Postagem em destaque

Lutador iraniano provoca reação de espectadores russos ...

Mostrando postagens com marcador Marcello Avenbug. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Marcello Avenbug. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Mentira tem pernas curtas... / do Instituto Milleniun

http://www.imil.org.br/divulgacao/entrevistas/farsa-est-sendo-desmascarada/

“A farsa está sendo desmascarada”

Marcello Averburg 348x263 “A farsa está sendo desmascarada”
Marcello Averbug
A desaceleração da economia brasileira tem raízes profundas. É o que pensa o economista e especialista do Instituto Millenium Marcello Averbug. Para ele, a política econômica adotada nos últimos dez anos é a responsável pelo arrefecimento da produção industrial, pela deterioração dos serviços públicos e pelo encolhimento da confiança internacional no Brasil. “Ainda é cedo para falar em recessão. Mas é óbvio que a farsa está sendo desmascarada”, diz. Assim como boa parte dos analistas de mercado, Averbug considera 2014 um ano perdido: “Creio não haver dúvidas a esse respeito”. Leia a entrevista:
Instituto Millenium: Estudo do Banco Cooperativo Sicredi (banco cooperativo privado) aponta que a probabilidade de a economia brasileira estar em recessão é de 90%. Diante do anúncio de novos indicadores, a equipe econômica já trabalha com a possibilidade de o PIB registrar resultados negativos no segundo e terceiro trimestres, o que configuraria recessão técnica. Quais as causas da piora na economia?

Marcello Averbug: Além do contexto internacional desfavorável ao nosso comércio exterior, a raiz da perda de fôlego da economia brasileira encontra-se no conjunto de decisões governamentais adotadas nos últimos dez anos, conjunto esse que nem merece o título de política econômica.

Durante esse período, a maior parte das iniciativas do governo ignorou objetivos de desenvolvimento de longo prazo. Favoreceu, isto sim, ganhos de curto prazo e pouco sustentáveis da faixa social de menor renda e, também, a prosperidade de empreendimentos de escassa solidez, mas que enriqueceram poucos privilegiados. Como consequência, ocorreu um retrocesso no ânimo do investimento privado, em especial nos últimos dois anos, enquanto que o investimento público tornou-se cada vez mais ineficiente, conforme demonstra nossa ameaçadora carência em infraestrutura.
Ainda é cedo para falar em recessão, inclusive vis-à-vis o baixo índice de desemprego. Mas é óbvio que a farsa está sendo desmascarada mediante sinais explícitos de arrefecimento da produção industrial, deterioração dos serviços públicos, encolhimento da confiança internacional no Brasil etc. Ademais, embora a inflação oficial nos últimos doze meses tenha sido de ainda razoáveis 6,5% (acima da meta), toda a população reclama do alto custo de vida.
Imil: De acordo com o estudo, quando se exclui do cálculo o Índice de Confiança da Indústria (ICI), a probabilidade de a economia entrar em recessão cai para 20% — o que indica que a indústria responde pelo arrefecimento da economia brasileira. O senhor concorda com essa teoria?
Averbug: Apesar de o setor industrial representar apenas 25% do PIB, ele possui o poder de induzir ao arrefecimento da economia. Por outro lado, é lógico estar havendo um sombrio Índice de Confiança da Indústria, pois o clima atual é desfavorável a arroubos de consumo de bens manufaturados e de investimento privado. Em outras palavras, o setor industrial é o mais atingido pelas incertezas no panorama econômico, com reflexos sobre os demais setores.
Imil: O PIB do primeiro semestre só sai em agosto e o do terceiro trimestre em novembro. Só, então, será possível confirmar se o Brasil está em recessão. Por enquanto, o que pode ser dito é que o país vive uma estagnação. A alta dos juros iniciada em 2011 para segurar a inflação está derrubando a economia? Mas o aumento da taxa de juros não era necessário para segurar a inflação?
Averbug: Estima-se um crescimento do PIB, em 2014, abaixo de 1%, o que evidencia uma estagnação. Mas nem é preciso aguardar os dados de incremento do PIB do primeiro semestre e terceiro trimestre para perceber que não atravessamos um processo de recessão. O que sim já podemos afirmar é que as perspectivas não são para nutrir otimismo.
As origens da desaceleração da economia brasileira são mais profundas do que a variação da taxa de juros. Portanto, justifica-se atribuir prioridade em seu uso ao controle da inflação. Mesmo porque grande parte dos investimentos são financiados sob juros favorecidos.
Imil: O caminho para a retomada do crescimento parece depender de avanços estruturais, profundos, para muito além de medidas pontuais que possam demonstrar recuperações momentâneas. O senhor concorda com isso? O que deve ser feito para o Brasil voltar a crescer?
Averbug: Além de depender dos avanços e reformas estruturais fartamente citados pelos vários segmentos da sociedade brasileira e organismos internacionais, o alcance de significativa taxa de expansão do PIB e melhoria da equidade social também é função de mudanças de comportamento.
Esse conjunto de redirecionamentos estruturais e comportamentais visaria, em uma primeira etapa, ao aumento da taxa de investimento interno, assim como da eficácia dos investimentos. Nossa atual taxa encontra-se em apenas 20% e, ademais, encoberta investimentos de pobre relação produto/capital, principalmente no setor público.Até mesmo Argentina, Chile, Colômbia e México exibem taxas superiores: 23%, 25%, 23% e 25%, respectivamente. Comparando-se com alguns outros países fora da América Latina, constatam-se as seguintes cifras: Austrália (27%); China (48%); Coreia do Sul (29%); Índia (35%); e Rússia (25%), segundo a “The Economist – World in Figures”.
Se conseguíssemos incrementar, a curto e médio prazos, nossa taxa de investimentos em meros três pontos percentuais e, também, aprimorar a eficácia desses aumentos de capacidade instalada, o impacto sobre o crescimento econômico seria formidável.
Em termos de mudança de comportamento, um exemplo significativo é a proporção do gasto público (excluído investimento) sobre o PIB. No Brasil, esse indicador atinge a 21%, enquanto verifica-se o seguinte quadro em outros países com perfis comparáveis ao brasileiro: Argentina (15%); Chile (12%); Colômbia (16%); México (12%); Austrália (18%); Coreia do Sul (15%); Índia (12%), de acordo com a “The Economist”. Ora, se o consumo do setor público encolhesse a nível razoável e os desperdícios e corrupção fossem reduzidos, maior montante de recursos poderia ser canalizado para investimentos que competem ao Estado e são essenciais ao desenvolvimento econômico e social. Dessa forma, seria possível criar um ambiente estimulante ao investimento privado.
Imil: Existe alguma coisa que a população possa fazer para amenizar os danos da recessão sobre o seu orçamento doméstico?
Averbug: Poucas são as possibilidades da população se autodefender dos danos de uma recessão. Restam apenas as velhas receitas de adaptar o orçamento doméstico à queda da renda real familiar. O que, por sua vez, agrava o contexto recessivo. Mas esse é outro campo de longa discussão.