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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Leandro Karnal e o Natal / no Estadão um ano atrás

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Mudaria o Natal ou mudei eu?

Festas tradicionais funcionam como marcos de memória
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Leandro Karnal
25 Dezembro 2016 | 02h00
Machado fez essa pergunta num soneto cometido próximo do fim da sua vida. Ele imagina um homem que decide registrar a data cristã do “berço do Nazareno” em versos. De repente, a personagem hesita e perde a inspiração. Diante da folha em branco, registra apenas: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”. 
Machado tem o dom de desconstruir crenças. Os contos A Cartomante e Missa do Galo indicam esse esforço de retirar metafísica do mundo. Difícil saber de onde surgia esse sentimento no autor. Amava sua esposa Carolina, mas não teve filhos. Frequentava altas rodas e era mulato de origem humilde, situação que o perturbou algumas vezes. Era um gênio e estava cercado de burocratas repetitivos que fariam o conselheiro Acácio de Eça parecer um gênio. Acho que Machado não gostava do Natal. Eu, pelo contrário, adoro.

Festas tradicionais funcionam como marcos de memória. Sendo balizas, indicam nossa caminhada desde a última ocasião. Por vezes, a memória retorna às celebrações da infância e a recordação nos toma de assalto. Misturar uma discreta melancolia com entusiasmo de fim de ano chega a ser de bom-tom.  
É clichê dizer que o Natal é a festa da família. Quero ampliar a percepção. A festa dos dias 24 e 25 de dezembro é também da família atemporal. Convidamos pais e mães, avós e parentes. Os mortos todos se convidam para nossa casa. Não há como evitá-los; espíritos entram sempre. São como uma bruma densa que se imiscui sob a soleira de um castelo. O Natal é uma festa da memória de mortos e do contato com os vivos. Todas as casas ficam sempre lotadas, inclusive as casas que encerram apenas uma pessoa imersa no seu mundo.

Os jovens reclamam um pouco dos vivos presentes: há sempre um tio chato, pode existir uma cunhada excêntrica, é quase obrigatória a avó depressiva. Hoje, acho essa fauna (incluindo-me nela) parte da originalidade natalina.

Eu penso nos mortos que marcaram meus natais. Sinto falta deles. À medida que amadureço, dialogo mais com os ausentes, que, naturalmente, crescem a cada década. Nenhum jovem imagina o que eu sempre tenho presente: quem estará na festa do ano que vem? Mas a coluna não se pretende melancólica, nem fúnebre. Hoje é Natal. Volto ao leitmotiv: mudaria o Natal ou mudei eu? 
Eu tenho certeza absoluta de que mudei muito. Algumas coisas foram muito boas, outras nem tanto. A ideia de estar com a família sempre foi importante, mas a idade a tornou fundamental. Abasteço-me de quem eu sou, de raiz, de afeto, de um Leandro sem a cenografia do mundo. Volto ao espaço que me gerou, onde cresci, no qual aprendi quase tudo. Lá chorei e ri tantas vezes. Mudamos eu e o Natal e, por isso, preciso voltar a encontrá-lo sempre.
Lutei, ao longo de 2016, para controlar a alimentação. O Natal me convida a abrir mão do plano sempre fracassado da forma perfeita. Relaxe, sente-se e coma, insinua a mesa bem-posta. Hoje, você terá um dos maiores prazeres do mundo: compartilhar refeição com quem se ama. Fora Twiggy! Viva Pantagruel!

domingo, 29 de janeiro de 2017

Um desafio explicado por Machado de Assis ...



Desisto do Supremo, e Machado de Assis explica por quê

O capítulo 139 de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” fala a respeito com mais propriedad

e do que eu conseguiria

""Este capítulo é uma sequência  que reticências (.......)

pois como o autor explica no capítulo seguinte, 

 há coisas que melhor se dizem calando...""

eSTE sem-titulo
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quinta-feira, 5 de maio de 2016

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Alienação, alienista, alienada, alienígena... tudo junto e misturado / Implicando com Machado de Assis


14/04/2014
 às 14:48 \ Direto ao Ponto

Machado de Assis é a nova aquisição do selo literário Dilma Rousseff: “Muitas vezes você é criticado por ter o cachorro e, outras vezes, por não ter o mesmo cachorro”

