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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Blog Ricardo Guerra // Excessos de esforço em esporte...


21.maio.2012 06:33:34

Quando o exercício derruba a testosterona

As concussões cerebrais decorrentes da prática do futebol americano e os riscos que elas representam para a saúde dos jogadores fazem atualmente parte de um debate acirrado nos Estados Unidos. Durante anos, a National Football League (NFL), tentou desqualificar e minimizar as conclusões e os resultados dos estudos científicos, que eram considerados também naquela ocasião de alta credibilidade pelos especialistas, e que apontavam para os riscos das concussões decorrentes do jogo.
Na verdade, a liga norte-americana até mesmo apoiou estudos com metodologias questionáveis, que audaciosamente chegaram a pôr em cheque as conclusões e os resultados obtidos em pesquisas científicas idôneas e independentes. Só depois da publicação de vários outros estudos confirmando os riscos decorrentes das concussões, a organização de modo a preservar sua reputação, tentou reverter à situação e começou a reconhecer o problema. No entanto, naquele momento, as provas já eram tão concretas e evidentes que a liga não tinha como manter sua posição inicial. Como resultado, até o presente momento, existem mais de 2000 ex-jogadores que já processaram a liga de futebol americano por não ter feito o suficiente para protegê-los dos riscos associados às concussões.
Da mesma forma que os problemas decorrentes das concussões no futebol americano foram inicialmente menosprezados, o impacto fisiológico que resulta das participações em eventos de ultra-resistência tais como, as maratonas, as ultra-maratonas, os triatlos e as competições Ironman, tem sido também, na maioria das vezes, ignorado apesar das conclusões alarmantes das pesquisas. De fato, os efeitos prejudiciais ao sistema reprodutor (testículos/gônadas) decorrentes das competições de ultra-resistência e treinamentos excessivos já são do conhecimento de fisiologistas do exercício desde as últimas décadas.
Pic_concussion_football.jpg        Triathlon_pic.jpg
As gônadas que também fazem parte do sistema endócrino são responsáveis pela produção de vários hormônios, incluindo a testosterona. Presente em ambos os sexos, a testosterona é um hormônio que tem papel fundamental na promoção de várias funções corporais como, por exemplo, o aumento da massa muscular, o aumento da densidade óssea, a diminuição da gordura corporal, a integridade do sistema imunológico, o poder de recuperação após a atividade física e o desempenho sexual normal. Esse hormônio é essencial para a saúde e para o bem-estar geral.
Os atletas que participam desses desafios de ultra-resistência realizam uma grande carga de treinamento. Não é incomum que os participantes de tais eventos agreguem mais de 200 quilômetros de corrida semanalmente visando à preparação para o dia da competição. Tal rotina rigorosa de treinamento físico tem um impacto fisiológico significativo sobre o organismo (em nosso último artigo publicado neste bloghttp://quando-o-exercicio-vira-risco-para-a-saude/—abordamos o tema de maneira profunda). Assim sendo, existem muitos relatos dos baixos níveis de testosterona em homens que se submetem excessivamente ao estresse físico e aos esportes como a maratona e outras modalidades de ultra-resistência.
Em entrevista pelo telefone perguntei ao Dr. William Kraemer, renomado professor fisiologista do exercício da Universidade de Connecticut, sobre o problema enfrentado por estes atletas. Ele afirmou que, em um de seus estudos, que até mesmo antes do início das provas a maioria dos corredores de ultra-resistência se encontrava em estado hipogonodal (condição na qual a diminuição da atividade funcional das gônadas ocorre, resultando assim, em quantidades mais baixas de testosterona). O fisiologista ainda complementou que: “O nível de testosterona na maioria dos corredores após a corrida se encontrava perto de níveis pré-púberes”.