Postagem em destaque

Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

Mostrando postagens com marcador Humair Haque. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Humair Haque. Mostrar todas as postagens

domingo, 30 de agosto de 2015

"Somos guerreiros… lutando com… tudo… o tempo todo. Ei! A vida é uma guerra… não é? Será que é? O que estamos fazendo mesmo? Normalizando a malevolência. Recompensando uns aos outros por punirmos todos. Vivendo vidas de zumbi. Jogando cocô uns nos outros, repetidamente, automaticamente, permanentemente, sem reflexão. E quem mais age assim? Prisioneiros há tanto tempo na solitária que ficaram loucos "...

A arte de batalhar 

O que é necessário para viver uma boa vida? Exatamente o oposto do que nos foi ensinado a fazer 







Nossos atuais Mecenas: 
 



Vá em frente. Admita. Viver hoje em dia. Parece uma batalha infindável e cansativa, não? E por quê? 

Deixar comentários indignados na internet. Tentar avançar no trabalho. Protestar na mesa de bar. Dar notas no Tinder. Fofocar no Face. 


Só que você não é “competitivo”, filho. Seus próprios colegas disseram que você não é tudo isso! Você não tem “instinto de matador”. Seu cérebro, corpo, rosto, carreira, vida… não está no topo da lista.

É tudo a mesma coisa. Temos nos enganado pensando que cagar em todo mundo e em todos o tempo todo é a melhor coisa que podemos fazer.
Passamos muito tempo competindo uns com os outros. A competição é o grande projeto da modernidade racionalizada, movida pelos dados, em sua busca pela perfeição. E talvez nós tenhamos começado a acreditar que a competição em si é o prêmio. Vou chamar isso de “hiper-antagonismo”. Somos extremistas no antagonismo, acreditamos nesse princípio fundamental de que quanto mais combativos formos, em qualquer aspecto da vida, melhor estamos. 

Somos guerreiros… lutando com… tudo… o tempo todo. Ei! A vida é uma guerra… não é? Será que é? O que estamos fazendo mesmo? Normalizando a malevolência. Recompensando uns aos outros por punirmos todos. Vivendo vidas de zumbi. Jogando cocô uns nos outros, repetidamente, automaticamente, permanentemente, sem reflexão. E quem mais age assim? Prisioneiros há tanto tempo na solitária que ficaram loucos. 

Toda vida é uma batalha. Da menor criatura até a mais poderosa. A questão é: Pelo que exatamente batalhamos? 

Passar o dia inteiro contentes em cagar nos outros não é viver uma vida digna. Se todos cagarem em todos, o que acontece? Não vamos até a lua. Não inventamos novos antibióticos. Não fazemos bons filmes, não escrevemos bons livros, não compomos boas músicas. Não rimos com alegria verdadeira – grasnamos cheios de raiva. Não ardemos de amor – queimamos de vergonha. Nos afogamos na merda. Sufocamos na mediocridade, no tédio, na banalidade, na crueldade... na falta de sentido. Não usufruímos a melhor vida que se pode viver porque simplesmente estamos a perdendo toda vez que jogamos merda nos outros.




O que é necessário para viver uma boa vida? Exatamente o oposto do que nos foi ensinado a fazer... apreciar ... competir por... colocar esforço em... aprender... dominar. Desdém não é determinação. Desprezo não é confiança. Escárnio não é aceitação. Menosprezo não é nobreza. Robôs assassinos programados com algorítimos de raiva, fúria e autodestruição, para servir a sistemas de destruição até podem ser úteis. Mas não estão… vivos. De fato não estão. O que significa estar vivo? Realmente vivo? Arder de paixão, ser estimulado com o sofrimento, ser caloroso com amor, iluminado pela verdade, devastado pela beleza – renascido na possibilidade.

E é isso que muitos de nós estamos abandonando. Quando jogamos cocô nos outros, rindo como seres desesperados e loucos – porque viemos a aceitar isso como o melhor que podemos fazer, tudo que podemos ser ou fazer, tudo que existe... o que exatamente abandonamos com isso?

A nós mesmos. E é quando conseguimos cultivar nosso melhor que nos sentimos vivendo de fato. E então nunca sentimos como se não estejamos realmente presentes. Porque é aí que estamos. Somos nossos próprios jardins. Quando eles murcham, nós não morremos, na verdade nunca chegamos a viver.
Sentimos como se estivéssemos batalhando. Mas estamos mesmo? Essa batalha não seria apenas agressão nua e sem freios? O grande desafio em cada vida não é só arrastar todos os outros para a escuridão. É levá-los à luz. A grande batalha em cada uma das vidas não é derrotar outras vidas. A grande batalha para cada vida é conseguir abarcar toda vida. Essa é a maior batalha de todas. Aquela que decide se vamos nos arrepender – ou regozijar. Amar.

Seus adversários, seus inimigos. Seus oponentes. Seus antagonistas. Eles não são essas coisas, de fato. São apenas como você. Alguém a quem foi incorretamente ensinado que odiar é amar, e que amar é odiar. E é por isso que você se ocupa tanto de competir... agarrar... brigar. Jogar cocô, a todos os momentos, todos os dias. Uns nos outros. Cada vez mais forte, mais rápido, mais sujo, mais grosseiro. Sem nunca reconhecer.

Os dois estão sob o mesmo céu perfeito. Não é o último de pé que vence, mas o primeiro que se ajoelha. E começa seu jardim.




publicado em 08 de Agosto de 2015, 00:05