dilma cachorro
CELSO ARNALDO ARAÚJO
Machado de Assis, maior nome da literatura brasileira, é a nova aquisição do selo Dilma Rousseff – especializado em adaptar para o dilmês obras-primas das letras nacionais, com um grau de acurácia inferior ao do patético Google Tradutor.
Seu autor favorito vinha sendo Nelson Rodrigues, o frasista perfeito ─ por via do dilmês, transformado num escriba de péssimos bofes e estrofes, capaz de cometer pecados estilísticos mortais, como “não se pode apostar no pior” ou “pessimistas fazem parte da paisagem assim como os morros, as praças e os arruamentos”. Coisas que Nelson nunca disse ou escreveu e não diria ou escreveria nem sob um ataque de apoplexia, enforcado por seus suspensórios e afogado num barril de baba elástica e bovina.
Agora é a vez de Machado, novo contratado da editora DR. A pátria em chuteiras deu lugar à pátria em cachorros. Mestre na observação psicológica, só Deus sabe quanto se esforçou o mago do Cosme Velho para esculpir o personagem do barbeiro Porfírio, um dos opositores do protagonista Simão Bacamarte no conto “O Alienista”. O médico Simão, que estudara na Europa, volta ao Brasil e se instala na pequena Itaguaí, estado do Rio, onde abre um hospício, a Casa Verde, “a bastilha da razão humana”, com um conceito muito amplo, quase universal, de loucura. Bastava uma esquisitice, uma mania e até uma mera vaidade humana e o cidadão era internado na Casa Verde – isso incluía 80% da população.
O pacato barbeiro Porfírio então lidera uma rebelião contra o hospício e seus métodos. Pouco adiante, porém, Bacamarte, o alienista, muda radicalmente seu conceito – passa a considerar loucura qualquer demonstração de bom senso. E eis Porfírio de novo à beira do hospício, a cunhar o lendário aforismo que atravessaria 132 anos – a partir da publicação do conto — para chegar intacto aos dias de hoje como um primor da ironia dialética:
“Preso por ter cão, preso por não ter cão!”.
Bem, intacto até cruzar com Dilma Rousseff, que – no discurso de Porto Alegre em que defendia sua Copa – enquadrou o dito machadiano em sua sintaxe enlouquecida, com a camisa de força de um idioma insano:
“E é interessante que muitas vezes no Brasil, você é, como diz o povo brasileiro, muitas vezes você é criticado por ter o cachorro e, outras vezes, por não ter o mesmo cachorro”.
De cara, ela confundiu Machado com o povo brasileiro, atenuou a prisão original em mera crítica e transformou o cão em cachorro – é o mesmo animal, mas as cinco letras a mais fazem toda a diferença em termos de estilo e prosódia. Seria a materialização da figura oculta do cachorro que Dilma vira atrás de cada criança, na mesma Porto Alegre? Sim, “o mesmo cachorro” – para não deixar dúvida.
Logo adiante, a crítica rende prisão, mas temporária:
“Então, nessa história de preso por ter cachorro, criticado por ter cachorro e criticado por não ter o cachorro, o que eu estou explicando para vocês é o seguinte…”
Não, Dilma Bacamarte nunca terá uma explicação lúcida. No seu hospício idiomático, todas as palavras viram coisa de louco.
Nas eleições de outubro, a confirmarem-se as previsões, Machado de Assis será novamente vilipendiado:
– Ao vencedor, as batatadas.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um montão de adolescentes toma conta do rico Brasil....


16/05/2012
 às 19:59

Sérgio Cabral decide fazer companhia a Simão Bacamarte na “Casa Verde”, sob o olhar atento de Machado de Assis, que acompanha tudo , ali na Cosme Velho

Já deveria ter comentado o assunto, mas acabou me escapando. Sérgio Cabral (PMDB), a mais inimputável das figuras púbicas no Brasil depois de Lula, é mesmo um pândego. Em julho do ano passado, ele decidiu criar um Código de Conduta para os servidores públicos nas suas relações com entes privados. No mês anterior, um acidente com helicóptero havia matado sete pessoas, entre elas a namorada de seu filho e a mulher de Fernando Cavendish. Todos, incluindo o governador, estavam na Bahia para comemorar o aniversário do empresário. Cabral, assim, propunha um código para controlar… Cabral! O governador havia viajado num jatinho emprestado por Eike Batista.
Agora, depois de revelada a sua farra de Paris, em companhia de boa parte do primeiro escalão do governo do Rio — mais o onipresente Cavendish —, o que fez Cabral? Resolveu ampliar o tal Código, entenderam? A nova redação prevê que o servidor deve evitar locais frequentados por prestadores de serviço e aparentar intimidade com fornecedores. Uau!!!
Dançar na boquinha da garrafa com fornecedores e prestadores de serviço, então, nem pensar!
Que homem fabuloso este! Ele é uma espécie de vanguarda e retaguarda ao mesmo tempo. Enfia o pé na jaca, é descoberto, e lá vem um texto proibindo… que se enfie o pé na jaca. Cabral transgride, e Cabral contém.
Ah, se Machado estivesse vivo, morando ainda li no Catete, na rua Cosme Velho, nº 18, Cabral desbancaria Simão Bacamarte, o “médico de loucos” de “O Alienista”. Seria o governador a criar a Casa Verde para receber os lunáticos, não é? O fim do conto não é surpresa pra ninguém. Depois de prender quase toda a cidade de Itauaí na clínica, o alienista se convence de que a sua suposta plena normalidade é que era a verdadeira loucura. Solta todo mundo e prende a si mesmo.
Cabral é o Simão Bacamarte moderno, ao mesmo tempo um metro da loucura, tomada como normalidade,  e de sua contenção! Logo veremos Cabral dando pito em Cabral em público.
Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A agulha e a linha... conto de Machado de Assis / Blog Ricardo Noblat com notícias sobre política direto de Brasília - Ricardo Noblat: O Globo


......"Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, peg..ou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima..."

"Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!..."