Postagem em destaque

Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

Mostrando postagens com marcador blog Ricardo Guerra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador blog Ricardo Guerra. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O calendário do futebol.... é absurdo e desumano?

http://blogs.estadao.com.br/ricardo-guerra/o-calendario-do-futebol-e-absurdo-e-desumano/


O calendário do futebol é absurdo e desumano

foto_blatter_desumano.jpg
Muito tem sido comentado ao longo dos últimos anos sobre a natureza exaustiva do calendário anual de futebol ao redor do mundo. A maioria dos campeonatos foram ampliados ocasionando um número maior de equipes. Consequentemente, os atletas jogam cada vez mais a cada ano. Alguns times disputam duas ou até mesmo três competições ao mesmo tempo. Em tais circunstâncias, alguns jogadores podem jogar duas partidas por semana durante várias fases da temporada. Assim sendo, esses atletas certamente encontram dificuldades na capacidade de se recuperarem totalmente entre um jogo e outro.
A pesquisa envolvendo a busca de um marcador sanguíneo único, que possa servir como modelo padrão com o intuito de medir a recuperação dos atletas após o exercício exaustivo, está em pleno curso, sendo tema de muito debate dentro do campo da fisiologia do exercício. Além disso, em torno da literatura científica, há muita informação sobre o tempo necessário para a reposição do glicogênio – combustível armazenado nas células dos músculos esqueléticos, que serve como fonte de energia para tais, durante o esforço físico intenso, como por exemplo, durante uma partida de futebol.
Dessa maneira, é possível fazer com que os níveis de glicogênio voltem ao normal dentro das 36 horas após uma partida, se os jogadores seguirem um regime apropriado de alimentação, se tomarem os suplementos ergogênicos adequados e se tiverem tempo suficiente de repouso. No entanto, a reposição dos níveis de glicogênio é um dos muitos elementos dentro do processo de recuperação de um jogador.
Desse modo, vários outros elementos fisiológicos desempenham papel vital no sistema de recuperação, e alguns deles podem levar uma semana ou até mais tempo para serem normalizados, dependendo da carga de esforço físico. Após o exercício exaustivo, por exemplo, o sistema imunológico é severamente deprimido. Além disso, vários mecanismos neurológicos sofrem alterações que não são totalmente compreendidas, e que também levam tempo para serem totalmente restauradas. Ainda mais, em uma competição onde os jogos são disputados com grande frequência, os jogadores podem sofrer efeitos debilitantes por vários dias ou até mesmo por uma semana, incluindo micro-rupturas e dores musculares.
Tomemos como exemplo, o calendário da Eurocopa 2012. Na primeira fase da competição, as diversas seleções jogaram uma média de três jogos em menos de dez dias. Mediante a este fato, em conversa pelo telefone com o Dr. John Ivy, um fisiologista de renome mundial da University of Texas, ele me disse que duvidava muito que um jogador seria capaz de ter uma recuperação completa, com tantos jogos em um período tão curto de tempo.
Assim sendo, o planejamento por trás da tabela da Eurocopa atual é tão absurdo, que a seleção de Portugal tendo jogado sua partida de quarta de final antes da Espanha, que foi sua adversária ontem na semifinal, teve aproxidamente 48 horas a mais para se preparar para esta partida. A mesma vantagem terá a Alemanha ao enfrentrar a Itália hoje nas semifinais. Com base nisso, como alguém poderia justificar uma vantagem tão grotesca entre os adversários? Isso não faz sentido e é simplesmente uma vergonha!
Em meio a tal situação, fica evidente que quem organizou esse calendário não tem a menor idéia sobre os conceitos mais rudimentares da fisiologia do exercício. Os organizadores do evento, certamente, mostraram um conhecimento zero sobre a dinâmica do processo de preparação, recuperação e certamente não dão a mínima sobre o bem-estar fisiológico dos jogadores.
Dessa forma, é desumano exigir mais desses jogadores na atual competição, pois muitos certamente encontram-se esgotados, além do que, não devemos nos esquecer que eles acabam de ter participado de uma temporada inteira em seus clubes.
Segundo o Dr. Ivy, “O processo de recuperação está interligado e é significativamente mais complexo do que as pessoas imaginam. Eu duvido que a maioria desses jogadores que estejam jogando na Eurocopa deste ano, se encontram fisicamente e mentalmente em sua melhor forma, depois de virem de uma temporada tão desgastante”.
Na verdade, um estudo realizado por pesquisadores suecos da Linkoping University examinou a correlação entre a quantidade de partidas que alguns jogadores europeus haviam disputado nos meses que antecederam a Copa de 2002, e o número de lesões, assim como o nível do desempenho desses durante aquele evento. Os pesquisadores observaram que os jogadores que tiveram atuação inferior na Copa do Mundo, de fato tinham jogado mais partidas nas semanas que antecederam a competição, em comparação com aqueles que tiveram uma performance melhor do que o  esperado.
Os pesquisadores também observaram, que quase dois terços dos jogadores que jogaram mais de uma partida por semana durante as últimas 10 semanas da temporada, ora sofreram contusões ora tiveram um desempenho inferior durante a Copa. É bem possível que a solução do problema possa estar diretamente ligada ou relacionada à comercialização grotesca e a quantidade de dinheiro exorbitante que gira em torno do futebol.
Em entrevista pelo telefone, o Dr. Tobias Moskowitz, professor de economia da University of Chicago e autor do livro best-seller Scorecasting, me alertou sobre os fatores econômicos que estão desafiando os limites dos jogadores.
De acordo com o Dr. Moskowitz, “O retorno econômico acaba por promover mais jogos proporcionando um calendário congestionado. Os torcedores querem assistir o maior número de partidas possíveis gerando, desse modo, maiores bilheterias. Sem contar, o maior número de propagandas de TV. E tudo isso vai se acumulando, e os jogadores não são pagos por partida”.
Na verdade, para os cartolas não importa se os jogadores se sacrificam  jogando uma quantidade excessiva de partidas. O único objetivo é o lucro desenfreiado custe o que custar.
“É bem provável que os cartolas e os jogadores tenham que estar dispostos a aceitar menores recompensas financeiras, para a obtenção de um calendário mais humano”, completou o Dr. Moskowitz.
No entanto, a ganância é tanta, que a troco de qualquer dinheiro, os cartolas que comandam o jogo mais bonito do mundo chegam a tropeçar nos seus próprios erros, a ponto de botarem em curso um calendário patético para uma das competições mais importantes (ex: Eurocopa 2012), chegando a ser motivo de chacota. A incompetência e o descaso desses individuos é alarmante. Entretanto, a paixão das massas pelo futebol mexe com os corações, arranca lágrimas, dando muitas vezes alegria para aqueles que não têm nada, porém, permite que os erros escabrosos desses “organizadores”, passem muitas vezes despercebidos e que eles continuem impunes.
E, infelizmente, esses dirigentes ainda têm a audácia de chegar no nosso país para nos dar aula de como organizar uma Copa do Mundo! E com isso, eles continuam denegrindo e desrespeitando a imagem do jogo e tirando vantagem da boa vontade dos torcedores. Está na hora dos jogadores virarem a mesa! Os jogadores unidos jamais serão vencidos!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Blog Ricardo Guerra // Excessos de esforço em esporte...


