de uma virada para melhor?", indagou o secretário-geral da Anistia Internacional (AI), Salil Shetty, ao apresentar o mais recente informe da ONG sobre os direitos humanos no mundo.
Ele confirma o que as atuais crises no Oriente Médio e em países africanos já indicavam: há uma erosão progressiva da penosamente conquistada Justiça criminal internacional, acompanhada pela impunidade dos responsáveis, também diante da Justiça de seus próprios países. Um "clima de impunidade" se alastra. A reação da comunidade internacional é "vergonhosa e insuficiente".
O balanço da AI para 2014/15 é assustador. De Damasco a Cabul; do México a Baku, no Azerbaijão; da sul-sudanesa Juba até Colombo, passando por Pyongyang; de Abuja, na Nigéria, até Moscou e Ásia Central – sim, até mesmo de Washington a Pequim: todos esses são palcos de brutais violações dos compromissos com o direito internacional, nos quais são ignoradas as convenções de Genebra para proteção de civis em conflitos militares, e onde a ajuda humanitária é intencionalmente dificultada.
Representantes da sociedade civil que tenham a coragem de apontar e criticar irregularidades são silenciados através de leis cada vez mais consequentes e de repressão autoritária.
Quem já tenha vivenciado a atitude de China, Rússia, Sri Lanka e outros diante desses representantes civis no ambiente diplomático do Conselho de Direitos Humanos da ONU, partilha a conclusão da publicação da AI: "Um ano devastador para todos aqueles que defendem os direitos humanos e para os que sofrem na miséria das zonas de guerra e crise."
Não se trata apenas dos combates sangrentos na Ucrânia Oriental ou das medidas repressivas adotadas pela Rússia, membro do Conselho de Segurança da ONU, contra a liberdade de opinião e a autodeterminação sexual: a Europa – inclusive a Alemanha – não tem motivos para autocongratulação. Discriminação de minorias e dificuldades crescentes em lidar de forma humana com os fluxos de refugiados e migrantes são amplamente difundidas.
Os ataques de partidos governistas, justamente do Reino Unido e da Suíça, contra o Tribunal Europeu de Direitos Humanos enfatizam a presente tendência, disseminada para além das fronteiras continentais, de anular direitos fundamentais de liberdade em nome da suposta defesa da "segurança pública".
O conceito de tortura – ato de infligir intencionalmente dor a alguém, com o fim de obter informações ou confissão, como define a Convenção da ONU – tem sido deturpado e falseado por juristas deploráveis. E a publicação do relatório do Senado americano revela não apenas a conduta chocante da CIA (a agência de inteligência dos EUA), mas também a extensão da cumplicidade europeia.
Vinte anos após o genocídio em Ruanda, incontáveis conflitos deixam um lastro sangrento através do continente africano. Destacando-se nesse quadro de miséria, está o Sudão do Sul, país que alcançou sua independência graças à solidariedade e participação internacional. Sob o olhar das Nações Unidas, um governo irresponsável se dilacera com seus opositores étnicos, à custa dos mais pobres e vulneráveis, as mulheres e crianças.
A "Primavera" de 2011 na Península Árabe há muito deu lugar a um inverno cruel: a Líbia e o Iêmen estão à beira de um colapso estatal; o Iraque oscila diante das hordas de um autoproclamado, desumano califa; o Egito se encontra novamente sob ditadura autoritária, na luta contra o islamismo terrorista. A Síria, com seu balanço sangrento de mais de 200 mil vítimas – há muito a ONU desistiu de contar os mortos –, já é quase um conflito esquecido.
Em Israel e na Faixa de Gaza, a contagem mais recente chega a quase 2 mil mortos. Politicamente, os partidos estão num beco sem saída para a paz, e os interesses de segurança de Israel permanecem um ponto sensível. Porém, a recusa do país em cooperar com os grêmios do Conselho de Direitos Humanos não deixa de ser uma violação de seus deveres enquanto membro das Nações Unidas.
O Conselho de Segurança da ONU arca com a responsabilidade pela paz e segurança, assim como de impor o respeito aos direitos humanos. A conexão entre, de um lado, conflito e instabilidade, e, do outro, desigualdade, pobreza e falência dos direitos fundamentais, atravessa o informe da Anistia Internacional como um fio de Ariadne.
Diante desse quadro, adiantará de algo os cinco membros permanentes do Conselho renunciarem a seu direito de veto, quando estiverem em jogo genocídio e crimes contra a humanidade, como reivindica a Anistia? Desde 1993, a discussão sobre a reforma do grêmio se arrasta, sem resultados visíveis e sem que haja um final à vista.
Provocação e advertência é o que resta, como mínimo denominador comum, para denunciar a lamentável situação dos direitos humanos na esperança de, com pequenos passos, alcançar uma melhoria. A Alemanha tem uma oportunidade para tal: em 2015, ocupa a presidência do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Hanns Schumacher é diplomata alemão aposentado. Até 2014, dirigiu a representação alemã em Genebra, na qualidade de embaixador da República Federal da Alemanha nas Nações Unidas.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Afegã recupera por cirurgia nariz mutilado pelo marido

http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/afega-mutilada-por-marido-esta-feliz-com-nariz-reconstruido

26/02/2013 - 12:30
ShareDireitos humanos

Afegã mutilada por marido está feliz com nariz reconstruído

Processo cirúrgico teve início em junho de 2012 - em Maryland, nos EUA - e pode durar até dois anos, envolvendo cerca de seis operações no total

A jovem afegã Aisha Mohammadzai, em processo de reconstrução facial
A jovem afegã Aisha Mohammadzai, em processo de reconstrução facial (Reprodução / ITV)
Há anos a jovem afegã Aisha Mohammadzai sonhava com um novo rosto, desde que teve o nariz e as orelhas mutilados pelo marido, após uma tentativa de fuga do casamento forçado. Nesta terça-feira, a imprensa internacional divulgou os novos resultados de uma cirurgia de reconstrução facial, que teve início em junho de 2012, no Centro Médico Walter Reed National Military, em Maryland, nos Estados Unidos, e cujo processo pode durar até dois anos, envolvendo cerca de seis operações no total. Em entrevista à rede ITV, Aisha diz estar feliz com o novo nariz e espera que sua experiência possa contar uma história de esperança. "Quero dizer a todas as mulheres que sofrem abusos que sejam fortes e nunca desistam", afirma. Hoje, ela vive com uma nova família (um casal de imigrantes afegãos), com quem teve a oportunidade de recomeçar a vida.
O caso de Aisha ganhou repercussão internacional, quando, aos 18 anos, ela estampou o rosto deformado na capa da edição de agosto de 2010 da revista Time, e sua história veio à tona. A jovem foi prometida em casamento quando tinha apenas 12 anos - prática comum no Afeganistão. Para colocar fim a uma dívida de seu pai, o noivo era um militante do Talibã. Aos 16, ela foi mandada para morar com a família do futuro marido, que estava em combate no Paquistão. Desde o início, já sofria maus-tratos extremos nas mãos dos sogros e cunhados. Ao tentar fugir de casa, foi entregue de volta ao marido pelo próprio pai, para que recebesse o castigo "merecido": a mutilação do nariz e das orelhas com uma faca. Por mais impressionante que possa soar, esse também é um costume difundido por todo o país, e a maioria das vítimas acaba sofrendo no anonimato.
Reprodução
'Time': aos 18 anos, Aisha foi capa da revista americana
Aos 18 anos, Aisha foi capa da revista 'Time'
Quando Aisha soube que poderia fazer a cirurgia de reconstrução facial, se animou. Mas a verdade é que o caminho que Aisha escolheu percorrer é tortuoso. No curso das várias cirurgias, ela precisa lidar com grande dor e desconforto, além da incerteza de que o resultado final ficará perfeito. Por isso, precisou esperar tanto para iniciar o processo. Não era considerada psicologicamente preparada para enfrentar o invasivo processo cirúrgico. Logo que chegou aos EUA, em 2010, a afegã ganhou uma prótese temporária da Fundação The Grossman Burn, para usar até que pudesse iniciar a reconstrução. Mas ela surpreendeu a todos quando se recusou a utilizar o nariz artificial, preferindo estampar a deformação do rosto como uma bandeira a denunciar as violações dos direitos das mulheres no seu país.
Cirurgia - Em entrevista ao site de VEJA, no ano passado, o cirurgião plástico do Hospital Israelita Albert Einstein, Ronaldo Golcman, explicou que o resultado de uma cirurgia reconstrutiva como essa demora a aparecer. Por isso, a terapia é fundamental. Segundo ele, mesmo quando se chega ao mais próximo do ideal, o resultado ainda pode ficar aquém do desejado pelo paciente. "Nenhuma reconstrução é perfeita, existem limitações. E, entre as reconstruções de face, a do nariz é uma das mais complexas", disse. "Se o paciente não estiver preparado psicologicamente, pode se arrepender depois. O cirurgião precisa ser um psiquiatra com o bisturi na mão." O médico observou que a cicatriz que Aisha já possui no rosto era grossa e um pouco alta, o que aumentavam as chances de que novas cicatrizes cirúrgicas tenham caráter semelhante.
Golcman lembrou ainda ser preciso deixar claro que Aisha não vai "ganhar" um rosto novo. "Tudo tem um preço. Para se ter um nariz reconstruído, é preciso utilizar tecido de outra parte do corpo, normalmente da testa ou do antebraço, o que implica em cirurgias e novas cicatrizes. Por mais que o resultado fique bom, o paciente terá um rosto remendado", detalha, reiterando que todo o processo, além de demorado, passa por momentos delicados: "A tendência é sua aparência piorar nos três ou quatro primeiros meses antes de começar a melhorar". Em alguns casos, perde-se parte da modelagem nesse intervalo de tempo, e o paciente precisa voltar, de tempos em tempos, para fazer retoques. "Ter essa paciência é fundamental para evitar cortes desnecessários", completou o cirurgião.

Outros casos de afegãs que sofreram violência doméstica

1 de 4

Sahar Gul, 15 anos

Sahar Gul
A jovem denunciou, em dezembro de 2011, os seis meses de torturas vividos na casa da família do marido, que a trancava no banheiro, agredindo-a a pauladas e arrancando pedaços de sua pele e unhas, além de queimá-la com cigarros. A sogra também a privava de água e alimentos. A adolescente, vendida pelo irmão por 5.000 dólares - uma espécie de dote, comum no Afeganistão - foi localizada em estado de choque pela polícia da província de Baghlan, nordeste do país, e levada ao hospital. Segundo as autoridades, Sahar foi torturada por ter se recusado a se prostituir. Três mulheres da família do marido foram presas, entre elas a sogra e a cunhada. Mas o marido e o sogro conseguiram fugir.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A imprensa não é tão livre assim...

"Suspeita é de que prédio da Charlie Hebdo tenha sido atacado após edição sobre o Islã que tinha charges de Maomé..."


"Duas mulheres muçulmanas foram condenadas nesta quinta-feira pela Justiça da França por desafiarem a lei, vigente desde abril, que proíbe o uso da burca ou de outros véus islâmicos que cubram todo o rosto em espaços públicos. É a primeira vez que um tribunal francês examina um caso como esse..."


Será retaliação?