21.maio.2012 06:33:34

Quando o exercício derruba a testosterona

As concussões cerebrais decorrentes da prática do futebol americano e os riscos que elas representam para a saúde dos jogadores fazem atualmente parte de um debate acirrado nos Estados Unidos. Durante anos, a National Football League (NFL), tentou desqualificar e minimizar as conclusões e os resultados dos estudos científicos, que eram considerados também naquela ocasião de alta credibilidade pelos especialistas, e que apontavam para os riscos das concussões decorrentes do jogo.
Na verdade, a liga norte-americana até mesmo apoiou estudos com metodologias questionáveis, que audaciosamente chegaram a pôr em cheque as conclusões e os resultados obtidos em pesquisas científicas idôneas e independentes. Só depois da publicação de vários outros estudos confirmando os riscos decorrentes das concussões, a organização de modo a preservar sua reputação, tentou reverter à situação e começou a reconhecer o problema. No entanto, naquele momento, as provas já eram tão concretas e evidentes que a liga não tinha como manter sua posição inicial. Como resultado, até o presente momento, existem mais de 2000 ex-jogadores que já processaram a liga de futebol americano por não ter feito o suficiente para protegê-los dos riscos associados às concussões.
Da mesma forma que os problemas decorrentes das concussões no futebol americano foram inicialmente menosprezados, o impacto fisiológico que resulta das participações em eventos de ultra-resistência tais como, as maratonas, as ultra-maratonas, os triatlos e as competições Ironman, tem sido também, na maioria das vezes, ignorado apesar das conclusões alarmantes das pesquisas. De fato, os efeitos prejudiciais ao sistema reprodutor (testículos/gônadas) decorrentes das competições de ultra-resistência e treinamentos excessivos já são do conhecimento de fisiologistas do exercício desde as últimas décadas.
Pic_concussion_football.jpg        Triathlon_pic.jpg
As gônadas que também fazem parte do sistema endócrino são responsáveis pela produção de vários hormônios, incluindo a testosterona. Presente em ambos os sexos, a testosterona é um hormônio que tem papel fundamental na promoção de várias funções corporais como, por exemplo, o aumento da massa muscular, o aumento da densidade óssea, a diminuição da gordura corporal, a integridade do sistema imunológico, o poder de recuperação após a atividade física e o desempenho sexual normal. Esse hormônio é essencial para a saúde e para o bem-estar geral.
Os atletas que participam desses desafios de ultra-resistência realizam uma grande carga de treinamento. Não é incomum que os participantes de tais eventos agreguem mais de 200 quilômetros de corrida semanalmente visando à preparação para o dia da competição. Tal rotina rigorosa de treinamento físico tem um impacto fisiológico significativo sobre o organismo (em nosso último artigo publicado neste bloghttp://quando-o-exercicio-vira-risco-para-a-saude/—abordamos o tema de maneira profunda). Assim sendo, existem muitos relatos dos baixos níveis de testosterona em homens que se submetem excessivamente ao estresse físico e aos esportes como a maratona e outras modalidades de ultra-resistência.
Em entrevista pelo telefone perguntei ao Dr. William Kraemer, renomado professor fisiologista do exercício da Universidade de Connecticut, sobre o problema enfrentado por estes atletas. Ele afirmou que, em um de seus estudos, que até mesmo antes do início das provas a maioria dos corredores de ultra-resistência se encontrava em estado hipogonodal (condição na qual a diminuição da atividade funcional das gônadas ocorre, resultando assim, em quantidades mais baixas de testosterona). O fisiologista ainda complementou que: “O nível de testosterona na maioria dos corredores após a corrida se encontrava perto de níveis pré-púberes”.